sexta-feira, 18 de julho de 2025

Outra autobiografia




Sinopse: Rita Lee pode ter tido de tudo, menos uma “vidinha besta”. E os últimos anos foram, sim, desafiadores. Ao mesmo tempo que o mundo passava por uma pandemia, ela foi diagnosticada com câncer no pulmão. Em um texto franco, ora cru e chocante, ora cheio de ironias, ora sutil e amoroso, Rita Lee não poupa detalhes de seu tratamento. Fala também da rotina, dos avisos do Universo, de seres de luz e dos caminhos que a vida tomou.



 Em Autobiografia Rita Lee compartilhou com fãs e leitores em geral a sua infância, a relação com a música, com os Mutantes, seus perrengues, suas histórias em geral, passando de forma rápida e leve a sua vida, mesmo quando as cenas descritas eram muito mais complexas que o tom utilizado para as contar.

 Já em Outra autobiografia irá se encontrar uma espécie de diário sem data, onde ela compartilha seus últimos anos de vida quando descobre em plena pandemia que está com câncer.

 Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica.


E com isso ela relata os detalhes do seu tratamento, seus ataques de pânico no hospital, as mudanças que precisa fazer por estar mais fraca, as relações com seus bichos de estimação, enfermeiras e claro, família.

Ela demostra o seu lado mais místico e nos momentos de maior sofrimento não se nega descrever vulnerável, mostrando que a nossa rainha do rock sempre foi muito real em expor o que estava rolando pela sua cabeça, seja por música ou páginas.

 

A escrita de Rita Lee

A paulista Rita Lee Jones de Carvalho, mesmo após a morte, segue sendo uma das mais espetaculares cantora e compositora do Brasil. Inteligente, com um humor que brinca com a ironia, ela se tornou uma escritora que atende grandes e pequenos através de livros infantis, de crônicas, contos e os autobiográficos.

Como é o caso de Outra biografia, onde a eterna ovelha negra escreve em tom de luta e ao mesmo tempo de despedida de todos que a amaram e a acompanharam durante toda a sua carreira.

A "massa" como eles se referiam ao troço, precisava ser melhor investigada para fecharem o diagnóstico e terem mais detalhes.


E como não poderia faltar, há também crítica política, algo que ela sempre fez nos shows, está ali presente em um dos momentos mais tristes que o mundo viveu. A ponto de nomear um de seus tumores de Jair.

O bom humor também anda por ali, como colocar o nome de Leonor na máscara de proteção ao tratamento de câncer, e a comparação e convívio com as duas enfermeiras que a cuidavam.

Minha família e meus amigos me mimavam, me tratando como rainha. 


Há também fotos do período, de sua visita a exposição organizada pelo filho e claro, a participação do Phantom. Tudo distribuído em capítulos curtos nas menos de duzentas páginas que são totalmente insuficientes para quem ficou órfão de Ritinha.

 

O que eu achei de Outra autobiografia

Eu adoro a Rita Lee, suas músicas, suas ironias e a forma engraçada e inteligente de expressar a sua opinião desde banalidades até sobre assuntos mais complexos.

Motivos que me levaram a ler Autobiografia para entrar conhecer um pouco mais da sua história, e ao qual senti falta de mais detalhes, o que me levaram a ler Outra autobiografia.

Quando você fala que está com câncer, a pessoa geralmente fica séria e não sabe o que dizer; eu também agia assim.


E eu achei o livro triste, a ponto de finalizar a leitura chorando, pois em minha mente vinha a imagem da mulher ativa que tive a sorte de ver algumas vezes no palco, e ficava o sentimento de ela não merecer ficar tão limitada.

 Sim, quando há sentimento envolvido, não temos muita racionalidade ao acompanhar os fatos. Mas se por um lado achei injusto ela passar por todo o sofrimento descrito, por outro fiquei feliz por ela estar rodeada de pessoas amorosas.
 

Já meu quê Beauvoir tem a leveza de ser sempre uma persona grata e um cabelo que não lhe faz falta: ela adora seus turbantes.


Durante a leitura também me lembrei do livro do David Coimbra Hoje eu venci o câncer, outra pessoa que eu admirava e também foi levado por esta doença maldita.

Comparando os dois livros autobiográficos que li da Rita, se o primeiro é voltado para o seu passado, no segundo o foco está na doença que ela enfrenta e no fato de tudo ter ocorrido durante a pandemia de Covid, não faltando assim "elogios" a criatura que dizia não ser coveiro. 

Mas como bom coringa que sou, escolho a cara do tarô que mais me representa: o Louco.

Me parecendo uma espécie de carta de despedida para todos o que acompanharam a rainha do rock. Ficando as páginas e as músicas como forma de matar a saudade desta mulher incrível.

 

Outra autobiografia
Rita Lee
Globo livros
2023 - 192 páginas