quinta-feira, 1 de maio de 2025

Nadando no escuro




Sinopse: Em meio a um cenário político conturbado, Ludwik conhece Janusz em um acampamento agrícola. A amizade, a princípio inocente, logo cede espaço a um romance voraz às escuras. Cercados pela isolada beleza da natureza e livres das restrições sociais, eles se apaixonam. Mas, longe daquele cenário idílico, na repressão da sociedade comunista e ultraconservadora de Varsóvia, o amor dos dois é mais do que proibido — é impossível. Do intoxicante primeiro amor até a dor de amadurecer, Tomasz Jedrowski criou uma inesquecível e instigante história que explora liberdade e amor em todas as suas formas.

No mês de fevereiro/25 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação do escritor cearense Stenio Gardel (autor do maravilhoso A palavra que resta) o livro Nadando no escuro do escritor alemão Tomasz Jedrowski. O mimo foi um par de sachês da Tea Shop (adoro).



Em um formato que lembra uma carta, um Ludwik que mora em Nova York relembra diferentes momentos da sua vida na Polônia dos anos de 1980. Do primeiro amor por um menino judeu cuja família um dia desaparece, as reuniões misteriosas da mãe e da avó fechadas em um quarto, até a exposição de risco em um local público quando tenta entender a sua sexualidade.

Talvez fossem os fantasmas desses sons, varridos pelo vento e carregados sobre o oceano para bater à porta de minha consciência.
 

Esta carta é para Janek, um rapaz que conheceu em um acampamento de trabalho agrícola, onde o livro O quarto de Giovani faz a ponte entre os dois para viverem um romance intenso e secreto.

Secreto por não ser aceito pelo regime político a ponto de gerar perseguições e interrogatórios, e por ser algo que pode atrapalhar os planos ambiciosos de Janek de se enturmar com os ricos e poderosos, aos quais caiu nas graças.

Como é que, sendo uma criança, se cria laços com outra criança? Talvez seja simplesmente por meio de interesses em comum.
 

Enquanto Janek segue passo a passo o seu plano, Ludwik sonha em sair do país ao mesmo tempo que se depara com as dificuldades de quem não possui pessoas de referência para quebrar barreiras básicas como seguir com os seus estudos.

Um livro sobre amor, descobertas e opressão em um regime que não aceita protestos nem dá liberdade para que as pessoas façam suas próprias escolhas pessoais.

 

A escrita de Tomasz Jedrowski

Filho de pais poloneses, o escritor Tomasz Jedrowski nasceu na Alemanha e hoje mora na França. Nadando no escuro é o seu primeiro romance do autor, traduzido para mais de dez idiomas, a obra ganhou o Prêmio Polari de literatura LGBTQ+.

Narrado em primeira pessoa pelo personagem principal Ludwik Glowacki, Nadando no escuro permite ao leitor ter acesso aos pensamentos, memórias, sentimentos e reflexões de Ludwik.

Você nunca comparecia a aulas ou palestras, nunca precisou. Portanto, poderíamos muito bem nunca ter nos encontrado.
 

Se dividindo entre o tempo presente, onde ele vive a desejada liberdade, e o passado, onde as pessoas que amou e/ou cruzaram o seu caminho ficaram trazendo assim também os impactos da sua história nos dias de hoje, criando uma atmosfera que mistura o peso das escolhas com nostalgia.

 

O que eu achei de Nadando no escuro

Eu achei a escrita de Tomasz Jedrowski extremamente delicada e sensível. O amadurecimento e evolução do personagem Ludwik, que mesmo em meio a mágoa e as dificuldades, consegue manter os seus princípios, me encantou.

Além de ter que se adaptar as mudanças naturais, o personagem tem a preocupação a mais de viver em um país que o partido que governa decide o que é bom para a população e quem são os merecedores de uma vida diferenciada, o que já torna tudo difícil. Mas quando isso ganha um nível de preconceito absurdo, é preciso realmente ter coragem para romper as amarras e tentar seguir em frente.

Eu me sentia como um passarinho liberto da gaiola, assustado e exultante com o vazio diante de mim.
 

O que faz com que Nadando no escuro consiga ser múltiplo, pois se ele é um livro sobre autodescoberta e culpa pelo que se sente, a narrativa também é uma bonita história de amor e uma crítica ferrenha ao modelo socialista implantado na Polonia no pós segunda guerra mundial.

Colocando nas páginas não só a pobreza que a maior parte da população tem que se sujeitar, como os meios que precisam ser utilizados para quem quer mais do que sobreviver. Aqui muito bem representado pelo personagem Janek.

Tentei dizer que não significava nada, que não era real. E, ainda assim, eu já não conseguia mais olhar para você sem me sentir completamente drenado de quaisquer forças.
 

Nos fazendo lembrar que não existem sistemas perfeitos, mas que a liberdade de ser e escolher, desde que não faça mal ao próximo, deve sempre prevalecer.

E assim deixo a dica de um romance delicado e sensível, cujo peso e a força está nas escolhas e situações enfrentadas pelos personagens.

 

Nadando no escuro
Swimming in the dark
Tomasz Jedrowski
Tradução: Luiza Marcondes
TAG - astral cultural
2025 - 237 páginas
Primeira publicação em 2020

 

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