sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Retrato de Dorian Gray





Imagine se uma pintura sua começasse a envelhecer no seu lugar. Que assumisse as suas falhas. Recebesse a marca dos seus pecados. E seu rosto continuasse puro e jovem pela eternidade.

É brincando com os conceitos de juventude eterna e caráter que Oscar Wilde transforma a história de Dorian Gray charmosa e assustadora aos olhos dos seus leitores. Publicado em 1890, o livro está longe de ser datado, muito pelo contrário, é uma fotografia do mundo atual, onde o culto ao corpo tem imperado.

Basil Hallward encontrava-se apaixonado pelo seu modelo atual, um jovem bonito, de uma pureza que o tocava. Por essa razão, seus sentidos não queriam que seu amigo Henry Wotton, de moral e ética duvidáveis, conhecesse Dorian Gray. Mas o destino foi implacável, e na primeira conversa, Henry já inseriu várias ideias narcisistas no rapaz. A ponto de, no momento em que a sua pintura ficou pronta, ele sente inveja da própria imagem e deseja em voz alta que o retrato mude e ele fique sempre igual a sua imagem atual.

Seu desejo é atendido, e com isso, Dorian se vê obrigado a esconder o seu retrato, para que ninguém mais desconfie. Ao mesmo tempo vive dividido entre a autoconfiança de fazer o que quiser e não ser acusado por isso e o medo de que alguém descubra o seu segredo. Sua pureza acaba logo no início da história, quando leva uma moça que dizia amar ao suicídio, inicialmente sente culpa, mas com o tempo ele começa a ver beleza na forma da morte da jovem.

Naturalmente a juventude eterna causa estranheza aos que o conhecem mais tempo, assim como sua fama de não ser boa companhia começa a se alastrar, mas muitos não resistem ao seu rosto inocente, mesmo com as fofocas sussurradas.

Dorian e Henry não possuem uma boa opinião das mulheres. Seus comentários não são nada generosos.  A diferença é que Henry é irônico, e Dorian leva tudo a sério. Mas elas são figuras decorativas no livro, com exceção de Sybil - que morre por não perceber que seu príncipe encantado na verdade é um sapo- , não chegam a exercer nem um papel secundário na história.

Um livro sobre mentiras, vaidades e inveja. Onde a juventude eterna é apenas uma forma de poder, e Dorian apenas uma pequena demonstração do que isso pode fazer quando cai em mãos despreparadas e perturbadas. Uma história fascinante sobre o julgamento que fazemos de nós mesmos e dos outros.

O Retrato de Dorian Gray (The Picture Of Dorian Gray)
Oscar Wilde
Tradução: Lígia Junqueira
BestBolso
1890 - 239 páginas

domingo, 14 de abril de 2013

A Menina que Brincava com Fogo





Primeiro aviso para quem começou a ler essa resenha: se você ainda não embarcou nesta história, leia a resenha do primeiro livro aqui e o próprio antes de ver a opinião do segundo, para não se deparar com spoiler.

A Menina que Brincava com Fogo começa dois anos depois da aventura de Mikael e Lisbeth. Mikael está diante de um novo livro polêmico, escrito pelo jovem Dag Svensson, cuja base é a tese de doutorado da sua namorada Mia. Uma bomba que lista o nome de juízes, policiais, jornalistas e outros criminosos envolvidos com crimes sexuais envolvendo menores que são estupradas e às vezes, assassinadas.

Lisbeth ainda não perdoou o fato de Mikael viver tendo casos com várias mulheres, embora ele nem imagine que ela o veja como algo mais do que um amigo. Apesar de evitar o seu encontro (mas continue a monitorar o seu computador), seu visual, assim como a sua conta bancária, não é mais o mesmo, silicones aparecem no lugar de tatuagens. Uma nova mulher está prestes a começar a aparecer, quando o nome Zala muda tudo.

No segundo volume da trilogia Millenium, Stieg Larsson nos faz passar boa parte do livro procurando por Lisbeth e outra desvendando sua história, quando todo o mal é finalmente revelado aos que estão presos as páginas deste livro. Acusada de triplo homicídio, deixa o leitor com a pulga atrás da orelha enquanto o seu passado passa a ser revirado, deixando-o tão perdido e preocupado quanto o Super-Blomkvist, e cabe a nós decidirmos se estamos ao lado de seus poucos amigos ou se caímos em uma rede de desconfiança.

Colocada na berlinda por desafetos, sua imagem é ainda mais deturpada pela imprensa. Mas o que realmente vai machucar Salander é ver pessoas que ela gosta serem machucadas pelo que julga sua culpa, o que a faz alternar entre caça e caçadora.

Se no primeiro livro Mikael estava na berlinda, agora descobrimos que Lisbeth é muito mais do que uma hacker maluca, e sim um perigo a segurança nacional. Alguém com mãe e irmã. Que desde cedo aprendeu a odiar os homens que não amam as mulheres. Uma mulher baixinha e franzina que sabe se defender como poucos.

Uma história envolvente, ainda melhor do que a primeira, que faz o leitor fechar a última página ansioso pela primeira do próximo volume.

A Menina Que Brincava com Fogo - Millennium 2
Stieg Larsson
Tradução: Dorothée de Bruchard
Companhia das Letras
2006 -607 páginas