terça-feira, 30 de agosto de 2011

Canibais



Conforme o próprio David Coimbra explica, Canibais é baseado em uma série de crimes que ocorreram entre 1863 e 1864 na Rua do Arvoredo, na cidade de Porto Alegre. O caso do linguiceiro, como ficou conhecido, transformou os habitantes da capital em canibais.

Na ficção, Catarina Palse, uma bela loira, seduzia os homens que caminhavam à noite pela Rua do Arvoredo. Como uma boa isca, dava-lhe momentos de prazer e os entregava a José Ramos, marido da dama e conhecido açougueiro. Com frieza, ele utilizava o seu conhecimento em cortes de carne para transformar os amantes da esposa no recheio de suas famosas linguiças, saboreadas por diversas pessoas da capital gaúcha. Tudo começa a mudar quando Walter, o sapateiro alemão, se apaixona por Catarina, e se depara com uma realidade assustadora.

Em uma narrativa rápida, envolvente e maliciosa, o livro “Canibais – Paixão e Morte na Rua do Arvoredo” (L&PM, 231 páginas) tem um estilo facilmente reconhecido pelos fãs das crônicas escritas por esse jornalista do jornal Zero Hora. Numa mistura de ficção e pesquisa histórica, é impossível não se arrepiar com os acontecimentos narrados ou sentir o estômago embrulhar ao olhar o alimento citado após a leitura de algumas páginas.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Antes de Nascer o Mundo





Antes de nascer o mundo é um livro sobre um início e um fim. O fim de Silvestre Vitalício, um marido que na busca de adormecer as tristes lembranças pela morte da amada, se isola em uma terra de ninguém com os filhos, o criado e uma jumenta. E o início da vida de Mwanito, o pequeno filho de Silvestre e narrador da história, que se descobre gente em meio à homens, sem conhecer outra vida que não a que lhe foi apresentada em Jesusalém - a terra batizada pelo pai e que seria, ao seu entendimento, o único lugar do mundo que restara.

De forma poética, o autor nos transporta para uma história sobre a vida do menino Mwanito, do irmão Ntunzi, do pai Silvestre Vitalício, do militar e criado Zacaria Kalash, da jumenta Jezibela, única presença feminina entre eles, e do tio Aproximado, o cunhado de Silvestre que apesar de não viver no sítio, tem importância vital na narrativa. É ele que, ironicamente, aproxima a família das peripécias que mudará suas vidas, e leva a realidade ao mundo imaginário em que são reféns. É através de Aproximado, também, que somos apresentados a Marta e Noci, duas personagens ligadas pela perda do mesmo homem.

Mia Couto é um dos maiores autores africanos em língua portuguesa. Sensível como só um poeta pode ser, transborda sentimento e conduz de forma maestral a história. Aborda assuntos pontuais e atuais como o modo que apresenta o negro, em especial as mulheres, com trejeitos bonitos e desejáveis, além da forma como retrata a natureza e a igualdade entre humanos e animais. Enlaça à narrativa, também, um pouco da história pós guerra que afetou a zona rural de Moçambique. Ora mesclando narrativas de dois personagens (Mwanito e Marta), fica evidente sua capacidade de ser cativante e expressivo usando vozes tão opostas. Consegue transbordar sentimentos, impressões, causar reflexões. Prende o leitor em cada página, principalmente por ser uma narrativa extremamente visual, que transporta o leitor como que para dentro de um filme.

Poesia, imagem e a reflexão sobre a solidão. A receita certa de um bom livro. E para aguçar a vontade de ler, cumpre o papel a frase de Mwanito: “A primeira vez que vi uma mulher tinha 11 anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas.”


*COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 280 p.; 21 cm.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Pérola


Kino é um simples pescador casado com Juana. Ambos tem um menino, Coyotito. Numa manhã que ainda era noite, viu seu filho ser picado por um escorpião. Em cortejo, foram atrás de um médico, mas esse se negou atender o indiozinho, pois o pai não tinha dinheiro. Para salvar o filho, ele vai atrás de boas pérolas e acaba encontrando a mais perfeita delas.

Mas a descoberta se alastra pela vila, e toda a espécie de sentimentos ruins afloram. Para o índio de vida simples, sonhos inimagináveis podem se tornar reais, e numa briga onde ingenuidade e esperteza se encaram, a primeira perde muito mais.

A Pérola de John Steinbeck é uma fábula onde a lição de moral esta lá no final, aguardando o leitor, mas isso não diminui o romance de forma alguma. Para mim, ele tem gosto de primeiro semestre da faculdade, do fim da adolescência e do recente caso de um ganhador da mega sena em uma cidade do interior gaúcho.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Viagem ao centro da Terra





Teria sido a proximidade de sua casa ao porto durante a infância que fez o francês Julio Verne ser um notável escritor de histórias de viagem? Sendo ou não, o escritor, falecido em 1905, aos 77 anos, soma uma vasta obra e é considerado um dos escritores mais traduzidos de todo o mundo. Suas histórias foram adaptadas em quase 100 filmes e várias séries para tv. Também pudera, sua obra cita tecnologias que nem existiam em sua época, além de mostrar claramente a dedicação e capacidade de aliar, em sua escrita, dom literário e  pesquisa.

Em Viagem ao Centro da Terra, o autor nos leva da Alemanha às entranhas do globo na companhia do professor Lidenbrock, seu sobrinho Axel e do dedicado guia Hans. Depois de descobrir sobre a suposta viagem do cientista Arne Saknussenm ao centro do planeta, o geólogo/mineralogista/cientista/professor Otto Lidenbrock, decide ele mesmo constatar a veracidade das informações. Axel, nosso narrador, acaba embarcando, a contragosto, nesta fantástica e instigante aventura.

São dias de uma viagem que faz o leitor se prender a cada linha, manter-se angustiado com os companheiros que passam por situações muitas vezes beirando a morte e, claro, permitindo-se ponderar as ideias de Julio Verne sobre o centro da Terra. Assuntos sobre as camadas da Terra, períodos arqueológicos e fenômenos físicos fazem o leitor se perder em termos científico, mas ao mesmo tempo se interessar pela nossa história geológica.

Com personagens ricos em humanidade e determinação, é impossível não apreciar esta aventura. Entra, certamente, no hall de livros que devem e precisam ser lidos. Viajar, nem que seja na ficção ao centro da Terra que conhecemos, sempre será uma experiência interessante. 


* VERNE, Julio. Viagem ao centro da terra. Tradução de Renata Cordeiro. Porto Alegre: L&pm, 2002. 270 p.; 17cm. (Coleção L&PM Pocket).