Sinopse: Arcelia Perez fugiu de Porto Rico para escapar de um casamento fracassado e de um histórico de abusos, mas em vez de encontrar seu pedaço do "sonho americano", acabou do lado errado de Providence. Apesar dos três filhos pequenos, Arcelia segue um caminho que a leva à prisão e a uma agonizante abstinência de drogas. Mas o verdadeiro desafio surge quando ela é libertada e deve descobrir como permanecer limpa e reunir a família que se desfez em sua ausência. Esta poderosa história de esperança e redenção revela o lado obscuro de uma cidade simpática, onde mesmo as realidades mais sombrias não podem destruir os laços entre mãe e filhos.
No mês de novembro/24 recebei pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação da escritora Julia Dantas (que já apareceu aqui no blog com seu livro Ela se chama Rodolfo) Este Lado de Providence da escritora norte-americana Rachel M. Harper. O mimo foi um delicioso alfajor.
Arcelia Perez vive em um bairro pobre de Providence com os seus três filhos: Cristo, Luz e Trini. Viciada em drogas, só consegue ficar limpa ao ser presa, deixando as crianças sozinhas.
Cristo é o mais velho, com comportamento rebelde, tem as professoras, em especial Srta. Valentín, que junto com um homem apelidado de Snowman, que atuam como anjos da guarda do menino. Cada um, a sua maneira, busca formas de estimular o menino, que cedo precisa arrumar dinheiro para casa, a se motivar a estudar e aproveitar um pouco da infância.
Não sou uma arma, mas às vezes me sinto como uma bala. Rápida. Imparável. Mortal.
Luz é a do meio, menina dedicada aos estudos, adora ler e sonha em ter um futuro melhor. apesar da pouca idade, não é mais inocente a ponto de não enxergar a toxidade de viver com a sua mãe.
Quem completa o trio é a bebê Trini, uma criança sorridente e a única com um pai vivendo na mesma cidade que ela.
Ouço muitas histórias na rua, mas vou contar esta porque é minha e é a única que sei de cor.
E é neste misto de maternidade, pobreza, racismo, vícios, medo, violência, esperança e até mesmo resistência que Este lado de Providence convida o leitor a conhecer a família Perez sem romantizar nenhum dos assuntos.
A escrita de Rachel M. Harper
Conhecida por explorar temas como família, raça e identidade, a autora norte americana Rachel M. Harper tem três romances aclamados pela crítica e se tornou uma das vozes de referência na literatura contemporânea.
Indicado o Ernest J. Gaines Award for Literary Excellence, um prestigioso prêmio literário que reconhece obras de ficção excepcionais de autores afro-americanos, Este lado de Providence aborda os três temas de forma sensível, sem julgamento, permitindo que cada personagem conte a sua história e conquiste, ou não, a empatia de quem o lê.
Se você tem imaginação e já viveu o bastante, vai acabar quebrando uma regra ou outra.
Pois ela utiliza uma narrativa multifocal com primeira pessoa, permitindo ao leitor ter a perspectiva por diferentes olhares, saber os conflitos e impactos das ações e acontecimentos na vida de cada um, tornando a história complexa e próxima ao mesmo tempo.
Tudo utilizando uma linguagem clara e sensível, podendo em alguns momentos ser quase poética e em outros crua e direta. Mas sem clichês ou apontar se o personagem está certo ou errado.
Uma boa professora não deve ter queridinho, por isso acho que não tenho sido uma boa professora.
O questionamento fica para o leitor, o que torna a leitura uma experiência particular para cada um que abrir o livro.
O que eu achei de Este lado de Providence
Achei livro Este lado de Providence triste, mas longe de ser irreal.
Quando os adultos erram além dos limites normais, entregando-se aos seus vícios e paixões, quem paga o maior preço por suas faltas são justamente os filhos. Uma verdade absoluta nas ruas e nas páginas.
Saio da cozinha e tento esquecer a fome. O sol bate com força no quarto, então nem preciso acender a luz.
Então sim, foi doloroso acompanhar a vida das crianças desta história, principalmente de Cristo e Luz, que possuíam mais consciência do que estava acontecendo. Gerando em mim uma angústia constante de quem iria socorre-los.
A forma como eles encaram cada situação, como se protegem, e suas reações em relação as escolhas da mãe surpreendem. Pois apesar de tudo, são crianças amorosas, cuja maturidade chega cedo demais e ao mesmo tempo dão um toque de esperança a narrativa.
Estou bonita, como uma modelo de revista, e pareço quase crescida. Afinal, desde hoje cedo tenho 10 anos.
O que tornou para mim muito difícil ter empatia pela personagem Arcelia. Sim, há situações adversas na vida desta mulher, mas também a escolhas, e ela insiste em repetir os mesmos erros a cada nova chance. Mais do que precisar de ajuda, ela precisa querer ser ajudada.
Uma mãe que coloca crianças no mundo, mas não assume nenhuma responsabilidade. Agarrada ao passado sombrio, deixa abertas as portas para que os filhos sofram o mesmo tipo de violência e acabem no mesmo mundo que ela.
Em algum momento de julho, uma mentora diz que faz quarenta e cinco dias que estou limpa. Pergunto se isso vale alguma coisa, já que não foi por escolha.
Falando em escolhas e responsabilidades, gostei muito dos personagens que não são tão secundários assim e preenchem justamente o vazio de Arcelia.
A Srta. Valentín, uma professora que está sempre de olho em Cristo, que também tem um passado que lhe provoca dor e compulsão pela comida, despertando o ciúmes na mãe das crianças, por achar que a outra mulher se intromete demais.
Mesmo com sol algumas coisas passam despercebidas. Mesmo no verão, quando os dias são longos, algumas coisas simplesmente não são iluminadas.
E tem o ambíguo Snowman, um negro albino que se movimenta pelo bairro a princípio como o dono dos imóveis locados na região, que mostra como todo o ser humano pode ser bom e ao mesmo tempo não ser uma pessoa correta.
No geral eu gostei muito do livro, achei a história bem pesada, ao mesmo tempo que nos lembra, pelo menos quem tem filhos, como as nossas escolhas impactam de forma absurda na vida de quem é dependente de nós.
Não gosto de deixar minhas irmãs trancadas, mas não quero que nada aconteça com elas. Principalmente quando saio e não posso proteger as duas.
O que fez com que a minha leitura fosse bem irregular, em alguns momentos era levada a ler capítulos seguidos, as vezes precisava parar para digerir a história.
Ficando assim a minha dica para quem gosta de livros fortes, que querem ler histórias com conflitos familiares, maternidade, violência contra mulher, vícios, mas que tenham um toque de esperança.
Este lado de Providence
This side of Providence
Rachel M. Harper
Tradução: Lígia Azevedo
TAG Experiências Literárias
2024 - 397 páginas
Publicado originalmente em 2016
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