terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal

Aos amigos dos livros e do blog, desejamos um natal encantado como um conto de fadas, feliz como um romance água com açúcar e maravilhoso como um livro bem escrito.

Que Papai Noel permita a continuidade desse compartilhamento de emoções que é escrever as resenhas dos livros que lemos.


Um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo para todos vocês

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dançando sobre cacos de vidro

Ao ver este livro fui atraída pelo título. Achei poético e fui instigada a saber que tipo de dança era retratada. No resumo, somos apresentados ao Mickey, um homem bonito que sofre um grave transtorno bipolar e Lucy, que mantém contato com a Morte desde os cinco anos, primeiro perdeu o seu pai, depois a sua mãe e possui um controle médico rígido por ter enfrentado um câncer.

Lucy conhece Mickey no seu aniversário de 21 anos, ambos se apaixonam e ela assume o risco de casar com ele. Devido aos problemas de ambos, eles criam várias regras, para fazer a vida a dois dar certo. Mas tudo parece sair do controle quando o destino quebra uma delas e Lucy fica grávida.

Entre as dificuldades normais do casamento, com o acréscimo dos momentos de ausência em que Mickey é internado, existe o bonito laço entre Lucy e suas irmãs. Cada uma com suas características, mas o carinho flui entre as páginas, principalmente nos momentos de preocupação.

A autora Ka Hancock escreveu um livro em que o leitor é obrigado a ter como acompanhante uma caixa de lenço. Não, a história não é piegas, é simples e emocionante. Não é um romance cheio de sexo, embora tenha suas idas e vindas. É sobre o amor, amor de filha, irmã, esposa e mãe. No seu estado mais puro e comum, do nosso dia-a-dia, do que abrimos mão e pelo que lutamos.

É o que muitas pessoas não entendem sobre o casamento. A prática dos juramentos que alguns fazem no altar levados ao pé da letra. É sacrificar tudo por um filho, mesmo quando ainda não o vemos. É superar os próprios problemas e aceitar os presentes que nos são reservados.

A vida é feita de cacos de vidro, mas os cortes dependerão da maneira como caminhamos ou dançamos sobre eles.

Dançando sobre cacos de vidro (Dancing on broken glass)
Ka Hancock
Tradução Regina Lyra
Editora Arqueiro

2012 – 329 páginas

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Laranja Mecânica




Alex é um molodoi, que junto com os seus druguis, invade a casa de cidadãos honestos para krastar, ubivatar e vinte-contra-um. Este bratchni, como todo glupi é nadmeni, o que impede qualquer sentimento de pena quando ele se sente spugui.

No livro de Anthony Burgess, eleito um dos cem melhores romances em língua inglesa do século vinte pela Time, a primeira exigência que se faz ao leitor é que ele comece a aprender a linguagem do narrador. Alex, o menino mau da história, fala nadsat, gíria dos jovens violentos que agem sem dó nem piedade em um futuro tão próximo, que muitas vezes parece ser o presente das nossas manchetes de jornal.

Pode-se dizer que o livro é dividido em três partes: Alex violento, Alex presidiário, Alex amadurecendo. Nas ruas, ele adora música clássica e violência. Cheio de si, a pratica sem piedade, apenas pelo prazer. Na cadeia, em troca de uma liberdade mais rápida, ele aceita ser cobaia de um experimento. A descrição do procedimento de cura, para torna-lo um cidadão de bem, me lembrou de um experimento da série Lost, onde um dos personagens ficava amarrado em uma cadeira assistindo um vídeo, como o personagem do livro.  Mas é o encontro com um antigo membro da sua gangue que o faz rever os seus conceitos e chegar ao início de um amadurecimento.

Narrado em primeira pessoa, pelo próprio Alex, Burgess nos torna íntimo, mas não amigos, do seu personagem. É ver a injustiça na visão do criminoso. A dor por quem a causa.

Um livro atemporal, que nos faz prisioneiros na mente de Alex, nos tornando mais uma vítima impotente de sua ultraviolência. Laranja Mecânica é simplesmente horrorshow.

Laranja Mecânica (A clockword orange)
Anthony Burgess
Tradução: Fábio Fernandes
Editora Aleph
1962 – 199 páginas

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Só as mulheres e as baratas sobreviverão



Dulce tem um encontro com um cara que não é o homem dos seus sonhos, apenas um quebra-galho, mas que serve como distração para a noite de sábado. Ela toma banho e quando vai pegar o seu pretinho básico uma surpresa desagradável à espera: uma barata resolveu descansar na peça.

Neste momento começa o drama da personagem, que fecha o closet e fica enrolada na toalha. Sua aflição vai dividindo espaço com lembranças, mostrando que sua vida não é tão doce quanto o seu nome. Conforme vai criando intimidade com a barata, começa a se dar conta que a mesma é do sexo feminino, e a intimidade a leva ler um pedaço de metamorfose para a nova amiga. 

Usando o medo quase unanime que as mulheres sentem pelas baratas, Claudia Tajes escreve uma comédia leve, onde o inseto acaba virando analista da personagem. Mostra de forma divertida o vazio das relações, quando ninguém aparece para salvar a produtora fotográfica de tão temida figura, nem mesmo o homem que deveria estar esperando por ela parece notar tamanho atraso.

Com escrita leve e fácil, é um livro para desopilar, sua leitura é rápida como um chinelo eficiente, e se bobear, até mesmo as leitoras podem desejar ter essa barata para desabafar seus problemas e dúvidas.

Só as mulheres e as baratas sobreviverão
Claudia Tajes
L&PM
2010 – 125 páginas

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Diário de uma ilusão



Nathan Zuckerman é um jovem judeu que busca abrir o seu caminho profissional. E é isso que o leva até o mestre Lonoff. Enquanto Nathan vive a culpa por ter escrito um conto com base em uma história familiar, a qual provocou a fúria de seu pai e cartas de um juiz, Lonoff precisa administrar o ciúme da sua esposa pela jovem Amy, moça judia que enfrentou a guerra e foi contratada para ajudar na organização do escritor e se apaixonou pelo mesmo, sonhando em viver com ele em Florença.

Em um primeiro momento temos todo o enfoque em Nathan. Através dele é possível ter uma visão da comunidade judaica americana mais conservadora. A rapidez com que deixa de ser o filho que trazia orgulho para virar motivo de vergonha marca a sua personalidade. Mas também há teimosia no jovem, o que gera culpa e uma ideia bizarra de como atenuar a relação com os familiares.

Lonoff não deseja mudar a sua vida, nem trair o seu casamento com uma jovem, e o irônico é que quem precisa dessa amante é a esposa Hope, que se sente secundária na vida do escritor e busca uma desculpa para escapar da sua vida.

Pelo que pesquisei, Nathan Zuckerman é um álter ego do autor Philip Roth, sendo encontrado em outros títulos aos quais não lerei. E aviso que ao iniciar a escrita dessa resenha já estava preparada para as críticas.

O fato é que achei a citação há autores conhecidos, assim como o que levava o personagem Nathan Zuckerman escrever, interessantes. E foi só. Tempos atrás eu li um cronista de jornal dizendo que Roth era chato. Pois bem, Diário de uma ilusão é um porre, começando pelo título nada haver. Nem os momentos de ousadia do personagem me animaram, pois em época de 50 tons de cinza, se masturbar no sofá alheio ou subir em uma mesa para escutar a conversa do outro não chocam mais.

Confesso que só finalizei a leitura por não ter outro livro para ler, mas achei cansativo, sonolento. As páginas eram pesadas e não puxavam a minha atenção. E não me adianta dizer que necessito ler novamente, pois só o farei em caso de insônia, pois 3 páginas era sono certo pra mim.

Diário de uma ilusão (The ghost writer)
Philip Roth
Tradução: Luís Horácio da Matta
Circulo do Livro
1979 – 141 páginas

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Inverno do Mundo




O segundo livro da trilogia O Século começa tenso. É 1933, Maud está morando na Alemanha com o marido e os dois filhos, o casal é opositor ao partido nazista, e começa a sofrer com as primeiras provocações quando recebem a visita de Eth e Lloyd. Os britânicos sentem na pele o preconceito que está por se alastrar, todos os diferentes, isto é: judeus, ciganos, negros, homossexuais, são considerados inferiores pelos loucos de uniforme militar. E o pior, a polícia não faz absolutamente nada para conte-los.

Muitos alemães contrários ao Terceiro Reich não quiseram responder com a mesma a violência, mas ao oferecerem a outra face, acabaram amarrados e presos ao regime que fez estourar a segunda guerra mundial.

Ken Follett novamente distribui os pontos de vista. Nós, leitores, estamos nos Estados Unidos, na Espanha, na França, em Londres, na União Soviética, na Alemanha. Todos os pontos de vista, as mudanças de opinião, as lições não aprendidas, agora vividas pelos filhos dos personagens principais de Queda de Gigantes.

Sofri bastante com Maud e Carla, minhas personagens favoritas. Senti pulsar as dúvidas de Volodya, cujo passado ,guardado com tanto segredo pelos seus pais, começa a bater em sua porta na forma de Greg, outro filho ilegítimo de Lev. Lloyd nos mostra as diversas faces da guerra, assim como os bastidores da subida do partido trabalhista entre os ingleses. O troféu futilidade fica com Daisy, a americana com descendência russa, que almejava brilhar nos bailes da alta sociedade, não me convenceu de sua mudança, sendo o personagem que menos cativou. Assim como Erik, que precisa ser comandado, apoiando sistemas que adotam a ditadura, mesmo depois de viver em meio a tanta dor.

Se no primeiro livro havia uma ênfase aos direitos da mulher, no segundo a pauta é o homossexualismo, mostrado em duas situações: na Alemanha nazista, onde isso se torna arma para espancar e matar pessoa, e na marinha americana, onde um superior menospreza seus subordinados.

Na parte política, além do nazismo já conhecidos por todos, estão os métodos desorganizados e violentos do comunismo, o que torna o comportamento de seus soldados na invasão da Alemanha algo vergonhoso e doentio.

Entre os fatos marcantes estão à criação da ONU, o ataque a Pear Harbor (aqui com forte participação dos Dewar), a espionagem, a criação das bombas atômicas (único ponto que fez com que faltasse uma família no Japão) e a divisão da Alemanha.

Com quase novecentas páginas, a mistura de fatos reais com ficção fazem a história voar. Existe a ansiedade de saber o que vai acontecer. Visto que para o autor, o fato de ser um dos personagens chaves não o torna imortal ou com final feliz garantido.

Recomendo os dois primeiros livros para todos os leitores que amam uma ótima narrativa, e principalmente, para os fãs de história, pois a mistura é perfeita. Quanto a mim, aguardo ansiosa pelo terceiro livro, com previsão de lançamento em 2014.

Inverno do Mundo (Winter of the world)
Trilogia O Século
Ken Follett
Tradução: Fernanda Abreu
Editora Arqueiro
2012 – 875 páginas

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Maneira de ser






A cantora Marina Lima é, sem dúvida, uma das compositoras mais importantes da música brasileira. Por ser uma pessoa poética e intensa, suas canções emocionam, tocam lá no fundo. Quem não gosta de ser traduzido?


Marina é uma mulher a frente de seu tempo, tanto que se reinventa como ninguém. Prova disso é seu primeiro livro, Maneira de ser, que já está na segunda edição — Ed. Ilha. A primeira foi publicada pela editora Língua Geral. A organização do livro é da própria Marina e de Marcio Debellian.      

Em Maneira de ser, Marina deixa registrado suas vivências. A autora aborda suas impressões sobre assuntos que a interessam, como moda, música, família, bichos, e flagrantes do dia a dia, como o acontecimento inusitado do Ibirapuera. Há também curiosidades sobre a vida da cantora e compositora.

O leitor é seduzido desde o princípio, há singularidade em sua escrita. É como se nada estivesse ali por acaso. Seus textos são simples e harmônicos, elementos essenciais que encantam qualquer leitor. Articulada, Marina não apenas conduz, mas dialoga com os leitores, fazendo com que eles se sintam mais próximos da artista — o que torna a leitura ainda mais agradável. Assim, nos damos conta que os assuntos abordados, por Marina Lima, também nos interessam.         

Maneira de ser não é uma biografia. Tampouco tem propósito literário. A escritora denominou a obra como um "diário de afetos". Eis outro ponto positivo do livro: a criatividade artística. Além disso, há todo um cuidado estético. A diagramação da obra é simples, porém sofisticada. Maneira de ser não é apenas mais um livro a ser adquirido. Após a leitura do livro em questão, caro leitor, você irá constatar que ele não merece ir para a estante, mas para a cabeceira.

Marina não somente compartilha, mas acrescenta. Intensa e verdadeira, assim como sua obra, e sua maneira de ser.