tag:blogger.com,1999:blog-1224118728993538642024-03-15T19:00:31.906-02:00Literatura: amores e horroresLivros que amo, livros que aturo, livros que detesto, livros pelo qual me apaixono, livros que trazem memórias, livros terapeutas, livros que irei esquecer. Livros que entraram em minha vida e agora deixo resenhados por aqui.Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.comBlogger433125tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-64579692225012937712024-03-15T19:00:00.006-02:002024-03-15T19:00:00.250-02:00Arte importa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja6VK7p6W7oIjx2Bl6dv7gmDTDHi1OZuuwvhIsV2woA0hdK7dhOXFwr5Q6CK71mYGjEdp4dN0SPYN-QO4tEWEgqFRvUvXKmRY3-Sj-rFKszEF34FSshhEgXPZM3yUcqKFvPZGtKKQxPFlhreSy6mbjXsvj_BjMMQz2rbEKQkJfgdj-4t4IrrW79THdG-o/s4032/Arte%20importa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja6VK7p6W7oIjx2Bl6dv7gmDTDHi1OZuuwvhIsV2woA0hdK7dhOXFwr5Q6CK71mYGjEdp4dN0SPYN-QO4tEWEgqFRvUvXKmRY3-Sj-rFKszEF34FSshhEgXPZM3yUcqKFvPZGtKKQxPFlhreSy6mbjXsvj_BjMMQz2rbEKQkJfgdj-4t4IrrW79THdG-o/w300-h400/Arte%20importa.jpg" width="300" /></a></div><br /><p><br /></p><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Uma emocionante ode de Neil Gaiman à criatividade,
à imaginação e ao poder transformador da arte. “O mundo sempre se ilumina
quando você faz algo que não existia antes”, diz Neil Gaiman na epígrafe de
Arte importa, uma reunião de quatro textos breves e inspiradores do escritor
sobre o fazer artístico. Com artes de Chris Riddell, ilustrador renomado e
parceiro de longa data de Gaiman, o livro explora como ler, imaginar e criar
livremente podem ser elementos revolucionários capazes de mudar o mundo. Com
leveza e humor, Arte importa é um livro emocionante e necessário, um apelo
inspirador à imaginação e à coragem de criar diante de momentos difíceis. “Seja
valente. Seja rebelde. Escolha a arte. Ela importa.”</b></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em um livro curto, onde ilustração e texto se conectam de
forma que o leitor não imagina um sem o outro, o escritor britânico <b>Neil Gaiman</b>
explica os motivos de porque a imaginação de cada ser humano pode mudar o mundo
em quatro partes, cujos títulos já despertam a curiosidade.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Em Crença o autor nos convoca a refletir sobre ideia, da
dificuldade de eliminar uma pela sua invisibilidade, sobre não censurar os que
discordam de uma ideia, desde e não permitir que isso se transforme em violência
para calar os que a defendem.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><blockquote><div style="text-align: justify;"> </div><o:p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Creio que é difícil matar uma ideia, pois ideias são invisíveis, contagiosas e se disseminam rápido.</i></blockquote></o:p></blockquote><p style="text-align: justify;"> </p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Violências como o ataque terrorista ocorrido no Charlie
Hebdo, onde o jornal francês e seu conteúdo viraram notícias no mundo inteiro.
Se a ideia do ataque era calar, o efeito foi exatamente o contrário,
disseminando aos quatro cantos do mundo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Porque corretas ou incorretas, o autor acredita no direito
de existir de cada ideia. Conectando a sua existência a liberdade de expressão,
onde as únicas saídas permitidas é o debate ou virar as costas e ignorar, sem
jamais censurar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><o:p> <i>As ideias já se propagaram, escondendo-se atrás dos nossos olhos, espreitando nossos pensamentos.</i></o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Porque nosso futuro depende de bibliotecas, leituras e
devaneios o autor nos lembra de um dos melhores hábitos que podemos ter: ler
por prazer. A ficção, com a ajuda de bibliotecas e bibliotecários pode fazer
com que qualquer pessoa se apaixone pela leitura em uma relação mais eterna que
a maioria dos relacionamentos.</div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>E pessoas que leem são mais capazes de - atenção para o link
com o primeiro texto - trocarem ideias, argumentarem com as que são contrárias,
sem desejar costurar a boca de quem a pronunciou.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><o:p> <i>O modo mais simples de criar crianças leitoras é ensiná-las a ler e mostrar como a leitura é uma atividade prazerosa.</i></o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Motivo pelo qual um livro não teria faixa etária, tendo como
função despertar que as crianças busquem mais e mais livros. Alimentando assim
não só a imaginação, mas a empatia que cresce quando você se solidariza com
cada um dos personagens.</div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;">Em Fazendo uma cadeira entre a montagem de uma cadeira de
escritório há vários devaneios entre os passos que ele precisa executar e
comparações com a escrita de um livro e que tipo de instruções ele deveria ter.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><o:p><i>Bibliotecas representam liberdade. Liberdade de ler, liberdade de expressar ideias, liberdade de se comunicar.</i> </o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quem fecha é Faça boa arte que começa falando da relação do
autor com a escola, sua necessidade de escrever e os melhores conselhos que ele
não seguiu ao escolher o mundo da arte como profissão.</div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Seguido pelos motivos dele ter escolhido determinados
caminhos, de não pensar nas dificuldades, das indecisões que vão surgindo, da
necessidade de equilíbrio entre sonhos e vida real.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>E naturalmente fazer uma boa arte, pois tudo é motivo para
criar uma.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<h4 style="text-align: justify;"><span style="color: #0b5394; font-family: georgia;">A escrita de Neil Gaiman</span></h4><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Escrito em primeira pessoa, Arte Importa parece uma conversa
do escritor Neil Gaiman com os leitores. Ao refletir sobre assuntos ligados a
ideias, imaginação, livros e escritas, ele compartilha experiências pessoais e
opiniões.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;">As ilustrações de Chris Riddell complementam a experiência,
tornando o bate-papo quase real, como se o leitor estivesse sentado em um sofá
ouvindo o autor falar e gesticular, mostrar fotografias ou simplesmente
acompanhando a montagem da cadeira.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"></p><blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><o:p> <i>A ficção é a mentira que nos conta a verdade. Todos nós temos a obrigação de fantasiar. Temos a obrigação de imaginar.</i></o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal"></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que torna o livro não só rápido de ler, mas também
reflexivo.</div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p> </p>
<h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #0b5394; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de a Arte importa</b></span></h3><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Recebi o livro Arte Importa como mimo na minha assinatura da
Intrínsecos (que não existe mais) e ficou na fila para ser encaixado entre as
leituras mais densas. E foi assim que ele entrou nas leituras de verão.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Achei a leitura bastante agradável, e nesta conversa em que
apenas um fala concordei e discordei de algumas opiniões. O que, como o próprio
livro diz, é saudável para seguirmos evoluindo. Compartilho abaixo os dois
pontos cujas questões ainda estão martelando na minha cabeça.<br /><br /></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><o:p><i>Fazer um livro é um pouco como fazer uma cadeira. Talvez devesse vir acompanhado de alguns avisos, como nas instruções da cadeira. </i> </o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />Em Crença Neil Gaiman defendeu a liberdade ampla das ideias
após um ataque covarde a sede de um jornal, eu, por outro lado, lendo após
sobreviver a uma pandemia onde ideias antivacinas completamente tortas contribuíram
para milhares de mortes, me peguei pensando se realmente pode ser ampla para
tudo. O que fazer quando uma ideia se transforma em desinformação e passa a
prejudicar os outros, tornando sua disseminação tão mortal quanto um vírus?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E se por um lado eu concordo plenamente que nenhuma ideia é
justificativa para ato de violências - aliás, não existe absolutamente nada que
justifique um ato de violência - por toda a experiência pós-pandemia eu sigo
com uma pergunta na minha cabeça: deve ou não haver limites legais para as
ideias?<br /><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><o:p><i>Se você não sabe que é impossível, fica mais fácil fazer. </i> </o:p></blockquote></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />Já no texto sobre leituras, me fez lembrar de um livro que a
minha filha pediu para ler e eu disse para ela esperar um pouco mais. O autor
diz não haver livro impróprio, eu como leitora concordo que os livros instigam
a imaginação e o conhecimento, proporcionando uma visão do cotidiano que muitas
vezes não é discutido em casa ou sala de aula.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Mas será que realmente não devemos levar em conta a idade de
uma criança ou adolescente antes de lhe dar um livro para abrir? 50 tons de
cinza ou a série Game of thrones são leituras para uma criança de 10 anos? E
neste ponto eu discordo e acho que sim, como tudo na vida, a tipos de leitura
para cada fase, conforme o amadurecimento do ser humano que estamos criando
para o mundo.<br /><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><blockquote><o:p><i>Os problemas do fracasso são problemas de desencorajamento, desencanto, necessidade. Você quer que tudo aconteça, e quer na hora, e as coisas dão errado.</i> </o:p></blockquote><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />De forma geral o livro foi uma grata surpresa, ao qual
combina perfeitamente com o início de ano, já que ele de certa forma nos faz
repensar não só a arte, mas a própria vida e de como podemos fazer o novo ano
ser melhor. Afinal, todo dia é dia para usar a imaginação, buscar a própria
sorte e escolher caminhos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i>Arte Importa - Porque sua imaginação pode mudar o mundo<br />Art Matters: Because your imagination can change the world<br />Neil Gaiman<br />Ilustração: Chris Riddell<br />Tradução: Augusto Calil, Ângelo Lessa e Editora Intrínseca<br />intrínseca<br />2021 - 112 páginas<br />Primeira publicação na Grã-Bretanha em 2018</i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-46667196864979855162024-03-08T19:00:00.001-02:002024-03-08T19:00:00.254-02:00 O guarda-roupa modernista<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYDeWODWDl_W8nbENaE-HZ6enpki-IfGek3vA-MhECsSP8h5Fcgxsx22IEH9Ewjpotv11OPxIDHgkkjCrIlxCOULGoz-7MX1th-_TefXfThvskxTBSRZfO4kxctiSWkLgzXU1976EkmDMh5ovbTI75-qwRj2DQZrsbHeGYGGXbFq4myw4bPLkw8Qq5cDs/s4032/O%20guarda-roupa%20modernista.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="389" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYDeWODWDl_W8nbENaE-HZ6enpki-IfGek3vA-MhECsSP8h5Fcgxsx22IEH9Ewjpotv11OPxIDHgkkjCrIlxCOULGoz-7MX1th-_TefXfThvskxTBSRZfO4kxctiSWkLgzXU1976EkmDMh5ovbTI75-qwRj2DQZrsbHeGYGGXbFq4myw4bPLkw8Qq5cDs/w292-h389/O%20guarda-roupa%20modernista.jpg" width="292" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Entre 1923 e 1929, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade formaram um par icônico da cultura brasileira. O casal Tarsiwald - apelido cunhado por Mário de Andrade -- se consagrou como um símbolo tanto no campo das artes visuais quanto no da literatura. Em O guarda-roupa modernista, a professora e pesquisadora Carolina Casarin mostra como os dois se apropriaram da moda para deixar a sua marca. Inédita, esta farta pesquisa revela como os ideais modernistas e as contradições do movimento podem ser compreendidos a partir da escolha das roupas de dois notáveis intérpretes do Brasil. </b></p><p style="text-align: justify;">Em O guarda-roupa modernista: o casal tarsila e oswald e a moda, a escritora alagoana Carolina Casarin compartilha sua pesquisa de doutorado relacionando diferentes registros da época: vestimentas, fotografias, pinturas, obras literárias, correspondências, depoimentos e recibos, para contar não só a história de um casal que marcou época pela sua personalidade, mas do próprio Brasil que começava a conhecer o modernismo.</p><p style="text-align: justify;">O primeiro ponto a se observar é que, como já cantava Cazuza: vivemos em um museu de grandes novidades. E assim podemos dizer que o poeta Mário de Andrade foi quem iniciou a moda de shippar um casal com a utilização do Tarsiwald, sem a # por conta da época, obviamente.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Poucas peças do guarda-roupa de Tarsila e Oswald foram preservadas, e nem todas as que sobreviveram estão acessíveis ao publico.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Assim como mostrar uma sociedade intelectual burguesa que bebe muitos vinhos, viaja para a Europa e não dispensa a moda francesa para transmitir a sua mensagem e realizar o seu marketing pessoal através da roupa. </p><p style="text-align: justify;">No caso de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade as cartas registram as trocas de mensagens entre viagens, além de amenidades, listas de compras e indicações de estilistas, como Poiret, o favorito do casal modernista que curiosamente já havia perdido a popularidade na Europa por não se atualizar nas suas criações.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>E, para Oswald, a "passagem" do Império para a República é um deslizamento de poder percebido de forma natural, mais continuação do que ruptura.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O livro aborda principalmente o período entre os anos de 1923 e 1929, tempo de relacionamento do casal título, que terminou justamente no ano da grande recessão, afetando não só os bolsos, mas como as relações sociais e amorosas da elite paulistana. Mas possui também citações de outros anos de ambos ao comentarem suas memórias.</p><p style="text-align: justify;">Uma mistura de moda, busca pelo reconhecimento, arte e poesia entre os protagonistas do grande movimento cultural chamado modernismo no início do século XX, ao qual os ecos repercutem até os dias de hoje.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;"><b>A escrita de Carolina Casarin</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Por ser um livro baseado em uma pesquisa e de não-ficção, confesso que a escrita da autora Carolina Casarin me surpreendeu positivamente. Pois existe fluidez nos capítulos, tornando a leitura agradável.</p><p style="text-align: justify;">Fazendo um paralelo com um documentário, os capítulos são bem divididos, e os textos conseguem misturar bem a pesquisa sobre as roupas e os fatos que estavam acontecendo tanto com o casal, quanto com os outros integrantes do movimento que originou o Modernismo.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Tarsila soube desfrutar de sua rara condição de autonomia, que lhe garantiu a liberdade de mulher adulta, manteve o desejo de independência e propiciou o contato com as novidades oferecidas pela vida cosmopolita.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A inclusão das fotos permite um entendimento melhor não só do estilo de roupa optado da época, como também observar por uma fresta um pouco da vida e as próprias obras da Tarsila, ao qual confesso ser fã.</p><p style="text-align: justify;">Para quem deseja saber mais, ao final do livro estão listadas todas as biografias, notas e origens das informações utilizadas.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de O guarda-roupa modernista</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Eu ganhei estes livros em uma ação comemorativa aos 100 anos do Modernismo feito pela editora Companhia das Letras. E devido ao meu tempo livre ter se reduzido nos últimos tempos, acabei postergando a leitura. Mas confesso que foi uma grata surpresa.</p><p style="text-align: justify;">Por ser um trabalho de pesquisa dedicado ao detalhamento das roupas, dei uma pulada em algumas partes por ter achado mais maçante, até porque não sou da área nem uma aficionada em moda. Mas para os fashionistas de plantão, fiquei com a impressão que pode ser bem interessante, até pelo fato de a moda ser bastante cíclica.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O movimento modernista brasileiro foi amplo, com várias fases, e englobou literatura, artes plásticas, música e literatura.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O que realmente me atraiu foram os fatos históricos, as relações interpessoais da época, as personalidades que fizeram acontecer o movimento do modernismo, principalmente de Tarsila. </p><p style="text-align: justify;">Achei muito interessante conhecer um pouco mais da artista através das cartas trocadas e de comentários retirados de antigas entrevistas. Assim como o relacionamento do casal com a escritora Pagu, e fiquei imaginando se uma parte de Parque Industrial foi inspirada no que ela viveu junto ao grupo. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>As fotografias de grupo são exemplares para conhecermos os gestos, as poses e as fisionomias apreendidas pelos retratos.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Um livro de não-ficção que conta um pouquinho de uma geração do início do século XX que pode surpreender desavisados como eu e também quem curte saber sobre a influência da moda na nossa própria história.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>O guarda-roupa modernista <br />o casal tarsila e oswald e a moda<br />Carolina Casarin<br />Companhia das Letras<br />2022 - 275 páginas</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-21841470501417616372024-02-28T19:00:00.001-02:002024-02-28T19:00:00.140-02:00 Ela se chama Rodolfo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgawOAhiFxR1CG2x7DXNIjOVpxaykYkw5dlk5GuBBgR1h7RQW84O4joVByMMIm16jXra3VzkIWuP6b6CzxX2S_FTZeIVJrBZ5dNhW7gsapRk8trjscdAPuTM4jZkl39LWALBvSP8UFsFb3Bi04pkFo7jkjgIflZDlgmyvucIDEUVpzveebT7ZC8NXi8qZg/s4032/Ela%20se%20chama%20Rodolfo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="405" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgawOAhiFxR1CG2x7DXNIjOVpxaykYkw5dlk5GuBBgR1h7RQW84O4joVByMMIm16jXra3VzkIWuP6b6CzxX2S_FTZeIVJrBZ5dNhW7gsapRk8trjscdAPuTM4jZkl39LWALBvSP8UFsFb3Bi04pkFo7jkjgIflZDlgmyvucIDEUVpzveebT7ZC8NXi8qZg/w304-h405/Ela%20se%20chama%20Rodolfo.jpg" width="304" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Murilo acaba de se mudar para um apartamento no qual a antiga moradora, Francesca, deixou uma tartaruga. Seguindo ordens recebidas por e-mail, tenta entregar o animal por meia Porto Alegre. A peregrinação parece inocente, mas a escritora Julia Dantas sabe que não há nada mais radical e transformador do que o encontro entre pessoas quando minimamente desarmadas.</b></p><p style="text-align: justify;">Desde a pandemia virou tradição na <b>TAG Curadoria</b> enviar um livro mais leve em <b>dezembro</b>, e <b>2023</b> não terminou diferente. Recebi <b>Ela se chama Rodolf</b>o da escritora gaúcha <b>Julia Dantas</b>. A indicação foi do também escritor <b>Tobias Carvalho</b>. E o mimo foi um calendário com doze projetos gráficos tanto da Curadoria quanto da inéditos que já me faz companhia na mesa de trabalho.</p><p style="text-align: justify;">Murilo é um professor e escritor frustrado que hoje trabalha como porteiro noturno. Contando os dias para sair de férias e ir atrás da ex-namorada Gabbriela, que ao resolver ir para um retiro espiritual em Goiás e só deixou lembranças e dívidas no cartão de Murilo, ele resolve alugar temporariamente um apartamento.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Alugar o apartamento de uma desconhecida, sem contrato nem garantias, era o tipo de ideia que ele jamais teria levado adiante sob circunstâncias habituais.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No banheiro do local encontra uma tartaruga sofrendo por falta de água. Após lhe reacender a vida, entra em contato com Francesca, dona do apartamento, para saber com quem pode deixar o animal</p><p style="text-align: justify;">Entre as idas e vindas em busca do novo dono, há os conflitos de sua irmã Lídia, cujo marido em tratamento de câncer parece suga-la até a alma e Camilo, que um belo dia Murilo encontra dentro do apartamento e acaba ficando por ali mesmo.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Todos os dias, constata que o animal está saudável. Come, move-se, esconde a cabeça, o que mais poderia fazer?</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E essa convivência irá fazer com que Murilo reflita sobre os últimos acontecimentos, revelando que nem tudo é exatamente como parece.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130; font-family: georgia;"><b>O que eu achei da escrita de Julia Dantas</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a autora Julia Dantas coloca o leitor para acompanhar as idas e vindas, encontros e desencontros do personagem Murilo.</p><p style="text-align: justify;">E embora a história seja leve, ela também é arrastada, pois falta Porto Alegre se a intenção era fazer uma road book. E quem escreve aqui é uma gaúcha que mora justamente na capital do RS.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>As lembranças o deixam exausto, cansaria menos se ficasse acordado.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Falta Porto Alegre nas descrições da cidade, onde parecem saídos diretamente do Google Maps, no chimarrão que não estava presente em nenhuma mão, nos diálogos onde não se encontra nenhum Bah.</p><p style="text-align: justify;">Por outro lado, isso permite que a narrativa possa ser adaptada em qualquer lugar do mundo, até mesmo em um lugar fictício, já que não há muita descrição ou referência, tornando a história adaptável ao local do leitor.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Sempre a partir do fim da tarde, os urubus se jogam das alturas e despencam em velocidade terrível até a calçada. Não precisam disputar comida. Há de sobra para todos.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No geral um livro que pincela em seus capítulos - curtos, sem número ou nome - várias situações, que vão de uma pessoa que estuda e acaba sem objetivo na vida até aquela que precisa confrontar a família para se sentir confortável com o que vê no espelho.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #4c1130; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Ela se chama Rodolfo</b></span></h3><p style="text-align: justify;">É curioso como a minha régua sobe quando se trata de um livro enviado pela TAG, mesmo quando se trata de livros mais leves. Eu espero que a história tenha um diferencial, que me apresente algo novo ou tenha algo diferente na narrativa. E infelizmente não é o caso de Ela se chama Rodolfo.</p><p style="text-align: justify;">Começo com as várias movimentações do personagem pela cidade com o objetivo de encontrar um dono para a tartaruga: elas não acrescentam nada a história, e eu ficava e perguntando se não era mais fácil economizar as passagens de ônibus e entrar em contato via whats. Aliás, porque a própria Francesca, que tinha acesso a um e-mail, não fazia isso?<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não há jeito. Existe uma aparente incompatibilidade irreversível entre tartarugas e agricultores.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O motivo é que tanto na descrição dos lugares como nos diálogos com os figurantes que entram e saem em uma sucessão de negativas, tornaram esta parte da narrativa bastante enfadonha para mim, pois não acrescentam nada a história.</p><p style="text-align: justify;">O personagem principal é um homem que não sabe o que quer da vida. O trauma de infância que cai no colo do leitor no meio da narrativa não surtiu nenhum impacto em mim. Sendo apenas mais uma muleta para um personagem que sai do nada e vai para lugar algum.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Sou do tipo que prefere manter distância dos excessos, inclusive os excessos de gente. Não sou bom com pessoas, e essa é uma expressão perfeita.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Como a narrativa é centralizada no Murilo, não ficamos sabendo muito sobre os personagens coadjuvantes, cujas participações demonstraram ter mais possibilidades para serem explorados. Principalmente Francesca que acaba sendo uma participação especial para justificar o nome da tartaruga. Aqui sim um ponto que achei bem perspicaz.</p><p style="text-align: justify;">No geral achei a primeira metade do livro arrastada e repetitiva, a segunda metade melhora, mas não o suficiente para me encantar, e assim achei o livro mais ou menos.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>A ideia de trocar palavras ocas com quem ele não tinha intimidade lhe parecia um imenso desperdício de vida.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas como ele pode provocar uma reação completamente diferente em você, fica a dica de uma leitura nacional, onde você não vai conhecer a cidade de Porto Alegre, mas quem sabe se conectar com alguns dos pontos abordados e ter uma relação bem melhor que a minha com o livro. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Ela se chama Rodolfo<br />Julia Dantas<br />TAG - DBA Editora<br />2023 - 263 páginas<br />Publicado originalmente em 2022</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-13503898899406011672024-02-20T19:00:00.001-02:002024-02-20T19:00:00.274-02:00 O fim da eternidade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjISKcLO8GNNDbtopzx7aJxcH4V2ctQDwiaxHx32RJLa2c7JwSnSo7aRgGI3zD4zOgU3uVUAmEg5TJTbkjVXJQuInm3elbfuWNjracu9yACisTYYPdJv1p51702yL6hWK-ZIEX4KHk81xAf4YMYtX1NQO3TbjRPbGxXyzmMdce75IEUc4vSPWpoMRcQaE4/s3570/O%20fim%20da%20eternidade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3570" data-original-width="2641" height="384" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjISKcLO8GNNDbtopzx7aJxcH4V2ctQDwiaxHx32RJLa2c7JwSnSo7aRgGI3zD4zOgU3uVUAmEg5TJTbkjVXJQuInm3elbfuWNjracu9yACisTYYPdJv1p51702yL6hWK-ZIEX4KHk81xAf4YMYtX1NQO3TbjRPbGxXyzmMdce75IEUc4vSPWpoMRcQaE4/w285-h384/O%20fim%20da%20eternidade.jpg" width="285" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Um dos livros de viagem no tempo mais divertidos já escritos e uma das principais obras de Asimov, O fim da eternidade conta uma história de amor envolta em ficção científica da mais alta qualidade. O técnico Andrew Harlan é responsável por fazer pequenas modificações na história durante suas viagens no tempo. Por menores que sejam - tirar um objeto do lugar, interromper uma conversa -, cada uma dessas mudanças altera a vida de milhares de pessoas, evitando até catástrofes séculos à frente. Em uma de suas missões, conhece Noÿs Lambent, uma mulher que abala suas convicções e o faz questionar as regras do próprio trabalho, podendo colocar em risco o rumo da humanidade.</b></p><p style="text-align: justify;">Andrew Harlan utiliza cápsulas para viajar entre os séculos. Nascido no século 95, desde que aos 15 anos se tornara um aprendiz na Eternidade, nunca mais retornara para casa ou viu sua família. </p><p style="text-align: justify;">Hoje ele exerce a função de técnico, um perfil que exige uma estrutura mental fria e impessoal, o que o torna bastante distante das demais pessoas que circulam na Eternidade, tornando-o bastante solitário. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não esperava nenhum movimento; nem para cima nem para baixo, para a esquerda ou para a direita, para a frente ou para trás.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Em cada viagem pelo tempo ele precisa se adaptar a cultura do século destino para passar despercebido na realização de suas mudanças, que por menores que sejam, geram mudanças que ecoam pelos séculos futuros, impactando em nascimentos, mortes e eventos.</p><p style="text-align: justify;">Mas todas as suas crenças serão colocadas a prova em uma missão no século 482. Recebendo como parceira a tempista Noÿs Lambert, que conquista o coração e a mente do até então muito frio técnico, que irá rever e começar a questionar tudo o que viveu e aprendeu até se deparar com sua primeira paixão.</p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Tudo funcionava perfeitamente antes, mas agora tudo estava diferente para ele, e os pedaços do que havia se quebrado não poderiam ser juntados de novo.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E para viver esta paixão ele pode colocar em risco tudo o que se entende como a organização chamada Eternidade.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #a64d79; font-family: georgia;"><b>A escrita de Isaac Asimov</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O escritor americano Isaac Asimov utiliza a narrativa em terceira pessoa para que o leitor acompanhe a jornada de Andrew Harlan em sua jornada pelo tempo e o desafio de tomar as próprias decisões.</p><p style="text-align: justify;">Optando em já o apresentar como técnico, utiliza de pensamentos para pincelar como ele foi convocado a trabalhar na organização chamada Eternidade, suas funções anteriores e sua escolha para uma função tão desafiadora. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>A história que tentam ensinar aos Tempistas muda a cada Mudança de Realidade. Não que eles se dêem conta disso. Em cada Realidade, a história deles é a única história.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No primeiro capítulo o autor optou em deixar uma pulga atrás da orelha de quem inicia a leitura, e os capítulos seguintes vão em uma crescente de acontecimentos e situações que geram reflexões não só sobre alterar os acontecimentos passados, mas sobre a humanidade em si.</p><p style="text-align: justify;">A tecnologia está presente, mas como uma coadjuvante para levar o personagem principal de um século a outro, o verdadeiro foco está nas atitudes dos Homens em si.<br /><br /></p><blockquote><blockquote><p style="text-align: justify;"><i>Acima de tudo, havia desenvolvido o sentimento de poder de um Técnico. Tinha o destino de milhões de pessoas nas pontas dos dedos e, se isso era fonte de solidão, também era fonte de orgulho.</i></p></blockquote></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A escrita no geral é fluída, inicialmente parece mais engessada, mas ela vai ficando mais solta no decorrer dos capítulos, aos quais todos possuem um título, deixando ganchos de uma passagem para a outra.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #741b47; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de O fim da eternidade</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O que dizer de um livro cujo título já é um possível spoiler?</p><p style="text-align: justify;">Confesso que não o achei divertido, já que não houveram gargalhadas durante a leitura, mas sim bem interessante as reflexões que ele proporciona ao longo da leitura e após sua finalização.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Teria de falar o menos possível, fazer o menos possível, ser o mais possível somente uma parte da parede. Sua verdadeira função era ser dois olhos e dois ouvidos.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Primeiro é o machismo explícito de um grupo chamado Eternidade que viaja pelo tempo alterando eventos e assim mudando diferentes realidades que em sua maioria é composta por homens em toda a sua hierarquia.</p><p style="text-align: justify;">Curiosamente ao mudarem as grandes dores de nossa história, o ser humano para de evoluir e os séculos, apesar de terem culturas diferem, tendem a uma padronização a cada mudança realizada no passado.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Era muito pior do que apenas antiético, mas há muito isso não lhe importava. No último fisiomês tornara-se, aos seus próprios olhos, um criminoso.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A verdade é que a cada mudança parece que eles apenas pioram mais o cenário. O poder do homem de ser Deus, interrompendo outras vidas, mudando caminhos, me provocou como leitura uma certa inquietação, principalmente quando se pensa no período atual, em que estamos no meio de tantas guerras espalhadas pelo mundo e outros tantos desejos de invasão.</p><p style="text-align: justify;">Seria bom consertar tudo isso e vivermos tempos de paz para tentar dar uma sobrevida ao nosso planeta? Com certeza. Mas aí teríamos que colocar mulheres para participarem das análises, algo vetado na Eternidade de Harlan, e assim termos sensibilidade em relação as pessoas afetadas. Ao mesmo tempo surge a pergunta quem somos nós para decidir os caminhos dos outros?<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Um juramento de posse quebrado, que não era nada no 482, era execrável na Eternidade.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Voltando a ficção, em O fim da eternidade tudo muda quando um dos técnicos mais capazes se apaixona. E aí temos uma ficção científica love story que coloca o amor na batalha contra o poder de uma organização.</p><p style="text-align: justify;">Confesso que fiquei curiosa se o filme De volta para o futuro se inspirou nele, principalmente na questão de uma pessoa não poder se encontrar durante as viagens. Também me recordei do filme Efeito Borboleta e da série Dark, onde temos as pequenas alterações no tempo e um vai e volta constante.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ninguém o questionara. Ninguém o detivera. Haveria essa vantagem, de qualquer modo, no isolamento social de um Técnico.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Em resumo eu gostei, não achei o máximo, mas no geral a leitura me agradou. Achei o início um pouco arrastado, contrastando com o final que já prende bem mais, mesmo quando as descobertas feitas são um tanto óbvias.</p><p style="text-align: justify;">Ficando a dica para quem gosta de ficção científica, histórias diferentes, reflexões sobre o comportamento humano e claro, quem não resiste a um livro que já quer ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>O fim da eternidade<br />The end of eternity<br />Isaac Asimov<br />Tradução: Susana L. de Alexandria<br />TAG - Aleph<br />2023 - 256 páginas<br />Publicado originalmente em 1955</i></b></p><div><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-67058504559367332612024-02-16T19:00:00.001-02:002024-02-16T19:00:00.272-02:00 Em algum lugar lá fora<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCl-0wcqADBBZdY4-Q-QGTtj7YNoGBNah4I1YpKgWRDCwD975x5sCuxM6fJnBmTK4NdM2pwDMANTypYnrkaX9nfYoGgkAMCcRa-YrVdlIqhzJK2Fnv1N6TGUacAuVFEgEf2agRADBRp5aYaRaan9hnhkE81gGblafFpg7frh5A2dN8RETBrCXFuEBylYM/s4029/Em%20algum%20lugar%20l%C3%A1%20fora.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2635" data-original-width="4029" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCl-0wcqADBBZdY4-Q-QGTtj7YNoGBNah4I1YpKgWRDCwD975x5sCuxM6fJnBmTK4NdM2pwDMANTypYnrkaX9nfYoGgkAMCcRa-YrVdlIqhzJK2Fnv1N6TGUacAuVFEgEf2agRADBRp5aYaRaan9hnhkE81gGblafFpg7frh5A2dN8RETBrCXFuEBylYM/w488-h319/Em%20algum%20lugar%20l%C3%A1%20fora.jpg" width="488" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: A história se passa em uma região não especificada no sul dos Estados Unidos, por volta dos anos 1850, na fazenda Placid Hall. Nela, os escravizados — ou “Sequestrados”, como se autodenominam — são submetidos aos caprichos de um tirânico e excêntrico captor e nunca sabem o que pode lhes ocorrer além do trabalho físico desumano de todos os dias: um castigo brutal ou a venda inesperada de um ente querido. Porém, o que mais fere William, Cato, Margaret, Pandora e o Pequeno Zander é a falsa crença de que são incapazes de amar. Ainda que tenham aprendido o idioma e a doutrina religiosa de seus captores — chamados por eles de “Ladrões” —, possuem linguagem e rituais próprios e desejam, a todo instante, estar “em algum lugar lá fora”, uma realidade distinta daquela em que vivem. Até que o pastor Ramson, homem negro liberto com um passado misterioso, começa a incutir neles ideias de liberdade.</b></p><p style="text-align: justify;">Em <b>Novembro/2023</b> recebi da minha assinatura da <b>TAG Curadoria</b> o romance norte-americano Em algum lá fora do escritor <b>Jabari Asim</b>. A curadora foi da escritora e historiadora pernambucana <b>Micheliny Verunschk</b>. E o mimo foi um chaveiro literário.</p><p style="text-align: justify;">A história começa quando William, aos quatorze anos, assiste uma das piores cenas que um ser humano pode presenciar: vinte crianças negras mortas, esquecidas em um barracão de madeira após a prisão de seu sequestrador. Para em seguida ele ser vendido a um fazendeiro dono de dez mil acres de terra. Seu novo lar, Placid Hall, era o centro de pesquisa deste homem branco sobre o comportamento de seus sequestrados.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Nossas privações eram muitas, e, no entanto, havia algum consolo em saber que existiam outros seres no mundo - ratos, digamos, ou cobras - que sofriam ainda mais.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Em Placid Hall William conhece Cato, que já nasceu escravizado em um lugar onde a senhora era gentil e o ensinou a ler, e até hoje recita as regras de um livro chamado As regras da civilidade para se acalmar. Ele e Willian dividem sua cabana com Zander, um menino sonhador que está nos primeiros anos da adolescência, tem uma grande fé e é sempre muito ativo.</p><p style="text-align: justify;">As mulheres são representadas por Margaret, companheira de Willian, que não deseja que seus filhos nasçam escravos e vive a pressão do fazendeiro de engravidar. E por sua amiga Pandora, que já passou por várias humilhações nas mãos da senhora de Placid Hall, ao qual chama de Guincho da Coruja.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Uma língua que que sabe parar quieta é a base de uma cabeça sábia.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Os cinco conhecem Ransom, um homem de aparência calma e confiável que já foi escravo e hoje realiza a função de pastor itinerante pelas diferentes fazendas. Mas muito mais do que palavras religiosas, ele mantém vivo os próprios rituais africanos e planta nos corações que encontra o anseio por liberdade quando os ladrões não estão olhando.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>A escrita de Jabari Asim</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O escritor Jabari Asim divide a sua narrativa em nove partes, cujos títulos podem dar uma pista ao leitor do que irá encontrar nas páginas seguintes. Com raras exceções, os capítulos levam o nome do personagem que irá relatar os fatos a seguirem, utilizando a narrativa em primeira pessoa. A narrativa em terceira pessoa só ocorre nos capítulos sem nome.</p><p style="text-align: justify;">Como base está a própria história da escravidão, com suas dores e injustiças, a cultura africana, com suas formas de fé, e o realismo mágico, que dá o toque de esperança em meio a tensão.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Os bebês que por milagre sobreviviam ao inverno eram mandados para os campos para trabalhar como espantalhos humanos assim que aprendiam a andar.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Os personagens, em um retrato fiel aos seres humanos, possuem origens, histórias e personalidades bem diferentes, embora o fazendeiro não se dê o trabalho de observar e muito menos anotar. Aliás, as observações feitas pelo pseudo pesquisador dão uma ideia para quem não é descendente de escravos o tipo de mentalidade que os escravagistas tinham para acreditar terem direito de subjugar um outro ser humano e assim se sentirem livres para praticarem atos desumanos.</p><p style="text-align: justify;">Outro fato curioso são os termos utilizados pelo autor, aqui não temos o uso de termos como proprietário ou dono, mas ladrões, e o termo escravizado por sequestrado. Lembrando que sim, que foram ladrões que entraram dentro do território do continente africano e sequestraram vidas humanas de suas aldeias, famílias e amores.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não existe deus nenhum, e as únicas coisas em que dá para acreditar são a brasa do verão, o gelo do inverno e a força das minhas mãos.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Tudo em uma escrita forte, que transfere o leitor para a fazenda e o faz sentir junto com os personagens cada situação, suas tristezas, pequenas alegrias, injustiças e sim, esperanças.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Em algum lugar lá fora</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Gostei muito da divisão dos capítulos, que são curtos e intensos. Também gostei das diferentes visões das situações, o fato de cada personagem ter suas características tão definidas me cativaram como leitora, tornando fácil imaginar o dia-a-dia na fazenda, sofrer com as dores de uma violência sem justificativa e entender as dúvidas e certezas em relação a fé.</p><p style="text-align: justify;">O toque fantástico amplia as cenas, lembrando as histórias que foram passadas oralmente, mas aqui vividas por completo. Tudo complementado pelo respeito aos ancestrais, a mistura de coragem e medo, gerando uma contrapartida as palavras pronunciadas pelos aqui chamados ladrões, principalmente o dono da fazenda, cujos diálogos beiram o absurdo.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Nós nos movíamos como se estivéssemos perdidos em sonhos; comíamos sem sentir sabor, dormíamos sem descansar, ouvíamos sem escutar.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A leitura também me fez recordar dois livros: <a href="https://literamandoliteraturando.blogspot.com/2018/05/the-underground-railroad.html" target="_blank"><b>The Underground Railroad</b></a> - que trata da fuga de Cora, uma escrava presa em uma plantação de algodão na Geórgia - e <a href="https://literamandoliteraturando.blogspot.com/2020/08/a-danca-da-agua.html" target="_blank"><b>A Dança Da Água</b></a> - que também mistura o desejo de liberdade de escravos na Virgínia com realismo fantástico.</p><p style="text-align: justify;">Um livro que eu gostei e me tocou, e assim deixo aqui recomendado para quem se interessa por história, pelo período da escravidão, literatura fantástica ou simplesmente gosta de ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Em algum lugar lá fora<br />Yonder<br />Jabari Asim<br />Tradução: Rogerio W. Galindo<br />TAG - Instante<br />2023 - 255 páginas<br />Primeira publicação em 2022</i></b></p><p style="text-align: justify;"><i><span style="color: #660000;">Post não patrocinado, assinatura paga pela autora do post.</span></i></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-15905193858464869372024-02-06T19:00:00.001-02:002024-02-06T19:00:00.156-02:00 As histórias de Pat Hobby<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-niSvNWMFui6biusEWJwX4IcX3l7cfB6Qew1bIR_QfXr-UIyYfHeAg4EHZOwfCrddKR4Msg_Ic_RmIX6_TaxtlkRS1jHat4XmhpuJI6y1g_5C7078-IDUsfFNBiAIOZXhhdGHQhe30-MM55Jpjta_bK8CRiD1cHtfDSaq65ltHju8LO5am3hhN5Bs1ww/s4032/As%20hist%C3%B3rias%20de%20Pat%20Hobby.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="365" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-niSvNWMFui6biusEWJwX4IcX3l7cfB6Qew1bIR_QfXr-UIyYfHeAg4EHZOwfCrddKR4Msg_Ic_RmIX6_TaxtlkRS1jHat4XmhpuJI6y1g_5C7078-IDUsfFNBiAIOZXhhdGHQhe30-MM55Jpjta_bK8CRiD1cHtfDSaq65ltHju8LO5am3hhN5Bs1ww/w274-h365/As%20hist%C3%B3rias%20de%20Pat%20Hobby.jpg" width="274" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Na Hollywood dos anos 40, o decadente Pat Hobby luta para conseguir o próximo trabalho. Sempre tramando alguma coisa na surdina, ele tenta fazer o jogo para subir de escalão, com um olho na mesa dos poderosos e outro nas secretárias. Assim, ele embarca para uma humilhação cada vez maior, sofrendo reveses tanto no campo profissional quanto no romântico. Essas histórias, publicadas na revista Esquire e inspiradas pelo período quando Fitzgerald viveu como roteirista, formam um relato vigoroso de Hollywood e seus tipos, em caminhos que vão da fama efêmera à implacável sarjeta.</b></p><p style="text-align: justify;">Com 17 histórias que podem ser lidas separadamente em formato de conto ou como um romance curto, o escritor norte-americano <b>F. Scott Fitzgerald</b> presenteia os leitores com as divertidas, sem noção e visão do personagem Pat Hobby.</p><p style="text-align: justify;">De roteirista bem remunerado que torrava o seu dinheiro em bebidas, mulheres e futilidades como se ele fosse infinito, o que acompanhamos é a sombra do homem que agora consegue um trabalho aqui e outro ali, muito mais como revisor do que no seu papel original de roteirista, indo todos os dias no estúdio para comer e dormir, e nos intervalos buscando algo que lhe renda alguma coisa.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O autocontrole. no fundo, pelo menos, era norma por ali. Já não era ruim o bastante estar no trabalho na véspera de Natal?</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Com vinte anos de experiência, sua cabeça dói demais quando ele lê, para economizar ele dispensa a secretária em véspera de natal para não comprar presente, trabalha em feriado para tentar renovação - que muitas vezes não vem - e tem o seu trabalho considerado antiquado pelos revisores mais jovens.</p><p style="text-align: justify;">Há também os trabalhos realizados fora dos estúdios, a relação entre produtores, diretores e roteiristas, e claro o seu relacionamento com as mulheres.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #e86b13; font-family: georgia;"><b>A escrita de F. Scott Fitzgerald</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Os contos publicados entre janeiro de 1940 e maio de 1941 possuem a mesma fluidez, ironia e deboche elegante que eu já havia encontrado em outro livro de F. Scott Fitzgerald, o clássico e conhecidíssimo <a href="https://literamandoliteraturando.blogspot.com/2010/06/o-grande-gatsby.html" target="_blank"><b>O Grande Gatsby</b></a>.</p><p style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em terceira pessoa para nos contar as desventuras de Pat Hobby, é possível ver as fissuras do mundo dourado das produções hollywoodianas, com o conhecimento de quem também foi roteirista. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Era roteirista, mas nunca escreveu muita coisa, ou tampouco leu todos aqueles "originais" que serviam de base para o seu trabalho, pois sua cabeça doía quando lia demais.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Conhecido por retratar a sociedade norte-americana, seus contos, como seus romances, mostram sequencias que vão do engraçado ao inacreditável, o que despertam facilmente aquele desejo de ler mais um. </p><p style="text-align: justify;">Mas não confunda leveza com histórias bobas, pois a escrita captura o leitor justamente pela inteligência de suas ironias.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #e86b13; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de as histórias de Pat Hobby</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Me surpreendi com o livro, leve e divertido, caminhei junto com Pat Hobby pelos estúdios que são sua casa enquanto ele faz das suas. Não senti falta do seu antes, quando era um roteirista de sucesso do cinema mudo. Mas fica claro que a transição para o falado não fez bem a sua carreira, e por isso acompanhamos apenas a sua decadência e sobrevivência, motivos pelo quais ele vive situações surreais enquanto sente saudades dos bons tempos.</p><p style="text-align: justify;">Nas páginas dos contos são referenciados os nomes de astros e escritores famosos, assim como a rivalidade dos roteiristas antigos com os mais jovens, as diferenças salariais, e o que ocorre com quem consegue não ter bons relacionamentos profissionais, não se atualiza na profissão ou fica apenas no corpo mole. No caso de Pat ele sintetiza as duas últimas, e só se mantém pela sua rede de contato.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Por ser da Hollywood do passado, ele entendia suas piadas, suas vaidades e sua hierarquia social, com as repentinas oscilações.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Também achei interessante a quantidade de vezes que a idade do personagem é citada, tornando-a difícil de esquecer: 49 anos, como que para contrastar com a imaturidade de Pat, cuja descrição física nos remete muito mais a velhice do que a juventude.</p><p style="text-align: justify;">Uma curiosidade da edição que eu li é que cada história tinha o título traduzido em português, o original em inglês e o mês e ano que ela foi publicada originalmente.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>A benzedrina e grandes quantidades de café o acordavam pela manhã, o uísque o anestesiava à noite.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Resumo da ópera eu adorei este livro de contos, achei ele perfeito para o período de férias, ao unir leveza e risadas. Ficando a dica para quem gosta de uma pitada de ironia nas páginas que vira.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>As histórias de Pat Hobby<br />The Pat Hobby stories<br />F. Scott Fitzgerald<br />Tradução: Hilton Lima<br />TAG - Dublinenses<br />2022 - 160 páginas<br />Publicados originalmente na Revista Esquire entre os anos de 1940 e 1941</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-17478900431430264792023-12-27T13:00:00.003-02:002023-12-27T13:00:00.140-02:00 A outra volta do parafuso<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZTTuH7EvaVK9Sf92dslZI_KWEn6QMSQgJfMq2_jnCKLtlvoUcvfvNygFL-W3NvWRU1c7XUK4RiDXdKmZFR6J8SKwhxW1i7eH4eKY8MSPcsAb9wetk4CrxLd_zRcg_-CSGFgbFsg0eI0HFYLTS5_aCWih-u4CyVnqtNzRqZMWYqKg_y6Zz2EpQyvhbrKE/s4032/A%20outra%20volta%20do%20parafuso.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="385" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZTTuH7EvaVK9Sf92dslZI_KWEn6QMSQgJfMq2_jnCKLtlvoUcvfvNygFL-W3NvWRU1c7XUK4RiDXdKmZFR6J8SKwhxW1i7eH4eKY8MSPcsAb9wetk4CrxLd_zRcg_-CSGFgbFsg0eI0HFYLTS5_aCWih-u4CyVnqtNzRqZMWYqKg_y6Zz2EpQyvhbrKE/w289-h385/A%20outra%20volta%20do%20parafuso.jpeg" width="289" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: A outra volta do parafuso conta a história da jovem filha de um pároco que, iniciando-se na carreira de professora, aceita mudar-se para a propriedade de Bly, em Essex, arredores de Londres. Seu patrão é tio e tutor de duas crianças, Flora e Miles, cujos pais morreram na Índia, e deseja que a narradora (que não é nomeada) seja a governanta da casa de Bly. Ao chegar a Essex, a jovem logo percebe que duas aparições, atribuídas a antigos criados já mortos, assombram a casa. O triunfo íntimo da protagonista, mais que desvendar o mistério de Bly, consiste em vencer o silêncio imposto pela diferença de condição social entre ela e seus pequenos alunos.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>Outubro/2023</b> eu recebi pela minha assinatura da <b>TAG Curadoria</b> a indicação do tradutor <b>Caetano W. Galindo</b>, que também fez a Apresentação do livro ao qual é realmente fã: A outra volta do parafuso do escritor americano <b>Henry James</b>. O mimo foi do tipo que eu adoro: uma coletânea de Contos de horror da América Latina.</p><p style="text-align: justify;">Em uma véspera de Natal um grupo resolve trocar histórias ao redor da lareira. Quando Douglas resolve dizer que na noite seguinte iria compartilhar a história real escrita por uma governanta já falecida, uma mulher mais velha do que ele ao qual o encantou com sua presença e sua história.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Imagino que eu estivesse esperando, ou temendo, algo tão sombrio que o que me recebia era uma boa surpresa.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Uma moça de vinte anos cujo nome não é revelado, é contratada como governanta por um tutor, que deseja terceirizar a criação de seu casal de sobrinhos pequenos. A menina vivia em uma casa de campo na cidade de Bly, próxima a Londres - e o menino se dividia entre a escola e o lugar onde a irmã vivia.</p><p style="text-align: justify;">E é para esta casa de campo que a nova governanta vai e se encanta com as crianças quase da mesma fora que se encantou com o tio. Mas a revelação da acontecimentos anteriores fazem com que ela passe a enxergar figuras misteriosas e se sentir dividida entre proteger os irmãos e achar que as crianças estão envolvidas com o mistério que os cerca.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>A escrita de Henry James</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O escritor norte-americano Henry James coloca o leitor dentro da mente da jovem governanta de Bly em uma narrativa em primeira pessoa. Mas já na introdução do que será contado se cria um clima de suspense, cuja manipulação psicológica irá aumentar no decorrer da leitura.</p><p style="text-align: justify;">Pois a história que já gerou uma série de adaptações como Os inocentes, Os outros e a mais recente A maldição da mansão Bly, realmente mexe com a imaginação do leitor, já que a ambiguidade da narrativa abre um leque de possibilidades que podem ser interpretadas conforme as crenças de quem mergulha em suas páginas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Se tinha me encarado de maneira tão ousada, era por sua indiscrição. A parte boa, ao fim e ao cabo, era que certamente não o veríamos mais.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O que torna A outra volta do parafuso ainda mais genial, levando em conta que a história é relativamente curta, mas com um nível de tensão e reflexão suficientes para várias discussões, que vão do abandono infantil, passando por repressão sexual, reação ao isolamento, fofocas no ambiente de trabalho, diferenças sociais, e claro, será fantasma ou será loucura?</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de A outra volta do parafuso</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Ambíguo. Já faz um tempo que eu finalizei a leitura e ainda não tenho uma certeza absoluta sobre o que realmente ocorreu no livro. Naturalmente formulei as minhas próprias teorias, mas definitivamente A outra volta do parafuso não te permite ter certezas sobre os acontecimentos.</p><p style="text-align: justify;">Quando a jovem é enviada para o local isolado, em um primeiro momento ela projeta a perfeição nas crianças, a ponto de não investigar a recente expulsão do menino da escola. Logo ela cria laços com outra funcionária do local, a sra. Grose, mas como leitora, não sabia o que ela realmente dizia, concordava ou muito menos pensava.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Era uma pergunta bastante direta, mas nossas conversas não eram levianas, e a luz cinza da alvorada forçando a nossa separação conseguiu-me uma resposta.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Conforme ela enxerga os dois ex-funcionários do local, que estão mortos, surgem dúvidas de como ela sabe as características dos dois? A sra. Grose realmente confirma as descrições? Ou seriam características genéricas da época? Ficando a pergunta: estamos realmente nos deparando com fantasmas?</p><p style="text-align: justify;">Mas a forma como a narrativa foi construída não me deu medo. Não achei que os momentos das aparições causassem tensão, até pela forma forte e corajosa da governanta encarar as aparições. O verdadeiro charme e suspense da leitura está nos pontos de interrogação que se espalham ao longo da trama. Não é por acaso que já foram gerados diversos filmes inspirados no livro em que cada um deu a sua própria versão.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Era o silêncio mortal de nosso longo olhar em tamanha proximidade que dava àquele horror, imenso como era, sua única nota sobrenatural.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Particularmente no que se refere a terror, o texto introdutório promete mais do que entrega. Por que o livro está mais para um suspense psicológico, onde o estilo da narrativa não permite ao leitor ter a visão dos demais personagens, enquanto a narradora tenta se vender como confiável o tempo inteiro. E o leitor fica sem saber se deve acreditar ou não. E assim temos um novo ponto de interrogação: são fantasmas ou a personagem está enlouquecendo neste lugar isolado?</p><p style="text-align: justify;">Um livro para quem não deseja respostas, mas sim perguntas. Para quem não se irrita em não receber tudo pronto e gosta de criar as próprias teorias. Um livro, como disse o curador, para reler e identificar mais detalhes, para ver se as próprias conclusões se mantêm ou se alteram no decorrer do tempo.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>A outra volta do parafuso<br />The turn of the screw<br />Henry James<br />Tradução Lígia Azevedo<br />TAG Experiências Literárias<br />2023 - 157 páginas<br />Publicado originalmente em 1898</i></b></p><p><br /></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-66133725415517250612023-12-11T13:00:00.001-02:002023-12-11T13:00:00.249-02:00 Disque T para titias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZFKgL9kUYEKAKC4WFNQDiIxPDfXbu9Bm4_a5KQieEOOv5XFOWZvOW-wjLhctTXgmDZhYOMmP9D6qXMmvc0TB5wBv23fdj3LGKHlAw2kdbzYlbXABqLQn-Xbx4cSm_P7obVM2xt95iFp9Tnln5xYD44HvCsl5zp9og0Nb5l-DzR47EeiaRA1HjhkMhr6A/s4032/Disque%20T%20para%20titias.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="417" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZFKgL9kUYEKAKC4WFNQDiIxPDfXbu9Bm4_a5KQieEOOv5XFOWZvOW-wjLhctTXgmDZhYOMmP9D6qXMmvc0TB5wBv23fdj3LGKHlAw2kdbzYlbXABqLQn-Xbx4cSm_P7obVM2xt95iFp9Tnln5xYD44HvCsl5zp9og0Nb5l-DzR47EeiaRA1HjhkMhr6A/w313-h417/Disque%20T%20para%20titias.jpg" width="313" /></a></div><br /><p><br /></p><div style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Um assassinato (acidental). Um casamento com dois mil convidados. Três gerações de uma família sino-indonésia nos Estados Unidos. E as tias mais intrometidas do mundo prontas para salvar o dia.</b></div><p></p><p style="text-align: justify;">A mãe de Meddelin Chan deseja que a filha arrume um namorado, sem saber que a moça não esqueceu o grande amor que havia conhecido na universidade, e nunca apresentado para a família. </p><p></p><div style="text-align: justify;">Para resolver a questão, ela se cadastra em um aplicativo de encontros e se passando pela filha, marca um encontro as cegas. Mas a confusão com o idioma inglês faz com que as conversas não sejam nada inocentes. Quando a verdadeira Meddy é convencida a conhecer o pretendente, é assediada, e na tentativa de se defender, um acidente automotivo ocorre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><blockquote><p></p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Mas a maldição não apenas as encontrou, como sofreu uma mutação. Em vez de matar os homens da família, fez com que eles as abandonassem, o que é muito pior.</i></blockquote><p></p></blockquote><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mas ao invés de chamar a polícia ou levar o cara para um hospital, ela liga para a mãe, que por consequência chama as suas tias. E assim as cinco que possuem a tarefa de organizar um grande casamento em um resort no dia seguinte, ganham a tarefa extra de se livrar de um corpo.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mas ao chegar no local do casamento, ela se depara com o seu grande amor e um grupo de padrinhos e madrinhas um tanto agitados, tornando o seu dia longe de fácil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><blockquote><p></p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Há barulho em todo canto, uma cacofonia de mandarim e cantonês.</i></blockquote><p></p></blockquote><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com isso uma sequência de cenas que vão do romântico, passando pelo total absurdo com pitadas engraçadinhas recheiam as páginas em um livro leve e de fácil leitura.</div><p></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d; font-family: georgia;"><b>A escrita de Jesse Q. Sutanto</b></span></h3><p style="text-align: justify;">A escritora indonésia Jesse Q. Sutanto já informa nas páginas iniciais que o livro é uma carta de amor para a família dela, e conta brevemente a história de imigração que iniciou com os seus avós saindo da China e foi o princípio de uma confusão de idiomas de uma família trilíngue, representada pela personagem principal, sua mãe e suas tias no decorrer da história. </p><p></p><div style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em primeira pessoa, a autora nos coloca no olhar da personagem principal Maddelin Chain, ou simplesmente Meddy. Dividido em três partes, na primeira parte há um vai e vem entre passado e presente, até se estabelecer somente no tempo presente nos demais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><blockquote><p></p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Ele abre aquele sorriso, aquele que quase faz seus olhos se fecharem. Aquele que me dá vontade de vomitar.</i></blockquote><p></p></blockquote><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Usando de base um fato absurdo, Jesse Q. Sutanto compartilha através da sua história os laços familiares, sentimento de culpa que influenciavam nas decisões da personagem, o tratamento dado aos imigrantes, as diferenças culturais dando com pessoas externas ou dentro de casa, entre outros assuntos abordados.</div><p></p><p style="text-align: justify;">E na sequência que mistura cenas que ficam entre o sem noção e absurdo com toque cômico, tornando o livro leve e fácil de percorrer suas páginas.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #38761d; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Disque T para titias</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Disque T para titias é uma comédia romântica com uma base inusitada, sendo que a parte do romance fica com a personagem principal Meddy reencontrando o seu ex-namorado e a comédia por conta da mãe e das tias. Do uso dos emojis as situações mais sem noção, existem momentos que é quase impossível não rir.</p><p></p><div style="text-align: justify;">No geral achei um livro leve e despretensioso. Tem um momento de reflexão como quando aborda o preconceito por imigrantes (vocês são todos iguais), até chegar nos dilemas de quem deseja buscar a própria independência e ao mesmo tempo vive sob as asas da proteção familiar. Pois as vezes é mais fácil seguir ordens, mesmo tendo que conviver com a necessidade de aprovação constante. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><blockquote><p></p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Minha mente está entrando em curto-circuito, tentando pensar em uma solução no meio dessa bagunça.</i></blockquote><p></p></blockquote><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso tem a utilização de estereótipos como o delegado típico de filmes americanos e o próprio noivo, ao qual o plot twist me pareceu meio estranho, mas nada tão estranho para se dizer que seria impossível de acontecer.</div><p></p><p></p><div style="text-align: justify;">Mas definitivamente para mim as grandes estrelas são as mulheres da vida de Meddy, que se por um lado sentem saudades da presença próxima dos filhos, seguiram seu rumo após o divórcio e tocam seus próprios negócios com sucesso, sendo independentes financeiramente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><blockquote><p></p><blockquote style="text-align: justify;"><i>Amo a minha mãe, mas também quero ter uma vida independente. Estremeço só de pensar nisso; parece muito uma traição.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Resumindo: um livro que combina com verão, férias, e para dar aquele descanso na mente entre leituras mais pesadas.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Disque T para titias<br />Dial A for Aunties<br />Jesse Q. Sutanto<br />Tradução: Luciana Dias e Maria Carmelita Dias<br />intrínseca<br />2022 - 347 páginas</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-82310441190930144752023-11-24T13:00:00.001-02:002023-11-24T13:00:00.155-02:00 Tudo é rio<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZRgc5PNvMBzmbkbcDd8X3uqlvDhOBRgNTISCa6ILmRcNFXkc1hIXyi-twzBgsNOzV7G3542s3NWIovxITYRBWDI5YWHTCAa8r_2x48fiMd3bnq5MFflGEPuHhIxOPihBjkYdYxbsQkmZn3Gjr8JeCSvo5kQITgNW-zSfOA-75r3JCsiH-_CUULDakf1c/s4032/Tudo%20%C3%A9%20rio.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZRgc5PNvMBzmbkbcDd8X3uqlvDhOBRgNTISCa6ILmRcNFXkc1hIXyi-twzBgsNOzV7G3542s3NWIovxITYRBWDI5YWHTCAa8r_2x48fiMd3bnq5MFflGEPuHhIxOPihBjkYdYxbsQkmZn3Gjr8JeCSvo5kQITgNW-zSfOA-75r3JCsiH-_CUULDakf1c/w298-h397/Tudo%20%C3%A9%20rio.jpeg" width="298" /></a></div><br /><b><br />Sinopse: Tudo é rio é o livro de estreia de Carla Madeira. Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso. A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.</b><p></p><p style="text-align: justify;">Lucy era uma menina mimada pelos pais, desde pequena dominava e manipulava a todos, principalmente os adultos. Com a morte prematura de seus progenitores, se vê como uma gata borralheira vivendo com a tia e sua família. Até que no início da adolescência encontra a profissão que lhe dará independência e permitirá receber todos os elogios que sua beleza exige: resolve ser prostituta.</p><p style="text-align: justify;">Venâncio é um homem amargurado. Teve uma infância difícil junto ao seu pai, que era machista e violento. Violência que encontra eco em Venâncio quando este encontra o amor e é correspondido. Dominado por um ciúme que cega, ele vive em eterno tormento e procura eventualmente os serviços do prostibulo próximo.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Enlouquecia qualquer um que passasse pelos seus cuidados. Não tinha um que não quisesse mais.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Dalva vem de uma família amorosa que fornece apoio aos seus filhos. A mãe é uma apaziguadora natural, que permite aos filhos viverem as consequências das suas escolhas. O pai trata a todos com carinho e tenta proteger a todos. Com os amigos sempre a volta, Dalva tem uma leveza e uma alegria, até se apaixonar por Venâncio.</p><p style="text-align: justify;">E são os encontros e desencontros deste triângulo que está longe de ser amoroso que irão desaguar nas páginas de Tudo é Rio, um livro rápido e intenso de ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #073763; font-family: georgia;"><b>A escrita de Carla Madeira</b></span></h3><p style="text-align: justify;">A autora brasileira Carla Madeira utiliza a linguagem em terceira pessoa no seu Tudo é Rio. Os capítulos são curtos - um tem apenas uma palavra - e diretos, dando um ritmo rápido e intenso de leitura.</p><p style="text-align: justify;">As informações e os personagens vão entrando aos poucos. Havendo um vai e vem do passado e presente para entender não só o crescimento e amadurecimento dos personagens, como os acontecimentos que os levaram até ali. E quanto mais você os conhece, mais fácil ou difícil fica de entender as escolhas do trio.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O amor tem nome, mas não é nada que a gente possa reconhecer só de olhar. A dor a gente sabe o que é, tem lugar e intensidade que cabem na ciência.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O rio aqui é uma metáfora justamente para este vai e vem. Em alguns momentos ele é mais profundo, outras mais raso, podendo ganhar rapidez nas descidas e um pouco de calma nas leves subidas, o que também permitiria lhe dar o nome de Tudo é Montanha Russa.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #073763; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Tudo é Rio</b></span></h3><p style="text-align: justify;">A primeira coisa é que educadamente discordo da escritora gaúcha Martha Medeiros que o chama de uma obra-prima. O livro é bom, mas como todo livro de estreia as referências gritam e sempre vai haver aquela questão que poderia ser melhor trabalhada.</p><p style="text-align: justify;">Vou começar com a personagem Lucy, cujo início da história parece uma mistura de Cinderela e Bruna Surfistinha. A menina mimada pelos pais que se sente a gata borralheira ao ficar órfã e ter que morar com a tia, o tio e as duas primas. Sem conseguir manipular a tia, usa sua sexualidade natural para atender os desejos do seu ego e narcisismo. Pois sim, Lucy sente a necessidade de ser adorada, e as suas atitudes que podem parecer confiança e empoderamento para alguns me passou justamente o sentimento contrário, de uma pessoa insegura, carente e perdida.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Um silêncio de caco de vidro moído esfolando o corpo por dentro. Um desespero, nada por vir.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Já Venâncio é um homem atormentado pelas consequências de suas ações, ao qual frequentemente tenta terceirizar a sua culpa para a figura paterna. Em seu semblante o sofrimento pela esposa, que ama de forma desmedida, não o perdoar, transformando-o em uma espécie de zumbi. Curiosamente é essa postura de morto-vivo que encanta a prostituta Lucy, cuja obsessão por Venâncio só aumenta conforme ele a esnoba. Mas ao contrário de Lucy não achei a dor de Venâncio charmosa ou digna de pena, no mínimo caso de internação.</p><p style="text-align: justify;">Deixei para o fim a personagem mais complexa na minha humilde opinião: Dalva. A personagem que despertou quase todas as minhas reações durante a leitura. A única que eu gostaria de estar dentro da mente para compreender seus atos. Como seguir morando com um homem que cometeu uma das ações mais imperdoáveis que um ser humano pode cometer? Sim, sua distância física e seu silêncio maltratam Venâncio, o homem que foi de seu grande amor a algoz. Mas porque optar por sobreviver e não recomeçar em outro lugar, longe de quem te entristece? Qual o motivo de não buscar segurança para viver novamente de forma plena? Amor doentio? Vingança?<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Em uma cidade pequena, é difícil acreditar que alguém não se dê conta de que um mundo ao redor caminha junto. O outro existe.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Enfim, Dalva foi a razão por eu finalizar o livro com raiva e achar que o triângulo seriam candidatos perfeitos para habitar algum sanatório, ou quem sabe a Casa Verde de <a href="https://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/03/alienante-alienista.html" target="_blank"><b>O Alienista</b></a>?</p><p style="text-align: justify;">Como extra falo sobre Francisca e Aurora. Duas figuras com participações mais pontuais que despertam interesse pelas suas próprias histórias e suas formas de lidarem com diferentes fatos. Francisca se doa as pessoas, sua história de vida toca em meio à loucura dos três personagens principais. Já Aurora é aquela pessoa que transmite tranquilidade e otimismo, dando espaço aos filhos para cometerem seus acertos e erros. O que torna mais complicado de entender o comportamento de Dalva.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O imperdoável, o rompimento irreversível. Nada a ser dito. Uma espécie de morte.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;">Mas só o fato de despertar inúmeras reações, já fez a leitura valer, e sim, é um livro que pode provocar vários debates sobre as relações humanas e sociais, desde o machismo, passando por relações que ultrapassam a definição de amor, perdas, perdão entre outras pautas que você pode encontrar.</p><p style="text-align: justify;">Ficando a dica para os leitores do blog que curtem conflitos familiares, cenas apimentadas e claro, adoram ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Tudo é rio<br />Carla Madeira<br />Editora Record<br />2023 - 209<br />Edição original de 2014.</i></b></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-6027430267416683522023-11-15T15:33:00.001-02:002023-11-15T15:33:09.175-02:00 Oração para desaparecer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjza7IBIXq5n1AZSeq8XinfzgqL9_GAYi6wfQallLIInNIrhVahSsTb3cH7XxC9J9F41W3OEFvtg8Xr0iDaB_xNKFDD8Iq0xXqgsuNu6lSn2ACtTZPmhSs_raPJBh-T7NQCdF_BKagQAChe-m1DJd14_elBXLyzGG_TGR0jwB6brw_j58-9-n-BexxpTEA/s4032/Ora%C3%A7%C3%A3o%20para%20desaparecer.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="375" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjza7IBIXq5n1AZSeq8XinfzgqL9_GAYi6wfQallLIInNIrhVahSsTb3cH7XxC9J9F41W3OEFvtg8Xr0iDaB_xNKFDD8Iq0xXqgsuNu6lSn2ACtTZPmhSs_raPJBh-T7NQCdF_BKagQAChe-m1DJd14_elBXLyzGG_TGR0jwB6brw_j58-9-n-BexxpTEA/w281-h375/Ora%C3%A7%C3%A3o%20para%20desaparecer.jpeg" width="281" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Uma mulher nua, sem cabelos nem memória, é retirada da terra na pequena cidade de Almofala, fronteira entre Portugal e Espanha. Os únicos traços de sua origem são o sotaque brasileiro e um colar de búzios, mas a impressão é de que as pessoas que a recebem aguardam há muito a sua chegada. Nesse outro tempo em um país estranho entre os dois parece delinear um novo destino à sua frente. Ainda assim, ela precisará lidar com as imagens que, vez por outra, assombram sua mente - lembranças pouco nítidas de um amor perdido e de pessoas de um lugar distante. Ao finalmente familiarizar-se com a realidade imposta, porém, a mulher é confrontada com uma verdade incontornável: é impossível seguir sem saber de onde se veio.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>Setembro/2023</b> a <b>TAG Curadoria</b> resolveu imitar sua coirmã <b>TAG Inéditos</b> e foi porta de entrada para um pré-lançamento do novo livro da escritora brasileira <b>Socorro Acioli</b>: <b>Oração para desaparecer</b>. O mimo foi um sachê com 40g de Nescafé Gold.</p><p style="text-align: justify;">Na pequena aldeia de Almofala, localizada a cerca de 107 km da capital portuguesa Lisboa, uma mulher nasce da terra sem pelos e sem memória. Quem ajuda no seu "parto” é o casal Florice e Fernando, que aguardam a chegada da última ressurecta, termo utilizado para quem escapou por pouco da morte e ressurgiu em outro lugar para sua segunda chance.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não sentia braços e pernas no breu daquela cova. Perdi a noção do meu corpo, achei que me transformaria em um bicho morto, me desfazendo até virar pó.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Pela forma de falar, fica claro que a jovem mulher é brasileira, mas desconhecendo o seu passado, onde apenas pequenos flashs lhe aparecem em sonho, acaba por receber o nome de Cida e sendo acolhida por Fátima, irmã de Florence.</p><p style="text-align: justify;">Em sua nova vida ela encontra o amor e assim conhece Félix Ventura, um vendedor de passados contratado para reescrever documentalmente a sua história para que ela possa ir e vir, e que lhe liga todos os anos para saber se o passado verdadeiro retornou.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Vida e morte são mistérios que ninguém alcança. Tudo o que se fala sobre nascer e morrer é mera aposta.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Até Cida encontrar uma imagem de santa quebrada, misturando passado antigo, passado recente e presente, com um grande ponto de interrogação para o futuro.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: georgia;"><b>A escrita de Socorro Acioli</b></span></h3><p style="text-align: justify;">A escritora brasileira Socorro Acioli separou a sua Oração para desaparecer em três partes. Nas duas primeiras temos uma narrativa em formato de entrevista. Sendo que na primeira parte temos Cida contando ao vendedor de passado toda a sua história desde que saiu da terra, e na segunda temos a conversa entre o homem que nunca a esqueceu com o que compartilha sua vida na atualidade. E na terceira parte volta Cida em uma narrativa em primeira pessoa para dar o fechamento a história.</p><p style="text-align: justify;">A autora também homenageia dois escritores: José Eduardo Agualussa através do personagem Félix Ventura, cuja história é contada no livro O vendedor de passados, e José Saramago ao citar dois livros que não existem que foram inventados e citados em obras do autor português.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Quando a gente acha que entendeu tudo, o caos aparece para relembrar que não somos coisa nenhuma.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Também a uma espécie de brincadeira em relação as várias Almofalas. São seis aldeias em Portugal que recebem este nome, que é o mesmo de um pequeno distrito de Itarema, no estado do Ceará. Em Oração para desaparecer a personagem sai da Almofala brasileira e chega, através do uso de realismo mágico, em uma das Almofalas portuguesas.</p><p style="text-align: justify;">Para dar base ao seu realismo mágico, a escritora usa de uma história real adaptada para a ficção. Nos anos de 1712 a 1758 foi construída na Almofala brasileira a igreja Nossa Senhora da Conceição de Almofala, originada de uma troca dos Tremembés de uma santa de ouro pela construção de um lugar para abriga-la.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Tentei muito, tentei de tudo, mas nada aconteceu. O que eu tenho são sopros de lembrança, nada por inteiro.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas passando mais de cem anos, não só a igreja como a cidade foi invadida pelas dunas, gerando um confronto generalizado entre indígenas, população local e membros da igreja. Durante a briga uma prostituta de nome Joana Camelo teria acertado um tamanco na cara do padre Antônio Tomaz. Passado quarenta e cinco anos, na década de 1940, com o trabalho conjunto da natureza e da força humana a igreja ressurgiu e as imagens que originaram as desavenças, retornaram. Hoje a construção está restaurada e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.</p><p style="text-align: justify;">E é essa mistura de um Brasil mais antigo, magia e terras portuguesas que servem de cenário para uma mulher que preza a própria liberdade e independência se reencontrar. Pois apesar de usar o realismo mágico, este é secundário. O foco todo está em Cida.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Oração para desaparecer</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O uso do realismo mágico faz a história começar com força, despertando logo de cara o meu interesse e curiosidade em percorrer as páginas. Mas no decorrer da narrativa a autora se perdeu em devaneios românticos, e a narrativa em forma de entrevista é, na minha opinião, enfadonha.</p><p style="text-align: justify;">E aqui ocorreu a minha quebra de expectativa como leitora, pois se o realismo mágico abre a história prometendo tudo, logo é substituído por um romance cujo amor não promete a eternidade.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>A segunda coisa que faço todas as manhãs é ir até o espelho e dizer o dia, o mês e o ano em que começarei a viver a partir dali.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A brincadeira de usar um personagem de outro autor só funciona com quem conhece ou vai buscar informação, senão é apenas um coadjuvante com a função de ouvir a história da personagem. No meu caso a revista que vem junto com o livro me alertou, e ao pesquisar, fiquei bem curiosa para ler o livro do Agualusa, ao qual confesso, não li nada até hoje.</p><p style="text-align: justify;">Eu achei muito interessante o fato real que ela usou como base para o teletransporte da personagem, embora não pareça que a ficção tenha ocorrido no mesmo período do original, e aqui fiquei com o sentimento de que poderia ter sido melhor aproveitado. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Se fôssemos dois cavalos-marinhos eu estaria agora com ela. O mar teria salvado nosso amor, talvez, da armadilha da areia.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No geral nem gostei nem desgostei, apenas acho que não será um livro que ficará marcado na memória, mas isso só o tempo dirá.</p><p style="text-align: justify;">Mas como sempre digo, gosto literário cada um tem o seu. Então para quem gosta de livros com realismo mágico, que são embasados em histórias reais, que torcem por personagens femininos fortes, talvez você tenha uma opinião completamente diferente da minha. Só você lendo para saber.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Oração para desaparecer<br />Socorro Acioli<br />TAG - Companhia das Letras<br />2023 - 205 páginas</i></b></p><p><br /></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-77466652589939047842023-11-07T13:00:00.007-02:002023-11-07T13:00:00.140-02:00Gênio e Nanquim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb5GYbJLq15q5q6NAar4hdpqrE6hQfApcEaY9Tt8HeetX4bYM-6095kGI5BJ1n4jStsJPfKwH9lbjG6tJVz2i00191m1BuXSBzGHyRTPAgzGuHoKFIpG1k16xmz9HPbbajoqIKqHEOsOdz2ChKs0lIAfr5LABNMXSrJd3PsOZmZV9iq_Ar2rfwuMOxtWU/s4032/Genio%20e%20Nanquim.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="435" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb5GYbJLq15q5q6NAar4hdpqrE6hQfApcEaY9Tt8HeetX4bYM-6095kGI5BJ1n4jStsJPfKwH9lbjG6tJVz2i00191m1BuXSBzGHyRTPAgzGuHoKFIpG1k16xmz9HPbbajoqIKqHEOsOdz2ChKs0lIAfr5LABNMXSrJd3PsOZmZV9iq_Ar2rfwuMOxtWU/w326-h435/Genio%20e%20Nanquim.jpg" width="326" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Uma brilhante coletânea de ensaios críticos escritos anonimamente para o Times Literary Suplement entre as duas guerras mundiais, Gênio e Nanquim une os maiores nomes da literatura com a escrita e a análise impecáveis de Virginia Woolf. A obra nos apresenta uma Woolf ensaísta, que expõe a estranheza das peças elisabetanas, o prazer de revisitar seus romances prediletos e o brilhantismo dos clássicos de Charlotte Brontë, George Eliot, Henry James, Thomas Hardy e Joseph Conrad. Mais do que isso, nos revela uma Virginia Woolf leitora, cujo entusiasmo pela literatura nos inspira até hoje.</b></p><p style="text-align: justify;">Com prefácio da tradutora e mestre em estudos literários Emanuela Siqueira, <b>Gênio e Nanquim</b> reúne quatorze textos que podem parecer ensaios, uma crítica literária ou aquele momento fofoca onde Virginia Woolf compartilha detalhes da vida de determinado escritor publicados entre os anos de 1916 e 1935, tanto na TLS quanto na The Common Reader.</p><p style="text-align: justify;">O primeiro texto é sobre <b>Charlotte Brontë</b>, inicialmente temos o centenário do nascimento da escritora, mas de forma delicada ele evoca ao mesmo tempo morte e memória em um belo tributo a autora nascida em 1850. Ao mesmo tempo Woolf nos lembra que Charlotte Brontë não possuía espaço no terreno literário, e apesar de não ter amigos para preservar sua memória na área profissional, seus livros conseguiram romper barreiras, despertando interesse em quem vê o seu nome, situação que permanece atual para qualquer uma das irmãs Brontë.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Desses cem anos, ela não viveu mais que trinta e nove, e é estranho refletir sobre a imagem diferente que faríamos dela se tivesse vivido uma longa vida.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Analisando tanto o que define como limitações profundas, como a sua sensibilidade e tenacidade, ao finalizar a leitura do texto eu fiquei com vontade de ler um livro da escritora e observar com mais atenção tudo o que ela havia descrito.</p><p style="text-align: justify;">O segundo texto é Horas numa biblioteca, aqui Woolf nos leva para um dos lugares favoritos de todos os leitores e a relação do leitor com o objeto do seu desejo: os livros. Da juventude que se mantém através da curiosidade alimentada por inúmeras páginas até as listas de livros a serem lidos e os realmente lidos (e muitas vezes relidos).<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Para começar, convém esclarecer a velha confusão entre o homem que ama aprender e o homem que ama ler, e salientar que não há qualquer ligação entre os dois.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Este foi o texto que me evocou lembranças das primeiras leituras, das idas a biblioteca da escola para procurar novos amigos, o cartão de leitura que chegava cheio no final do ano. </p><p style="text-align: justify;">Também achei o texto muito atual ao citar as comparações entre livros clássicos versus contemporâneos, e a disputa leitor versus intelectual, já que o leitor juiz - aquele que se sente no direito de dizer o que deve ser lido ou não, o que deve ser considerado boa literatura ou não, segue ativo e forte, principalmente nas discussões literárias.</p><p style="text-align: justify;">O terceiro texto é sobre <b>George Eliot</b>, pseudônimo da romancista britânica Mary Ann Evans, ao qual eu não conhecia e fui para internet pesquisar, e assim achei ainda mais interessante o paralelo que Woolf faz entre as heroínas das histórias e a própria escritora.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ela se tornou motivo de riso para os jovens, símbolo conveniente de um grupo de pessoas sérias, todas culpadas pela mesma idolatria e passíveis de desprezo com o mesmo escárnio.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Aliás, só a vida da própria escritora já chama atenção por si, uma mulher que usa um nome masculino para ter liberdade de escrita - precisamos lembrar que em 1850 mulheres deveriam escrever livros leves - passando por seus relacionamentos, cujas escolhas, olha que surpresa, poderiam causar alvoroço ainda nos dias de hoje.</p><p style="text-align: justify;">O misto de solidão e tristeza, o transbordamento de energia e calor de seus livros, me deixaram curiosa para ler algumas de suas obras.</p><p style="text-align: justify;">O quarto texto tem o charmoso título de As cartas de <b>Henry James</b>, misturando textos do autor com o seu ponto de vista em relação a fama e as críticas, a relação das cidades/países com a literatura e o fato de Henry James ser, na opinião de Woolf, um homem sem raízes, um andarilho que anda a dar suas voltas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Contudo, ele foi a todos os lugares e conheceu todo mundo, como atesta a farta chuva de nomes célebres e grandes ocasiões.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O quinto texto é sobre <b>John Evelyn</b>, ao citar o diário do autor que estaria completando cem anos no momento do seu ensaio, ela faz um paralelo entre a sociedade, comportamento e um toque de crítica ao autor, ao qual considera a escrita opaca e sem profundidade.</p><p style="text-align: justify;">O sexto texto é Sobre reler romances, tendo como base o lançamento de novas edições de escritoras reconhecidas, Woolf nos fala desde a origem do título de um livro até os sentimentos que atingem o leitor durante uma leitura. As diferentes formas narrativas, as críticas, tornando a crônica atemporal ao entender a alma dos leitores de qualquer época.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Para começo de conversa, é óbvio que colocamos na cabeça que existe um jeito certo de ler, que consiste em ler tudo e compreender o livro na íntegra.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O sétimo texto é Aos olhos de um contemporâneo, onde os críticos literários voltam a ser citados, agora com um foco no que é dito sobre os escritores contemporâneos de Woolf, que chega a fazer uma rápida comparação com os clássicos. Sua lista que relata tantos defeitos para os escritos de sua época nos lembra que a vida dá voltas, inclusive na literatura, já que muito dos citados, como Ulisses, hoje são clássicos.</p><p style="text-align: justify;">O oitavo texto é sobre <b>Montaigne</b> e o seu texto que é pura filosofia sobre a vida, a morte, a beleza, a sanidade, a alegria... o que permite a Woolf falar da dificuldade que temos de nos expressar e de ser quem se é, até retornar ao próprio Montaigne que define como um homem sutil, meio sorridente, meio melancólico, com seus olhos caídos e seu semblante onírico e perplexo.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Afinal, em toda a literatura, quantas pessoas deram conta de se desenhar com uma pena?</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O nono texto é sobre Joseph Conrad, ao qual Woolf abre falando da sua morte sem adeus - ele morreu de um ataque cardíaco súbito aos 96 anos de idade - e lista os livros do autor que ela acredita que irão virar clássicos, a relação com os navios, os grandes títulos na sua opinião.</p><p style="text-align: justify;">O décimo texto é Notas sobre o teatro elisabetano, como não poderia deixar de ser, começa citando Shakespeare, e chega aos não tão conhecidos, mas tão perturbadoras quanto o do autor mais reconhecido. Da sensação de quem assiste as peças a uma comparação interessante com um clássico da literatura russa, Woolf nos coloca por algumas páginas em uma poltrona de um teatro inglês, enquanto explica o funcionamento das peças.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Pois tendemos a esquecer, quando lemos as obras-primas de um passado remoto, como é grande o poder que tem um corpo literário para se impor!</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O décimo primeiro texto é Os romances de <b>Thomas Hardy</b>, a quem Woolf define como um mestre, ao qual espera que a grandiosidade seja reconhecida com mais justiça pelos críticos do futuro. A admiração que a escritora sente por Thomas Hardy é latente nas páginas, e eu que já li <a href="https://literamandoliteraturando.blogspot.com/2019/07/jude-o-obscuro.html" target="_blank">Jude, O Obscuro</a> do autor - e gostei - fiquei com ainda mais vontade de conhecer outras obras do escritor.</p><p style="text-align: justify;">Dezessete obras que Virginia Woolf nos apresenta desde o primeiro, publicado em 1871, com suas primeiras dificuldades, mas muita imaginação, seguido do segundo livro e contorno das dificuldades e assim listando, livro a livro a evolução. Há também comparação com o estilo de outros escritores, como Henry James, Flaubert e Dickens. Sempre confirmando a genialidade de Hardy.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Sua força era de caráter espiritual: ele fazia parecer honroso escrever e desejável escrever com sinceridade. </i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O décimo segundo texto é A meia-irmã de <b>Fanny Burney</b>, onde temos uma espécie de fofoca literária. No momento do texto havia uma nova edição do livro Evelina e a revelação de que a história era baseada na vida da meia-irmã da autora: Maria Allen, ao qual Woolf define como insensata e desafortunada.</p><p style="text-align: justify;">E como em um chá da tarde, o leitor fica sabendo desde como a família foi formada, a mistura da moça rústica, simplória, audaz e impetuosa com a família Burney cujos membros eram cosmopolitas, cultos, tímidos e reservados. E naturalmente vários detalhes das trocas de confidências de Fanny e Maria Allen que inspiraram o livro.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Eram tão cultos, tão inocentes; sabiam tanta coisa, e no entanto não sabiam metade do que ela sabia sobre a vida.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O décimo terceiro texto é Aurora Leigh, o livro de <b>Elizabeth Barret Browning</b>, cujo cachorro de estimação se tornou um livro da própria Virginia Woolf misturando fatos reais com ficção. Mais do que falar sobre o amor que os Browning provocavam nas pessoas até o livro em si, novamente o leitor vai para a poltrona ouvir sobre como a Aurora fictícia parece trazer à tona a Elizabeth real.</p><p style="text-align: justify;">E assim mergulha na história da escritora que perdeu a mãe ainda na infância, quando a política não era um assunto feminino e a escrita como forma de vida.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não havia dúvida de que os longos anos de reclusão haviam lhe causado um dano irreparável enquanto artista.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O décimo quarto texto é O leito de morte do capitão, o último texto de Virginia Woolf é sobre o escritor inglês e oficial da Royal Navy Frederick Marryat e começa juntamente com os últimos textos escritos quando estava perto da morte, tendo referência a uma de suas filhas que lhe trazia suas flores favoritas.</p><p style="text-align: justify;">E aos poucos ela vai retornando no tempo, misturando diferentes momentos da vida de Frederick Marryat, dos seus diários de bordo aos dezesseis anos aos demais detalhes de sua vida pública, já sua vida particular não teve tantos detalhes, apenas algumas observações que corriam entre amigos, familiares e conhecidos.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #a64d79; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Gênio e Nanquim</b></span></h3><p style="text-align: justify;">A primeira coisa que me encantou foi a edição de Gênio e Nanquim, o cuidado e as cores deixaram a edição da TAG com a Harper Collins belíssima.</p><p style="text-align: justify;">A segunda foi a surpresa com a leveza de alguns textos da Virginia Woolf, ao qual só havia lido Rumo ao Farol - hoje chamado Ao Farol - e achei bastante arrastado na época, me afastando de futuras leituras da escritora.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Mas quem era esse homem moribundo cujos pensamentos se voltaram para amor e flores enquanto jazia entre seus espelhos e pássaros pintados?</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Tanto que demorei um certo tempo para abrir os ensaios literários, mas que ao final me surpreenderam positivamente e me abriram a mente para ler outros livros da autora.</p><p style="text-align: justify;">Gostei principalmente dos textos finais, onde ela deixou o lado mais técnico e colocou uma leveza e em alguns casos o próprio coração - como no texto do Thomas Hardy - tornando a leitura muito mais envolvente e despertando em mim a curiosidade em conhecer os livros de alguns dos escritores citados.</p><p style="text-align: justify;">Ficando a recomendação não apenas para quem é fã da Virginia Woolf, mas como uma alternativa para quem quer começar a ler a autora, para quem gosta de ler textos sobre literatura, para quem busca novos títulos para sua lista de desejos e naturalmente para os ratos de biblioteca que não resistem a virar páginas.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Gênio e Nanquim - Ensaios Literários<br />Genius and Ink: Virginia Woolf on How to Read<br />Virginia Woolf<br />Tradução: Stephanie Fernandes<br />TAG - Harper Collins<br />2021 - 175 páginas</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-45693646297522870722023-10-17T13:00:00.001-02:002023-10-17T13:00:00.153-02:00 País sem chapéu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDoB4KULYxbUPvSD8KZsEtD-DEskQFafTnH25e3Ezzl2UynsLCIFoBnGV_qW6yx3oECG7pxleXFiuTqGuI9EFKDx_dEAeZErvAaaMqDkZSkLtG5u-nuuRy0rbOSj_NMDd8GRXDJGPmH9lveyHEPMLsKrQZdYTRq1p6xYBSY4O4BJM01IksrENeYjLADto/s4032/Pa%C3%ADs%20sem%20chap%C3%A9u.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="372" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDoB4KULYxbUPvSD8KZsEtD-DEskQFafTnH25e3Ezzl2UynsLCIFoBnGV_qW6yx3oECG7pxleXFiuTqGuI9EFKDx_dEAeZErvAaaMqDkZSkLtG5u-nuuRy0rbOSj_NMDd8GRXDJGPmH9lveyHEPMLsKrQZdYTRq1p6xYBSY4O4BJM01IksrENeYjLADto/w279-h372/Pa%C3%ADs%20sem%20chap%C3%A9u.jpeg" width="279" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Depois de vinte anos de exílio na América do Norte, um escritor regressa a seu Haiti natal e enfrenta o desafio de narrar essa experiência. À maneira de um pintor primitivo, com traço firme, cores vivas e perspectiva multifacetada, conta sua perambulação por Porto Príncipe e seu cotidiano singular. A cada passo surgem pequenos quadros com personagens e situações inusitadas; reencontros que disparam lembranças; diálogos inesperados, que revelam as inquietantes novidades do aqui e agora. Em meio ao vaivém de reconhecimento e estranhamento, onde se alternam o país real e o país sonhado, o autor é convidado a realizar uma viagem ao "país sem chapéu": o reino dos mortos e dos deuses do vodu. Primeiro livro de Dany Laferrière a sair em português, País sem chapéu é também um convite a penetrar num território que tem muitos paralelos com o nosso. Com o estilo límpido e permeado de ironia, Laferriére integra-se ao time de escritores de cultura híbrida, desarraigada, que erguem sua voz acima das fronteiras e falam com toda a humanidade.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de agosto eu recebi pela minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a> a indicação do escritor brasileiro <b>Allan da Rosa</b>, o livro <b>País sem chapéu</b> do autor haitiano <b>Dany Laferrière</b>. O mimo foi um pequeno quadro branco magnético e uma caneta para escrever no mesmo.</p><p style="text-align: justify;">O escritor Laferrière, ou Velhos Ossos como é chamado pelos mais íntimos, retorna para casa após vinte anos, sendo recebido pela sua mãe e pela sua Tia Renée. O rapaz de vinte e poucos anos que precisou abandonar o próprio país hoje é um autor reconhecido que vive o estranhamento de se sentir estrangeiro no seu próprio país.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Há muito tempo que espero este momento: poder sentar à minha mesa de trabalho para falar do Haiti com calma, com tempo.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Pois ao viver tanto tempo longe ele não estava preparado para a superpopulação e a miséria em que vários vivem, com as superstições já esquecidas e os seus próprios conflitos internos.</p><p style="text-align: justify;">Tudo em meio a reencontros e redescobertas em que não só Laferrière, mas como o próprio leitor, vai descobrindo o país real e o país sonhado tem para nos contar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>E foi isso que aconteceu também desta vez: você ligou anteontem para dizer que ia chegar hoje.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #783f04; font-family: georgia;"><b>A escrita de Dany Laferrière</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Em uma mistura de ficção e autobiografia, o autor haitiano Dany Laferrière nomeia o personagem-narrador com o seu nome para compartilhar o próprio retorno ao país natal, ao qual precisou abandonar durante o período da ditatura militar.</p><p style="text-align: justify;">País sem chapéu faz parte de uma coletânea de dez livros intitulada autobiografia americana, o que não impede a sua leitura individualmente, já que este é o seu primeiro livro publicado no Brasil.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Aproximo a xícara fumegante do meu nariz. Toda minha infância me sobe à cabeça.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Na narrativa dividida entre País real e País sonhado, encontramos subtítulos que acompanham o passo-a-passo do seu retorno, do reencontro com a família e amigos, a investigação de fatos curiosos que atraem não só a sua atenção, como também de militares estrangeiros, e os comparativos entre a cultura canadense em que viveu nos últimos vinte anos com a já esquecida que encontra em casa.</p><p style="text-align: justify;">O que permite ao leitor através do narrador acompanhar o choque cultural que vai da religião na comparação e semelhanças do vodu versus religião católica, a pobreza nos detalhes da mesa capenga, passando pela mãe que oferece a própria filha até as notícias dos zumbis e da população estudada por passar semanas sem se alimentar. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Este calor vai acabar comigo. Meu corpo viveu tempo demais no frio do norte.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E naturalmente as conexões e os estranhamentos nos reencontros, que aborda desde a mudança de visão sobre pessoas tão próximas como revisitar antigos amores.</p><p style="text-align: justify;">Tudo com uma escrita direta, sem muitos diálogos ou descrições, o que exige mais atenção aos detalhes. Tornando a leitura aparentemente simples, mas rica no aspecto cultural, o que pode provocar estranhamentos e até mesmo teorias para quem olha de fora.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #783f04; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de País sem chapéu</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Um alter ego que retorna ao Haiti 20 anos depois como um autor conhecido que aparece até na tv. Mas ao retornar aos seus parece compartilhar o mesmo olhar do leitor em uma terra desconhecida para ambos. Enquanto ele vai ao reencontro de suas memórias e busca informações para a escrita do seu novo livro, acompanhamos os seus questionamentos entre o país real e o país sonhado.</p><p style="text-align: justify;">Os zumbis, tão falados no decorrer da história, me pareceram uma analogia a quem perdeu tudo, inclusive a esperança, e agora apenas anda miseravelmente pela terra sem esperar nada em troca. Outro retrato forte da fome é o povo estudado por militares por passarem meses sem se alimentarem, cujo ponto de interrogação também ficou na minha cabeça: como eles sobrevivem?<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Deve-se oferecer primeiro aos mortos. Aqui, servimos os mortos antes dos vivos. São nossos antepassados.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No aspecto cultural achei muito interessante o fato de que o País sem chapéu é o mundo dos mortos, porque ninguém é enterrado de chapéu. Lembrando que o Haiti é um país muito quente, e eu imagino que seja bem difícil para os vivos circular pelas suas ruas sem um na cabeça.</p><p style="text-align: justify;">Outro aspecto que eu achei bastante curioso foi a forma como o povo haitiano conseguiu manter viva a sua religião apesar da imposição de adotar a igreja católica, como a transformação de santos em seus deuses, permitindo que ao orar estivessem conversando com quem eles acreditam.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O problema não é tanto a multidão. É o cheiro. Por volta de cem mil pessoas concentradas em um espaço estreito sem água corrente.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No que se refere a relações pessoais, gostei muito da forma como o autor abordou a relação entre mãe e filho. Se por um lado ela ainda faz o café da manhã que ele gostava de tomar aos vinte anos, por outro se surpreende quando ele a lembra que já está na casa dos quarenta e acha que seria melhor eles dormirem em camas separadas, ainda que no mesmo quarto.</p><p style="text-align: justify;">Outro fato aqui é que a distância permite que ele também a veja como mulher ao comentar a mudança das feições dela ao flertar com outros homens, realizar negociações de transporte ou troca de dinheiro sem se amedrontar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Antigamente, o cemitério era o único lugar seguro no Haiti. Agora a gente se pergunta se vale a pena morrer neste país.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Também gostei bastante dos ditados que abrem cada capítulo. Na edição se tem o original em créole e a sua tradução, que me permitiu encontrar desde os mais reflexivos até os mais engraçados, havendo também os sem sentido nenhum para quem, como eu, não conhecia nada da cultura.</p><p style="text-align: justify;">Mas apesar de compartilhar tantas situações através do olhar do personagem, o livro me pareceu um pouco impessoal. Não conseguia sentir o coração do narrador ali e fiquei pensando se isso foi uma forma de aumentar o sentimento de estranhamento, este bem presente, de quem fica tanto tempo longe do lugar de origem.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Eles vêm aqui estudar quanto tempo o ser humano pode ficar sem comer nem beber. Mas eles não sabem que já estamos mortos. Os brancos só querem acreditar naquilo que conseguem entender.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No geral gostei de País sem chapéu, me dando uma segunda visão do Haiti, cujo meu único contato tinha sido através de outro livro, chamado Clara da Luz do Mar, que também é muito bom e se passa em outra região do país.</p><p style="text-align: justify;">Ficando a recomendação para quem gosta de viajar através da leitura para outras culturas, se interessa em conhecer escritores de diferentes países, curte livros de ficção com toque autobiográfico e naturalmente quem simplesmente quer ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>País sem chapéu<br />Pays sans chapeau<br />Dany Laferrière<br />Tradução Heloisa Moreira<br />TAG - editora 34<br />2023 - 224 páginas<br />Publicado originalmente em 1996</i></b></p><p><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></p><p><br /></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-85642277299382935952023-10-04T19:00:00.001-02:002023-10-04T19:00:00.165-02:00 A melhor história está por vir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr05VxLjSEvyfO6qTo5vLmoOab0j9Tc1sj7TLWnVT1Owtw9JmFE9G7XMF7n1dQ9IYAhNQAP7ndokVEsMe0XgEZDgGhttCVU9BqZJi0PrwCTtq_X_x00rk9KioN7Cy0wTfebs3_6b1IeLm4C4Ab0jPgY-oc4L1C24wjz2jX4ALpse8zkMI2I8byy8CEPaU/s3985/A%20melhor%20hist%C3%B3ria%20est%C3%A1%20por%20vir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3985" data-original-width="3024" height="432" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr05VxLjSEvyfO6qTo5vLmoOab0j9Tc1sj7TLWnVT1Owtw9JmFE9G7XMF7n1dQ9IYAhNQAP7ndokVEsMe0XgEZDgGhttCVU9BqZJi0PrwCTtq_X_x00rk9KioN7Cy0wTfebs3_6b1IeLm4C4Ab0jPgY-oc4L1C24wjz2jX4ALpse8zkMI2I8byy8CEPaU/w328-h432/A%20melhor%20hist%C3%B3ria%20est%C3%A1%20por%20vir.jpg" width="328" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><b>Sinopse: Um furacão acaba de passar pela vida da professora espanhola Blanca Perea: o que parecia um casamento feliz de vinte anos termina bruscamente quando seu marido lhe abandona por uma mulher mais jovem, e logo ela é avisada de que, além da nova união, o novo casal também espera um filho. Incapaz de continuar vivendo do mesmo jeito enquanto seu coração está despedaçado, ela aceita uma proposta de emprego nos Estados Unidos para organizar os arquivos esquecidos do falecido professor Andrés Fontana. mais do que um recomeço, é a chance de Blanca se reencontrar, descobrir o que existe dentro de si e reconstruir sua felicidade. O trabalho, que no começo parece simples, se mostra cada vez mais suspeito e, entre documentos e novos colegas, como o charmoso Daniel Carter e o rígido diretor Luis Zárate, Blanca começa a perceber que algumas coisas não são esquecidas por acaso.</b></p><p style="text-align: justify;">Escrito pela espanhola <b>María Dueñas</b>, a mesma autora de <a href="http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2014/01/o-tempo-entre-costuras.html" target="_blank"><b>O Tempo Entre Costura</b></a>, o título dado para a versão brasileira definitivamente não representa a narrativa. O título original de <i>Misión Olvido</i> representa muito melhor essa história que na verdade é três, já que podemos dizer que o livro é composto de três personagens principais.</p><p style="text-align: justify;">Blanca Perea é uma professora universitária, na casa dos quarenta anos, com dois filhos iniciando a vida adulta, tentando administrar um divórcio recente após uma vida se colocando em segundo lugar para evolução profissional do marido. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>De qualquer maneira, antevia que meu trabalho não seria nem estimulante nem enriquecedor, mas, por ora, bastava-me ter conseguido, graças a ele, fugir da minha realidade com a pressa que do diabo fugindo da cruz. </i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Precisando de um tempo, ela pede ajuda para uma transferência temporária. Entre as bolsas ainda disponíveis os destinos são Lituânia, Portugal e Estados Unidos. Em um primeiro momento ela cogita Portugal, onde ela estaria longe e perto ao mesmo tempo.</p><p style="text-align: justify;">Enquanto decide o seu destino ela recebe mais uma notícia bomba, seu marido vai ser pai novamente, agora de uma menina. A menina que ele lhe negou tentar mesmo após inúmeros pedidos. E na necessidade de se afastar ainda mais, ela decide colocar um oceano de distância e pega uma bolsa na Califórnia.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Aquela pequena mudança de planos no calendário desviou irremediavelmente seu destino: por conta dos maus passes da história, nunca voltou.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O objeto da sua pesquisa é o professor espanhol Andrés Fontana, falecido em 1969, teve toda a sua documentação esquecida e armazenada de forma desorganizada em um porão da universidade.</p><p style="text-align: justify;">Inicialmente o trabalho é feito de forma mecânica, mas logo a história que os inúmeros papeis escondem atraem a atenção de Blanca, fazendo com que ela dê a devida atenção ao homem que saiu da pobreza na Espanha e nunca mais voltou a ver os seus devido à guerra mundial e a ditadura que assolou o seu país.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Nessas circunstâncias, decidi comemorar a data, talvez para provar a mim mesma que a vida, apesar de tudo, seguia em frente.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas além da sua própria história, há os papeis falando das missões jesuíticas em território americano que despertam a atenção em outras pessoas. Principalmente as que lutam pela não instalação de um shopping em um agradável ponto da cidade de Santa Cecília.</p><p style="text-align: justify;">Como o professor e escritor Daniel Carter, que além de estar na defesa do local foi um aluno orientado pelo próprio Andrés, tendo vivido as suas próprias aventuras na Espanha, as quais mudaram a sua vida para sempre.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>A escrita de María Dueñas</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">A autora mescla narrativa em primeira e terceira pessoa, conforme o personagem escolhido para o capítulo. Por se tratar muito mais de passado do que presente, aos poucos ela vai nos revelando o cotidiano de Blanca, o caminho percorrido por Andrés e o motivo pelo interesse de Daniel nas missões tão pesquisadas pelo seu mestre.</p><p style="text-align: justify;">E apesar da sinopse dar um ar de suspense, o mesmo não se reflete na escrita. Não há perigos físicos, apenas os mentais quando os personagens são obrigados a enfrentar os próprios fantasmas. Seja Blanca tendo que superar a própria mágoa com o fim de um relacionamento ao qual ela tanto se doou, seja Daniel tendo que abrir a sua própria caixa de pandora.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Uma vida que, de repente, quase de um dia para o outro, havia exigido que me reinventasse e começasse a dar voltas incertas.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Os personagens secundários complementam a história, como Rebecca que já passou pela mesma situação de Blanca e se torna sua primeira amiga nos Estados Unidos, a funcionária da universidade Fanny que foi recomendada por Andrés e vive com uma mãe amargurada, dona Antonia que recebe os jovens estudantes tão bem em sua casa na Espanha, a irmã de Blanca que quer ver fogo no parquinho e o diretor bonitão.</p><p style="text-align: justify;">Como cenário há guerra, ditatura espanhola e os efeitos em sua sociedade enquanto os personagens vão construindo o que Blanca só irá descobrir anos depois, quando organizar os papeis de Andrés.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #660000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de A melhor história está por vir</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Eu gostei muito do início da narrativa, a sequência de fatos que fazem Blanca trocar a Espanha pelos Estados Unidos para fugir de suas tristezas já mexeram comigo. Afinal, quantas pessoas já não desejaram pelo menos uma vez na vida deixar todos os problemas para trás e recomeçar do zero sem a sombra do passado? Mesmo que por um curto período de tempo.</p><p style="text-align: justify;">E o livro captou de vez a minha atenção quando a vida do professor André Fontana passa a ser contada, aliás, o primeiro ponto negativo na leitura para mim foi parar de explorar a vida do personagem, que se apresentou tão rico e teve a sua narrativa interrompida do nada para entrar um terceiro personagem.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Mas atingir certa idade tem seu lado positivo. Você perde algumas coisas pelo caminho, mas ganha outras também. Aprende a ver o mundo de outra maneira, por exemplo, desenvolve sentimentos estranhos.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E quando a história passa a ser do Daniel Carter meu ritmo de leitura passou a diminuir, apesar de instigar a procura por uma conexão que vá além do fato de ele ser um aluno do Andrés enviado para a Espanha, tendo contato com pessoas do passado do professor, senti falta de mais exploração disso.</p><p style="text-align: justify;">E não só dos contatos como do escritor que ele vai pesquisar, pois aqui, dando um spoiler - pule o parágrafo se não quiser nenhum - acaba sendo uma história de amor de início proibida que dá um toque de comédia na narrativa quando ganha apoio da missão americana em solo espanhol, mas ao mesmo tempo cansa um pouco, devido a pausa total que dá no restante da história.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Dizem que a compaixão é um sintoma de maturidade emocional; não é uma obrigação moral nem um sentimento que nasce da reflexão. </i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O que me fez achar o tempo presente parecer um tanto superficial, ficando um tanto corrido e pouco explorado e as demais histórias com a sensação de que havia muito mais para ser explorado.</p><p style="text-align: justify;">Mas no geral eu gostei, achei super interessante a questão das missões jesuíticas, que eu não tinha conhecimento nenhum, e me fez recordar as que temos no sul do Brasil e nos países vizinhos.</p><p style="text-align: justify;">Ficando a dica para quem ficou curioso, gosta da escrita da autora, curte narrativas com fundo histórico ou simplesmente para quem gosta de ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>A melhor história está por vir<br />Misión Olvido<br />María Dueñas<br />Tradução: Sandra Martha Dolinsky<br />Planeta - 352 páginas<br />Originalmente publicado em 2012</i></b></p><div><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-71490031919383425452023-09-26T13:00:00.001-02:002023-09-26T13:00:00.142-02:00 Memphis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiplDcTr-sC-mkZ5Ittz6MYXT_yHbONh6eKABOEn7eWpbeH-X0CoN_qWH44QfSMk93VIDkgywWQNxI4bvwNrBI5PMZiZcg5f_Na_7G2HMYTYi82FaIpv7pSm1usJ8VFb8cN6MOJsRZPxceKTXJWz-AjZTF0KAvMSb_gApg3c4QzPr3P1-2ukkwik3BbIbU/s4032/Memphis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="405" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiplDcTr-sC-mkZ5Ittz6MYXT_yHbONh6eKABOEn7eWpbeH-X0CoN_qWH44QfSMk93VIDkgywWQNxI4bvwNrBI5PMZiZcg5f_Na_7G2HMYTYi82FaIpv7pSm1usJ8VFb8cN6MOJsRZPxceKTXJWz-AjZTF0KAvMSb_gApg3c4QzPr3P1-2ukkwik3BbIbU/w304-h405/Memphis.jpg" width="304" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Joan, de dez anos de idade, a mãe e a irmã mais nova fogem do temperamento explosivo do pai e buscam refúgio na casa ancestral da mãe, em Memphis. Não é a primeira vez que a violência altera o rumo da trajetória da família. À medida que cresce, Joan encontra alívio pintando retratos da comunidade de Memphis. Um dos seus modelos é a Srta. Dawn, uma enigmática vizinha que afirma saber algo sobre maldições e cujas histórias sobre o passado ajudam Joan a ver como sua paixão, imaginação e esperança implacável são, de fato, a continuação de uma longa tradição matrilinear. Joan começa a entender que a mãe, a mãe de sua mãe e as mães antes delas perseverarem, fizeram escolhas impossíveis e deixaram seus sonhos de lado para que sua vida não tivesse de ser definida pela perda e pela raiva. Desdobrando-se ao longo de setenta anos através de um coro de vozes inesquecíveis que se movem pelo tempo, Memphis pinta um retrato indelével sobre legados, celebrando toda a complexidade do que passamos, em família e como país: brutalidade e justiça, fé e perdão, sacrifício e amor.</b></p><p style="text-align: justify;">Julho é o mês de aniversário da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a>, motivo pelo qual a escolha do livro a ser enviado é deles. E o livro enviado foi <b>Memphis</b> da escritora norte-americana <b>Tara M. Stringfellow</b>, livro que frequentou algumas listas de melhores publicações de 2022, quem lhe fez companhia na caixinha foi uma vela aromática como mimo.</p><p style="text-align: justify;">No ano de 1995 Joan e sua irmã Mia passam horas dentro de um carro enquanto a mãe Mirian foge da violência que sofreu do marido, sendo obrigada a correr para casa que foi de seus pais. Hoje habitada pela irmã August e seu sobrinho Derek.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ao bater, ao abrir a porta, eu sabia que deixaríamos sair toda espécie de fantasmas.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas ao mesmo tempo que a mãe foge de suas dores, ela leva a sua filha mais velha de encontro as suas. Não importa que os médicos digam que ela era muito pequena e iria esquecer. Toda a dor está lá, latente e o medo escorre em forma de xixi em suas pernas infantis.</p><p style="text-align: justify;">Só que as mulheres da família North são fortes, e desde Hazel que perdeu o seu grande amor e nunca desistiu de lutar para criar suas meninas bem, suas filhas e netas seguiram sua trilha para sobreviver e também aprender a viver, descobrindo na passagem dos anos que sim elas podem escolher os próprios caminhos e se tiverem coragem suficiente, realizar os próprios sonhos.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Deus era um duende. Uma fada. Podia assumir a forma que Ele quisesse.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O que permite o leitor acompanhar o crescimento, lutas, amadurecimento, dores e alegrias de três gerações da mesma família em uma escrita fluída que nos faz viver em Memphis nas suas pouco mais de trezentas páginas.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #a64d79; font-family: georgia;"><b>A escrita de Tara M. Stringfellow</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Logo de início encontramos uma dedicatória a Gianna Floyd, filha do afro-americano George Floyd, cuja cenas do seu estrangulamento em maio de 2020 chocaram o mundo. A escritora americana Tara M. Stringfellow define o seu livro como um conto de fadas negro, e ao mesmo tempo que diz a menina que talvez ela ainda não esteja pronta para a leitura, transfere o questionamento para os leitores que abrem o seu livro.</p><p style="text-align: justify;">A autora divide a história da família North em três partes em um vai e vem no tempo. Na primeira parte temos 1995, 1978 e 1988. Já a parte dois temos 1997, 1937, 1943, 1955 e 1978. Já na terceira e última página temos 2001, 2002, 2003, 1968 e 1985. E ao contrário do que se possa imaginar, o vai e vem de passado e presente, não torna a leitura confusa, muito pelo contrário, ela vai preenchendo os vácuos ao pouco, ao mesmo tempo que nos ajuda a entender mais da personalidade das irmãs Mirian e August.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ela repreendera a filha apenas por querer existir como uma criança.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Existe diferença também na forma narrativa. Joan narra em primeira pessoa, o que nos permite ver e sentir tudo com o seu olhar. Já as demais personagens - Miriam, August e Hazel, já possuem um olhar externo, tendo a narrativa em terceira pessoa. Mia não tem capítulos próprios, tendo parte da sua história contada pelas outras.</p><p style="text-align: justify;">E nestes capítulos elas abordam diferentes pontos de vida desde um amor que aquece o coração de quem lê, até a violência física e psicológica sofrida pelas mulheres. Do desbravamento de profissões em diferentes épocas - onde não só o gênero, como a cor pesam muito - até as disputas territoriais, a maternidade solo e a importância de uma rede de apoio. Com a busca pela força e coragem que muitas vezes as mulheres acreditam que não possuem, mas as encontram em momentos chaves.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Talvez eu não fosse tão diferente de meu pai. Um pensamento desconfortante. Talvez ele me tivesse feito dessa forma, percebi. com raiva.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Além disso a autora coloca vários fatos históricos como pano de fundo nos acontecimentos dos personagens. Desde a parte musical com o blues o rock'n'roll, passando pelo pós guerra, o assassinato de Martin Luther até o atentado de 11 de setembro. E naturalmente o racismo, pulsante em diferentes situações, e que influenciam até mesmo na escolha de uma profissão.</p><p style="text-align: justify;">Tudo isso em uma escrita envolvente, fluída, que não só nos aproxima dos personagens, como nos faz sentir as mesmas sensações, nos gera questionamentos e indignações.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #a64d79; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Memphis</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Memphis inicia com impacto, uma situação pesada envolvendo duas crianças já apertaram o meu coração. Mas a forma como as três gerações de mulheres da família North levanta a cabeça e recomeçam após cada queda, independente da dor, é surpreendente e encorajador para seguir virando página e mais página, se sentindo cada mais próxima delas.</p><p style="text-align: justify;">O fato da escrita ser fluída também convida a imersão, sendo muito fácil ir descobrindo o passado de cada uma e acompanhar o presente que vai virando futuro em um tempo que não é nada linear. O que me fez pensar em um quadro que está sendo pintado aos poucos, e a cada capítulo uma parte nova dele me era revelada, até ter sua visão completa no final. Como se fosse uma das obras da sensível Joan.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O fato de estar acordada ou de ficar na cama em nada mudava o caos dentro ou fora de sua casa.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Sim, muitas vezes questionei a escolha de Miriam, que foge da violência e leva Joan para o cenário de sua experiência mais traumática. Entendi o orgulho de August, mas não o fato de ela não querer expor sua bela voz. Assim como não consegui nem me surpreender com Jax ao não se preocupar com as filhas após a partida, algo tão comum ainda nos dias de hoje. Mas acima de tudo admirei a coragem de cada uma delas em tomar as rédeas de suas vidas, fazerem suas próprias escolhas, errarem, acertarem, chorarem e sorrirem. </p><p style="text-align: justify;">Ficando a dica deste livro sensível e bem escrito, que facilmente pode prender a sua atenção como prendeu a minha.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><i><b>Memphis<br />Tara M. Stringfellow<br />Tradução Carolina Candido<br />TAG - Alfa Books<br />2023 - 336 páginas<br />Publicado originalmente em 2022</b></i></p><div><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-49491458152237549582023-09-15T13:00:00.001-02:002023-09-15T13:00:00.153-02:00 A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqin5AfQdA7hk_cLiVEaE_Pc_eYOymlBDez7763fZaKxQJuBVwPxs8uYvuIJfKPFhuGLYyVDpW6riMx8cmqz2Am-FeEspA9YfW820mWt70wUFkfRm0o7CgFSy2QQ9rKeovU09rHmFY5vXbBdIdjPrxZenEqcikQFJlox3X0bW-Znpn1SOJlqJqCIM3oy4/s4032/A%20Fina%20Flor%20de%20Stanislaw%20Ponte%20Preta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqin5AfQdA7hk_cLiVEaE_Pc_eYOymlBDez7763fZaKxQJuBVwPxs8uYvuIJfKPFhuGLYyVDpW6riMx8cmqz2Am-FeEspA9YfW820mWt70wUFkfRm0o7CgFSy2QQ9rKeovU09rHmFY5vXbBdIdjPrxZenEqcikQFJlox3X0bW-Znpn1SOJlqJqCIM3oy4/w270-h360/A%20Fina%20Flor%20de%20Stanislaw%20Ponte%20Preta.jpg" width="270" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: "O diabo não frequenta os inferninhos de Copacabana com medo de ficar desmoralizado", anota Stanislaw Ponte Preta. Um dos mais irresistíveis intérpretes de nossa cultura e de nossos costumes, o pseudônimo (ou seria heterônimo) de Sérgio Porto misturou lirismo e humor para retratar como ninguém a beleza e o absurdo do Brasil durante as décadas de 1950 e 1960. Parte de uma geração de cronistas que revolucionou a literatura nacional, Porto foi campeão de audiência, lido e comentado por brasileiros de diferentes classes e idades. Nesta farta seleção, o leitor tem acesso às melhores crônicas de um autor que marcou época. Saboroso, hilariantes, implacáveis e debochados, seus textos se revelam mais atuais do que nunca.</b></p><p style="text-align: justify;">Com seleção e apresentação de <b>Alvaro Costa e Silva</b>, <b>A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta</b> leva o leitor através desta coletânea de crônicas de volta aos anos de 1950 e 1960 no Brasil e apresenta - ou relembra conforme a idade do leitor - personagens como Tia Zulmira , Primo Altamirando e Rosamundo do cronista <b>Stanislaw Ponte Preta</b>, ou melhor do carioca <b>Sérgio Porto</b>.</p><p style="text-align: justify;">Separado em oito partes identificando entre parênteses o ano, quem nos introduz ao mundo de Stanislaw Ponte Preta é justamente Tia Zulmira, uma mulher que já foi condensa, vedete, cozinheira e dona de uma personalidade forte. Entre os personagens apresentados, ela foi a minha preferida. Adorei a ironia, o deboche e as situações sem noção envolvendo essa figura.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Depois fez ver que existem certas coisas que chateiam a gente de maneira tão sutil, que raramente a gente dá pelo motivo da chateação.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Quem segue a Tia Zulmira é justamente um primo criado por ela: o Primo Altamirando, um cara de caráter duvidoso, mas figurinha carimbada em noventa por cento das famílias. Assim como outras figuras que aparecem pelas crônicas.</p><p style="text-align: justify;">Mas não, A Fina Flor não é um caso de família em livro, mas sim crônicas recheadas de ironias e deboche, as vezes escancarados, outras bem disfarçadas sobre os aspectos culturais, comportamentais, morais, urbanísticos e naturalmente políticos daquela época.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #ffa400; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O conjunto de crônicas que compõe A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta apresentam um retrato bastante interessante da década de 1950/1960 no Brasil. Permitindo uma visão mais divertida para quem não viveu a época onde importantes fatos históricos ocorreram no país.</p><p style="text-align: justify;">Seja com parentes fictícios, seja com anedotas, não raro me recordei de outros cronistas do cotidiano, como o Luís Fernando Verissimo e o David Coimbra, já citados no blog por suas obras. Pois a escrita de Sérgio Porto possui leveza e aquele toque de quem está sentado na mesa do bar contando história para os amigos.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Por que teria saído da casa de câmbio tão enfezada? Vai ver foi o preço do dolár.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Por ser uma obra do "século passado" algumas histórias e termos podem ferir os leitores mais sensíveis, já que naquela época não havia politicamente incorreto. Em compensação muitos dos comportamentos apresentados ainda estão longe de serem aposentados. Demonstrando que a sociedade não mudou tanto assim.</p><p style="text-align: justify;">Outro ponto presente é a crítica ao governo, que pode ser sutil, irônica ou bem direta. Lembrando que o período englobado pega tanto o período do Jango quanto da ditatura militar, havendo muita censura nesta última e exigindo uma escrita onde a crítica está escondida no deboche do dia a dia dos personagens.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Tá na cara que um camarada distraído assim não dava certo em emprego nenhum e, de decadência em decadência, ele acabou arrumando um reles empreguinho de vendedor de bilhetes de loteria.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No geral me deparei com crônicas engraçadas, outras que retratam bem um período, algumas sem noção e outras que achei chatas mesmo. Não foi um livro que li direto, de uma única vez. Levei alguns meses intercalando com outras leituras, algo que livros de crônica e contos permitem com tranquilidade.</p><p style="text-align: justify;">Um livro bem interessante para ver um pouco do Brasil em décadas passadas com uma visão mais bem-humorada, motivo pelo qual deixo a recomendação para quem se interessa pelo período.<br /><br /><i style="font-weight: bold;">A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta<br /></i><i style="font-weight: bold;">Stanislaw Ponte Preta/Sérgio Porto<br /></i><i style="font-weight: bold;">Organização: Alvaro Costa e Silva<br /></i><i style="font-weight: bold;">Companhia das Letras<br /></i><i style="font-weight: bold;">2021 - 358 páginas</i></p><p><br /></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-66260559929940934002023-08-29T19:00:00.003-02:002023-08-29T19:00:00.149-02:00 A Mulher do Século<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0YyKqgoLn5Lr0q5Phnxjk8ygIJVoQmKu1ZUHwDr8c7SyTw86T8RFNdrRPl7XzDllVannijpA5OegKI_YGNVAVturs9ahpeO6L3mPMVBiO3cBjW_Xx9MKZHGqD5PCRoXSO-bBnn1Uqji1uvHLNSL65ZzFRqVaQ_TXxfNZmYBFMhk_BGdAsseu0sHWoqgU/s4032/A%20Mulher%20do%20S%C3%A9culo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="361" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0YyKqgoLn5Lr0q5Phnxjk8ygIJVoQmKu1ZUHwDr8c7SyTw86T8RFNdrRPl7XzDllVannijpA5OegKI_YGNVAVturs9ahpeO6L3mPMVBiO3cBjW_Xx9MKZHGqD5PCRoXSO-bBnn1Uqji1uvHLNSL65ZzFRqVaQ_TXxfNZmYBFMhk_BGdAsseu0sHWoqgU/w271-h361/A%20Mulher%20do%20S%C3%A9culo.jpg" width="271" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Mame Dennis é uma mulher sofisticada e extravagante que, no final dos anos 1920, vive com ousadia e alheia ao que os outros pensam. Porém, quando seu irmão morre, ela se torna a guardiã legal do jovem sobrinho, o educado Patrick. Apesar do choque de temperamentos, pouco a pouco eles desenvolvem uma relação de carinho e amizade, enfrentando juntos não apenas as convenções sociais, mas também a Grande Depressão norte-americana.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>Junho/2023</b> recebi pela minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a> a indicação da escritora italiana Ilaria Gaspari <b>A Mulher do Século</b>, do escritor americano Patrick Dennis/Edward Everett Tanner III. O mimo foi um jogo de cartas.</p><p style="text-align: justify;">Em um dia de chuva o Patrick adulto se depara com uma antiga edição da revista Digest e um artigo escrito por um famoso escritor, que trata da personagem mais inesquecível que ele teria conhecido. Mas já nas primeiras linhas do texto o narrador tem despertado suas memórias com a pessoa mais inesquecível que surgiu em sua vida: tia Mame.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Personagem mais inesquecível? Faça-me o favor, esse escritor não faz a menor ideia do que está falando!</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Tudo começa quando Patrick tinha 10 anos, órfã de mãe, o pai faz um testamento informando quem cuidara do menino e quem administrará suas finanças. Há uma série de condições, como o filho ser criado como protestante e ser enviado para escolas conservadoras.</p><p style="text-align: justify;">A morte paterna não tarda a chegar e Patrick acompanhando pela empregada da família se vê arrumando as malas e indo para Nova York. Mas ao ir para a casa da tia então desconhecida, um novo mundo se abre para o menino, que passa a viver diferentes aventuras com uma mulher realmente a frente do seu tempo.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Mas Tia Mame não era de admitir derrotas. Existia nela um certo espírito insolente, típico de uma escoteira tagarela.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />De escolas experimentais, passando pelo crash da bolsa que tornou milionários em pobres em poucos dias, casamento, ida para a universidade, guerra mundial, entre outros eventos, o narrador personagem traz além de uma comparação com a personagem inesquecível da revista a sua visão de por que sua tia é a mais única entre todas.</p><p style="text-align: justify;">Tudo com uma ironia e excentricidade que podem arrancar boas gargalhadas e obrigar o leitor a concordar que tia Mame é sim uma personagem inesquecível.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #274e13; font-family: georgia;"><b>A escrita de Patrick Dennis</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">A primeira pegadinha de <b>A Mulher do Século</b> está no nome do autor, que sim, é o mesmo do narrador personagem e um dos vários pseudônimos do autor norte-americano <b>Edward Everett Tanner III</b>, que foi um dos autores mais vendidos da metade do século 20 e chegou a ter três de seus livros de uma só vez na lista dos mais vendidos do New York Times.</p><p style="text-align: justify;">Em A Mulher do Século a narrativa utilizada é em primeira pessoa, sendo o relato das memórias de Patrick Dennis em relação a várias etapas da sua vida, do final da infância até a vida adulta, sempre com a presença de sua Tia Mame.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Quando a Grande Depressão a atingiu, ela se jogou em muito mais carreiras do que a Personagem Inesquecível e, de um jeito ou de outro, ela também conseguiu nos salvar.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />A escrita é uma mistura de ironia, deboche, drama e comédia. Gerando um livro leve e engraçado, ao mesmo tempo que crítico e reflexivo. Pois ele relata não apenas os momentos históricos das épocas vividas pelos personagens (como o crash da bolsa, a segunda grande guerra, a conquista da autonomia feminina, conflitos entre o norte e sul dos EUA, entre outros assuntos abordados) como também o estilo de vida da alta classe nova iorquina. </p><p style="text-align: justify;">Outro ponto interessante no livro é a sua divisão, ele é dividido em dez capítulos longos, mas muito redondos com início, meio e fim da memória contada. Se fosse transformado em uma minissérie, os capítulos já estariam previamente distribuídos. Aliás, a escrita de A Mulher do Século tem bem o estilo cinematográfico, sendo muito fácil ao leitor visualizar as cenas e entrar em sintonia com os diálogos.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ela nunca revelava sua idade exata e, em um documento oficial, uma vez, escreveu "acima de vinte e um", o que ninguém pareceu se importar de questionar."</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Aliás, A Mulher do Século já foi adaptado para o cinema - um dos filmes está disponível no Youtube para quem ficou curioso - como também peça teatral em um musical da Broadway.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #274e13; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de A Mulher do Século</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Eu adorei a mistura de humor e crítica encarnada por uma mulher muito à frente do seu tempo - inclusive do nosso atual. Tia Mame é uma personagem que encanta e enlouquece as pessoas a sua volta, seja com o seu estilo de encarar a vida, seja pelo toque de sorte combinado com suas escolhas.</p><p style="text-align: justify;">Em cada capítulo uma surpresa que podia ter um toque surreal, sem noção, superação ou tudo junto misturado. Em paralelo é muito bonita a forma como a tia e o sobrinho se conectam, apesar de personalidades tão diferentes, criando laços definitivos.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>A carreira literária de Tia Mame surgiu mais como uma espécie de terapia, para tirá-la da depressão na qual ela havia mergulhado ao se tornar viúva.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Dei muita risada com a escola diferentona escolhida pela tia Mame para Patrick na infância e o desespero do Sr. Babcock - administrador da herança do menino - ao conhecer o local. O momento sogra sendo sogra se unindo a ex do filho Burnside, para separa-lo de Tia Mame me garantiram gargalhadas pelas situações inusitadas.</p><p style="text-align: justify;">Mas também tive meu momento de agonia em um capítulo que Tia Mame resolve adotar órfãos de guerra e achei o capítulo das irmãs fantasmas - não, não tem fantasma na história, mas apelidei assim pelas irmãs andarem sempre de branco - o mais fraco. Mas não desnecessário, pois ele tem motivo para estar ali.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Quer dizer, existem certas coisas que você faz do jeito certo ou é melhor você nem fazer.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No geral eu adorei, me diverti e achei a leitura extremamente agradável. Me apaixonei pela Tia Mame, o que me faz recomendar e muito a leitura.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>A Mulher do Século<br />Auntie Mame<br />Patrick Dennis / Edward Everett Tanner III<br />Tradução: Davi Boaventura<br />TAG - Dublinense<br />Edição 2023 - 352 páginas<br />Publicado originalmente em 1955</i></b></p><div><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-65769570053820302722023-08-23T19:00:00.001-02:002023-08-23T19:00:00.152-02:00A boneca de Kokoschka<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf7VI-hbnl39QudGnP07CE6NDatVEZ8Hx8ssY8TyDbMViGg7Xf8mhVrlBOQP9wMwGYe1f8j2qPx4VU8383hROBLxSWyFJveBlY1pj1yKvgoKLfsXPEm8dt6u_2hkuxMbgW-9KGSqTOtKlaTsJfcH7k_O5dV5a9UYpEbwW_6ax7uqd-WccBpdovqe5Xi3k/s4032/A%20boneca%20de%20Kokoschka.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf7VI-hbnl39QudGnP07CE6NDatVEZ8Hx8ssY8TyDbMViGg7Xf8mhVrlBOQP9wMwGYe1f8j2qPx4VU8383hROBLxSWyFJveBlY1pj1yKvgoKLfsXPEm8dt6u_2hkuxMbgW-9KGSqTOtKlaTsJfcH7k_O5dV5a9UYpEbwW_6ax7uqd-WccBpdovqe5Xi3k/w278-h371/A%20boneca%20de%20Kokoschka.jpg" width="278" /></a></div><br /><b><br /></b><p></p><p><b>Sinopse: Em uma Dresden devastada pelos bombardeios, Bonifaz Vogel esconde na sua loja de pássaros o jovem judeu Isaac Dresner. A partir daí, vão entrando em cena diversos personagens, incluindo Mathias Popa, autor de A boneca de Kokoschka, que conta a história do pintor Oskar Kokoschka e da sua boneca, feita à imagem e semelhança da sua amada. E dessa singular galeria de vidas, Afonso Cruz compõe um irônico e magistral jogo de matrioskas, no qual a realidade se confunde com a ficção e cada história é ressignificada pelo olhar do outro.</b></p><p>Em meio a segunda guerra mundial, o jovem Isaac Dresner corre desesperadamente para salvar a sua vida. É na loja de pássaros onde seu pai havia construído uma cave que ele encontra a salvação ao se esconder no local. Um dia, passa a falar de seu esconderijo com Bonifaz Vogel, o dono do local, que curiosamente obedece a voz sem dono, gerando uma curiosa relação.</p><p>Com o fim da guerra, Isaak apesar de ser o mais jovem, adota Bonifaz, ao grupo se une Tsilia, que os encontrou por acaso na rua após fugir do local onde morava. Mudam de país para se reconstruir através da pintura e de uma livraria. E é o encanto de Isaak pelos livros que o faz cruzar com o escritor Mathias Popa.<br /><br /></p><blockquote><p></p><blockquote><i>Sabia que aquilo acontecia dentro da sua cabeça, mas tinha a estranha sensação de que as palavras vinham do soalho, passando-lhe pelos pés.</i></blockquote><p></p></blockquote><p><br />E este encontro irá gerar um livro dentro de um livro, onde o foco é Adele Varga, que após a guerra contrata um investigador para descobrir os mistérios que sua avó escondida. A chave de tudo é o autor que se torna personagem na própria história e transforma tudo em um jogo de espelho, quando as semelhanças entre a realidade da ficção de Afonso Cruz começam a ser refletida na ficção de Mathias Popa, e vice-versa.</p><p>E é neste romance também que o leitor irá encontrar a explicação do título, ou melhor, toda a origem da criação da boneca de Kokoschka.</p><p><br /></p><h3 style="text-align: left;"><b><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;">A escrita de Afonso Cruz</span></b></h3><p><br /></p><p>A boneca de Kokoschka recebeu o Prêmio da União Europeia para a Literatura em 2012, mas este não é o único motivo pelo qual o livro do escritor português Afonso Cruz merece ser lido.</p><p>Com uma escrita que mistura agilidade, reflexões, cenas fortes, toques cômicos e lirismo, ele divide a sua boneca de Kokoschka em três partes mais o romance de Mathias Popa. Sendo a primeira parte referente a guerra, a segunda parte com as memórias de Isaac - e por tabela de Bonifaz e Tsilia - e seu encontro com Popa, o livro de Popa e a última parte onde temos um novo personagem.<br /><br /></p><blockquote><p></p><blockquote><i>As pessoas diziam que ele era estúpido e ele concordava acenando com a cabeça e passando os dedos no queixo.</i></blockquote><p></p></blockquote><p><br />Os capítulos são curtos, rápidos, as vezes fortes, outras vezes objetivos e também há momentos em que se explica um pouco mais sobre os personagens. A narrativa em sua maioria está em terceira pessoa, havendo alguns momentos nas memórias e cartas que o autor utiliza a narrativa em primeira pessoa.</p><p>O resultado é um livro envolvente que exige atenção para não se perder nos acontecimentos e reviravolta, pois se o início da história parece mais simples, no decorrer das páginas ela vai ganhar uma complexidade que não permite devaneios entre os parágrafos.</p><p> </p><h3 style="text-align: left;"><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de A boneca de Kokoschka</b></span></h3><p><br /></p><p>O livro tem logo de início a cena mais emblemática para mim, Isaac Dresner brincando com um amigo vê o mesmo ser baleado na cabeça por um soldado alemão, e quando o garoto vai ao chão, a sua cabeça cai justamente no pé direito de Isaac. O peso da cena trágica o acompanhará para sempre, já que ele passa a coxear ligeiramente na perna direita, carregando eternamente os efeitos de uma guerra.</p><p>Já para o final achei surpreendente o cuidado pelos detalhes da obra de Mathias Popa, já que o livro dentro do livro é completo, com direito a capa, capítulos e apresentação do autor. E claro, o nome da editora do Isaac.<br /><br /></p><blockquote><p></p><blockquote><i>E, se o que é harmonioso e proporcional é fácil de reconhecer, donde vem essa atroz desproporção que vemos no mundo?</i></blockquote><p></p></blockquote><p><br />E apesar de ter sentido um certo estranhamento e perdido um pouco do meu ritmo de leitura quando comecei a ler o livro dentro do livro, no geral eu gostei bastante da obra.</p><p>Principalmente da primeira parte que eu achei triste e ao mesmo tempo formidável o fato do menino se comunicar pelo chão e o senhor simplesmente obedecer a aquela voz. O cuidado do menino que passou a auxiliar até nos negócios da loja e no fim da guerra se sentia pai de quem o ajudou sobreviver.<br /><br /></p><blockquote><p></p><blockquote><i>É assim o nosso destino, fazemos curvas e parábolas para que ele se cumpra com perfeição.</i></blockquote><p></p></blockquote><p><br />Pois existe muita humanidade entre os personagens, no auxilio mútuo e em suas buscas após anos de muitas perdas, e na eternização da memória através das histórias. </p><p style="text-align: justify;">Um livro que me chamou a atenção pelo resumo e não decepcionou, ficando aqui a minha recomendação de leitura.</p><p><br /></p><p><b><i>A boneca de Kokoschka<br />Afonso Cruz<br />Editora Dublinense<br />Edição em Português de 2021<br />2010 - 288 páginas</i></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-17244179612910345422023-08-08T13:00:00.004-02:002023-08-08T13:00:00.152-02:00 Lar em chamas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_f4vB-a5OS2upMNfxzgpfTQoMEF5ORfZmAoGBhJTbNRF4ZPOfbTKTzIrzTgov9UiyQBwMP8vSMSmkrcVHz9j4I6E91vQzxw_-Aklkd7YEIc0NgRFXjNOb94kyhKnPuLs3Rfn7SnJSWolLZ0DIUAE-divGmoVbmGFVo00e54nOgIgd11DetcDYElKpX44/s4032/Lar%20em%20chamas.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="332" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_f4vB-a5OS2upMNfxzgpfTQoMEF5ORfZmAoGBhJTbNRF4ZPOfbTKTzIrzTgov9UiyQBwMP8vSMSmkrcVHz9j4I6E91vQzxw_-Aklkd7YEIc0NgRFXjNOb94kyhKnPuLs3Rfn7SnJSWolLZ0DIUAE-divGmoVbmGFVo00e54nOgIgd11DetcDYElKpX44/w443-h332/Lar%20em%20chamas.jpeg" width="443" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Nacionalidade e cidadania são um privilégio, não um direito de nascença, nesta história em que se acompanha não apenas a devastação de duas famílias, mas também tocantes histórias de amor incondicional e sacrifícios. Entre irmãos, entre pai e filho, entre amantes. Ao adaptar a tragédia Antígona de Sófocles, para Inglaterra contemporânea, a paquistanesa Kamila Shamsie construiu um romance pujante e arrebatador, vencedor do Prêmio Women's Prize for Fiction 2018.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>maio/2023</b> eu recebi pela minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a> o livro <b>Lar em Chamas</b> da escritora paquistanesa <b>Kamila Shamsie</b>. A indicação foi da escritora brasileira radicada em Londres <b>Nara Vidal</b>. E o mimo foi um abridor de garrafas no formato dos óculos do escritor português <b>José Saramago</b>.</p><p style="text-align: justify;">Após uma pausa em sua vida pessoal para criar seus irmãos gêmeos Parvaiz e Aneeka, Isma, uma britânica muçulmana, enfrenta uma delicada entrevista para sair de Londres e ir realizar um doutorado em sociologia nos Estados Unidos. O comportamento de dois familiares muito próximos não conta a seu favor, mas suas últimas decisões a fazem ter respaldo para iniciar os seus estudos em paz e conhecer Eamonn, filho de um influente político britânico de origem islâmica que não recebe votos de quem tem a mesma origem devido as suas falas controversas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Ela previra o interrogatório, mas não as horas de espera que o precederiam, nem que seria tão humilhante ter o conteúdo de sua mala inspecionado.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Eamonn vive da mesada da mãe enquanto não sabe o que irá fazer da vida. Sem contato com o lado islâmico da família paterna, é cosmopolita, e se encanta pela beleza de Aneeka ao ver uma foto da moça na casa de Isma, e assim buscar uma desculpa para encontrá-la pessoalmente em seu retorno para Londres.</p><p style="text-align: justify;">Aneeka brigou com a irmã e não fala mais com ela, mas ao conhecer Eamonn vê no rapaz uma oportunidade de resgatar seu irmão gêmeo, que foi iludido e caiu na lábia dos jihadistas. Parvaiz, o irmão, não possuía informações nem fotos do pai, que ao pertencer a mesma organização terrorista se tornou assunto tabu dentro da família, e em sua inocência, ao receber informações tão preciosas sobre esta figura ao mesmo tempo importante e desconhecida para ele, foi facilmente enganado, e agora se vê em uma realidade difícil de escapar. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>O pai dele costumava ser assunto de conversas durante o café, mas sempre como "meu pai", nunca como um homem perante a opinião pública.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O resultado disto tudo é um romance que irá mexer com a estrutura de ambas as famílias de forma definitiva, em uma mistura de assuntos atuais e uma peça clássica que mexeram comigo do início ao fim.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #cc0000; font-family: georgia;">A escrita de Kamila Shamsie</span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Foi o convite para adaptar Antígona, uma das famosas peças da Grécia antiga, somado a inúmeras notícias de jovens britânicos se unindo ao Estado Islâmico em 2015 que inspiraram a autora Kamila Shamsie a escrever o romance Lar em Chamas, que faz uma releitura com grande intensidade da peça clássica.</p><p style="text-align: justify;">Divido em cinco partes, cada uma contém a visão de um dos narradores, e aborda assuntos como o luto, o amor, política, imigrantes, islã, cidadania e família. O que me permitiu conhecer um pouco mais da história de cada um dos personagens envolvidos. Seus sonhos, seus anseios, suas perdas e aflições. O que na minha visão me aproximou muito de todos eles, tornando a angustia de se aproximar das páginas finais maior, já que estamos falando de uma tragédia grega.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Como é possível parecer exatamente a mesma de ontem? Devia parecer como se uma tempestade tivesse passado.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O que achei interessante é que ao dividir em cinco partes, não estamos vendo o mesmo momento na visão de cinco personagens diferentes, mas a sequência dos fatos. O que permite ver com clareza a diferença dos mundos, embora todos sejam de origem britânica-paquistanesa, e também suas semelhanças, como as escolhas de Isma e Karamat, que tentam se livrar dos estigmas para atingir sucesso profissional.</p><p style="text-align: justify;">A escrita de Kamila Shamsie é envolvente, as descrições, principalmente em cenas chaves, nos colocam ao lado dos personagens, podendo gerar questionamentos ou compartilhamento de dor. Ao mesmo tempo, como ocorre na vida, nem os personagens nem o leitor tem a visão de tudo e todos o tempo todo. Há alguns saltos conforme a autora muda o narrador, mas nada que não permita ter o amplo entendimento da história.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><b><span style="color: #cc0000; font-family: georgia;">O que eu achei de Lar em chamas</span></b></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por se tratar de um romance inspirado em uma tragédia grega, era previsível que haveria cenas fortes, mas nem isso me impediu de ficar chocada e ter aquele momento de leitor de pensar que poderia ser diferente.</p><p style="text-align: justify;">Uma escolha errada por um rapaz no final de sua adolescência somada uma coincidência inesperada me fez pensar na palavra destino e em um filme antigo chamado Efeito Borboleta, onde um bater de asas pode mudar tudo. E é isso que ocorre na vida das duas famílias, onde pessoas que são consideradas estrangeiras no país que nasceram não respondem apenas pelos seus atos, mas por toda a comunidade que fazem parte.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Como ele odiava sua vida, aquele bairro, a inevitabilidade de tudo.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E por isso gostei muito da troca de visão dos personagens enquanto a história seguia andando, pois com a evolução dos acontecimentos a minha opinião ia mudando, assim como os meus sentimentos em relação a eles. Pois na história ninguém é mocinho ou bandido, são todos extremamente humanos, e aos conhece-los era possível imaginar o impacto de cada acontecimento em suas vidas.</p><p style="text-align: justify;">Gostei da escrita da Kamila Shamsie, achei direta e simples, e ao mesmo tempo poética e impactante. Tornando a leitura mais do que recomendada para quem gosta de um bom livro. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Lar em Chamas<br />Home Fire<br />Kamila Shamsie<br />Tradução: Lilian Jenkino<br />TAG - GRUA<br />2017 - 286 páginas</i></b></p><div><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-1858364649206213412023-06-23T19:00:00.001-02:002023-06-23T19:00:00.138-02:00 Contos Folclóricos Africanos - Vol. 1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtAVYA11656reic3UpX0ELtuVm-93yIu5JlxFr_gcD_vDc6epUooI5mShEeWT1pkpAZpuRZ1AWWhogqvcNz8bDkSKfs32cli1aQgWL0ZRWHewTwteKBciUyWjvFEyDMJ7AeT-LxfzqsbokSGVHsr3OckgwEh7iG8hABJ0hYiPG5H1X6xDB_kbld8rKV5o/s4032/Contos%20Folcl%C3%B3ricos%20Africanos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="373" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtAVYA11656reic3UpX0ELtuVm-93yIu5JlxFr_gcD_vDc6epUooI5mShEeWT1pkpAZpuRZ1AWWhogqvcNz8bDkSKfs32cli1aQgWL0ZRWHewTwteKBciUyWjvFEyDMJ7AeT-LxfzqsbokSGVHsr3OckgwEh7iG8hABJ0hYiPG5H1X6xDB_kbld8rKV5o/w280-h373/Contos%20Folcl%C3%B3ricos%20Africanos.jpg" width="280" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: A África é o berço da civilização e essa seleção de contos celebra sua cultura e influência, tão ricas e diversificadas quanto o próprio continente. Na África setentrional, as histórias de sultões e seres mágicos deixam entrever a influência moura; nas verdejantes florestas do Congo, sociedades de animais cuja inteligência sobrepuja à do ser humano; nas ilhas orientais, as alegorias morais das antigas civilizações tribais. Contos folclóricos africanos reúne histórias coletadas por exploradores, governantes e missionários europeus, em sua maioria contadas diretamente pelos nativos. São narrativas transmitidas verbalmente, de geração em geração, por provavelmente centenas de anos. Os contos revelam o folclore, crenças e códigos de ética africanos. Curiosamente, essa mitologia pré-colonização encontra ecos em muitas outras ao redor do mundo.</b></p><p style="text-align: justify;">Encontrei Contos Folclóricos Africanos entre os ebooks gratuitos, disponibilizado para o público geral, na Amazon. E como gosto de edições de bilingues para me ajudar a estudar inglês já aproveitei para baixar.</p><p style="text-align: justify;">De rápida leitura, o conjunto me lembrou um pouco as 1001 noites com as próprias histórias regionais que temos no Brasil, já que as histórias misturam a cultura africana com contos fantásticos, ao trazer animais falantes ou incidentes que se repetem muitas vezes.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Não se pode confiar nos filhos de Adão. O que querem de mim?</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Por derivarem da narrativa oral, demonstrando que são histórias carregadas a muitos anos, passando pelas diversas mudanças no mundo, então sim, haverá momentos de machismos e situações que nos tempos atuais são estranhas. Mas nem por isso menos importante de se conhecer, já que só aprendendo com o passado se terá um presente e um futuro melhor.</p><p style="text-align: justify;">Mas chega de bla bla bla e vamos ao breve resumo dos contos.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O filho do médico e o rei das cobras </span></h4><p style="text-align: justify;">Um rapaz órfão de pai é incentivado pela mãe a procurar uma profissão, sem conseguir se encontrar nos primeiros ofícios, ele busca saber a profissão do pai, que era médico.</p><p style="text-align: justify;">Mas antes que encontre os livros para entender a atividade, é chamado pelos vizinhos para cortar lenha durante uma semana, onde ele é enganado e abandonado.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Quando estiver em sua cidade, não tome banho com muitas pessoas.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Para sobreviver acaba buscando um caminho, e é nele que encontrará o rei das cobras.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">O Macaco, a cobra e o leão</span></b></h4><p style="text-align: justify;">Uma viúva passa dificuldades financeiras para sustentar o filho na aldeia que moram. Conforme ele cresce, opta em seguir a profissão do pai de caçador e espalhar armadilhas na floresta próxima.</p><p style="text-align: justify;">Mas com o passar do tempo, o menino descobre que pegar um animal não é tão rápido e fácil assim, até prender um macaco. Mas invés de matar, ele acaba aceitando o trato de salva-lo para um dia ser salvo também.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Nunca ajude homem nenhum, pois ele se voltará contra você na primeira oportunidade.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E o mesmo ocorre com uma cobra e um leão, e todos, sem exceção, após libertos lhe recomendam nunca ajudar um homem. Até que um dia um homem fica preso a sua armadilha.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Os pretendentes da princesa gorila</span></b></h4><p style="text-align: justify;">O primeiro fato interessante neste conto é que ele se inspira na chegada do rum na África, aqui chamado de nova água. Ao mesmo tempo que justificaria o motivo pelo qual o bando de micos vive nas árvores e não mais no chão.<br /><br /></p><blockquote><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Fez uma única e vã tentativa. Foi embora com o rabo baixo, rastejando de vergonha.</i></blockquote><p></p></blockquote></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Na história a linda filha do Rei Gorila chegou na idade em que deve se casar, e o rei avisa a todas as tribos e impõe uma regra: o seu futuro genro precisava beber um barril inteiro da nova água. Uma tarefa nada fácil.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Ga'so, o professor</span></b></h4><p style="text-align: justify;">Aqui temos um homem que ensinava as crianças a ler debaixo de uma cabaceira e morreu ao ser atingido por um fruto enquanto preparava a sua aula.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"><i></i></p><blockquote><blockquote><i>Vejam só! Não é capaz de dizer uma palavra sequer para se defender.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Quando os alunos o encontram são tomados pela tristeza e pelo desejo de encontrar o assassino, que tem como suspeitos o vento sul, uma parede de barro, um rato, entre outros que eles vão encontrando ao longo de sua investigação um tanto violenta.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Por que os bodes são animais domésticos</span></b></h4><p style="text-align: justify;">Outra história que aborda porque um animal mudou o seu destino original. Aqui um bode vive em uma aldeia com sua mãe quando anuncia que tem uma poção que o torna invencível.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Que vergonha um animal desse tamanho derrotar um de nossa espécie.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Logo a notícia se espalha e chegam os seus desafiantes, mas nem todos irão aceitar perder a luta com facilidade, e a floresta passa a ser extremamente insegura.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b>O leopardo de pele lisa</b></p><p style="text-align: justify;">Em um reino, a filha favorita de um rei ganhou o direito de escolher o próprio marido. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Vejam que homem lindo! Que belo rosto e que porte!</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Os pretendentes precisam atender a um único pré-requisito: não ter nenhuma mancha na pele. E assim ela auditava cada um que a pedisse em casamento, dispensando ao encontrar qualquer pinta mínima ou cicatriz.</p><p style="text-align: justify;">O desafio chegou até o mundo animal, onde poções o ajudavam a se transformar na forma humana. Mas a escolha da difícil princesa foi sábia?</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">O tambor mágico</span></b></h4><p style="text-align: justify;">Outro conto que explica a mudança de localização dos animais, neste caso os cágados que vivem somente na água.</p><p style="text-align: justify;">Em mundo que humanos e animais viviam em harmonia, cágados e leopardos ocupam uma mesma rua.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"><i>Usavam-no de maneira tão excessiva que o instrumento se aborreceu e, exaurido, não produzia mais nenhuma comida.</i></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas a região sofre com a escassez de comida, fazendo com que seus habitantes começassem a morrer de fome.</p><p style="text-align: justify;">Na busca por alimento, o Cágado irá se aventurar por outros lugares, mas o que ele irá encontrar mudara a vida da sua espécie para sempre.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: georgia;">Por que o sol e a lua vivem no céu</span></b></h4><p style="text-align: justify;">Neste conto o sol e a lua eram casados e viviam na Terra. O sol era um grande amigo da água e sempre a visitava, mas a água nunca retribuía as suas visitas, alegando que a sua casa era pequena para todo o seu povo.</p><blockquote><p style="text-align: justify;"><i>Se você quer que eu o visite, construa uma grande aldeia. Terá que ser realmente imensa. Meu povo é numeroso e ocupamos muito espaço.</i></p></blockquote><p style="text-align: justify;">E assim o sol começou a construir uma aldeia realmente grande para receber a sua amiga e toda a sua família, que ao término da obra, aceitou o seu convite.</p><p style="text-align: justify;">O que o casal não imaginava era que a amiga era demasiada espaçosa.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h4 style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">O que eu achei de Contos Folclóricos Africanos</span></h4><p style="text-align: justify;">A leitura rápida em estilo de fábula serve tanto para conhecer histórias de outras culturas, ao mesmo tempo que foi possível observar como brasileira os contos do nosso país que revelam semelhanças com as trazidas pelos navios.</p><p style="text-align: justify;">Também é interessante como as histórias possuem pontos em comum, como iniciarem com uma viúva e um bebê, onde a mulher precisa criar sozinha o filho e o menino ao crescer resolver seguir a profissão do pai para tirá-los da pobreza.</p><p style="text-align: justify;">Outro ponto que me chamou a atenção é que ao mesmo tempo que temos muitas vezes famílias e tribos representadas por animais, é possível ver que nada mais são do que alegorias das famílias e sociedade humana, tornando tudo muito interessante.</p><p style="text-align: justify;">Como eu gosto de contos, achei muito bacana tanto para relaxar quando para estudar. Ficando a dica, já que a sua distribuição é gratuita.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Contos Folclóricos Africanos - Vol. 1<br />Elphinstone Dayrell, George Bateman, Robert Hamill Nassau<br />Tradução: Gabriel Naldi<br />SESC - mojo ong</i></b></p><div><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-33234584893579584842023-06-09T19:00:00.001-02:002023-06-09T19:00:00.132-02:00 Veríssimas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirlsfGukOS5S8DpYzYIYOSJ8TN6lAWhW-eCo14B-C9kE0uKsHGEm_FwrhFYSxJy_bZ9AsxkSKH5mBZvw6QP4-4UdNE_Z-WvupRm5onfKRqZAdr_8rfdhdLJq2Y6j8BIU_RW0VFF-joeMi3LV7ExgTOcslgiqfbTfcHi-C49qBh_sJHDaD0gb2jgngm/s4032/Verissimas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="355" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirlsfGukOS5S8DpYzYIYOSJ8TN6lAWhW-eCo14B-C9kE0uKsHGEm_FwrhFYSxJy_bZ9AsxkSKH5mBZvw6QP4-4UdNE_Z-WvupRm5onfKRqZAdr_8rfdhdLJq2Y6j8BIU_RW0VFF-joeMi3LV7ExgTOcslgiqfbTfcHi-C49qBh_sJHDaD0gb2jgngm/w266-h355/Verissimas.jpg" width="266" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: O publicitário e jornalista Marcelo Dunlop tinha apenas dez anos quando descobriu, lendo um texto de Luís Fernando Verissimo, que até a morte podia ser engraçada. Deslumbrado com o achado e às gargalhadas, o menino recortou a crônica do jornal e passou a fazer o mesmo com várias outras. Duas décadas depois, eis aqui o resultado da empreitada: uma seleção de pérolas garimpadas em toda a obra do escritor. Salpicada de cartuns raros recolhidos no baú do autor, esta coletânea traz cerca de oitocentos verbetes – ou Veríssimas - em ordem alfabética. Conduzido e instigado por esse alfabeto particular, o leitor seguirá se divertindo de A a Z com as comparações, máximas, mínimas e metáforas do mestre do humor sintético.</b></p><p style="text-align: justify;">Em minha saga para me adaptar a leituras no Kindle - por favor, não me julguem, ainda possuo um apego enorme ao que me permite folhar as páginas com os dedos - eis aqui a minha segunda resenha de um livro lido pelo simpático aparelho.</p><p style="text-align: justify;">Como a sinopse já indica, Veríssimas é uma coletânea em um formato que lembra um dicionário, organizada pelo jornalista Marcelo Dunlop e cujas as ilustrações foram selecionadas pela Fernanda Veríssimo e pelo Fraga.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Abismo: Se o mundo está correndo para o abismo, chegue para o lado e deixe ele passar.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Logo de início temos uma espécie de resumo feito pelo Antônio Prata sobre o próprio Luís Fernando Veríssimo, lembrando-nos de sua paternidade em relação ao Analista de Bagé, sua torcida por um dos times gaúchos de futebol e claro aos livros que são referência nesta coletânea de frases, reflexões e sacadas sobre o cotidiano do passado e presente, com um toque de futuro.</p><p style="text-align: justify;">Seguindo de um texto do próprio Marcelo Dunlop que se diz um dos dezessete leitores deste autor gaúcho, conta realizada pelo próprio escritor que parece ter um desvio de erro um pouco acima da margem. Da primeira tirinha lida em uma revista até a ideia de um livro que reunisse um pouco de tudo, como forma de homenagear o octogésimo aniversário do autor. <br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Amanhã: Temos que confiar no amanhã. A não ser que descubram alguma coisa contra ele durante a noite.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Tornando Veríssimas além de uma homenagem, uma ótima justificativa para quem não gosta de colocar nada fora, já que Dunlop utilizou os recortes e livros que ele guardava para reler depois - e assim efetivamente fez a segunda leitura - além das que entraram de bônus após pesquisas em jornais, revistas e na própria Biblioteca Nacional.</p><p style="text-align: justify;">E assim entramos no universo de Luís Fernando Veríssimo e de suas opiniões que vão de frutas, passando por atividades de lazer, Adão e Eva, sexo, geografia, história, amor... tudo com uma fina ironia que me arrancaram de pequenos sorrisos a gargalhadas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Brasil: No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Algumas definições seguem atualizadíssimas, como para Amigos, onde ele afirma que opiniões podem custar amizades, um retrato fiel do que viraram alguns grupos de amigos e familiares não só no Brasil nos últimos anos.</p><p style="text-align: justify;">Ou sobre a corrupção no Brasil, cujas contas não fecham desde o tempo de Cabral começou a negociar com os índios.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Burrice: Deus nos livre da burrice alheia, que a nossa é pitoresca.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Há frases sobre a vida, como o fazer aniversário, arrependimentos e aposentadoria, onde este seria último seria um vagabundo sem culpa e com uma renda insuficiente.</p><p style="text-align: justify;">Não posso deixar de citar o esporte mais popular em terras brasileiras, o Futebol aparece através da rivalidade com o país vizinho, posições no campo entre outros.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Veríssimas</b></span></h3><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Eu gosto muito da escrita do Luís Fernando Veríssimo, era uma leitora frequente de suas crônicas no jornal e de seus livros, e gostei muito da coletânea feita, que me ajudaram a matar saudades do autor.</p><p style="text-align: justify;">Pois ao mesmo tempo que ela nos conta um pouco da nossa história, ela nos diverte em uma leitura leve, que combina com aquele dia que você quer relaxar, ou para aliviar depois de uma ressaca literária.<br /><br /></p><blockquote><blockquote><blockquote><p style="text-align: justify;"><i>Carpe Diem: Viva todos os dias como se fosse o seu último. Um dia você acerta.</i></p></blockquote></blockquote></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Não é um livro que precise ser lido de cabo a rabo correndo, sendo muito fácil combina-lo com outras leituras. Eu gostava de ler de manhã, quando estavam todos dormindo e tinha preguiça de acender a luz. O que não deixa de ser uma forma de começar o dia com bom humor, embora algumas das palavras e frases que as acompanham me fizeram refletir como não temos evoluído em diversas questões.</p><p style="text-align: justify;">Ficando assim a dica para quem curte comédia, livros leves e claro, o próprio Veríssimo.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Ver!ssimas<br />Luís Fernando Veríssimo<br />Editora Objetiva<br />2016 - 224 páginas</i></b></p><div><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-43808642772926961912023-06-01T19:00:00.001-02:002023-06-01T19:00:00.147-02:00 Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzgiym_J73SuM6dc2wTl8Kso0oxdV8xz5IiZKwglxx_lN7LvJJDKjlD0XABpSxHvZrniXp-z4oGmlodb8DSV13w-M5Yhwm_jDl820mpJ6fvhJxTfr-vx39azCc0hlRHKvWJe5T4b4jFzQrwp7yzgMazNpV2Ez97UYhAq3g0YdeeG_wL5IdvLwB1DZM/s4032/Como%20Ficar%20Podre%20de%20Rico%20na%20%C3%81sia%20Emergente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="367" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzgiym_J73SuM6dc2wTl8Kso0oxdV8xz5IiZKwglxx_lN7LvJJDKjlD0XABpSxHvZrniXp-z4oGmlodb8DSV13w-M5Yhwm_jDl820mpJ6fvhJxTfr-vx39azCc0hlRHKvWJe5T4b4jFzQrwp7yzgMazNpV2Ez97UYhAq3g0YdeeG_wL5IdvLwB1DZM/w275-h367/Como%20Ficar%20Podre%20de%20Rico%20na%20%C3%81sia%20Emergente.jpg" width="275" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Mude-se para a cidade grande. Consiga um diploma. Não se apaixone. Evite os idealistas. Aprenda com um mestre. Trabalhe para si mesmo. Esteja preparado para fazer uso da violência. Faça amizade com um burocrata. Patrocine os artistas da guerra. Faça malabarismo com as dívidas. Concentre-se no essencial. Planeje uma estratégia de fuga. Qualquer semelhança deste livro com manuais de autoajuda não é mera coincidência.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>Abril/2023</b> recebi pela minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a> mais uma indicação do escritor <b>João Anzanello Carrascoza</b> - que já havia sido o curador do ótimo <a href="http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2019/02/a-velocidade-da-luz.html" target="_blank"><b>A Velocidade da Luz</b></a> -, que indicou um livro cuja ironia já começa no título: <b>Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente</b> do autor paquistanês <b>Mohsin Hamid</b>. O mimo foi um pacote de sal temperado da Black Flag que eu adorei, pois também curto muito cozinhar.</p><p style="text-align: justify;">Em um lugar fictício, que poderia ser no Paquistão, na Índia, na África ou na América Latina, os personagens não possuem nome. É o pai, a mãe, o irmão da esposa, ou outro substantivo que substitui uma identificação formal.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Olha, um livro de autoajuda é um oximoro, a menos que você seja o autor dele.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />É através do personagem principal e da nomeada menina bonita que o leitor acompanha décadas da vida dos dois. Do abandono do meio rural ainda na infância, a luta pela ascensão social durante a juventude e as oportunidades de sucesso que colocam em xeque qualquer ética na vida adulta, e uma grande história de amor que ultrapassa os anos seja próximo ou só na memória sem ser nunca esquecida ou reduzida.</p><p style="text-align: justify;">Tudo acompanhado pelos conselhos com tom de autoajuda, que nada são que uma crítica a forma como ocorre o desenvolvimento em locais onde riqueza e miséria disputam espaço e recursos, onde os vencedores são conhecidos antes da queda de braço começar.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;"><b>A escrita de Mohsin Hamid</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Utilizando uma narrativa em segunda pessoa, o autor Mohsin Hamid transforma o leitor em seu personagem principal, usando uma linguagem que o coloca dentro da história, enquanto conta tudo o que “você” fez, viveu e viu em cada capítulo.</p><p style="text-align: justify;">E é em uma zona rural você vai ver a sua avó paterna eternamente avaliando a sua mãe, assim como seus pais tendo momentos íntimos na única peça da casa. Vivenciará o êxodo rural como uma busca por uma melhor forma de se viver e encontrará na cidade o seu primeiro e grande amor, também irá ser o primeiro da sua família a conseguir ir para uma universidade e se sentira coagido por um determinado grupo. Até ter uma ideia e conseguir ir melhorando de vida nesta Ásia Emergente que nos é apresentada.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Na verdade, todos os livros, todo e qualquer livro já escrito poderia ser oferecido ao leitor como uma forma de autoajuda.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Dividido em doze capítulos cujos nomes já dão uma pista do que será abordado, o livro consegue costurar uma história de amor justamente com o crescimento das grandes cidades, onde a busca constante em fugir da miséria leva ao comodismo ou ao vale-tudo, conforme a personalidade de quem está no caminho e ao momento da vida.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #7f6000; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Como viver eternamente apaixonado pela mesma mulher na Ásia Emergente, este seria o título que eu daria, caso tivesse o poder de escolha. Pois na minha opinião este é o primeiro foco do livro: o grande amor que o personagem principal nutri pela menina bonita e ao qual é correspondido, mas vivido plenamente só em alguns momentos, entre as pausas que eles fazem na corrida por seus sonhos.</p><p style="text-align: justify;">Triste? Capitalismo selvagem? Talvez sim, talvez não, mas como não dá para viver de amor, talvez esse seja o segredo de torna-lo tão forte e resistente ao tempo. Pois ao fugir da miséria, essa também não consegue corroer a relação.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Sim, a busca do amor e da riqueza têm muito em comum. Ambas têm o potencial de inspirar, motivar, entusiasmar e matar.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />O segundo foco do livro é a sobrevivência em meio a pobreza. Sem usar nomes para seus personagens ou cidades, a busca constante por um crescimento financeiro poderia ser em qualquer país de terceiro mundo, incluindo o Brasil - apesar de hoje ser definido como em desenvolvimento. Pois não há uma presença forte da parte cultural ou religiosa que me tenha colocado dentro de um lugar específico.</p><p style="text-align: justify;">Sobre a brincadeira com os livros de autoajuda, sou obrigada a confessar que não me ajudaram a engatar na leitura, apesar do romance não ter nem duzentas páginas. Com exceção dos capítulos iniciais e finais, ele não me conquistou. Me fazendo levar um tempo considerável para completar a leitura, já que raramente me animava a ler dois capítulos ou mais por dia.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>O que vale para os livros de autoajuda vale também, inevitavelmente, para pessoas.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Isso significa que eu achei ruim? De forma alguma, achei a história de amor bonita e a forma como se tem uma visão completa da vida do personagem interessante. Mas em alguns momentos achei um pouco superficial, pois apesar do narrador falar diretamente comigo, eu não conseguia me integrar completamente na pele do personagem.</p><p style="text-align: justify;">Mas no futuro penso em reler, pois muitas vezes mudamos a nossa visão com a passagem do tempo. Fora que a edição da TAG ficou belíssima, eu me apaixonei pelo kit no geral.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Muitas habilidades, como todo empreendedor de sucesso sabe, não têm como ser ensinadas na escola. Elas exigem prática. Às vezes, uma vida inteira de prática.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Ficando a dica para quem gosta de narrativas diferentes, curte um romance de formação, não resiste a histórias de amor, ou simplesmente quer ler. E se depois quiser compartilhar as suas impressões, quem sabe você tenha alguma observação que me faça mudar o olhar.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente<br />How to Get Filthy in Rising Asia<br />Mohsin Hamid<br />Tradução: Sonia Moreira<br />TAG - Companhia das Letras<br />2013 - 175 páginas</i></b></p><div><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-8770734921670157722023-05-26T13:00:00.000-02:002023-05-26T13:00:00.139-02:00 O Passeador de Livros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8cEHXk8AosyKmdxlxq3CfRLXfQaD2SPN7uUrAe2hXGsZkgpm3IBO1JxQ9n78T6x4W_z_PVi0fC4-XxE0Opxio3Ip3bKTN_1zecfzG184IBC5x_qDj5rjKM8Kir2isHOACKbsaultC8bINGtzJCDip8IzGrU2hxWy662bAnDdMePkSi-24HtlZpiZi/s3767/O%20Passeador%20de%20Livros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3767" data-original-width="3024" height="369" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8cEHXk8AosyKmdxlxq3CfRLXfQaD2SPN7uUrAe2hXGsZkgpm3IBO1JxQ9n78T6x4W_z_PVi0fC4-XxE0Opxio3Ip3bKTN_1zecfzG184IBC5x_qDj5rjKM8Kir2isHOACKbsaultC8bINGtzJCDip8IzGrU2hxWy662bAnDdMePkSi-24HtlZpiZi/w296-h369/O%20Passeador%20de%20Livros.jpg" width="296" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Uma fábula moderna e atemporal sobre o poder que a conexão entre pessoas e livros tem de transformar a realidade. Do alto de seus 72 anos, ainda é com bastante vigor e alegria que, todas as tardes, Carl Kollhoff sai para entregar os livros encomendados por seus clientes mais especiais. Tão fiel à tarefa quanto os ponteiros de um relógio, o livreiro da tradicional Ao Portão da Cidade percorre as pitorescas ruas da região e, como nas páginas de seus preciosos livros, observa o mundo real e seus habitantes também por uma ótica lúdica e imaginativa.</b></p><p style="text-align: justify;">Foi em <b>Setembro/2023</b>, no mês em que completava quatro anos, que o <b>Clube intrínsecos</b> enviou a sua última caixinha. O livro escolhido para encerrar este projeto da editora intrínseca foi <b>O Passeador de Livros</b> do escritor alemão <b>Carsten Henn</b>. O mimo foi um outro livro da editora e a saudade que eu fiquei das belas edições.</p><p style="text-align: justify;">Aos 71 anos Carl Kollhoff não se imagina longe do seu trabalho como vendedor de livros. Solteiro, possui a sua própria coleção em casa. Na livraria dá dica certeiras, treina funcionários e faz um serviço de entrega domiciliar para clientes que não desejam, por diferentes motivos, sair de casa.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Dizem que os livros encontram seus leitores, mas às vezes é preciso que alguém lhes indique o caminho.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Vivendo entre a ficção e a realidade, ele faz uma correlação entre as pessoas que encontra e personagens literários. Então ele faz suas entregas para o sr. Fitzwilliam Darcy e a Sra. Píppi Meialonga, compra suas maças da Rainha da Branca de Neve, aceita o chá do Hércules, e assim por diante. Se perguntarem os nomes reais, ele precisa de um tempinho para ligar os personagens as pessoas.</p><p style="text-align: justify;">Mas sua vida começa a mudar com a internação do seu chefe, que é substituído por sua filha, uma mulher que tem ciúmes de Carl, e o aparecimento de Schascha, uma menina esperta, órfã de mãe, que lhe dá o apelido de Passeador de livros.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe; font-family: georgia;"><b>A escrita de Carsten Henn</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em terceira pessoa, o escritor alemão Carsten Henn conta com muita delicadeza a relação de amor de um leitor e seus livros através da figura de Carl.</p><p style="text-align: justify;">Com inúmeras referências literárias, O Passeador de Livros aborda também a questão do envelhecimento, da perda, do uso da literatura para fugir da solidão ou do próprio mundo, de relacionamentos abusivos, de mágoa e de como pequenos atos podem mudar tudo na vida de uma pessoa.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Sou como os ponteiros de um relógio. Parece triste, pois eles sempre percorrem o mesmo caminho e sempre retornam ao ponto de partida.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Pois como uma boa fábula, a jornada do herói Carl e de sua assistente Schascha narrada pelo autor Carsten Henn possui os seus obstáculos, mudanças de rumo, segredos e momentos a serem comemorados. O que faz com que a sua escrita seja leve ao mesmo tempo que instiga o leitor a saber mais sobre os personagens.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de O Passeador de Livros</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O Passeador de Livros é o tipo de história que defino como bonitinho, sendo uma mistura de fábula e homenagem a literatura, tornando-o um bom candidato para aquela leitura tranquila de férias.</p><p style="text-align: justify;">Com inúmeras referências literárias, que vão do nome dos capítulos, os apelidos dados aos moradores da cidade e os autores citados, é quase impossível não sair com um acréscimo na lista de leituras futuras com as indicações listadas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Leio para o meu prazer egoísta, por amor às boas histórias, e não para compreender o mundo.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Sobre a história em si, achei triste a dependência do trabalho que Carl tem para dar sentido a sua vida. Assim como eu achei que a relação do Passeador com a filha do melhor amigo - e agora chefe - poderia ser melhor trabalhada. Pois ela claramente não o suporta. É só ciúmes e inveja? Ou existe algo mais?</p><p style="text-align: justify;">Também achei que em alguns momentos o livro era um pouco arrastado, mas em compensação ele também é muito sensível, o que conquistou o meu coração, principalmente a Schascha, que me dava vontade de abraçar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><i>Não estava no clima para uma acompanhante lhe fazendo todo tipo de perguntas erradas - ou, pior ainda, de perguntas certas.</i></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E naturalmente tudo ficou mais sensível por ser a caixa de despedida, pois ao finalizar a leitura, me vi despedindo deste clube de edições caprichadas, que me apresentaram livros que talvez eu não desse atenção ou nem visse ao rolar a página de um site ou em uma livraria. </p><p style="text-align: justify;">Ficando a dica para quem gosta de histórias leves e sensíveis que podem aquecer o seu coração.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">O Passeador de Livros<br />Der Buchspazierer<br />Carsten Henn<br />Tradução: Kristina Michahelles<br />intrínseca<br />2020 - 208 páginas</p><p><i style="color: #800180; text-align: justify;"><b>Esta resenha não é patrocinada, a assinatura do clube citado - que foi encerrado em setembro/2022 - era pago integralmente pela autora. </b></i></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-40881294845332540402023-05-16T19:00:00.001-02:002023-05-16T19:00:00.142-02:00 Coisas Humanas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1GpbYMwNmv0WiZc5eJFu7aUrsBSpTjm8gHlVLTk7pS7Swm4tYw_kRX7hyJJtxJDzWnwpT63sDCp2dpRCdoDcoIkCRI1GeScH34G8DBc6spQKpiuYmDI4Vb9tC2KxhHav8yJ5bEMlKYc4gAT1TAu2a6Ld8LG9wevayZvBcUB0GA_Srf9tfztVb-QDn/s4032/Coisas%20Humanas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="330" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1GpbYMwNmv0WiZc5eJFu7aUrsBSpTjm8gHlVLTk7pS7Swm4tYw_kRX7hyJJtxJDzWnwpT63sDCp2dpRCdoDcoIkCRI1GeScH34G8DBc6spQKpiuYmDI4Vb9tC2KxhHav8yJ5bEMlKYc4gAT1TAu2a6Ld8LG9wevayZvBcUB0GA_Srf9tfztVb-QDn/w440-h330/Coisas%20Humanas.jpg" width="440" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Os Farel são um casal poderoso. Jean, aos setenta anos, é um famoso jornalista político francês; sua ex-esposa, Claire, é conhecida por seus ensaios e compromissos feministas. Juntos, eles construíram uma reputação e tiveram um filho, Alexandre, estudante de Stanford, prestigiosa universidade americana. Claire está feliz em um novo relacionamento com Adam, um homem simples, professor de uma escola judaica e pai de Mila, uma garota tímida, que orienta a vida sob preceitos religiosos. Tudo muda na noite em que Alexandre e Mila vão juntos a uma festa. Uma acusação de estupro vai abalar a construção social perfeita da família Farel, ao mesmo tempo em que o drama irrompe com múltiplas e extremas implicações midiáticas e jurídicas no auge absoluto do debate #metoo.</b></p><p style="text-align: justify;">No mês de <b>Março/2023</b> recebi pela minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Curadoria</b></span></a> a indicação da escritora <b>Tatiana Salem Levy</b>: <b>Coisas humanas</b> o décimo primeiro romance da escritora francesa <b>Karine Tuil</b>. O mimo foi um objeto de decoração.</p><p style="text-align: justify;">Jean Farel é um famoso apresentador de TV, de origem pobre e marcado pela tragédia, que se tornou um homem obcecado pela juventude – a ponto de negar a si mesmo viver com a mulher que realmente diz amar - e orgulhoso de seu próprio poder no meio político francês. Mas apesar de todo o seu prestígio, sente o perigo bater à porta com o novo diretor da emissora que está há tantos anos.</p><p style="text-align: justify;">Sua ex-esposa Claire é vinte sete anos mais jovem. A acadêmica feminista que foi estagiária de Bill Clinton se vê em meio a ataques após acusar os imigrantes em um artigo sobre os ataques em massa em Colônia, ao mesmo tempo que se vê retornar as sombras ao abandonar o marido em troca de uma nova paixão.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>A extrema deflagração, a combustão definitiva, era o sexo, nada mais - fim da mistificação.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Sua nova paixão é o professor judeu Adam, pais de duas filhas, rompe com as tradições para viver um grande amor. O que faz com que a mãe, ainda traumatizada do atentado a escola judaica em Toulouse, se volte ainda mais para a religião, provocando um rompimento com a filha Mila, que busca no pai uma alternativa.</p><p style="text-align: justify;">E nesta busca que os caminhos de Mila acabam cruzando com o do herdeiro dos Farel. Alexandre é o garoto de ouro com ótimas notas, estudante de Stanford, parece destinado ao sucesso, embora a pressão já o tenha levado a tentar suicídio. Mas mesmo um típico modelo da elite parisiense pode se colocar em uma situação perigosa ao misturar drogas e bebida alcóolica, combinação que não apenas colocara a vida de todos os envolvidos de cabeça para baixo, como os transformará em personagens de um espetáculo midiático.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #b45f06; font-family: georgia;"><b>A escrita de Karine Tuil</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a autora Karine Tuil divide o seu Coisas Humanas em três partes nomeadas de Difração, O território da violência e Relações humanas. Tendo como base não só a elite parisiense, como diversos ataques sexuais que se tornaram famosos, os movimentos que se levantaram contra eles, como também a relação com os imigrantes e os ataques terroristas que assombram os franceses até os dias de hoje.</p><p style="text-align: justify;">Mas acima de tudo, e esse é a grande sacada do livro, ela torna o leitor parte de um júri de acusação de estupro.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>A política e o jornalismo tinham constituído os propulsores de sua existência: vindo do nada, sem diploma, sem contatos, ele escalou todos os degraus;</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Após uma breve apresentação dos personagens envolvidos, que terão a sua história complementada no decorrer da narrativa, somos colocados no grande tabuleiro que um tribunal se transforma ao colocar réu e vítima frente a frente, confrontando as suas versões.</p><p style="text-align: justify;">E isso torna a leitura ao mesmo tempo densa e instigante, pois está tudo lá, a desmoralização da vítima, a inversão dos papeis, as diferenças sociais e a violência em suas diferentes formas. Tudo descrito de uma maneira a provocar dúvidas em quem está lendo, como ocorre em um júri real.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>No meio judeu conservador, o casamento permanecia um ato supremo, valorizado e sacralizado.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Em paralelo a isso ela aborda as diferentes faces dos personagens que são atingidos não apenas em seu âmbito pessoal, como também na necessidade de gerenciar isso nas diferentes mídias. Ampliando a narrativa para um olhar tanto sobre a sociedade moderna como o papel da mulher ao trazer diferentes gerações sejam em confronto sejam a sombra de homens poderosos.</p><p style="text-align: justify;">Tudo isso tendo fatos reais misturados a ficção, cujo até o tema central foi inspirado em um caso verídico. Tornando assim a leitura ainda mais próxima da realidade.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #b45f06; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Coisas Humanas</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Vou iniciar com o que eu não gostei: a falta de revisão, revelada em capítulos seguidos com palavras repetidas ou sem separação, erros que gritavam na virada das páginas em uma edição que não merecia essa falta de cuidado. </p><p style="text-align: justify;">Em relação a narrativa eu gostei muito da história e dos conflitos apresentados. Sendo um retrato atual da época que vivemos de cancelamentos, desafios dos imigrantes, ataques terroristas, machismo e claro, a questão do estupro.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Sempre tivera relações particulares com seus pais, uma mistura de sincera afeição e desconfiança.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Os personagens são bem elaborados, compondo em suas escolhas, erros, diálogos todo o sentindo do título dado. Confesso ter sentido um pouco de falta do lado da vítima, mas creio que a ideia era justamente essa, o silenciamento indica a diferença de classes, onde os mais simples são invisíveis. Eles não têm voz, seu sofrimento não possui o mesmo tamanho dos das grandes castas, mesmo quando eles são as vítimas.</p><p style="text-align: justify;">Motivo pelo qual achei genial a ideia de colocar o leitor como um jurado nesta história, fazendo com quem se entrega a leitura refletir sobre os seus próprios conceitos. Diante do desconhecido, qual é a sua base pessoal para definir o que é verdade? O que o outro precisa ser, ter vivido e como deve ter se comportado para que você acredite na versão dele?<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Seus argumentos seriam deformados, truncados, mal interpretados, ela receava o impacto que teriam sobre a opinião pública.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Pois ao autorizar o leitor a julgar, inevitavelmente os detalhes saltam mais aos olhos, lhe é permitido julgar sem se esconder cada um dos personagens, podendo revelar mais dos próprios conceitos do que dos próprios julgados.</p><p style="text-align: justify;">De bônus deixo para quem procura por livros com temas semelhantes, a personagem Claire me fez lembrar da mãe de um dos personagens de <a href="http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2021/04/eu-nao-sei-quem-voce-e.html" target="_blank">Eu não sei quem você é</a>, que também aborda estupro e feminismo, mas por outro olhar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Ele a apagou, contudo, o mal já estava feito, a captura de imagens na tela circulava na internet.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Ficando a recomendação de leitura para quem gosta de temas contemporâneos, de história de tribunal e claro, para quem simplesmente gosta de ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b>Coisas Humanas<br />Les choses humaines<br />Karine Tuil<br />Tradução: Mauro Pinheiro<br />TAG - Paris de Histórias<br />2022 - 319 páginas</b></p><p style="text-align: justify;"><b><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu ganho o mimo do mês.<br />Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.</span></b></p><p style="text-align: justify;"><br /><span style="color: red;"><b>Divagando com Spoiler</b></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="color: red;">Esta parte aqui é para quem já leu o livro e quer saber um pouco mais da opinião de quem já finalizou a leitura. Então se você não gosta de saber nenhum detalhe a mais, não siga a leitura. Caso contrário, fique à vontade para descobrir quais foram os ecos que a leitura me deixou após eu fechar a última página.</span></p><p style="text-align: justify;">Quem finaliza a leitura sabe que apesar do veredito de acusado, não existe uma frase que afirme com todas as letras que Alexandre estuprou Mila. Há apenas as provas que cada um apresenta, assim como as acusações verbais e exposição do passado de Mila.</p><p style="text-align: justify;">Confesso que se eu não tivesse acesso ao antes de tudo e aos detalhes nos pós através do próprio Alexandre, eu poderia ficar em dúvida sobre que decisão tomar. Pois sim, ele é apresentado como um bom rapaz com ótimas notas nos estudos, com o depoimento da ex-namorada, amigos, com os seus traumas e pressões vindo da relação dos pais.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"><i>Nascíamos, morríamos; entre os dois, com um pouco de sorte, amávamos, éramos amados, isso não durava muito, cedo ou tarde acabávamos sendo substituídos.</i></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E temos Mila, uma jovem que não queria seguir as regras da religião da mãe, que nesta situação teoricamente estaria livre, que viu o pai ir embora para viver um amor enquanto a mãe se fechava mais. Sendo necessário que se observe seu estado físico e psicológico para analisar que aquilo não é uma armação.</p><p style="text-align: justify;">Por isso achei a situação do tribunal bastante complexa e fiquei imaginando as situações da vida real, quando você não se depara com um antes e depois, o quão grande é o risco de se cometer um erro quando as interrogações são lançadas, o quanto se precisa de calma, atenção e se despir de qualquer preconceito prévio para não julgar equivocadamente.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Em dois anos, tudo o que tinha construído se desintegrara sem que ela pudesse fazer qualquer coisa a fim de interromper o processo devastador.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />No livro eu acredito que Alex é culpado, logo após o episódio identifiquei um breve momento de culpa e remorso, ao qual ele logo joga para o lado enquanto antecipa a sua saída do país usando os pais como justificativa. Assim como as ações dos amigos indicam que não deve ter sido a primeira vez.</p><p style="text-align: justify;">E isso é uma das coisas que faz o livro ser bom de ser discutido, porque a leitura é individual, e cada um pode finalizar com outra percepção. Então se você leu e passou por aqui, me diga, qual o seu veredito em relação ao Alex? Inocente ou culpado? Me conte as suas alegações, adoro ter novas visões neste tipo de narrativa.</p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-57295940147836656432023-05-09T13:00:00.001-02:002023-05-09T13:00:00.147-02:00 Longe das Aldeias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirOXH0B0mZmbOZlj34QUKIgy44JQQfeTmneQXs0HyExTLaeyTLmvKPMF9cUqq8xPxKrlmbtAAzysfdigxNJsr4NNF2CYk6gxQYlsEqXs_9Q8GnQbOeTyz6W5Xxu8EW14aQnrx-dQWFeL7xwbnhejSHLS-92cR0lF7NG6mahhRutmV45u12CkBGDFzN/s3239/Longe%20das%20Aldeias.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3239" data-original-width="2988" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirOXH0B0mZmbOZlj34QUKIgy44JQQfeTmneQXs0HyExTLaeyTLmvKPMF9cUqq8xPxKrlmbtAAzysfdigxNJsr4NNF2CYk6gxQYlsEqXs_9Q8GnQbOeTyz6W5Xxu8EW14aQnrx-dQWFeL7xwbnhejSHLS-92cR0lF7NG6mahhRutmV45u12CkBGDFzN/w330-h358/Longe%20das%20Aldeias.jpg" width="330" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Um jovem de dezessete anos, diante da doença da mãe, decide desfazer um passado de mentira e de ilusão a respeito da identidade do pai. As memórias, trazidas pela tia, percorrem os horrores da guerra, a fuga da aldeia e do país, a reconstrução da família em solo brasileiro. Frizero concentra a carga dramática da história no que ela tem de mais importante, que é a complexidade do ser humano, capaz de matar para criar, de mentir para salvar e de perdoar para seguir em frente.</b></p><p style="text-align: justify;">Uma mãe que não se encontra mais no tempo presente leva o filho jovem ao passado junto com os seus delírios. Usando a língua da sua terra, o rapaz acredita ouvir o nome do pai desconhecido antes de ela retornar ao seu sono febril. Fazendo-o recordar de todas as suas incertezas.</p><p style="text-align: justify;">Pois o passado de sua pequena família é feito pela sua própria imaginação. É na sua mente que ele deseja a pátria e a gente de sua mãe e sua tia com base nas únicas três fotografias que sobraram de uma fuga apressada durante uma guerra. Em paralelo ele pensa na utilidade de ter uma figura masculina, seja através de irmãos ou do pai desconhecido. Pois assim teria ajuda para manter a mãe em segurança durante as suas crises.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Fiquei mareado por ela o resto da noite, com o nome do meu pai transtornado a minha vigília. Recordar sempre me deixa a boca amarga e o coração oco.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas quase duas décadas depois dos acontecimentos cabe a Tia Mirna, a responsável pelo trio que aqui se refugia revelar e complementar as peças faltantes desta história.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #351c75; font-family: georgia;"><b>A escrita de Robertson Frizero</b></span></h3><p style="text-align: justify;">O autor brasileiro Robertson Frizero escolheu a voz de Emanuel para compartilhar com o leitor em uma narrativa em primeira pessoa as descobertas que faz não somente sobre os eventos envolvendo a sua família, como da sua própria origem em uma história de memórias que o preparam para um futuro ainda desconhecido.</p><p style="text-align: justify;">Acompanhado pela tia Mirna, sua mãe Marija e seu amor adolescente Madalena, é sem rebeldia ou explosões, mas com doçura e sensibilidade que o vemos trazer memórias da própria infância e varrer pouco a pouco cada mentira que ajudou as duas irmãs a sobreviverem uma guerra, para se defrontar com a verdade nua e crua, que nenhuma criança estaria preparada para encarar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Pouco conheço do que quero relatar. Sei apenas o que ouvi dos lábios de mamãe, pedaços de história colhidos nos poucos momentos de ternura da minha infância.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Com capítulos curtos, Frizero consegue unir uma escrita objetiva e forte com gentileza e carinho. O que gera um equilíbrio entre a dor e a tristeza com o perdão e a esperança de viver outro dia, pois já que estamos aqui, vamos sonhar e criar planos. </p><p style="text-align: justify;">Pois mais do que tudo Longe das Aldeias fala de sobreviver as tragédias de uma guerra, administrar suas perdas e efeitos colaterais, e no caso de Mirna e Marija de perder todos os seus pontos de referência. O que torna o feito das duas ainda mais impressionante.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #0b5394; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Longe das Aldeias</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Eu ganhei este livro quando assinava as duas modalidades da TAG em um final de ano. E a minha primeira surpresa foi ver o nome de um antigo professor de inglês na capa. A segunda surpresa foi o próprio livro, o primeiro romance de Frizero encanta por seus personagens e escrita.</p><p style="text-align: justify;">Pois quando a história começa não há nada indicando o caminho. Temos uma mãe, Marija, doente e vivendo entre lembranças do passado e o esquecimento do presente, uma pequena família de imigrantes onde duas mulheres fugiram de uma guerra de um local desconhecido. e um rapaz que só conhece o restante de seus familiares através das histórias da tia Mirna.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Chegamos a esta terra nova, mas vivemos em um casebre obscuro, ainda no vilarejo antigo dos meus avós.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Mas conforme a tia Mirna resolve aos poucos tirar o véu que esconde o trajeto das irmãs até ali, tanto Emanoel quando eu fomos aprisionados em uma história de muita dor e sobrevivência. Aqui foi a fantasia e a ilusão que mantiveram Marija viva e capaz de criar um menino gerado em meio ao caos da guerra, já que a história real é insuportável de encarar.</p><p style="text-align: justify;">E é essa menina que acaba envelhecendo muito mais do que os dezoito anos corridos no período da narrativa que nos faz pensar sobre o porquê devemos lutar sempre pela paz. Pois na guerra não existem vítimas maiores que os inocentes, onde mulheres, crianças e os mais velhos são subjugados pelos métodos mais desnecessários.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Faltava-me a caverna escura para me esconder, por sete dias e sete noites, das memórias reveladas pela febre intermitente de minha mãe.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Por isso a minha recomendação deste livro que é rápido de leitura, mas muito intenso em suas reflexões. Confesso que gostaria de escrever muito mais coisas, mas não quero estragar as descobertas de quem o abrir, pois o risco de spoiler é grande, então só digo: leiam. </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Longe das Aldeias<br />Robertson Frizero<br />Dublinense<br />2015 - 96 páginas</i></b></p><div><br /></div>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-122411872899353864.post-57544457927155391742023-05-02T13:00:00.001-02:002023-05-02T13:00:00.151-02:00 Escritores & Amantes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_OjlYZTqVxap_UHgkmBmiYsWetX4SNvm7Xnt2ydJ232uggrdMS-ZSgt2oGVJTIYJ2wcwT0GTJFtgcnVQ2CENW64k3SPNd7OJVpWrroST_8OZpwtAt06EXBSBkd5z9rR7CzJQQ3vBLG2hS7b_kNDUg17-LPS7__UXw7H2nhwgN8grpCDCCUaqemaf/s3520/Escritores%20e%20Amantes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2527" data-original-width="3520" height="323" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ_OjlYZTqVxap_UHgkmBmiYsWetX4SNvm7Xnt2ydJ232uggrdMS-ZSgt2oGVJTIYJ2wcwT0GTJFtgcnVQ2CENW64k3SPNd7OJVpWrroST_8OZpwtAt06EXBSBkd5z9rR7CzJQQ3vBLG2hS7b_kNDUg17-LPS7__UXw7H2nhwgN8grpCDCCUaqemaf/w449-h323/Escritores%20e%20Amantes.jpg" width="449" /></a></div><br /><p style="text-align: justify;"><br /><b>Sinopse: Casey Peabody chega a Massachusetts surpreendida pela morte repentina da mãe e abalada por um caso de amor recente. Sua correspondência consiste em convites de casamento e avisos finais de cobrança. Ex-prodígio do golfe, ela agora serve mesas em um restaurante e aluga um quarto minúsculo e mofado ao lado de uma garagem, onde trabalha no romance que escreve há seis anos. Quando se apaixona por dois homens muito diferentes, seu mundo se parte ainda mais. Escrito com humor, sensibilidade e inteligência, marcas registradas de King, Escritores & Amantes é um romance magnífico que explora o salto assustador e emocionante entre o fim de uma fase da vida e o início de outra.</b></p><p style="text-align: justify;">Como não renovei a minha assinatura da <a href="https://taglivros.com/associe-se/escolha-sua-caixinha?codigo_indicacao=ANDJ8CMF" rel="nofollow" style="text-align: left;" target="_blank"><span style="color: blue;"><b>TAG Inéditos</b></span></a>, pois sim, como quase todo ser mortal tenho uma pilha de livros para colocar em dia, meu último exemplar recebido foi o de <b>Agosto/2022</b>. A ficção <b>Escritores & Amantes</b> é da escritora norte-americana <b>Lily King</b> e teve como mimo um conjunto de porta copos magnético.</p><p style="text-align: justify;">Na cidade de Boston, final da década de 1990, A aspirante a escritora e protagonista da história Casey Peabody parece estar à deriva apenas esperando chegar ao outro lado, ao qual ela não tem a mínima ideia do que seja, desde que tenha uma relação com o livro que ela não só deseja, mas como precisa terminar.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Tem muita coisa em que não posso pensar para conseguir escrever pelas manhãs.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Alugando o depósito de um amigo do irmão, ela vive os seus dias entre procrastinar a escrita do seu livro, cujo início começou a seis anos atrás, seu emprego como garçonete em um restaurante bem movimentado, suas dívidas estudantis e seus casos amorosos. Tudo isso somado a perda recente da mãe.</p><p style="text-align: justify;">É quando uma sequência de fatos a faz de aproximar de dois homens muito diferentes em idade e classe social, mas com a mesma paixão pela literatura. Ambos também carregam no olhar perdas de pessoas queridas, mas sua abertura para o novo irá depender da personalidade de cada um e de como Casey precisa de moldar para ficar ao lado deles.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: georgia;"><b>A escrita de Lily King</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Utilizando a narrativa em primeira pessoa, a autora Lily King coloca a sua personagem principal Casey Peabody no divã para contar aos leitores o seu cotidiano, os obstáculos que a impedem de progredir na profissão escolhida e nas idas e voltas dos seus casos amorosos. Tudo com detalhes muito fáceis de visualizar cada cena, mas sem ser exagerado a ponto de cansar.</p><p style="text-align: justify;">Mas na prática os problemas de Casey e os assuntos abordados na narrativa vão muito mais além, começando pela aceitação a morte da mãe. O impacto do luto recente começa aos poucos, sendo citados entre uma ação e outra, como que para salientar a necessidade de esquecimento temporário que a personagem precisa para seguir em frente. Mas como toda dor, ela é latente e aos poucos vamos descobrindo mais sobre a mulher que foi viajar e não mais voltou.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Era forte, o que quer que houvesse entre nós, denso como ar molhado e o cheiro de todas as coisas verdes prestes a florescer.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Seguindo nos laços familiares, somos surpreendidas pelo pai, um homem que desejava tornar a filha campeã de golfe e agora parece não ter sentimento nenhum por Claire, um relacionamento muito mais marcado pela mágoa do que pelo amor.</p><p style="text-align: justify;">A normalidade está com o irmão, que mesmo morando longe consegue ajuda-la, sendo arrumando um aluguel barato no quarto depósito do amigo rico, seja através de conversas.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Na sua vida inteira vai haver homens assim, penso. Parece muito a voz da minha mãe.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E naturalmente toda a dívida estudantil para se formar na área de literatura e agora trabalhar como garçonete. Um lembrete a Claire que a vida adulta começou já faz um tempo, embora muitas vezes ela parece não ter crescido.</p><p style="text-align: justify;">Tudo isso tendo como base o amor a escrita, e por isso a autora nos leva para um universo de oficinas, rascunhos de textos, inspirações, organização e claro, toda a busca dentro do caminho editorial para quem deseja publicar um livro.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="color: #2b00fe; font-family: georgia;"><b>O que eu achei de Escritores & Amantes</b></span></h3><p style="text-align: justify;">Inicialmente achei o livro chato, com uma vida de desgraça pouca é bobagem, a personagem Claire parecia não ter amadurecido e viver entre o antes e depois dos seus relacionamentos sem futuro.</p><p style="text-align: justify;">Mas em determinado momento parece haver uma virada de chave na escrita, e a história passou a ter fluidez para mim, tornando a leitura muito mais envolvente e interessante.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>A coisa mais difícil na escrita é imergir todo dia, atravessar a membrana. A segunda coisa mais difícil é emergir.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />E foi neste momento que o luto de Casey passou a ser sentido por mim, assim como a sua relação com o manuscrito que precisa ser finalizado, além do nojo ao chef de cozinha que abusa do assédio moral e os dois homens que ela parece orbitar, mas que não fazem o mínimo esforço para participar da sua vida.</p><p style="text-align: justify;">Aliás, detestei o viúvo, escritor famoso, pais de dois filhos Oscar, não havia um diálogo sem machismo quando ele está em cena. Já o Silas eu não entendi exatamente para que veio na história.<br /><br /></p><blockquote><p style="text-align: justify;"></p><blockquote><blockquote><i>Naquela semana, vou algumas vezes à biblioteca pública pesquisar sobre Cuba. Toda vez, acabo nas prateleiras de biografias lendo sobre escritores e suas mães mortas.</i></blockquote></blockquote><p></p></blockquote><p style="text-align: justify;"><br />Motivo pelo qual achei que o título do livro não traduz o seu conteúdo, que está muito mais para as dificuldades de se viver como adulto e assumir todos os seus ônus e bônus, do que para a suavidade que o original propõe. Naturalmente essa é a minha percepção, já que o título junto com a garrafa de vinho me fez pensar em algo mais voltado para uma comédia romântica.</p><p style="text-align: justify;">No resumo da ópera eu gostei, e fiquei feliz de não ter abandonado após as cinquenta primeiras páginas, motivo pelo qual recomendo a leitura para quem procura por conflitos familiares, a relação com o luto, os desafios da vida adulta e como sempre, quem simplesmente gosta de ler.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><b><i>Escritores & Amantes<br />Writers & Lovers<br />Lily King<br />Tradução: Laura Folgueira<br />TAG - Tordesilhas<br />2020 - 301 páginas</i></b></p><p><b style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;">Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha e eu o mimo do mês.</span></b></p>Andreahttp://www.blogger.com/profile/15315151827657723060noreply@blogger.com1