terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Mistérios Perdidos

 


No mês de dezembro da Tag Inéditos recebi como mimo este pequeno e bonito livro contendo três contos misteriosos do escritor e cavalheiro Sir Arthur Conan Doyle, que já teve o seu conto Um estudo em vermelho resenhado recentemente por aqui. A edição está linda, as ilustrações e o leve alaranjado que aparece em algumas das páginas combinam perfeitamente com o ar fantástico das histórias.

O primeiro conto se chama O anel de Tot, onde o sr. John Vansittart Smith, um estudioso pertencente a Sociedade Real e que já circulou por diferentes áreas - sendo a atual a egiptologia, estava no Museu do Louvre para estudar papiros que eram de seu interesse.


O estudioso olhou ao redor para as figuras havia muito em silêncio que tremeluziam vagamente através da escuridão, para os trabalhadores ocupados que agora estavam tão descansados, e seu ânimo se tornou reverente e reflexivo.


A pesquisa se torna uma aventura quando ele dorme durante as suas anotações. Ao acordar, está tudo escuro, o museu está fechado e um barulho o faz perceber que ele não está sozinho.

O Conde de Château Noir é o segundo conto do livro. Aqui o leitor é levado para França, em meio ao exército alemão que invade o território francês deixando um rastro de destruição, fazendo com que os moradores da região os odeiem.


Os pensamentos dos franceses eram sombrios e amargos quando viram o vergão da desonra marcando o belo rosto de seu país. Eles tinham lutado e sido dominados.


Na 24ª Infantaria de Posen, o coronel Von Gramm tenta descobrir quem está por trás da morte e desaparecimento de suas sentinelas. Um agricultor avarento se interessa pela recompensa e assim inicia a ida de uma equipe investigar o acusado, que é justamente o conde que dá nome ao conto.

Para fechar a trindade de mistérios, temos o conto Lote n. 249, onde temos a narrativa de Abercrombie Smith, um estudante dedicado da universidade de Oxford, que ocupa um dos três aposentos preferidos para os que optam em se dedicar com afinco aos livros.

Uma noite ele houve um grito, não demora para que outro morador, Willian Monkhouse Lee o chamar para ajudá-lo com o terceiro morador e origem do grito: Edward Bellingham. 


Há algo de execrável nele, algo de vil. Algo que sempre faz meu estômago se revirar.


Nos aposentos o rapaz está paralisado com os olhos arregalados, mas o que atraí o olhar de Smith é a feia múmia em cima da mesa. A partir daquele dia surge um laço entre os três, até situações estranhas ameaçar afastá-los.

Os três contos são muito bons, fáceis de ler, e a forma narrativa de Sir Arthur Conan Doyle me impulsionaram a ler rapidamente, e a cada conto terminado eu já estava curiosa em iniciar o outro. Um livro realmente gostoso para ler e relaxar.


Mistérios perdidos
Sir Arthur Conan Doyle
Tradução: Lígia Azevedo
Ilustração: Gabriela Basso
TAG
124 páginas

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Eu Morreria por Ti e outras histórias

 


No mês de dezembro da curadoria recebi como mimo este pequeno e bonito livro contendo três contos inéditos do escritor americano F. Scott Fitzgerald, que já teve o seu livro O Grande Gatsby resenhado por aqui. As ilustrações em rosa e branco dão um ar ainda mais clássico a edição que é muito bonita.

A primeira história é A Promissória, narrada por um editor que não quer se identificar, ele conta um fato do mundo editorial. Ele começa nos dizendo os tipos de livro que costuma publicar, como histórias de detetive. Ele não aceita escritores com menos de quinze anos e não nega querer ganhar dinheiro desesperadamente. 


Todos os colunistas e comunistas (sempre me confundo com essas duas palavras) me maltratam porque dizem que quero dinheiro.


Aliás, a sua esperança de equilibrar os gastos da sua família vem de seu próximo lançamento, escrito por um psicólogo respeitado e professor visitante em universidade, que conta a experiência de um contato mediúnico com o jovem Cosgrove Harden, sobrinho do autor que havia morrido na guerra e devia três dólares e oitenta centavos para um outro jovem chamado Wilkins.

A segunda história se chama Fazer O Quê, onde um jovem médico assistente vai atender a um chamado e acaba conhecendo uma moça que atrai a sua atenção e o menino que ao realizar um roubo gerou a sua visita.


O velho podia ter vindo no sedã dele. Está ficando preguiçoso. Na maioria das profissões, ele seria rebaixado... na nossa, nós o glorificamos.


O menino de treze anos que gosta de ler acaba tendo uma conversa tranquila com o médico, gerando uma noite muito diferente para os dois, e assim influenciando em comportamentos futuros.

A terceira e última história dá título ao livro: Eu Morreria por Ti conta a história de uma equipe de filmagem que vai até a Carolina do Norte para gravar as cenas junto ao herói da história: o rochedo Chimney Rock.


Se eu me esforçar muito, até consigo me imaginar matando alguém por amor, mas não dá para imaginar cometer suicídio.


No hotel eles conhecem Delannux, também conhecido como Carley Suicídio. O homem de aparência comum carrega a lenda de três mulheres terem se matado por ele e atualmente é um fugitivo da justiça. Todo este ar de mistério faz com que a bela e principal atriz da equipe se interesse por ele.

Os três contos são rápidos e fáceis de ler, pequenas histórias que nos contam um pouco da sociedade americana do início do século XX em narrativas que podem ser tanto em primeira pessoa, como ocorre em A Promissória, como em terceira como ocorre com os outros dois contos. A escrita tem ritmo, não buscando ser exatamente surpreendente, parecendo mais como um tio que nos conta histórias curiosas de sua juventude. 

Tornando assim o livro bastante agradável para uma leitura tranquila em uma tarde de férias.


Eu Morreria por Ti e outras histórias
I'd die for you and other lost stories
F. Scott Fitzgerald
Tradução: Leonardo Alves
Ilustração: Virgílio Dias
TAG - Antofágica
159 páginas

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Moisés Negro

 


Sinopse: Nos anos 1970, o pequeno Moisés desenvolve as artes da sobrevivência num orfanato na República do Congo. Apelidado de Pimentinha, o menino vai amadurecer e flertar com a loucura entre órfãos, ladrões, prostitutas e outros excluídos de um país chacoalhado por uma revolução comunista.

TAG Curadoria fechou o ano de 2020 tendo uma indicação de um dos meus escritores favoritos: Mia Couto. Em uma edição belíssima, fui apresentada a Alain Mabanckou e seu Moisés Negro, ou Pimentinha no título original. O mimo foi um livro com três contos de F. Scott Fitzgerald.


Papai Moupelo era um personagem à parte, sem dúvida um dos que mais me marcaram durante os anos que passei nesse orfanato.


Moisés passou toda a sua infância no orfanato de Loango, onde recebeu do padre ao qual as crianças chamavam de Papai Moupelo o nome de "Demos graças a Deus, o Moisés negro nasceu na terra dos ancestrais".  Mas um dia o padre não aparece mais, as crianças esperam e esperam, até o diretor anunciar mudanças: agora eles fazem parte dos pioneiros da revolução socialista do Congo.

O menino junto com o seu amigo Bonaventure veem a sua rotina mudar pouco a pouco, até a chegada dos gêmeos, meninos violentos que impõe o medo entre eles. Mas ironicamente um ato de defesa ao amigo faz com que Moisés acabe criando laços com eles, a ponto de abandonar tudo e se atirar no desconhecido ao fugir do orfanato.


Ao despejar pimenta em pó na comida dos gêmeos, eu sabia que isso podia me custar um olho.


E assim vamos junto com ele descobrir Pointe-Noire, os assaltos no Mercadão, a disputa de comando, a hierarquia de poder dentro de um grupo. O sentimento de encontrar um lar ocorre em uma caminhada aleatória, quando o agora jovem Moisés conhece Mamãe Fiat 500, dona de uma casa onde ela e suas meninas atendem diferentes clientes, e é justamente esta relação que irá gerar a segunda mudança de chave na vida deste personagem.

Narrado em primeira pessoa pelo próprio Moisés, a história é dividida em quatro partes, passando da infância até os seus dias atuais, quando ele está com cerca de quarenta anos. Confesso que achei a primeira parte arrastada, as vezes até mesmo chata, embora curiosamente interessante, já que é possível ver o impacto na vida das crianças com a mudança do regime político.


Você quis salvar esse animal, te forçaram a cozinhá-lo, você se acostumou com a cara dele, e isso está te consumindo...


Na segunda parte, quando Moisés me levou junto com ele pelo submundo de Pointe-Noire o ritmo começou a acelerar. A individualidade dos mais fortes, que subjugam o seu grupo, o encontro de uma espécie de lar, até a virada de chave que há na história que me ganhou de vez. 

E isso é muito legal, pois conforme a mente do personagem passa por alterações, o ritmo da narrativa também muda, me convidando a virar uma página a mais, até o desfecho que realmente me surpreendeu.


Como se não bastasse, na época de lua cheia, sobretudo nos anos bissextos, eu queria a todo custo ver o umbigo de uma mulher de policial.


Relacionando com outros livros lidos, ao ler sobre diferentes países da África observa-se toda a riqueza e diferença cultural, no meu caso eu desconhecia a existência de dois países com o nome de Congo. Um é a República Democrática do Congo, ex-Zaire cuja a população é citada no livro, e a ex-colônia francesa República do Congo, onde a história acontece. 

Assim como a juventude do grupo lembra um pouco a narrativa de Jorge Amado no ótimo Capitães de Areia, que também nos conta sobre meninos que sobrevivem pelas ruas cometendo crimes, associação feita por vários leitores além de mim.


Pressenti que ele estava me enganando quando parou de sorrir e começou a me olhar como se eu viesse de outro planeta.


Então sim, gostei da escrita, da história, do que aprendi, e recomendo para quem gosta de viajar para outros lugares através dos livros, de conhecer outros povos ou simplesmente de viver histórias diferentes da sua realidade.


Moisés Negro
Petit Piment
Alain Mabanckou
Tradução: Paula Souza Dias Nogueira
TAG - Malê
2015 - 223

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