sábado, 30 de janeiro de 2010

A Distância entre Nós



Sinopse:Bombaim, Índia. Duas mulheres. Duas vidas. Dois destinos que poderiam ser um só. Sera e Bhima estão indiscutivelmente ligadas, seja pelo silêncio ou pela cumplicidade. Mas ao mesmo tempo estão distantes, separadas por uma fronteira intransponível. Como se o fio que as une não fosse forte o suficiente para aguentar uma descarga elétrica, força que parece definir a sorte e a tragédia da patroa e da empregada. Duas vidas marcadas pela decepção, enganadas pela traição, sujeitas a uma sociedade cruel cuja voz berra e marca a fogo a existência dessas mulheres. A distância entre nós é um romance avassalador, envolvente, intenso. Você não conseguirá parar de lê-lo, e não será o mesmo quando alcançar a última página.


Bhima mora em um barraco situado  em uma das favelas de Bombaim. Analfabeta, se vira trabalhando a mais de vinte anos na casa de Sera, uma viúva de classe média alta que vive em função da filha grávida e do seu genro.

A esperança de Bhima é sua neta Maya, que com a ajuda de Sera, está na universidade, o que pode possibilitar as duas uma vida melhor, só que uma gravidez inesperada joga todos os sonhos na lama e uma sequencia de erros e tentativas de reação aos acontecimentos acabam virando espadas sobre a cabeça desta mulher sofrida.

Ela se consolaria e depois se odiaria pela fraqueza daquele pensamento, por ter baixado tanto os seus padrões que a ausência de violência física houvesse se tornado a definição de um bom casamento.

Já Sera tem estudo, cultura e acesso amplo ao conhecimento, mas isso não a impede de casar com o homem errado nem livra-la de preconceitos, mesmo após compartilhar diferentes experiências com Bhima, o que gerou questionamentos de sua filha durante a adolescência sobre não permitirem que ela usasse coisas simples como os seus copos ou sentasse na mesa mesa.

Lembro que encontrei este livro justamente quando uma onda indiana se tornava moda no Brasil por causa de uma novela das 21hs chamada Caminho das Índias, e sua capa e sinopse logo me chamaram a atenção.

Nunca nos casamos apenas com uma pessoa. Casamos sempre com a família toda.

E achei interessante que apesar de toda cultura diferente, como algumas situações enfrentadas pelas mulheres são universais. A dor de estar longe de um filho, o machismo, a atribuição da culpa a vítima. Além é claro das diferenças sociais e de quanto os danos e dores são minimizados quando quem os sofre é o lado mais fraco da história.

Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a escrita da autora Thrity Umrigar é sensível e direta. Tendo como testemunha o mar de Bombaim, ela nos conta uma história carregada de tristeza, sofrimento e resignação, de uma forma que nos comove ou nos deixa louco de raiva.

Ela mesma tinha virado uma máquina, que só existia para trabalhar e ganhar o seu salário; precisava apenas de água e comida para manter suas peças lubrificadas e funcionando.

E sim, durante a leitura me vi compartilhando o misto de sentimentos que Bhima e Maya sentem ao enfrentar os seus medos, assim como virava as páginas com um fio de esperança de que elas poderiam ter um amanhã melhor.

Um livro para quem gosta de conhecer outras culturas, para não repetir preconceitos sociais, para refletir e se emocionar, enfim, para quem gosta de ler.

A distância entre nós
The space between us
Thrity Umrigar
Tradução: Paulo Andrade Lemos
Editora Nova Fronteira
2005 - 331 páginas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Crime e Castigo




Terminei finalmente de ler Crime e Castigo de Dostoiévski. Depois de várias pausas, retomei e, com algum esforço, consegui acabar. Não é digamos uma leitura de férias, pois o livro é denso ao extremo, cansativo, cheio de detalhes. 

Conta a história de um rapaz que comete um duplo assassinato - ele mata uma velha agiota para roubar seus bens e acaba matando também a irmã que aparece no local - e depois vive um drama psicológico devido ao sentimento de culpa e arrependimento. Tanto que não consegue usufruir do que rouba e acaba enterrando sob uma pedra em algum lugar em via pública. 

O mérito da obra, na minha opinião, está justamente nos fluxos de consciência dos personagens, seus medos, desejos e apreensões. O leitor vive intensamente o drama e a loucura do assassino e o peso de seu ato e acaba até torcendo por ele, por verificar que, no fundo, não é má pessoa, é um doente que cometeu um erro fatal.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A Hora da Estrela



Sinopse: Pouco antes de morrer, em 1977,  Clarice Lispector decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade. O resultado desse salto na extroversão é A hora da estrela, o livro mais surpreendente que escreveu. Se desde Perto do coração selvagem, seu romance de estreia, Clarice estava de corpo inteiro, todo o tempo, no centro de seus relatos, agora a cena é ocupada por personagens que em nada se parece com ela.


Logo de início o leitor é recebido por uma reflexão sobre escrever, pensar e existir do escritor Rodrigo S.M., que logo passa a compartilhar a história que lhe persegue, e tem como personagem principal a nordestina Macabéa

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.

Uma mulher que o acusa e o sufoca, ao qual sua única chance de defesa é escrever a sua história, e para isso ele precisa se entregar de forma total, sendo desleixado com roupas e higiene, substituindo o sono profundo por rápidos cochilos.

Macabéa vive na pobreza, tanto de espírito quanto de amor. Quando a tia que lhe cria morre, por motivo desconhecido, a moça resolve se mudar para o Rio de Janeiro. 

Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma.

No pequeno quarto alugado ela cria a sua própria rotina, seja trabalhando como datilógrafa, ouvindo a Rádio Relógio ou namorando um metalúrgico também nordestino. Até sentir a dor da traição.

Até uma cartomante, após listar as novas desgraças que irão lhe abater, lhe dá uma boa nova: que a partir do momento que ela colocar os pés para fora da casa da adivinha, tudo em sua vida irá mudar, permitindo que ela finalmente se sinta outra pessoa, o que faz nascer uma esperança até então adormecida.

Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo.

Essa mistura de eventos que o narrador imagina para essa mulher sem atrativo nenhum, ao qual complementa com suas opiniões e próprias experiências, que compõe o livro “A hora da estrela”. 

O impacto da narrativa de Clarice Lispector irá depender (e muito) do grau de envolvimento do leitor. Pois a sua simplicidade não trás nenhuma surpresa. Ou o leitor se envolve com a personagem que muitas vezes domina o autor, ou a deixará em branco. 

Pensar era tão difícil, ela não sabia de que jeito se pensava.

Um livro curto e de leitura rápida, “A hora da estrela” reflete o nosso cotidiano de dúvidas e escolhas, além da mesma busca por um final, que não se sabe se feliz ou não.

Para os fãs de Caio Fernando Abreu fica a penúltima frase “Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos”.

A Hora da Estrela
Clarice Lispector
Editora Rocco
1977 - 87 páginas