segunda-feira, 6 de abril de 2020

Stalker



Sinopse: Deprimida após sofrer um abordo espontâneo, Fig Coxbury passa seu tempo em praças observando as crianças que poderiam ser a sua filha. Até que uma menininha brincando com a mãe desperta uma obsessão. Logo, Fig se vê mudando de casa e de bairro não por necessidade, mas porque a casa vizinha oferece tudo o que ela deseja: a filha, o marido e a vida que pertence a outra pessoa.

Em um livro que está mais para o comportamento humano do que um trailer de suspense, Tarryn Fisher disponibiliza em seu Stalker três narradores: Fig, Darius e Jolene. Como um quebra-cabeça, cada um fornece as suas informações, algumas em comum, outras novas e claro, as que se contradizem.

O capítulo de Fig já informa ao leitor, ela é uma psicopata. Manipuladora, ela busca a atenção dos personagens do livro e do leitor, ao qual muitas de suas frases divertem. Muitas vezes pensei nela como a esposa perfeita para o Adam de Estação Atocha.

Gente muito inteligente pensa o tempo todo, a cabeça está sempre tomada por pensamentos brilhantes.

A história começa em uma praça, onde ela vê uma menina pequena com cabelos loiros esvoaçantes. Ela se sente acordar de um longo sono, associando a garotinha a criança perdida ainda nos primeiros meses de gravidez. Com isso ela segue mãe e filha e descobre onde elas moram, passando a observa-las.

Sua terapeuta logo identifica a sua obsessão, mas naturalmente ela não ouve os conselhos e opta em comprar a casa ao lado da mãe, que oportunamente está à venda. Logo ela conquista a amizade da mãe desnaturada, apelido carinhoso que ela dá Jolene em pensamento. Neste momento a menina se torna secundária, pois o que ela tenta na realidade é se tornar igual a mãe, desde a forma de postar no Instagram até a forma de se vestir.

Três coisas atraem a atenção e o olhar sedento das mulheres em um grupo: bebida alcóolicas, homens e fofocas.

Curiosamente a personalidade de Fig se ajusta a cada pessoa que ela encontra, para atrair a atenção da mesma. E isto ocorre conforme ela se envolve com Darius, o marido de Jolene. Assim como a menina, ele faz parte do pacote dos itens que ela deseja se apropriar.

A narrativa da personagem Fig é a maior do livro, sendo compostas por capítulos curtos, cada um identificado por um título, estes dão uma ideia do que irá por vir, e por isso exigem um cuidado maior para quem gosta de ler em espaços públicos. Digo isso pelo fato de em determinada página ter capítulos em letras garrafais nomeados como A xoxota mais bonita, por exemplo.

A sociedade nos treinou para acreditar que elas têm segundas intenções.

Para não estragar a surpresa, não irei detalhar muito os próximos capítulos, mas alguns detalhes são impossíveis de não escapar, então se você curte a surpresa pura, pule os próximos dois parágrafos.

O capítulo de Darius já inicia com uma característica utilizada por Jolene para classifica-lo: o sociopata – neste momento eu pensei que carma o dessa mulher. Ele é um psicólogo muito apaixonado pela esposa, mas que não resiste a outras mulheres. Manipulador como Fig, ele tem a vantagem de realizar uma leitura prévia das situações, muitas vezes questionando o bom coração de Jolene. Aqui temos novas peças sobre Fig, revelando situações que ela habilmente não nos conta, a fim de manter a nossa simpatia por ela.

Ela era como o bêbado contente que a gente encontra em uma boate.

Quem encerra a narrativa é a vítima dos dois malucos da história. Utilizando a sua profissão para a parte três, conhecemos a história de Jolene, e que ela não é tão boba como os outros dois pensam. Como qualquer ser humano ela tem os seus defeitos e qualidades, e precisa se cuidar para não ser levada a loucura pelos outros. E por isso o leitor pode se sentir muito próximo dela.

Ela é uma escuridão caótica disfarçada de luz.

Stalker é um vira página, a narrativa é fácil, e embora alguns capítulos da Fig sejam mais arrastados, as vezes meio repetitivos, a leitura é bastante rápida. E apesar do assunto aparentemente pesado, ele tem um lado mais cômico, o que torna a leitura muito louca e divertida. O tipo de livro perfeito para relaxar de leituras mais tensas.

Stalker 
Tarryn Fisher
Tradução Elenice Barbosa de Araújo
TAG – Faro Editorial
2015 – 287 páginas

Nenhum comentário:

Postar um comentário