quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As Muralhas de Jericó


Josué Guimarães transformou em livro as memórias de sua viagem a União Soviética e China nos anos 50, quando junto com um grupo de jornalistas brasileiros, foi convidado a conhecer o que havia atrás da cortina de ferro, em um período onde a divisão capitalismo x socialismo era muito forte, assim como o domínio norte-americano sobre o Brasil.

Rico em detalhes, o livro mostra as diferenças de opinião de uma época, mitos e interesses comerciais se misturam em cada deslocamento. A diferença de tratamento, o jeitinho brasileiro, o frio, a surpresa, a chuva. É impossível não lembrar das aulas de histórias e comparar com outras leituras.

Essa comparação se tornou mais forte no que se refere à China, enquanto Josué Guimarães listava vários itens positivos, minha mente recordava trechos do livro Adeus, China, onde encontrei algumas discrepâncias no que é relatado pela biografia e pelo autor. Neste momento, me passou pela mente se, como convidados, eles não estiveram interagindo dentro de um teatro.

Isso é algo que não tenho como saber, mas posso dizer que para os fãs de história, e para quem gosta de uma narrativa leve, As Muralhas de Jericó é uma ótima pedida.

*As Muralhas de Jericó – Memórias de Viagem: União Soviética e China nos Anos 50 - Josué Guimarães – L&PM – 2001

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capitães da Areia



Os capitães são crianças quando veem um carrossel ou lembram de suas mães ao receberem o carinho de Dora, uma menina-moça cheia de maturidade e coragem, que é levada junto ao bando empurrada pela morte. Sem-perna é criança quando se depara com uma mãe de coração despedaçado, que o abraça, o veste e o ama como o menino que só ela enxerga. Pedro é criança quando escuta as histórias sobre o seu pai e a sua imaginação voa por não saber exatamente pelo que ele lutava.

Os capitães são adultos quando roubam, estupram e trapaceiam. Quando quase todo o grupo ignora as lágrimas de uma menina. Quando se arriscam para salvar uma imagem de um dos seus orixás. Quando atacam outros grupos. Quando listam suas regras e aplicam os seus castigos. João Grande é adulto quando defende Dora, colocando os seus princípios acima do grupo. Professor é adulto quando a dor de um amor morto o faz partir e usufruir o seu maior dom.

Jorge Amado é mestre ao levar o leitor às ruas da Bahia, vivendo junto aos meninos de rua, tornando-os íntimos, mas nem sempre amigos. Os cheiros, as dores, o ódio estão latentes nas páginas, e por isso é difícil muitas vezes lembrar que os Capitães da Areia são meninos e não homens. A reação de quem ler vai depender da própria experiência de vida. É possível sentir pena, é possível se sentir indiferente, é possível se aborrecer e pensar no por que a polícia não prende (nem na literatura) esses delinquentes.

É possível chorar. Imaginar o medo de quem os vê. Também é possível analisar como uma história de 1937 pode ser tão atual.

Este foi o primeiro livro que li de Jorge Amado, e fiquei positivamente impressionada com a sua escrita, pelo menos com essa história, que é apaixonante e real. Agora entendo a razão de sua fama e por que tantas de suas obras se tornam novelas, séries e filmes, pois ele é rico em detalhes e enlaces. Um autor que nenhum brasileiro pode deixar de ler, mesmo que seja apenas um livro.


*Capitães da Areia - Jorge Amado - Editora Record - 1937 - 231 páginas

** Versões atuais sairam pela Companhia das Letras

domingo, 1 de janeiro de 2012

Marcada








Marcada é o primeiro livro da série House of Night escrito pela autora P.C. Cast e sua filha Kristin Cast. Conta a história de Zoe Redbird, uma adolescente que foi “marcada”, o que significa que após um período em transformação irá virar uma vampira. Ela terá de abandonar sua vida pregressa para habitar a Morada da Noite. Em meio à rotina noturna de sua nova escola/lar, conhece as pessoas que se tornarão seus melhores amigos – Steve Rae, Erin, Shaunee, Damien e Eric, e se vê dotada de poderes que nem imaginava serem possíveis.

Neste mundo de vampiros novatos é que se passa a empolgante e adolescente história de Marcada.  Como introdução à série, certamente deve ser o livro mais fraco. Não cativa instantaneamente por conta da comparação com séries como Crepúsculo (inevitável, apesar de Marcada ser sem dúvida mais voltada ao público adolescente que a série de Meyer). Mas, mostra personalidade  e é um bom começo para uma coleção que tem tudo para entrar no hall de livros “febre do momento”.

Marcada trás Zoe, trás a adolescencia com suas impulsivas decisões e importantes amizades, trás valores, trás sedução – e vampiros não existem sem este quesito, trás o misticismo nos arabescos, nos rituais e, claro, nos poderes concedidos pela deusa da noite. 

Os vampiros são muitos pela literatura a fora mas, o que importa não é o que melhor os retrata ou quem copiou o que de quem. O que importa é as diferenças e igualdades dos mundos descritos, é a criatividade na relação entre o que já existe e o que pode ser inventado sem ser chato. E definitivamente, Marcada não é um livro chato. Tem nele o envolvimento que nos leva a querer ler mais e mais. 


CAST, P.c.; CAST, Kristin. Marcada. São Paulo: Novo Século, 2009. 328 p. (House f Night).