Vinte anos de silêncio separam os novos da velha geração. Nesses vinte anos a paisagem mudou e as condições se alteraram. O Rio Grande do Sul deixou de ser a ilha verde de vida tranquila para se tornar campo de batalha. A velha geração ficou onde estava, tida, mantida e publicada. A nova geração encontrou silêncio, descaso e editoras fechadas. Vinte anos durou a fase, onde ir para o Rio era descobrir a América e, pelo menos, tentar uma nova vida.
Assim começa a apresentação de um livro de contos que em meio a mudanças saiu da casa da minha mãe e foi encontrado perdido entre as minhas prateleiras em uma limpeza.
Nove do Sul trás, como diz o título, nove escritores gaúchos e seus contos. Os estilos são diferentes, não havendo nada mais em comum do que o estado em que nasceram. O livro fino é um convite para conhecer vários autores nacionais de uma só vez.
Quem começa é Cândido de Campos, que trás seis contos rápidos que trazem o cotidiano: O cortejo, O espião, Um beijo, Santinha, Suspeita e Lugar de ladrão. Neles você encontra a morte, as descobertas da adolescência, amores não correspondidos, mudanças e desconfianças. Tudo em uma escrita bastante fluída, às vezes reflexiva outra cômica.
Em seguida temos Josué Guimarães com dois contos mais encorpados: Odete do Oliveira e A morte do caudilho. No primeiro temos toda influência de uma mãe no amadurecimento e escolhas de sua filha. O segundo já explora mais o comportamento do antigo gaúcho em situações de conflito. São histórias interessantes, que envolvem o leitor de forma que o mesmo parece estar vivendo ao lado dos personagens cada situação.
Entre as poucas mulheres participantes está Tânia Jamardo Faillace com A descoberta e Um navio. Confesso que desconhecia a autora cujos contos são mais intimistas. Ambos são narrados em primeira pessoa, como se o leitor fosse um amigo ao qual os personagens precisam para serem ouvidos ou aconselhados.
Sérgio Jockymann – outro autor desconhecido por mim – trás quatro contos: Jimmy, Compulsão, Torta com chocolate e Tabernáculo do Senhor. Os dois primeiros trazem uma repetição de tema, o de chocolate nada tem de doce e foi um conto que, em minha opinião, deixou a desejar e o último aborda as múltiplas crenças de uma família, onde ele utiliza o recurso de um longo parágrafo, em um estilo similar a Saramago.
A segunda e última mulher é Lara de Lemos, que apresenta os contos Um ser delicado, Em meio da noite, Vertigem e D. Eufrásia. As histórias são curtas e de rápida leitura. De dois casais observando outro cliente em um restaurante, do fogo que queima, a busca por um endereço e a vizinha que a todos ajuda.
Conhecido jornalista, Ruy Carlos Ostermann trás Moderato cantábile, Extinção do mundo e Tiodoro. Contos curtos de pouco ou nenhum diálogo onde três personagens compartilham um momento da sua vida.
Já Sergio Ortiz Porto vem com O louco, Noite de Carnaval e Jurik. Suas histórias possuem um olhar mais social, com uma mistura de intensidade e sutileza que agradam ao leitor, e pedem uma pausa antes de seguir para o próximo escritor.
O oitavo escritor é Moacyr Scliar com Três histórias de busca, Peixes e Almoço de domingo. Por ser o autor que mais conhecia em termos literários acabou sendo o de maior expectativa. Os dois primeiros vão pela linha fantástica, sendo Peixes o mais interessante em minha opinião. Almoço de domingo trás uma cena familiar onde à figura central é um pai dominador.
Quem fecha é Carlos Stein com A greve dos lixeiros, Os preguiçosos e Mar e Fome I e II. Os quatro tratam do comportamento humano em diferentes situações, sendo apenas um narrado em terceira pessoa e os demais temos apenas a visão do personagem que nos conta para situações que beiram o extremo, mas não o incomum.
O livro é originalmente e 1962, e mesmo passado tanto anos não perderam atualidade, e o gosto ou desgosto vai conforme as preferências do leitor. No geral foi um achado pra mim, e por serem histórias relativamente curtas, mesmo as literaturadas foram fáceis de ler.
Nove do Sul
Autores Diversos
Instituto Estadual do Livro
1962 – 139 páginas