quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Luzes do Sul




Sinopse: Depois do sucesso de A livraria mágica de Paris, O maravilhoso bistrô francês e O livro dos sonhos, Nina George nos presenteia com uma história mágica, encantadora e emocionante em Luzes do Sul, o “livro dentro do livro” A livraria mágica de Paris. Mais uma bela homenagem a livros e leitores.


No mesmo dia em que a Morte leva sua avó, a bebê Marie-Jeanne, que já era órfã de pai e mãe, toca o Amor em um momento que este está distraído. Um ato que mudara para sempre a vida da menina.

Ambientado nos anos de 1960 em Nyons no sul da França, Luzes do Sul conta a história de Marie-Jeanne Claudel, uma jovem com o poder de ver o amor literalmente, assim como as ligações das pessoas que combinam entre si, o que poderíamos talvez chamar de almas gêmeas. 

Houve anos em que duvidei de mim mesmo, do sentido e da força das minhas ações; foi aí que quase perdi as esperança.


Adotada por um comerciante e uma cozinheira, ela só irá descobrir o seu dom quando o seu pai monta uma biblioteca itinerante, chamada de Philis, cuja intenção é fazer com que livros cheguem aos moradores dos campos, que pela distância não possuem fácil acesso a biblioteca ou livrarias.

Ao ajudar o pai a percorrer diferentes caminhos e levar os livros onde até aquele momento eles não chegavam, ela irá conhecer outras pessoas, e assim, uma jornada de compartilhamento e descobertas se inicia.

O coração se parte, uma, duas vezes, repetidamente, e vocês se esforçam ao máximo para colar a xícara com cuidado, para viver as feridas, embelezá-las com esperança e lágrimas.


E ao mesmo tempo que Marie-Jeanne tenta descobrir como usar o seu dom, ela também precisa administrar as suas consequências.


A escrita de Nina George

A autora e jornalista alemã Nina George já publicou diversos romances, mistérios e também obras de não ficção. Sua obra mais conhecida é a Livraria mágica de Paris, traduzida em várias línguas, se tornou um best-seller.

Tem como característica nas suas narrativas abordar temas como amor, perda, autodescoberta e literatura. Tudo em uma escrita meio poética, meio intimista, que convida o leitor a se apaixonar pelos seus personagens e viver junto com eles cada página.

Nunca antes uma pessoa foi capaz de segurar o Amor. Muito menos me viu, meu ser, minha personalidade, meu rosto, minha forma.


No caso de Luzes do sul há um detalhe especial. Pois é o livro citado dentro da Livraria mágica de Paris e escrito com o pseudônimo de Sanary. Mas como ocorrem em outras obras de outros autores, este livro não existia na vida real.

E foi atendendo ao pedido de diversos leitores que Nina George tornou o livro real, com o nome dela como escritora, naturalmente. e tendo o Amor como o narrador onisciente da história, sendo responsável por mostrar o caminho a ser percorrido pelas páginas e as conexões.

Não são os livros o último lugar no planeta onde se encontram pessoas e épocas, paisagens e sentimentos que, de outra forma, raramente se encontrariam?


Por ser o amor, a narrativa acaba tendo um toque poético e também filosófico, já que as relações, principalmente as românticas, são bastante discutidas.

O realismo mágico também é utilizado para criar a atmosfera das conexões entre as pessoas, conexões essas que são enxergadas apenas pelo Amor e pela protagonista da história Marie-Jeanne.

A Paixão e o Medo olharam os livros em chamas, e neles havia um ar de submissão.


No geral é uma escrita bastante leve, que possibilita ao leitor refletir sobre os seus próprios sentimentos em relação as pessoas próximas e as suas atitudes.


O que eu achei de Luzes do Sul

Eu sou uma das fãs de Livraria mágica de Paris, a escrita e a história ganharam o meu coração e me fizeram procurar outros livros da autora.

Mas as Luzes do sul não me encantou tanto, o que me deixou em um primeiro momento um pouco triste, já que a minha expectativa era bastante alta.

A escrita nunca se mantém igual, ela é um reflexo da vida. Nossa escrita sofre conosco.


Narrado pelo Amor, a história começa triste e envolvente, mas com o tempo, as seções que vinham indicadas por uma mãozinha, me lembravam longas notas de rodapé.

E isso, para mim, tirou a fluidez da leitura. E mesmo quando explicava o passado, por irromper o presente muitas vezes, tornava a leitura, na minha opinião, um pouco mais arrastada, as vezes quase superficial.

Assim, os livros eram a última magia antiga: tornavam visíveis realidades ocultas.


Por outro lado, a ideia no geral é muito boa. Primeiro por tornar real o livro citado no maravilhoso A livraria mágica de Paris. Segundo, porque temos todos os tipos de amor romântico. O que não se permite expor, o jovem, o de espera, o após viver muitas coisas, e também o não amor.

Após o término, quando são incluídas partes escritas que ficaram fora da história, fiquei pensando se a narrativa não ganharia um plus a mais se outros narradores como lógica, coragem e destino não travassem discussões sobre os acontecimentos.

O brilho não fazia distinção entre quem era simpático ou antipático, bonito ou feio, bom ou mau. 


Eu finalizei a leitura com um misto de sentimentos e reflexões de como tenho lidado com o amor. E por isso deixo a recomendação aqui.


Luzes do Sul
Südlichter
Nina George
Tradução: Petê Rissatti
Editora Record
2022 - 237 páginas
Publicado originalmente em 2019


sábado, 15 de fevereiro de 2025

Este Lado de Providence



Sinopse: Arcelia Perez fugiu de Porto Rico para escapar de um casamento fracassado e de um histórico de abusos, mas em vez de encontrar seu pedaço do "sonho americano", acabou do lado errado de Providence. Apesar dos três filhos pequenos, Arcelia segue um caminho que a leva à prisão e a uma agonizante abstinência de drogas. Mas o verdadeiro desafio surge quando ela é libertada e deve descobrir como permanecer limpa e reunir a família que se desfez em sua ausência. Esta poderosa história de esperança e redenção revela o lado obscuro de uma cidade simpática, onde mesmo as realidades mais sombrias não podem destruir os laços entre mãe e filhos. 

No mês de novembro/24 recebei pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação da escritora Julia Dantas (que já apareceu aqui no blog com seu livro Ela se chama Rodolfo) Este Lado de Providence da escritora norte-americana Rachel M. Harper. O mimo foi um delicioso alfajor.



Arcelia Perez vive em um bairro pobre de Providence com os seus três filhos: Cristo, Luz e Trini. Viciada em drogas, só consegue ficar limpa ao ser presa, deixando as crianças sozinhas.

Cristo é o mais velho, com comportamento rebelde, tem as professoras, em especial Srta. Valentín, que junto com um homem apelidado de Snowman, que atuam como anjos da guarda do menino. Cada um, a sua maneira, busca formas de estimular o menino, que cedo precisa arrumar dinheiro para casa, a se motivar a estudar e aproveitar um pouco da infância.

Não sou uma arma, mas às vezes me sinto como uma bala. Rápida. Imparável. Mortal.


Luz é a do meio, menina dedicada aos estudos, adora ler e sonha em ter um futuro melhor. apesar da pouca idade, não é mais inocente a ponto de não enxergar a toxidade de viver com a sua mãe.

Quem completa o trio é a bebê Trini, uma criança sorridente e a única com um pai vivendo na mesma cidade que ela.

Ouço muitas histórias na rua, mas vou contar esta porque é minha e é a única que sei de cor.


E é neste misto de maternidade, pobreza, racismo, vícios, medo, violência, esperança e até mesmo resistência que Este lado de Providence convida o leitor a conhecer a família Perez sem romantizar nenhum dos assuntos.


A escrita de Rachel M. Harper

Conhecida por explorar temas como família, raça e identidade, a autora norte americana Rachel M. Harper tem três romances aclamados pela crítica e se tornou uma das vozes de referência na literatura contemporânea.

Indicado o Ernest J. Gaines Award for Literary Excellence, um prestigioso prêmio literário que reconhece obras de ficção excepcionais de autores afro-americanos, Este lado de Providence aborda os três temas de forma sensível, sem julgamento, permitindo que cada personagem conte a sua história e conquiste, ou não, a empatia de quem o lê.

Se você tem imaginação e já viveu o bastante, vai acabar quebrando uma regra ou outra.


Pois ela utiliza uma narrativa multifocal com primeira pessoa, permitindo ao leitor ter a perspectiva por diferentes olhares, saber os conflitos e impactos das ações e acontecimentos na vida de cada um, tornando a história complexa e próxima ao mesmo tempo.

Tudo utilizando uma linguagem clara e sensível, podendo em alguns momentos ser quase poética e em outros crua e direta. Mas sem clichês ou apontar se o personagem está certo ou errado.

Uma boa professora não deve ter queridinho, por isso acho que não tenho sido uma boa professora.


O questionamento fica para o leitor, o que torna a leitura uma experiência particular para cada um que abrir o livro.


O que eu achei de Este lado de Providence

Achei livro Este lado de Providence triste, mas longe de ser irreal.

Quando os adultos erram além dos limites normais, entregando-se aos seus vícios e paixões, quem paga o maior preço por suas faltas são justamente os filhos. Uma verdade absoluta nas ruas e nas páginas.

Saio da cozinha e tento esquecer a fome. O sol bate com força no quarto, então nem preciso acender a luz.


Então sim, foi doloroso acompanhar a vida das crianças desta história, principalmente de Cristo e Luz, que possuíam mais consciência do que estava acontecendo. Gerando em mim uma angústia constante de quem iria socorre-los.

A forma como eles encaram cada situação, como se protegem, e suas reações em relação as escolhas da mãe surpreendem. Pois apesar de tudo, são crianças amorosas, cuja maturidade chega cedo demais e ao mesmo tempo dão um toque de esperança a narrativa.

Estou bonita, como uma modelo de revista, e pareço quase crescida. Afinal, desde hoje cedo tenho 10 anos.


O que tornou para mim muito difícil ter empatia pela personagem Arcelia. Sim, há situações adversas na vida desta mulher, mas também a escolhas, e ela insiste em repetir os mesmos erros a cada nova chance. Mais do que precisar de ajuda, ela precisa querer ser ajudada.

Uma mãe que coloca crianças no mundo, mas não assume nenhuma responsabilidade. Agarrada ao passado sombrio, deixa abertas as portas para que os filhos sofram o mesmo tipo de violência e acabem no mesmo mundo que ela.

Em algum momento de julho, uma mentora diz que faz quarenta e cinco dias que estou limpa. Pergunto se isso vale alguma coisa, já que não foi por escolha.


Falando em escolhas e responsabilidades, gostei muito dos personagens que não são tão secundários assim e preenchem justamente o vazio de Arcelia. 

A Srta. Valentín, uma professora que está sempre de olho em Cristo, que também tem um passado que lhe provoca dor e compulsão pela comida, despertando o ciúmes na mãe das crianças, por achar que a outra mulher se intromete demais.

Mesmo com sol algumas coisas passam despercebidas. Mesmo no verão, quando os dias são longos, algumas coisas simplesmente não são iluminadas.


E tem o ambíguo Snowman, um negro albino que se movimenta pelo bairro a princípio como o dono dos imóveis locados na região, que mostra como todo o ser humano pode ser bom e ao mesmo tempo não ser uma pessoa correta.

No geral eu gostei muito do livro, achei a história bem pesada, ao mesmo tempo que nos lembra, pelo menos quem tem filhos, como as nossas escolhas impactam de forma absurda na vida de quem é dependente de nós.

Não gosto de deixar minhas irmãs trancadas, mas não quero que nada aconteça com elas. Principalmente quando saio e não posso proteger as duas.


O que fez com que a minha leitura fosse bem irregular, em alguns momentos era levada a ler capítulos seguidos, as vezes precisava parar para digerir a história.

Ficando assim a minha dica para quem gosta de livros fortes, que querem ler histórias com conflitos familiares, maternidade, violência contra mulher, vícios, mas que tenham um toque de esperança.


Este lado de Providence
This side of Providence
Rachel M. Harper
Tradução: Lígia Azevedo
TAG Experiências Literárias
2024 - 397 páginas
Publicado originalmente em 2016