Sinopse: A aguardada estreia de Quentin Tarantino na literatura é uma leitura de fôlego, com ritmo de humor e recheada de pérolas sobre a era de ouro do cinema. Em Era uma vez em Hollywood, Tarantino oferece uma vasta gama de detalhes que ampliam o universo dos personagens, criando desfechos inovadores, novos cenários e diferentes possibilidades para o filme vencedor de duas categorias do Oscar 2020 — uma delas, a de Melhor Ator Coadjuvante para Brad Pitt (Cliff Booth).
Rick Dalton já foi muito famoso por protagonizar uma série de faroeste para a TV, mas o seu ego o fez acreditar que conseguiria papeis muito melhores, e na Hollywood dos anos de 1960 ele é um ator em declínio que precisa da ajuda de um agente especializado para sair das participações especiais, o que pode significar fazer filmes em qualquer lugar.
Quem o acompanha é Cliff Booth, amigo, funcionário e dublê de Rick quando este consegue colocá-lo nos filmes. Ex-combatente de guerra, foi de herói da nação para um sujeito que nem sempre avalia bem as suas ações, além de ser suspeito de um crime que não o torna bem-vindo a todos os lugares.
Continue interpretando o saco de pancada para todo novato arrogante que surgir na emissora, e isso vai surtir um efeito psicológico na maneira como a audiência enxerga você.
Ambos acompanham a chegada de seus novos vizinhos, a bela e jovem atriz Sharon Tate e o famoso diretor de o Bebê de Rosemary Roman Polanski. Tate se divide entre a emoção de ver o seu rosto nos cartazes dos cinemas e os inúmeros eventos que é obrigada a comparecer junto com o marido.
No caminho dos dois também passam Charles Manson e seus seguidores, trazendo a memória um dos eventos que ajudaram a marcar a transição da era de ouro do cinema americano para uma série de mudanças.
Por outro lado, quando assistia a filmes estrangeiros, via nos atores um grau de autenticidade que simplesmente não existia no cinema de Hollywood.
Tudo no melhor estilo Tarantino, onde ficção e realidade se misturam, sem poupar o leitor de ironia, humor e crítica.
A escrita de Quentin Tarantino
O cineasta, roteirista, produtor, ator e sim, escritor norte-americano Quentin Tarantino é conhecido por seus filmes que misturam violência, cultura pop, diálogos recheados de críticas, ironias e verdades diretas, além é claro de humor negro.
E tudo isso se encontra no primeiro livro de Tarantino, baseado no filme roteirizado pelo próprio. Com a liberdade que só a escrita dá, ele se utiliza de uma narrativa não linear, onde é possível ter no presente vislumbres do passado e também do futuro, seja através de longos diálogos ou de fluxos de pensamentos dos personagens.
E ele gostou dela também, e não só porque ela era bonita. Ela era muito inteligente também - isso ficou evidente apenas com uma conversa casual.
Por ser um livro baseado nos anos de ouro de Hollywood, as páginas são recheadas de referências dos anos 1960, seja pelo de atores e filmes, seja através das músicas, dos locais e dos próprios acontecimentos.
Como em seus filmes, temos diálogos e detalhes que levam o leitor para junto dos personagens, tornando a narrativa tão vibrante e empolgante quanto os seus filmes, tornando a leitura das quase seiscentas páginas muito mais rápidas que alguns livros com menos de duzentas.
O que eu achei de Era uma vez em Hollywood
Ao pegar o livro com quase seiscentas páginas, jurava que ia levar uns três meses para ler o livro por completo, e já me preparava para intercalar com as leituras do grupo que faço parte.
Doce ilusão. A escrita de Tarantino é como seus filmes, difícil de abandonar. Cada capítulo convidava para ler mais um, em uma leitura que consegue não apenas levar para uma época que só ouvi falar, como me encantar com Sharon Tate e sentir calafrios com a trupe de hippies que deu fim ao seu sonho, mesmo o livro não descrevendo o terrível crime.
A parte ruim de vomitar em si mesmo ao acordar de manhã é que você se sente um porco nojento e um patético derrotado.
A dupla Rick Dalton e Cliff Booth também facilitaram muito a minha vida, se Dalton me levou para dentro dos cenários cinematográficos ao mesmo tempo que mostra um lado muito humano ao ter que se adaptar as dificuldades atuais. Booth já tem uma dualidade e uma frieza que remetem as cenas mais violentas dos filmes de Tarantino.
E o detalhe de tudo é que não havia assistido ao filme, e após postar no Instagram do blog as leituras do mês de março, recebi uma pergunta justamente perguntando a relação dos dois. A curiosidade aumentou, eu segurei a publicação da resenha e fui procurar o filme.
É um dever do ator se esforçar para atingir cem por cento de eficácia. Naturalmente, nunca conseguimos chegar lá, mas essa busca é o que importa.
Depois de assistir ao filme, eu digo que os dois se complementam. Existem coisas no filme que não tem no livro e vice-versa, tornando as duas formas de arte interligadas, já que se por um lado o livro explica muito mais os personagens, por outro o filme dá toda a referência visual. E o final de ambos é diferente. E ambos muito bons.
No filme eu senti muita falta de maior participação da personagem Trudi/Mirabella, cujas cenas com Rick Dalton mostram todo o trabalho e esforço de ser um bom ator/atriz.
Você está agindo como se eu fosse acordar amanhã de manhã e ir para uma escolinha. Eu vou trabalhar com você.
E achei curioso que como alguns detalhes são mais explorados no livro, como a política de recepção do ator principal de uma série aos atores convidados, estratégias utilizadas por diretores para provocar diferentes reações e o preconceito com o que é feito fora de uma bolha.
Então coloque a pipoca na panela, prepare o seu chá e faça uma sessão dupla pela tela e pelas páginas para retornar pelo olhar de Tarantino a Hollywood dos anos de 1960. Existe grandes chances de você gostar.
Era uma vez em Hollywood
Once upon a time in Hollywood
Quentin Tarantino
Tradução: André Czarnobai
intrínseca
2021 - 560 páginas
Primeira edição publicada em 2020
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