terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O Maravilhoso Bistrô Francês



O copo de Marianne está cheio.

Cheio de tristeza, cansaço, baixa autoestima, falta de amor, falta de si mesma.

O desespero é tão grande que ela sobe na Pont Neuf para se atirar nos braços da morte. Ironicamente o que parecia o fim é apenas o começo para ela descobrir quem realmente é.

Como ocorre com A Livraria Mágica de Paris, o personagem principal de Nina George não é uma mulher jovem de idade, mas se torna de espírito em suas aventuras. E é ela que nos levará até a Bretanha e suas lendas e crenças, que inclui a Fada Morgana e o mundo misterioso de Avalon (o que pode levar o leitor a recordar da série As Brumas de Avalon).

O livro é maravilhoso por mostrar uma relação sem amor, às antigas regras da sociedade que colocam a mulher em uma posição de submissão, trancando a sete chaves os seus desejos para ser aceita pelos demais. Os questionamentos de Marianne, suas idas e voltas, seus complexos, fazem qualquer mulher entender os motivos de cada uma de suas ações e confusões.

A leitura é maravilhosa por mostrar toda uma transformação de redescoberta, onde vida e morte andam em paralelo, nos lembrando de que não existe o dia de amanhã, que para ser feliz é preciso domar as rédeas do próprio destino.

Piegas? Em nenhum momento. Talvez na etapa final tenha um momento um tanto inverossímil, mas nada que diminua todo o encanto da narrativa.

Além de Marianne há histórias paralelas de todas as formas de amor, onde força e covardia dividem espaço, algumas com mais profundidade, outras de forma superficial.

Conclusão de tudo me apaixonei pela narrativa de Nina George, e a cada livro finalizado tenho vontade de pegar um avião e me perder pelo interior da França.

O Maravilhoso Bistrô Francês
Die Mondspielerin
Nina George
Tradução: Petê Rissatti
Editora Record
2011 – 279 páginas

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

A Praça do Diamante



“Mas ela me fez acompanha-la querendo ou não, porque eu era assim, sofria se alguém me pedia alguma coisa e eu tinha de dizer não.”

Na primeira página do primeiro capítulo Natália descreve a sua personalidade com a simplicidade e até mesmo uma ingenuidade com a qual ela irá levar o leitor por todas as páginas do livro.

Seus sims irão selar o seu destino, e o resultado disso pode tanto entediar como encantar quem acompanha a sua história.

No meu caso a personagem me cativou, vi perder sua identidade para ser a Colometa de Quimet, um homem que podia ser encantador ou cruel conforme a sua necessidade. Ser engolida pela guerra civil espanhola em um total desamparo e miséria. 

Mercè Rodoreda, assim como Raquel de Queiroz em Três Marias, empresta parte de sua biografia para a personagem. O espelhamento entre os pombos e Natália (cujo apelido Colometa significa pombinha em catalão) permitem sentir o aprisionamento da personagem em um casamento que lhe suga até a alma. Sua incapacidade de dizer Não é a chave para uma loucura que como ondas podem puxa-la ao fundo ou devolve-la de soco para a areia.

Ao mesmo tempo ela é uma mulher que está sempre buscando forças, mesmo que seja o toque em uma balança desenhada em um corrimão. Ao ver-se sem dinheiro, ela vai em busca de trabalho, e toma decisões difíceis ao se ver no limite da sobrevivência.

A Praça do Diamante não é para chorar, mas para refletir. Os perfis psicológicos ali traçados misturados com o momento histórico são narrados de forma delicada e cuidadosa, mesmo em momentos que podem provocar aflição no leitor.

A Praça do Diamante
La plaça del Diamant
Mercè Rodoreda
Tradução Luis Reyes Gil
TAG – Planeta
1965 – 253 páginas