Sinopse: Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade.
Na Indochina francesa, uma adolescente de 15 anos órfã de pai mora com a mãe e dois irmãos. Filha de colonos franceses pobre, ela conhece em uma travessia de balsa sobre o rio Mekong um jovem com o qual terá um relacionamento intenso que envolve benefícios financeiros.
Filho de um rico empresário chinês, o homem de 27 anos, mesmo sendo mais velho, acaba sofrendo psicologicamente dos mesmos problemas que a menina, no que envolve tabus raciais e morais dos anos de 1920.
Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando eu tinha dezoito anos já era tarde demais.
O que a empurra precocemente para esta relação é a sua família desestruturada, com um irmão extremamente violento e uma mãe que o defende, ao mesmo tempo que possui uma busca constante por dinheiro.
Um livro sobre memórias e traumas transferidos para as páginas em um romance curto, cuja densidade se alterna, e virou um filme não aprovado pela autora.
A escrita de Marguerite Duras
Considerada uma das escritoras mais importantes da literatura francesa do século XX, a autora Marguerite Duras nasceu na Indochina e no final de sua adolescência retornou a França para estudar.
Sua escrita tem por característica ser fragmentada, conseguindo ser emocionalmente contida e ao mesmo tempo profundamente sensível. O que fez com que fosse uma das figuras-chaves do movimento literário "Nouveau Roman" (Novo Romance francês) que ocorreu nas décadas de 1950 e 1960.
A história da minha vida não existe. Ela não existe. Jamais tem um centro. Nem caminho, nem trilha.
E este rompimento com as formas tradicionais de narrativa é encontrado em O Amante, sua obra mais conhecida que venceu o prestigiado prêmio de literatura francesa Goncourt.
O Amante é uma mistura de ficção com autobiografia, tendo como base a sua infância na Indochina e o caso amoroso que teve na adolescência com um homem mais velho.
Tudo começou assim assim em minha vida, com esse rosto visionário, extenuado, as olheiras antecipando-se ao tempo, à "experiência".
A narrativa é semelhante a um fluxo de consciência, com presente, passado e futuro dividindo o mesmo espaço sem ordem cronológica nem capítulos definidos. Como alguém que se senta no divã e conforme vai puxando o novelo de lã que é a sua vida, começa a trazer memórias, reflexões e pensamentos.
Dando um tom introspectivo na narrativa em primeira pessoa, onde nem tudo é explicito e não raro há situações que ficam mais na sugestão no que no detalhamento para o leitor.
O que eu achei de O Amante
Esta foi a segunda vez que leio o livro de Marguerite Duras. Havia recebido o livro em capa dura em uma coletânea de clássicos que o jornal do meu estado vendeu tempos atrás.
E acabei relendo por causa do encontro com outros assinantes da TAG Curadoria, já que a obra foi o livro de abril, ao qual pulei para não ficar com dois livros iguais.
Sei que não são as roupas que fazem a mulher mais ou menos bela nem os cuidados de beleza, nem o preço dos cremes, nem a raridade, o preço dos adornos.
Quando abri o livro já não tinha lembranças de sua narrativa, apenas a famosa base de que era o caso de amor de uma adolescente com um homem mais velho.
Ao reler, me deparei com uma família desestruturada, que apesar da pobreza tem empregados, da mãe que cobra postura da filha, mas permite que ela chegue em qualquer horário na escola após os encontros com o amante. De um irmão mais velho que inspira medo nos que convivem com ele e deixa para a mãe pagar as dívidas dos seus vícios.
Resta aquela menina que começa a crescer e que talvez um dia venha a saber como trazer dinheiro para casa.
Também é uma narrativa que expõe a colonização, onde a cor da pele ou o dinheiro não impede que ocorra racismo ou preconceito.
E por fim é um livro bem psicológico, pois não foram raras as vezes que me vinha o jargão "fale-me mais sobre isso" durante a leitura. Ficando a dúvida se era ficção, algo que deveria ficar subentendido ou traumas que não conseguem ser revelados.
Sente subitamente uma angústia até então apenas pressentida, uma fadiga, a luz apagando-se levemente no rio.
Mas apesar de todas as suposições, de ser um livro bem curto, eu segui não gostando.
A mistura de pedofilia e prostituição foi algo que me incomodou ainda mais nesta segunda leitura. Pois o relacionamento não é iniciado por amor, paixão ou uma atração física na minha opinião, mas pelo que o dinheiro dele poderia proporcionar.
Quer a apanhem, quer a levem, quer a maltratem, quer a corrompam, eles não devem saber mais nada.
Também me peguei achando que se o nome do livro fosse O irmão mais velho, combinaria mais. Pois o amante é uma figura secundária em meio a todos os conflitos que as relações familiares causaram em todas as etapas da vida da narradora, sendo uma ferida ainda não curada mesmo após tantos anos.
Sendo o amante apenas mais um a acelerar o seu sentimento de envelhecimento precoce, de mudança na imagem que via no espelho ainda tão jovem. Me parecendo o resultado de quem se sentia usada por todos ao redor sem nunca ter sido realmente amada.
Ele lamenta o que ocorreu comigo, digo-lhe que não deve, que não devo ser motivo de lamentação, ninguém deve, exceto minha mãe.
E apesar de tanta complexidade, em muitos momentos ela me pareceu superficial. Como se a narradora tivesse uma borda a ser respeitada, e justamente ao respeitar estes limites, ela não me ganhou como leitora.
Pois o vai e vem de tempos e lembranças me parecia mais um disfarce para não explorar o que era realmente importante para a menina frágil e a mulher já idosa que manteve tudo muito vivo em sua memória.
Só que esta é a minha leitura, a sua pode ser completamente diferente, e assim deixo a indicação deste clássico para que você possa tirar suas próprias conclusões.
O Amante
L'amant
Marguerite Duras
Tradução: Aulyde Soares Rodrigues
2003 - 95 páginas
Publicado originalmente em 1984
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