sábado, 26 de janeiro de 2013

O Mestre dos Quebra-cabeças



De forma delicada e envolvente, a autora Betsy Carter usa como base a história de sua própria família para falar aos leitores sobre os imigrantes judeus nos Estados Unidos. Seus personagens bases são o lituano Simon e as irmãs alemãs Grossman no período que vai de 1892 a 1936.

Simon é enviado ainda menino, sozinho, em um navio. Chegando a New York, consegue uma vaga em uma pensão e aprende a se dividir entre o trabalho e estudos. Logo cedo descobre o preconceito e os espertinhos. Com grande talento para desenho e criação, ele se torna um homem de negócios rico e conhecido principalmente por seus quebra-cabeças. Sua paixão é Flora Grossman, sua esposa, que como ele, veio cedo com a irmã Seema para os Estados Unidos e foi acolhida por um casal de tios.

Flora é sonhadora e apaixonada, junto com o marido, permanece seguindo tradições e possui uma postura tradicional de dona de casa, só saindo da casa de seus tios no momento do casamento. Seema é sedutora e já não se apega a suas raízes, permitindo inclusive que um amante altere o seu sobrenome para Glass. Em comum, elas possuem como ponte a antiga pátria, onde estão a mãe, uma irmã e sua sobrinha, o que faz com que o nazismo seja uma preocupação mesmo a distância.

Mas ao contrário do que se possa imaginar, o livro não é sobre a guerra, e sim sobre família, encontros e desencontros, culpa, ambição, descobertas, mágoas e saudade. Com narrativa em terceira pessoa, o livro é bastante leve, a história cativa, e os personagens parecem virar amigos próximos, onde suas escolhas e ações são muito humanas.

Um livro encantador, que mistura ficção e realidade, sendo perfeito para quem busca uma leitura agradável sem ser superficial. E o melhor de tudo, encontrei novinho em folha em um dos balaios de oferta da Feira do Livro de Porto Alegre, sendo um exemplo de como é bom dar uma procurada com carinho em cada banca.

O Mestre dos Quebra-cabeças
Betsy Carter
Tradução: Sonia Pinheiro
Editora Planeta
2009 – 351 páginas

domingo, 20 de janeiro de 2013

Aprendendo a Seduzir


Após a leitura de Procurando Kevin, somado ao fato que o livro seria lido na sua maior parte na praia, o título selecionado foi um romance bem leve, daqueles para se distrair após um dia de muita água e caminhada.

Meg Cabot utiliza o pseudônimo de Patricia Cabot para contar a história de Lady Linford na Inglaterra de 1870. A garota está noiva do Marquês de Winchilsea, um homem bonito e charmoso, responsável por salvar seu irmão, que levou um tiro após uma tentativa de assalto.

O leitor sabe antes de conhecer Caroline que na verdade seu irmão, Thomas, fora vítima de uma tentativa de assassinato, já que ousou em um jogo de cartas, acusar o responsável de trapaceiro. Assim como descobre logo de início, desta vez junto com Caroline, o caso do Marquês com a sedutora Jacquelyn.

O primeiro pensamento de Caroline é terminar o noivado, mas sua mãe a impede, alegando que a culpa é da moça. Com isso, precisa buscar conhecimento para seduzir o futuro marido e demonstrar que pode ser tão desejável quando a sua amante. Para professor, escolhe o noivo da outra, o famoso fabricante de armas Braden Granville, conhecido por ser um dos maiores conquistadores de Londres e por estar atrás do homem que frequenta a cama da sua noiva, pois a única forma de cancelar o casamento sem ter que pagar milhões a traidora é achando o amante.

Entre beijos ardentes, cobrança de dívidas, em paralelo está o preconceito da época sobre quem possuía títulos e os novos ricos. Nobres falidos que se casam com pessoas que julgam inferiores apenas para manter o seu status, esnobando e ironizando seus pares. E mesmo Caroline, por possuir um título recente, é considerada apenas um meio para saciar a falta de dinheiro do Marquês.

Também há uma pincelada da luta pela igualdade feminina, representada pela melhor amiga de Caroline, Emily, que está sempre se envolvendo em protestos e sendo presa por isso.

Uma história para mulheres que gostam de romances leves. Não é um livro para pensar, apenas para relaxar e se deixar levar durante algumas horas, sem pensar em nada mais sério.

Aprendendo a Seduzir
Educating Caroline
Patricia Cabot
Tradução Olga Cafalcchio
Editora Essência – Planeta
1998 – 366 páginas

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Precisamos falar sobre o Kevin


Maravilhada e chocada. Assustada e pensativa. A leitura do best-seller de Lionel Shriver não tem como deixar o leitor passivo. Não assisti ao filme, mas o livro me provocou uma mistura contraditória de sentimentos. Ao mesmo tempo em que ele me causava repulsa, me atraia para saber o que viria nas próximas páginas.
 
Narrado por Eva, através de cartas a seu marido Franklin, a vida dos dois é recontada e junto são repassadas duas versões da maternidade, uma com o seu primogênito Kevin, autor de uma chacina em uma escola americana e da doce Célia.
 
Eva e Kevin se rejeitam desde o início, ele virando a cara para o seio materno, ela não sentindo nenhum vinculo. O bebê chorão afasta todas as babás, obrigando Eva, até então uma empresária acostumada a viajar para inúmeros países, a ficar em casa e criar um filho da qual não sente amor, e sim, medo. Quando engravida novamente, Célia lhe ensina o lado doce de ser mãe, deixando ainda mais claro que a indiferença de seu primogênito não é normal, já que a mesma só foi quebrada uma vez, quando ficou doente e dependente.
 
Entre presente e passado, são listados massacres ocorridos em diversas escolas americanas, assim como críticas ao comportamento da sociedade, violência, anorexia, obesidade, excesso de televisão e a eterna busca de um responsável são alguns dos assuntos abordados durante a desconstrução de Eva. Entre as declarações mútuas de eu te odeio, a história expõe o fato de nem todas as mulheres estarem preparadas para serem mães, ou terem o instinto materno.
 
Não raro o leitor poderá ter vontade de sacudir Franklin, mandar Eva procurar ajuda ou abraçar a pequena Célia. Nesta história, os pais são culpados e vítimas, e como na vida real, talvez eles pudessem ter evitado uma vida sem futuro. Quanto a Kevin, mesmo quando pequeno, já é descrito de forma a não conquistar a simpatia de quem acompanha a história, não despertando pena ou qualquer outro sentimento além do pavor. o que nos faz refletir sobre a frase inicial do livro Éjustamente quando ela menos merece que mais a criança precisa do nosso amor de Erma Bombeck.
 
Um livro para pensarmos sobre a sociedade que vivemos, a maneira como criamos os nossos filhos e muitas vezes nos negamos a enxergar os problemas de quem, por obrigação moral, deveríamos amar. E o pior de tudo, mesmo sendo de 2003, ainda cruelmente atual.

Precisamos falar sobre o Kevin
Lionel Shriver
Tradução Beth Vieira e Vera Ribeiro
Editora Intrínseca
2003 – 463 páginas