domingo, 15 de abril de 2018

A Vida Sexual da Mulher Feia



Sinopse: Nunca tive vergonha do meu corpo, embora meus dois irmãos achassem que eu deveria ter. Andava apenas de calcinha ou mesmo despida dentro de casa, até meus peitos crescerem tanto que se tornou impossível lavar a louça do almoço sem que eles mergulhassem na pia cheia de detergente. Foi quando meu pai pediu que minha mãe esclarecesse para mim as diferenças entre meninos e meninas, e então meu busto foi encarceirado para toda a eternidade em grandes sutiãs de bojo acolchoado que ela mesma comprava, muitas vezes em lojas de gestante, para que eu me sentisse mais confortável.

Uma pitada de ironia, dois pé de humor, duas gotas de simplicidade, um frasco de fluidez e temos neste caldeirão, digo, neste livro, diversão certa.

Já na contracapa temos uma ideia do que é a vida de Jucianara, que nos informa já no início que a feiura da mulher começa no nome, como se os pais seguissem um instinto. Para os que já estão horrorizados neste segundo parágrafo, informo o aviso dado pela própria Claudia Tajes: A mulher feia não é apenas uma deformação da estética. A mulher feia é um estado de espírito.

Em uma leitura muito rápida Ju irá dividir com o leitor suas teses, seus primeiros amores desde a pré-escola, passando pelas suas primeiras vezes até o fato de deixar ser subjugada. Aliás, o machismo é bastante presente na vida de Ju, começando em casa com seu pai e seus irmãos e sendo aceito nos homens que vem a conhecer.

Ju nos mostra o lado mais extremo da baixo autoestima. O aceitar qualquer coisa, como se não merecesse nada de bom. Sua turma de amigos classificada como os excluídos. Só que no lugar de ser melancólico e dramático, as situações colocadas são exageradas e engraçadas. Levando-te a gargalhadas reflexivas, afinal, com pouquíssimas exceções, qual mulher não se sentiu feia pelo menos uma vez? Qual mulher não fez uma escolha errada? E atire a primeira pedra quem nunca teve uma diarreia mental pelo homem errado?

Usando a palavra da moda, um livro que mostra que independente dos adjetivos utilizados para definir uma mulher, todas, independente da idade, podem se empoderar e viver plenamente.

A Vida Sexual da Mulher Feia
Claudia Tajes
Editora Agir
2005 – 133 páginas

Outros livros da escritora no blog:
Só as mulheres e as baratas sobreviverão

sábado, 7 de abril de 2018

Morangos Mofados



Sinopse: Conforme Heloisa Buarque de Holanda "Os contos de Morangos Mofados mostram a fé fundamental que iluminou o projeto libertário da contracultura. A fé que orientou o sonho cujo primeiro impulso vem dos 'rebeldes sem causa' de Elvis e Dean; que se define em seguida com a 'grande recusa' da sociedade tecnocrática pelo flower power ao som dos Beatles e dos Rolling Stones; e que ganha, de forma inesperada, uma nova e mágica força no momento em que Lennon declara drasticamente: o sonho acabou."

Um dos livros de maior sucesso do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados são contos divididos em três etapas, finalizando com uma carta onde o escritor conta o seu processo de criação.

Mas vamos por partes.

A versão que eu li é revisada, onde o próprio Caio acredita ter obtido um resultado mais limpo. A introdução é de Heloisa Buarque de Holanda e a dedicatória a vivos e mortos, até chegar à primeira etapa: O Mofo.

O Mofo começa com uma DR (discutir o relacionamento), que como todas está destinada a chegar a lugar algum. A seguir temos um conto com trilha sonora, no título já é solicitado que para embarcar na viagem delirante de referências musicais e religiosas é preciso ouvir Ângela Ro-Ro.

A primeira etapa também tem referências astrológicas, melancolia, solidão e morte, esta última forte e presente em diversos pontos e contos. Como um espelho onde o mofo dos morangos refletissem a decomposição da carne humana.

Morangos é aberto com a necessidade de mudança, passando por referências ao período da ditadura (lembrando que o primeiro lançamento da obra foi 1982). Dedicado a Maria Adelaide Amaral estão duas moças se descrevendo em uma narrativa em primeira pessoa, onde a futilidade pode enganar. Referências a antigas brincadeiras de infância, sonhos e desejos de liberdade, drogas e rock and roll.

E claro, a junção dos dois em um último conto onde a música de Lenon e McCartney entram em sua cabeça e não saem mais.

Sem entregar nenhuma história pode-se dizer que não são contos para se distrair. Eles são psicológicos, filosóficos, musicais, lunáticos. Exigem atenção, carinho, um momento para entrar na realidade de outra época, onde a liberdade era vigiada e as palavras controladas.

O final é a intimidade do autor em uma carta que revela como ele escreveu o livro e suas impressões. Um momento raro em que acompanhamos as emoções e processos, saudades e necessidades.

Morangos Mofados
Caio Fernando Abreu
Editora Agir
2005 – 158 páginas