domingo, 24 de maio de 2009

Morte em Veneza


Sinopse: Levado por um misterioso impulso, o famoso escritor Gustav Aschenbach resolve passar alguns dias na cidade às margens do Adriático, onde encontra Tadzio, um belo adolescente que parece encarnar de forma absoluta os cânones neoclássicos que haviam impregnado toda a literatura de Gustav. E o escritor dedica-se inteiramente a esse sonho de beleza, chegando mesmo a cair no ridículo ao chamar a atenção do rapaz, num crescente paroxismo de atração perturbadora e autodestrutiva.

Thomas Mann tem como personagem principal, em um romance curto, mas nem por isso rápido, um famoso escritor chamado Gustaw Aschenbach, que após conquistar fama e prestígio, encontra-se impaciente. 

Era vontade de viajar, nada mais; mas, na verdade, irrompera como um acesso e se intensificara, atingindo o nível passional, sim, até beirar a alucinação. 

Sem saber o que busca, esse senhor arruma suas malas e sai em busca de um lugar que acalme seus pensamentos e aflições. Em suas andanças, Aschenbach vai parar em Veneza, onde irá conhecer um pré-adolescente e mudar completamente seus planos. 

A paixão platônica pelo menino irá fazer com que Aschenbach ignore a epidemia de cólera, que afasta os turistas da cidade, enquanto segue o seu alvo em um primeiro momento com os olhos e depois com as próprias pernas. 

As pessoas não sabem por que elas tornam famosa uma obra de arte.

Morte em Veneza é extremamente descritiva, detalhando todos os locais, vestes e devaneios do escritor e do seu amado, dando a sensação de estar percorrendo a cidade junto com os personagens. 

Para os que não apreciam longos detalhes, o livro pode tornar-se cansativo, fazendo com que suas poucas páginas pareçam centenas. Mas para os fãs de clássicos e adoradores de longas descrições, Thomas Mann trás uma mistura de arte, psicologia e representação plástica do ambiente que envolve a sua narrativa.

Não encontrava seus olhos, pois uma preocupação covarde forçava o pobre desnorteado a controlar receoso seu olhar.

Além disso há uma visão interessante de um homossexualismo e pedofilia velado no início de 1900 - o livro foi publicado pela primeira vez em 1912 - em uma sociedade de classe alta. Sendo mais uma prova de que alguns dos assuntos que discutimos hoje não são nenhuma novidade.

Morte em Veneza
Der Tod in Venedig
Thomas Mann
Tradução: Eloísa Ferreira Araújo Silva
RBS Publicações
1912 - 94 páginas

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Elogio da Loucura




Elogio da Loucura foi escrito, em 1501, pelo teólogo Erasmo Desidério ou Erasmo de Rotterdam, como ficou conhecido. 
Na obra, Rotterdam critica os costumes de sua época, onde no decorrer da leitura, o leitor pode constatar que muito destes costumes perduram até hoje. 

Segundo a própria Loucura- que é a narradora irônica em tempo integral- o homem deve muito a loucura, pois é ela que move o mundo. Ela está presente no dia-a-dia. A loucura se encontra tanto nas amizades quanto nos relacionamentos e, está inserida na sociedade. Pode-se afirmar que, também, se encontra na ciência e na filosofia. E, claro, na religião- um dos alvos principais do autor. 

O livro está cheio de exemplos. A cada área que o escritor ironiza, ele cita inúmeros exemplos e situações corriqueiras, fazendo com que nós, leitores, nos identifiquemos com as situações triviais abordadas. 

A prosa do autor é totalmente sarcástica, muitas vezes beirando um "humor ácido". Certamente o autor dominava o escárnio, para escrever uma obre repleta de ironia- ainda mais para a sua época. Agora, resta ao leitor ter, no mínimo, alguma afinidade com o sarcasmo, para assim ter um melhor entendimento do livro, pois apesar de ter muita coisa explícita, o livro também possui mensagens nas entrelinhas. Cabe ao autor encontrá-las.

domingo, 10 de maio de 2009

O Mago

Sinopse: Fernando Moraes, o autor que ajudou a fundar a biografia como gênero literário no Brasil, volta sua verve investigativa para o personagem brasileiro que se converteu no grande mito de nossa história recente: Paulo Coelho - um escritor universal que alcançou a astronômica marca de 100 milhões de livros vendidos e a façanha de ser o autor vivo mais traduzido de todo o planeta. O Mago é a eletrizante trajetória do popstar requestado por príncipes, xeiques, rainhas e presidentes. Uma história com que nem os roteiristas mais criativos seriam capazes de sonhar.

A biografia do escritor Paulo Coelho não deixa de ser um registro da própria sociedade brasileira nas últimas décadas. Ao mesmo tempo em que Fernando Morais mostra a personalidade do escritor, ele detalha e compara os seus posicionamentos em diversas épocas do Brasil. 

O comportamento dos jovens com a ditadura, a relação com as drogas e a música. O uso de textos de protesto para atingir o sucesso. A alienação completa. Nomes famosos que ainda buscavam os seus caminho e outros que viraram mito, como Raul Seixas. 

Os aplausos parecem não ter fim. Sem conter o choro, o brasileiro agradece várias vezes, cruzando os braços no peito e fazendo uma leve inclinação para a frente.

O jovem Paulo Coelho passou por colégios rígidos e sanatórios. Seus pais, como os outros da época, desejavam para o seu filho uma profissão tradicional. Pressão e narcóticos levaram o perdido Paulo a surtos e uma vida de vagabundagem extrema. 

Claro que existe muita coisa escondida, mas as relatadas são muito fortes, como o desejo de Paulo de ser um grande escritor (algo despertado cedo e sufocado por seus pais) assim como sua insegurança. Uma personalidade interessante e conflitante, já que ele pode ser gentil e generoso, mas também pode ser arrogante e sem caráter. 

Considerando todo o seu histórico escolar, do maternal à universidade, a aprovação no exame de admissão foi o único momento de glória em sua vida estudantil.

Algumas vezes o leitor pode ler um capítulo e achar que ele era doidão, no seguinte verificar que ele era muito doidão e lá pelas tantas achar que ele é um baita de um filho da puta. O Mago não permite que se feche um capítulo sem que se tenha alguma opinião sobre o seu personagem. 

Paulo Coelho contrariou os bancos da faculdade, que afirmam ser necessário ler os grandes autores para escrever boas obras. Balela. O escritor chegou a ler 75 livros por ano, entre eles muitos clássicos, e isso não fez nenhum de seus livros ser considerado uma obra-prima (muito pelo contrário, e o pau constante que ele leva dos críticos não ficou de fora da sua biografia – o que não deixa de ser uma resposta para os mesmos). 

De repente ele se viu sozinho, trancado num hospício, com um fichário escolar debaixo do braço e um agasalho nas costas, paralisado.

Aliás, O Mago mostra também o funcionamento do dinheiro e do poder na literatura, onde generais podem impedir um acesso a ABL (Academia Brasileira de Letras) ou as esperanças de constar em um testamento podem tornar alguém imortal (o fato de Paulo Coelho não ter filhos consta como um ponto positivo para sua eleição). Contratos milionários, pequenas vinganças, desafetos e mudanças temperam o mundo real das letras assim como personagens memoráveis recheiam livros. 

A biografia descreve o óbvio: Paulo Coelho se tornou o grande nome brasileiro no mundo das letras. Não adianta os intelectuais brasileiros virarem a cara, nem descarta-lo de comitivas de escritores brasileiros. Ele sempre está nos eventos mais importantes, e convidado por aqueles que realmente detém o poder. 

Não há mais liberdade no Brasil. Meu campo está sob uma censura idiota e filha da puta.

Além disso, a sempre uma legião de fãs o esperando, seja na Rússia, Alemanha ou qualquer outro lugar do mundo. Se o seu sucesso é devido à força do pensamento, satanismo ou santos, nunca saberemos, e isso nem mesmo a sua biografia irá esclarecer. Mas que em O Mago, Paulo Coelho dá uma lição de persistência e quebra paradigmas, isso ninguém pode negar.

O Mago
Fernando Moraes
Editora Planeta
2008 - 630 páginas