domingo, 26 de junho de 2011

A Caixa-Preta

Após 7 anos, Alex recebe uma carta de sua ex-esposa Ilana, onde entre detalhes de sua rotina, acusações e fragmentos de lembranças passadas, ela lhe comunica que o filho Boaz não está bem. A primeira reação do ex-marido é responder lhe enviando dinheiro e solicitando paz, mas isso é apenas o início de uma intensa troca de cartas e telegramas entre Alex, Ilana, Michael (atual marido de Ilana), Boaz (filho de Ilana e talvez Alex), Manfred (advogado) e Rahel (irmã de Ilana), além de outras pequenas participações.

O surpreendente neste romance de Amós Oz (Companhia das Letras, 267 páginas) é a forma como ele cria a identidade de cada personagem através do que eles escrevem. As características não são repassadas por um narrador, mas pelos fatos, ironias e tristezas que eles acabam trocando ao longo do tempo. Permitindo ao leitor conhece-los por eles mesmos.

E como em uma caixa-preta, a cada nova correspondência enviada, surge detalhes e complementos que fazem entender, ou pelo menos compreender, o comportamento dos personagens.

Para mim, o livro foi uma grata surpresa, pois além da história envolvente, as diferentes vozes narrando, ele trás um panorama de Israel na metade do século XX, permitindo ter uma pincelada das discussões sociais, religiosas e políticas.

Leitura obrigatória para todos os que gostam de uma história bem contada.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Jovem Törless



Tão logo se abre o livro, o leitor se depara com uma citação de Maurice Maeterlinck “Tão logo expressamos uma coisa com palavras, e estranhamente ela como que se desmoraliza”.

A história começa com Törless e seus colegas circulando pela cidade antes de irem para um famoso internato, é nesse passeio que Basini, um personagem chave, é citado pela primeira vez.

No decorrer dos fatos é possível viver a confusão de Törless no que se refere a sua personalidade e sexualidade, e o fazem filosofar sobre matemática e religião.

Mexendo com Törless e fazendo com que este viva os desejos que tanto se envergonha, esta Basini, um rapaz franzino de poucos recursos financeiros que sofre, nas mãos de outros dois jovens, Reiting e Beineberg, que usam o colega para realizar rituais sádicos e testar suas teorias.

Neste pequeno mundo burguês, onde poder, dinheiro e sexo são moedas fortes, as figuras são raras, sendo que em um determinado momento é á própria versão adulta de Törless que surge ao leitor.

Recordando que Robert Musil publicou este livro em 1906 e ele é autobiográfico, observa-se que os mais castos nos dias de hoje ainda podem se apavorar com as cenas de violência e homossexualismo escondidos em um tradicional colégio.

“O Jovem Törless” é mais uma prova que livros são atemporais, e que problemas e situações tão discutidas hoje já estavam presentes no início do século passado.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Como se moesse Ferro



Ganhador do Prêmio Açorianos de Literatura em 2000, “Como se moesse ferro” (WS Editor, 125 páginas) reúne contos do escritor gaúcho Altair Martins.

O primeiro conto, que dá o título ao livro conta à história de Ferraz, uma mistura de trabalho, amor e ciúme que envolvem a rotina desse ferreiro.

Em “Chefe de Família” temos um final de sexta-feira e o desempregado João Aberlado está bêbado, o que torna tudo propício a um grande erro.

“Advertência” aperta o coração e provoca agonia. Frases como “engole a saliva com gosto de pilha”, “o vestido branco que sonhou, igual ao da Barbie”, “Ninguém lhe dá satisfação, ninguém lhe respeita” vão tirando os pés do leitor do chão.

Em vários contos, logo após o título há uma frase de autores como Saramago, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade que preparam o leitor para alguma história do cotidiano cujo final é semelhante há uma bofetada.

O livro é um convite a embarcar neste trem de histórias, que embora separadas, estão costuradas sob o olhar na alma humana em diversas situações nem um pouco estranha para os que se aventuram a viajar por suas páginas.

domingo, 5 de junho de 2011

Atlantis

Jack Howard é um arqueólogo marinho que durante um mergulho em busca de um naufrágio do tempo de Homero se depara com a chave para a localização da cidade perdida de Atlântida. Só que a descoberta que deveria ser motivo de comemoração vira um jogo de vida ou morte ao despertar interesses de terceiros.

Para complementar a ficção o autor David Gibbins disponibiliza no final de Atlantis (Planeta, 438 páginas) uma nota para esclarecer o que é plausível e um glossário com siglas e termos do cenário arqueológico.

Inicialmente eu achei a história fantástica, mas em determinado momento da leitura ela parece ter uma quebra, caindo em clichês e tornando a sua finalização um alívio. Na contracapa são feitas inúmeras referências a Dan Brown, mas o excesso de herói estereotipado de Jack Howard tornou uma idéia muito boa em apenas mais uma aventura.