quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Primeiro sangue



Sinopse: Na primeira página deste livro encontramos um homem frente a frente a um pelotão de fuzilamento. Estamos no Congo, em 1964. Esse homem, sequestrado pelos rebeldes junto com outros mil e quinhentos belgas, é o jovem cônsul belga, em Stanleyville. Seu nome é Patrick Nothomb e ele é o pai da escritora. A partir dessa situação extrema, Amélie Nothomb reconstrói a vida de seu pai antes daquele momento. E ela faz isso dando-lhe voz. Assim, é o próprio Patrick que narra suas aventuras em primeira pessoa.

Recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria no mês de maio/2024 a indicação da escritora e tradutora Adriana Lisboa a obra Primeiro sangue da autora belga Amélie Nothomb. O mimo foi um marcador de página em formato de gato.



Após quatro meses de discussões intermináveis para salvar a sua vida e de outros reféns, Patrick Nothomb escuta o seu nome e é levado para o pelotão de execução formado por doze pessoas. Da lembrança da inveja sentida de Dostoiévski por ter vivido experiência semelhante, naquele momento o que ele se agarra é ao fato de ainda estar vivo no tempo presente.

Conduzem-me diante do pelotão de execução. O tempo se alonga, cada segundo dura um século a mais que o precedente.


E o tempo presente dele iniciou a 28 anos atrás, quando ainda criança saiu da casa dos avós maternos, onde era extremamente mimado pela avó e solenemente ignorado pela mãe, para viver a experiência de conhecer a sua família paterna nas férias, incluindo tios que regulam de idade com ele e vivem de uma forma bem restrita. 

Mostrando ao leitor um menino doce e generoso, que encara tudo como uma grande aventura, conseguindo se adaptar a diferentes ambientes, personalidade que o levou a seguir a carreira de diplomata e ao ponto inicial do livro.


A escrita de Amélie Nothomb

Filha de diplomata, Amélie Nothomb é uma escritora belga que nasceu no Japão, estudou  Filologia Românica, que estuda a origem e evolução do Latim, e tem como marca registrada nos livros publicados anualmente ter toques de sua vida pessoal nas suas narrativas e as capas serem um close do seu rosto.

O que me impressiona nessas fotos é o ar de felicidade da minha mãe. Eu nunca a vi assim.


Primeiro sangue é narrado em primeira pessoa, pela visão do pai da autora, Patrick Nothomb, falecido em 2020. Patrick foi diplomata e ensaísta, e teve duas publicações: um sobre a sua carreira diplomática e outro um diário que conta justamente  sobre a tomada de reféns em Stanleyville.

Os capítulos são curtos, contando memórias da sua infância e adolescência, muitas mostrando não apenas um momento da sua história, mas também dando uma ideia aos leitores de como sua personalidade e carácter foram formados.

Ela desapareceu, deixando-me sozinho para encontrar aqueles que legalmente eram meus tios e tias e que acabaram por revelar-se uma horda de hunos.


Tornando Primeiro sangue uma bonita homenagem da filha para o pai, em uma escrita sensível e delicada, o que torna a leitura envolvente e fluída e nos faz pensar em que tipo de homem ele era.


O que eu achei de Primeiro Sangue

Na minha humilde opinião Primeiro sangue é, até agora, o melhor livro enviado pela TAG Curadoria em 2024. É um livro delicado, sensível, com uma narrativa que desperta a curiosidade em ler mais uma página, que por consequência vira mais um capítulo.

Eu experimentava uma profunda admiração por essas crianças que suportavam condições de existências tão especiais.


Adorei como o personagem encara as diferenças familiares, e nem mesmo a fome ou o frio o afastam dos raros convívios com os tios que regulam de idade com ele. Apesar de mimado pela avó materna, ele não é egoísta nem arrogante, muito pelo contrário, e não apenas reparte o que leva para suas estadias na casa da família paterna com todas as outras crianças, como pede para a avó materna preparar sua mala pensando nelas.

E são justamente estes dois mundos distintos que contribuem para que ele se torne uma pessoa empático e lhe dão instinto de sobrevivência para o mundo adulto, algo essencial no momento em que se torna não apenas refém, mas um negociador para tentar garantir a vida dos seus compatriotas.

Do que eu tinha conhecido em seis anos e meio de existência, essas férias de Natal eram o que mais se parecia com a felicidade.


De bônus para quem embarca nesta aventura, tem a história de amor de Patrick e Danièle, que é uma graça e deixa o coração quentinho.

Eu adorei o livro e super indico, e se você curte livros que misturam memórias, história e relações familiares, corre o risco de se encantar também.


Primeiro sangue
Premier sang
Amélie Nothomb
Tradução: Daniel Moreira
TAG - Paris de Histórias
2024 - 151 páginas
Publicado originalmente em 2023


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