terça-feira, 30 de novembro de 2021

Casa de Alvenaria - Volume 1: Osasco



Sinopse: Neste primeiro volume, Carolina narra os meses em que morou em Osasco, entre agosto e dezembro de 1960. Por meio deste testemunho precioso, acompanhamos a repercussão de seu primeiro livro, as viagens de divulgação e o contato frequente com a imprensa e com os políticos. Dessa narrativa do cotidiano, e entremeadas às contradições de seu tempo, emergem digressões e reflexões que permanecem mais atuais do que nunca.

Casa de Alvenaria faz parte dos conjuntos de diários de Carolina Maria de Jesus, que é considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século XX. Mineira de nascimento que morou quase toda a vida em São Paulo, alcançou sucesso nacional e internacional ao revelar como era a sua vida morando na favela no livro Quarto de despejo. Sucesso que desagradou seus vizinhos e a fizeram ir junto com os seus três filhos para Osasco, em uma casa alugada provisoriamente até ela ter condições de comprar sua própria moradia.

Em plena divulgação e atendendo a um pedido do repórter Audálio Dantas que descobriu a sua escrita e passou a ser seu agente literário, ela passou a escrever um diário de sua nova vida, agora morando em uma casa de alvenaria, com comida na mesa e muitas viagens.


Ela diz: agora nós somos ricos porque temos o que comer até encher a barriga.


O volume um se refere justamente a este tempo que Carolina e seus filhos moraram em Osasco, narrando o período de 30 de agosto de 1960 até 20 de dezembro de 1960, véspera de natal.

Eu desconhecia a escrita de Carolina, ainda não li Quarto de despejo, e a primeira coisa que me chamou a atenção foi a desenvoltura em escrever tendo frequentado apenas dois anos a escola regular, e tendo se desenvolvido através da leitura, em muitos casos, através dos livros encontrados nas casas em que trabalhava. Tornando-a autodidata.


Pensei: ah dinheiro... invenção diabólica e enigmática que escraviza o homem e liberta o homem.


O diário que começa com a saída conturbada da favela, logo nos mostra uma Carolina ora deslumbrada ora exausta com sua nova vida. É recorrente ela comentar com os outros que tem dinheiro, e isso acaba atraindo todo o tipo de pessoa na sua porta, tentando tirar algo dela.

É gente querendo comprar casa, comprar carro, montar um negócio. E ao ver os valores em reais é fácil para o leitor identificar que sim, ela estava muito melhor de vida do que na época da favela, mas longe de ser rica para atender a todos os urubus que batiam em sua porta.


Não me preocupei com as confusões porque a humanidade é tão nojenta que é melhor silenciar-se diante de certas atitudes.


Também pela sua escrita se nota o racismo pulsante, seja através da empregada branca que sente raiva de ter uma patroa negra e se nega a beber em um copo da sua casa, seja de um homem que corrigi as vírgulas da sua dedicatória, seja nas mesas chiques em que ela se senta nos conceituados restaurantes ou nos hotéis em que se hospedou na época. Ou até mesmo em sua nova vizinhança, onde os filhos são espancados durante a sua ausência, em uma clara rejeição de sua presença no local.

Em contrapartida ela é vista como um amplificador de voz para negros e pobres, que com frequência pedem para que ela inclua determinado relato em seu diário, com a expectativa de que o fato seja conhecido e reconhecido por aqueles que tem algum poder e assim solucionado as questões que vão da fome, da falta de condição básica ao fechamento de uma banca de livros.


O mundo é bom só até os trinta anos. E Jesus morreu com trinta e três.


Como qualquer ser humano, Carolina também expõe suas contradições, como alguns comentários machistas e generalistas - embora ela seja facilmente um exemplo de mulher independente que toca a vida sem um marido do lado -, ou as vezes que exagera no que acredita saber, como no caso da visita aos doentes de câncer em que diz já existir remédio. 

Mas o que mais me chocou durante a leitura foi o agito que transformaram a vida dela, como uma boneca de pano ela é jogada de um lado para o outro, podendo estar em três estados em um mesmo dia. Ninguém pergunta se ela está de acordo com a agenda, se precisa se organizar com os filhos, que devido à mudança nem estão mais frequentando a escola. 


A minha vida está confusa. Eu não tenho tempo para ler, e eu tenho tantos livros.


O trabalho de divulgação do seu livro Quarto de despejo foi no mínimo extenuante, onde além das sessões de autógrafos, havia encontro com empresários, políticos, entrevistas na TV e publicidade. Não sendo raro ela sentir o impacto do sono e do cansaço.

Para o leitor é acompanhar um pedaço da história do Brasil sob o olhar de Carolina, que opina livremente sobre o que admira e o que discorda no comportamento apresentado pelos poderosos. Opinião esta que a faz temer um pouco a publicação do novo diário, pois se o primeiro gerou pedrada, os agora criticados podem lhe atirar balas.


Comparando os políticos da atualidade com o saudoso Dom Pedro, ele foi mais distinto.


Um livro para quebrar a bolha de quem vive longe da pobreza e entender como o país funciona para quem não tem nada, para admirar toda a persistência e superação que Carolina atinge usando uma caneta, para refletir como tudo é mais amplo que o nosso umbigo.

Deixo ao final uma observação, a edição da Companhia das Letras mantém a grafia original da autora, isto é, não fez nenhuma correção gramatical. Como sei que alguns leitores se incomodam com isso, optei em incluir esta informação, embora ache que em nada desabone o livro, pelo contrário, torna Carolina ainda mais viva para os leitores.

Casa de Alvenaria - Volume 1: Osasco
Carolina Maria de Jesus
Companhia das Letras
2021 - 220 páginas

Esta edição faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Crônicas de Petersburgo


Sinopse: Há muitas maneiras de ler este livro. Uma delas é reconhecer no texto que Dostoiévski redigiu na juventude alguns traços de estilo - a dicção veloz, a mescla de registros, a análise psicológica aguda - que mais tarde se tornariam marcas inconfundíveis do autor de Crime e Castigo. Outra é simplesmente se deixar levar pelas mãos do escritor, que apresenta ao leitor sua cidade.

Eu nunca havia lido nada do famoso escritor russo Fiódor Dostoiévski, então quando o livro Crônicas de Petersburgo foi oferecido como mimo para renovar a minha assinatura anual da TAG Curadoria, meus olhos imediatamente brilharam.

O livro é relativamente curto, e começa com o Prefácio da tradutora e professora de Língua e Literatura Russa Fátima Bianchi, para depois seguir uma apresentação do almanaque O Trocista e cinco crônicas do ano de 1847, todos escritos pelo autor.

Prefácio

Fátima Bianchi compartilha com o leitor toda uma explicação sobre o autor Fiódor Dostoiévski, da sua inspiração inicial em Balzac, o que motivou o escritor ser um seguidor da Escola Natural, as obras escritas, até o surgimento de dívidas que o obrigaram a ceder e a escrever sob encomenda.

Tudo com referências bibliográficas complementares, o que auxilia os mais curiosos a pesquisarem mais.


Com a reputação quase destruída, ele abandona todos os trabalhos iniciados e passa praticamente o ano inteiro de 1847 desaparecido da vida literária.


O Trocista

Projeto literário de Nikolai Nekrássov, O Trocista era para ser um almanaque humorístico, mas este foi censurado antes de ter a chance de ser publicado. como recordação ficou a apresentação realizada por Dostoiévski, que praticamente transforma a publicação em uma espécie de pessoa, ao qual pela descrição desperta a vontade de conhece-la. 


E eis que já julgaram e condenaram, senhores; condenaram sem ouvir! Esperem, ouçam!


Crônica 13 de abril de 1847

O texto escrito em parceria provável com Aleksei Pleschêiev por não ser assinada começa falando dos impactos da mudança de estação pela cidade de Petersburgo, até chegar a comentários sobre literatura e ópera, onde ocorre um certo deboche nas tentativas da sociedade local em imitar a Europa e finaliza com uma forte crítica aos filantropos.


Mas a época do amor e a época da poesia não chegam ao mesmo tempo, diz o poeta, e graças a Deus que é assim.


Crônica 27 de abril de 1847

Como um fio de lã puxado por um gato, a crônica começa falando da primavera, depois dos moradores de Petersburgo e a aqui perturbadora pergunta Quais são as novas?, passando pela citação de um personagem que irá aparecer em dois contos seus no ano seguinte até os detalhes de uma novela que ele está lendo, tudo com muita ironia e pequenas observações sobre a sociedade.


Mas eis que enfim saiu o sol e essa novidade, indiscutivelmente, vale mais que qualquer outra.


Crônica 11 de maio de 1847

Na primavera a fofoca vestida de novidade é aceita alegremente entre os moradores de Petersburgo, que somadas aos gastos desnecessários de uma pobre sociedade rica, formam a tônica de um texto crítico as classes mais altas.


Ao fato de que, num momento tão solene, o homem de Petersburgo toma consciência de toda a sua dignidade, de toda a sua importância, e faz plena justiça a si próprio.


Crônica 1 de junho de 1847

Com a proximidade da chegada do verão começa o abandono da cidade, e aqui Dostoiévski começa a lista sobre o que poderiam fazer os que ficam, seguida de uma reflexão da visão negativa dos estrangeiros em relação a Petersburgo, o que desencadeia os motivos pelo fato de eles ousarem ser diferente, as mudanças de mentalidade até chegar aos avanços científicos e literários, além de comentar sobre a vontade de todos expressarem suas opiniões.


Há moradores de Petersburgo que não saem de seu quarteirão há uns dez anos ou mais e só conhecem bem o caminho para a repartição onde trabalham.


Crônica 15 de junho de 1847

A última crônica é uma série de divagações sobre os moradores da cidade de Petersburgo, da sua relação com o trabalho, retornando a fuga no verão, a preguiça, a tristeza e os que sonham. O incrível nesta crônica é que várias das descrições podem ser aplicadas as pessoas no dia de hoje, indicando que temos uma evolução muito mais material do que humana.


Sempre despetalamos e despedaçamos a flor para sentir melhor o seu perfume, e depois ainda nos queixamos quando, em vez do aroma, só experimentamos um inebriamento.


O que eu achei

Eu gostei bastante deste livrinho curto, que me despertou o desejo de ler outros livros de Dostoiévski, pois me agradei muito da sua escrita direta, com pitadas de ironia, opinião e história. 

Através das suas crônicas me senti caminhando na rua de Petersburgo observando de perto a sociedade de 1847, e fiquei curiosa em saber como é a cidade hoje, o que ela poderia guardar das visões do autor, o que mudou, o que segue igual, o que foi valorizado e o que terá sido esquecido.

Um livro de leitura rápida que pode dividir tranquilamente o tempo de leitura com um romance mais denso, sem que o leitor em questão se preocupe em misturar as histórias.

Ficando a dica para quem tem vontade em conhecer os escritos de Dostoiévski, para quem gosta de literatura russa, e naturalmente para quem curte viajar sem sair do lugar.


Crônicas de Petersburgo
Peterbúrgskaia Liétopis
Fiódor Dostoiévski
Tradução: Fátima Bianchi
TAG - editora 34
2020 - 95 páginas



quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Aprender a falar com as plantas


Sinopse: Paula é uma médica neonatologista, imersa no trabalho, que leva a vida sem muito sobressaltos. Até o dia em que perde o companheiro num acidente de trânsito algumas horas depois de receber a notícia de que ele tinha outra mulher. Então Paula precisa lidar com o luto dobrado, a dor da traição e o rancor, tudo isso num apartamento repleto das plantas deixadas por ele. E o rastro de uma mulher vista no hospital é o último laço com um homem que passou quinze anos ao seu lado e deixou de existir de forma súbita e bruta.

No mês de outubro/21 a TAG Curadoria trouxe uma indicação da escritora brasileira Socorro Acioli, que me apresentou a autora catalã Marta Orriols e o seu Aprender a falar com as plantas. O mimo foi um kit de sementes.

Paula é uma médica dedicada com um grande sentimento de proteção em relação aos bebês prematuros que estão aos seus cuidados. Aos 42 anos tem um laço forte com o pai e saudades da mãe que morreu quando ela tinha sete anos de idade.


Estávamos vivos. Os atentados, os acidentes, as guerras e as epidemias não nos concerniam.


Uma verdadeira workaholic consegue conservar três grupos de amigos: os do trabalho, os da faculdade e os que vieram com Mauro, o homem que conseguiu quebrar as suas barreiras sobre morar junto, mas não sobre oficializar a relação ou ter filhos.

Tudo parece estável, dentro de uma rotina, quando ele a chama para almoçar e lhe comunica que a está deixando por outra mulher. Mais tarde ela é surpreendida por um telefonema do melhor amigo de Mauro lhe informando que este foi atropelado e foi encaminhado em estado grave para o hospital. Local em que ela vai ter que equilibrar seus sentimentos junto com as presenças da família do parceiro e da amante até então desconhecida.


A lembrança da morte da minha mãe ficou vinculada para sempre à letra branca de giz sobre o verde da lousa que dividia o reino animal em dois.


E é com estes dois finais abruptos em poucas horas que ela precisa lidar e recomeçar, já que não sabe mais pelo que chora, se pelo fim do relacionamento cujas conversas com a amante agora pode acompanhar em detalhes no celular do falecido ou pela morte do companheiro de longa data.

Dividindo a história em Antes e Depois a escritora catalã Marta Orriols utiliza a narração em primeira pessoa para colocar o leitor dentro da mente de Paula e assim compartilhar suas memórias e sentimentos. E é através dos olhos de Paula que percorremos as ruas de Barcelona enquanto ela corre ou simplesmente comenta as características dos bairros.


Morrer não é místico. Morrer é físico, é lógico, é real.


Um ponto curioso foi a opção dos tradutores em deixar as falas da enfermeira Pili no original, não é nada que atrapalhe a leitura, pois são frases de fácil entendimento, mas confesso que estranhei um pouco este fato.

Aprender a falar com as plantas é um livro sobre o luto, a morte, a solidão e como é difícil recomeçar. Ao mesmo tempo que lança questionamentos como o do porque muitas mulheres abandonam as suas verdadeiras escolhas para se adequar ao desejo dos seus parceiros, de como a morte também pode ser uma libertação para quem fica, se a pessoa estiver disposta a enxergar o que não lhe atendia a muito tempo.


Você estava morto e eu pensei que era um pau-mandado.


É também sobre onde estávamos quando a notícia nos atropelou, nos deixando sem reação e com uma marca invisível e eterna no calendário. De como administrar a dor dos que nos rodeiam, quando não sabemos lidar com a própria. Sobre não tornar santo quem nos magoou, e tentar apenas esquecer e perdoar.

A relação com os que estão a volta também é um assunto abordado na história. Sentimentos como o sufocamento aparecem tanto no presente quando as pessoas ao redor ora parecem querer assistir a sua dor e ora ficam cobrando uma volta por cima. Quanto no passado. ao relembrar as cobranças da família de Mauro em relação a filhos e as ligações persistentes da sogra que desconhece que o seu filho já havia trocado de parceira.


Como se todo aquele ódio e aquela raiva impregnados na minha saliva fossem o que matou ele.


O que ninguém consegue entender é que a sua dificuldade de retomar a vida é dobrada, já que Paula não compartilha a traição de Mauro, pois ela chora pela morte e pela mágoa que o falecido lhe causou. Incluindo questões de comparação com a outra mulher em relação à idade, características físicas e o próprio relacionamento, ficando claro em sua mente que mais do que paixão ele também procurava por um filho.

Tudo isso em uma casa cheia de plantas que eram cuidadas com muito amor por Mauro, mas não chamando a atenção de Paula da mesma forma. Transformando o jardim em um espaço de recordação vivida do parceiro que de qualquer maneira não iria voltar. 


Na realidade, o choro não tem uma função fisiológica concreta, mas é um efeito secundário da estimulação do sistema nervoso.


Em paralelo acompanhamos um pouco dos bebês que estão na neonatal, principalmente de Mahavir, cuja torcida por sua sobrevivência é inevitável. Sendo uma parte bastante sensível da história.

No geral foi uma história que gostei, achei a escrita da Marta Orriols de fácil leitura, embora a história seja bastante triste, pois o tempo inteiro está se falando de administração de perdas enquanto a personagem tenta se reencontrar. E isso a torna muito humana, com atitudes que podem gerar tanto simpatia quanto questionamentos de por qual motivo ela está seguindo aquele caminho.


Deveria ser possível esquecer no mesmo momento em que se toma a decisão de esquecer. Esquecer deveria ser imediato, senão lembrar se torna uma degradação, um ato de resistência.


Ficando a dica para quem gosta da escrita catalã, para quem procura livros cujo assunto é o luto, ou como sempre escrevo, para quem simplesmente gosta de ler.


Aprender a falar com as plantas
Aprende a parlar amb les plantes
Marta Orriols
Tradução: Beatriz Regina Guimarães Barboza e Meritxell Hernando Marsal
TAG Curadoria - Dublinense
2020 - 240 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autor da resenha.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Última Parada



Sinopse: Aos vinte e três anos, August Landry tem uma visão bastante cética sobre a vida. Quando se muda para Nova York e passa a dividir um apartamento com as pessoas mais excêntricas - e encantadoras - que já conheceu, tudo o que quer é construir um futuro sólido e sem surpresas, diferente da vida que teve com a mãe. Até que Jane aparece. No vagão do metrô, em um dia que tinha tudo para ser um fracasso, August dá de cara com uma garota de jaqueta de couro e jeans rasgado sorrindo para ela. As duas passam a se encontrar o tempo todo e logo se envolvem, mas há um pequeno detalhe: Jane pertence, na verdade, aos anos 70 e está perdida no tempo - mais especificamente naquela linha do metrô, de onde nunca consegue sair.

No mês de outubro/21 recebi pela minha assinatura da TAG Inéditos o livro Última Parada, livro norte americano escrito por Casey McQuiston. O brinde foi uma nécessaire pequena.

August é uma jovem adulta criada por uma mãe solo e cresceu sendo orientada para não depender de ninguém. Ela passou grande parte da vida auxiliando na busca pelo tio desaparecido, ao qual a mãe busca informações frequentemente com a polícia que ignora o caso.

Neta de uma família rica, ela não possui contato com os avós, tendo como único laço de sangue a figura materna, ao qual possui uma relação bem conturbada.


O lugar é assim: um misto de familiar e completamente estranho.


Confusa sobre que profissão seguir, já trocou de curso universitário diversas vezes, e nesta busca sobre si, vai parar em Nova York, onde responde um anúncio interessada em alugar um quarto, e mais do que um teto, ela vai encontrar pela primeira vez amigos.

Para complementar a mudança, ela acaba se apaixonando por uma outra jovem no metrô, após esta lhe dar um cachecol para auxilia-la a esconder as manchas do banho de café recém tomado. Seu nome é Jane e ela parece irradiar simpatia.


Foram vinte e três anos de passagem, tocando tijolo após tijolo, sem nunca sentir um laço permanente.


Só que o seu conhecimento de detetive, que ela tanto despreza, logo se demonstrará útil, ao constatar que Jane está sempre com as mesmas roupas e na mesma linha, independente do horário. O que faz surgir a dúvida: o que Jane é?

Em a Última Parada Casey McQuiston utiliza personagens que em sua maioria pertencem a comunidade LGBTQIAP+, mostrando diversos perfis em sua narrativa em terceira pessoa.


A parte dela que diz: não confie em ninguém, muito menos naqueles que tentam entrar nas câmaras de seu coração.


A premissa da história é bacana, mas a mistura de casos de família com 50 tons de cinza tornou o enredo extremamente enfadonho, e foi só pela curiosidade em saber o que iria acontecer com Jane que me fizeram terminar a leitura.

Para começar existe uma mistura de assuntos que poderiam ser bem mais explorados e passam superficialmente pela história, como relações familiares, o preconceito ao descobrir que alguém não é o que uma pessoa conservadora espera – principalmente quando se trata na relação pais e filhos-, as dificuldades em se relacionar, as dúvidas que assolam quem não consegue se encontrar, o desaparecimento de uma pessoa amada e claro a viajante do passado.


É fácil saber quem você é quando se toma a decisão um dia e nunca mais muda de ideia.


Somado a isso a protagonista August parece ter muito mais treze anos do que vinte e três, perdida e sem rumo, parece não ter foco nem responsabilidade na vida. Jogando tudo na conta de sua mãe, como uma criança birrenta que vive em volta do próprio umbigo.

Aliás, se não fosse August, o livro poderia ser bem melhor. A turma do edifício onde ela aluga o quarto é muito divertida, e os diálogos entre eles garantem momentos de descontração. E tem a lanchonete cheia de histórias no bairro, ao qual a turma se reúne para comer e colocar o papo em dia.


Só sabia que era diferente, e eu e meu pai brigávamos, e minha mãe chorava, e eu me sentia um lixo o tempo todo.


O que já me fez pensar que quem deveria ter encontrado Jane no metrô era o Niko, que é médium, e assim a turma do prédio e da lanchonete poderia ter juntado as peças para desvendar o mistério... sim, eu sei, estou reescrevendo a história. Mas de fato pra mim eles são a melhor parte da narrativa.

Aliás, adorei as festas que eles organizam, e em meio a pandemia, deu mais vontade de sair para dançar em um lugar com música boa e gente alto-astral, assistir aos shows das drags curtindo um drink gelado e espetacular.

Falando em música, são inúmeras as referências musicais dos anos 70, o que pode gerar uma playlist surpreendente para quem gosta de ler escutando música.


Tenho que lidar com as escolhas que fiz, e não tenho como consertar.


Outro ponto positivo são que alguns fatos relacionados são reais, como o incêndio em uma boate gay, que ocasionou em várias mortes, e o apagão em Nova York, que deixou a cidade às escuras.

E antes que venham me jogar pedras alegando que o meu não gostar seria relacionado a algum preconceito, informo que mesmo que o casal fosse hétero eu teria literaturado o livro, da mesma forma que literaturei o já mencionado 50 tons de cinza.


"Às vezes a gente tem que sentir certa coisas justamente porque elas merecem ser sentidas."


E uma das razões é que quando estava prestes a abandona-lo eu apliquei a leitura dinâmica no mesmo, pulando diversas páginas, e ao retornar a leitura não havia me perdido em nada, procedimento que fui adotando durante o resto da leitura e mesmo assim levei cinco dias para finalizar. O que demonstra uma escrita arrastada, ou como dizem na minha terra, com muita encheção de linguiça e pouco conteúdo.

Mas como eu acredito naquele antigo ditado popular que afirma que gosto não se discute, pode ser que você tenha uma opinião completamente diferente da minha. E por isso deixo aqui como dica de leitura, principalmente para quem busca personagens LGBTQIAP+ como principais, curte as referências aos anos 70, adora cenas detalhadas e demoradas de pegação e claro, quer brincar de detetive para descobrir se Jane é um fantasma ou a versão literária de Marty McFly em De Volta para o Futuro


Última Parada
One Last Stop
Casey McQuiston
Tradução: Guilherme Miranda
Tag Inéditos - Seguinte
2021 - 395 páginas

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terça-feira, 9 de novembro de 2021

A extinção das abelhas



Sinopse: Regina foi criada pelo pai, que faleceu quando ela começava a entrar na vida adulta - a mãe fugira com o circo quando ela ainda era criança. As vizinhas, Eugênia e Denise, cuidam dela como podem, oferecendo afeto, dinheiro e uma vida em família que lhe faz falta. O círculo se completa com Aline, filha do casal e amiga-irmã de Regina. Na seara amorosa, seu relacionamento mais estável foi com Paula, professora universitária com quem se envolvera e que nunca quis nada sério. Quando o mundo começa a desabar, na esteira do uso desastrado de pesticidas agrícolas, Regina vê todos a sua volta indo embora, e começa a questionar até que ponto está disposta a enfrentar os próprios medos para se adequar a uma nova realidade.

A escritora gaúcha Natalia Borges Polesso leva o leitor para o futuro em um Brasil pré-apocalíptico, onde narra em paralelo a história da mãe e da filha.

A filha é Regina, uma mulher de 40 anos criada pelo pai deste que ambos foram abandonados pela sua mãe, ao qual desconhece se está viva ou morta. Apesar de formada, ela não encontra emprego em lugar nenhum, precisa pagar para receber a insulina que deveria ser gratuita e acaba se tornando stripper virtual para ganhar algum dinheiro e assim seguir com seus sustento.


As pessoas vão embora, e isso é uma realidade.


Extremamente ansiosa direciona tudo para a comida e leva uma vida relativamente reclusa, salvo Denise e Eugênia que estão sempre prontas para ajudá-la. Mas isso não evita que ela as julgue por terem uma situação financeira melhor. E assim muitas vezes se mostra contrária aos conselhos recebidos, o que gera algumas dificuldades extras em sua vida solitária.

Já a mãe, chamada Guadalupe, divide com o leitor a sua ânsia de buscar por novos mundos, fazendo com que frequentemente ela abandone a todos os que estão à sua volta para recomeçar em outro ponto. 


As pessoas dizem que eu devia parar de fumar, parar de beber, maneirar na gordura, no pão branco, no açúcar, mas como é que se faz isso?


É uma alma livre em relação a laços, sexualidade, padrões, tradições. E talvez por isso não se consiga pensar em julgá-la por ter abandonado uma filha, pois fica claro que aquela é a natureza dela, e impedir isso seria matá-la.

A Extinção das Abelhas é um livro dividido em três partes, nos quais a autora escolheu diferentes formas de contar a sua história, deixando claro o início e o fim de cada fase da narrativa. 


Mas a primeira coisa que ela disse quando me viu foi que, se as abelhas entrassem mesmo em extinção, o mundo ia acabar.


Na primeira parte as últimas frases dos capítulos não possuem ponto final, deixando um link para o título do próximo capítulo ou simplesmente uma ideia não completada, como um pensamento que se perde ou uma conversa interrompida. Não me lembro de ter lido algo parecido antes e achei o recurso muito interessante, pois me impulsionavam automaticamente a seguir com a história.

Na segunda parte os capítulos misturam notícias reais - algumas facilmente verificadas em uma rápida consulta ao Google - com a de um futuro não muito distante e bastante conturbado, com fechamento de fronteiras, lockdown de estados colapsados, cidades que se tornam verdadeiros lixões e a chegada de um segundo sol que impede o anoitecer e assim o sono profundo que nos faz descansar. O que me fez ficar com a voz da Cássia Eller durante toda esta parte cantando a composição O Segundo Sol do Nando Reis em minha mente.


Ser adulta era saber chorar as coisas, saber que não se pode pagar por tudo, que às vezes não se pode pagar e ponto.


Na terceira e última parte os capítulos são de fechamento, contanto ao leitor o destino de Regina e Guadalupe após o colapso total.

Além disso é possível dizer que os capítulos são relativamente curtos, tendo alternados conforme a necessidade o uso de primeira e terceira pessoa complementam a imersão da história.


Eu quis fazer tudo o que me daria prazer verdadeiro, eu acreditava.


Algumas curiosidades da história é que a personagem mora no estado do Rio Grande do Sul, e quase todos os relacionamentos retratados são homossexuais femininos, o que abre espaço para discutir uma maior perseguição as lésbicas neste futuro nem tão distante onde o mundo se tornou o caos, com violência injustificada, estupro de mulheres e dificuldade inclusive de atravessarem as fronteiras de países vizinhos.

Na história também fica claro que todas as vozes são de mulheres, os personagens masculinos são secundários nos assuntos abordados, é um pai, ou empresário, o dono da venda, o cliente, figuras que orbitam ao redor de uma trama onde dores, resiliência e sonoridade são as palavras chaves neste universo feminino.


Memórias de dias em que eu podia me dar o luxo de jogar metade do café fora porque não tinha fome nem preocupações.


Como ocorre em O deus das avencas do Daniel Galera, toda a mudança política no Brasil parece ocorrer após a eleição de 2018. Mas aqui o tempo ocorre depois, já houve outras eleições, e no tempo atual de Regina o presidente da história é um ex-apresentador casado com uma apresentadora infantil - facilmente identificado pelos leitores atuais, que talvez fiquem mais aliviados durante a leitura por saberem da troca de emissora do Faustão.

Eu, que desconhecia a escritora, particularmente achei o livro bem interessante, primeiro por observar, não só na escrita da Natalia Borges Polesso, como em outros livros que surgiram de 2020 pra cá, como a pandemia trouxe à tona uma preocupação mais urgente com o meio ambiente, as diferentes visões de caos onde as diferenças sociais se tornam ainda mais acentuadas, o aumento da fome, do preconceito, do acesso ao básico e naturalmente, as doenças.


Depois da morte das abelhas, repensaram os limites do consumo, mas já não havia muito.


Vejo toda essa literatura como um aviso, de que ainda não é tarde demais para mudar o curso da nossa história e consequentemente do nosso planeta.

Um livro sobre morte, solidão, amor, sobrevivência, relações humanas, preconceito, causa e consequência. Resumindo: um pré-apocaliptico que não é nada inverossímil.


A Extinção das Abelhas
Natalia Borges Polesso
Companhia das Letras
2021 - 307 páginas

Esta edição faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Forward



Sinopse: Para alguns, a tecnologia é o prenúncio do fim do mundo. Para outros, é apenas o começo de uma nova era. Renomado escritor de ficção científica, autor dos best-sellers Matéria escura e Recursão, Blake Crouch convidou grandes nomes da literatura contemporânea para traçar histórias audaciosas que mergulham nos desdobramentos que os avanços tecnológicos acarretam à humanidade. De potência criativa memorável, os contos desta coletânea se pautam em temas diversos, como inteligência artificial, colonização de outros planetas, engenharia genética e programação, para nos fazer encarar o que há de mais brutal e profundamente humano em nós e em nossa sociedade. Imersos em tamanhos medos, paixões, sonhos e ambições, vem à tona a complexidade de se estabelecer limites e de realizar escolhas diante da busca pelo futuro que desejamos.

Em setembro/21 recebi pela minha assinatura da Intrínsecos a coletânea de contos Forward, composta de seis histórias de diferentes escritores. Por ser mês de aniversário do clube, vieram de mimo o livro de não-ficção Antropoceno do escritor John Green e duas cartelas de adesivos.

Logo na abertura Blake Crouch conta para o leitor que durante um passeio pelas Montanhas Rochosas ele e sua companheira começaram a debater sobre tecnologias e algumas perguntas começaram a surgir, como se alguém é capaz de prever aonde cada descoberta irá levar? Se as incertezas devem interromper os impulsos de avançar? E qual é a sensação de mudar o mundo?


Quando eu finalmente consegui extraí-la do jogo, ela se tornou um algoritmo capaz de autoevoluir, capaz de aprendizado de máquina caixa-preta.


As perguntas o levaram a escrever um conto e a propor a outros cinco escritores que também dessem a sua visão sobre estas questões. E assim nasceu Forward e as diferentes visões que falam tanto de tecnologia quanto de humanidade.


Summer Frost

E é justamente o conto originado pelas perguntas que abre o livro. Escrito por Blake Crouch, no conto uma desenvolvedora e vice-presidente de uma empresa de tecnologia durante a elaboração de um jogo cria uma inteligência artificial superior. E o que era para ser uma coadjuvante de uma história bastante violenta, vira o projeto da vida de Riley e uma presença no mundo real.


Porque às vezes a vida é tão rica e complicada e surpreendente que nos tira a respiração.


O conto de 80 páginas é dividido em capítulos e tem sua narrativa em primeira pessoa, nos tornando próximos de todas as questões e percepções de Riley, que aos poucos vai colocando tudo o que a cerca em segundo plano para alimentar a inteligência de Max, como ela chama a sua criação.

O curioso neste ponto é que pouco depois de finaliza-lo eu acabei assistindo com a minha filha no Netflix A animação A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas e achei que as duas histórias se conectam muito em relação aos temas abordados. O filme é muito bom, eu recomendo.


Pele de Emergência

A autora de ficção especulativa e fantasia N.K. Jemisin é quem escreve o segundo conto do livro. Aqui os escolhidos foram embora do Planeta Terra acreditando que ela havia chegado ao fim. Mas de tempos em tempos uma espécie de soldado é enviado ao antigo lar para buscar a reposição de células importantes.


O planeta já estava em colapso ambiental completo, em todos os biomas, quando nosso povo fugiu de lá.


E é justamente a visão de um deles que se acompanha no conto, onde com surpresa a pessoa descobre que os que se julgavam especiais na verdade eram os sanguessugas do planeta, e sem eles a Terra se recuperou e criou uma sociedade muito mais equilibrada e igualitária, mexendo com tudo o que ele tinha como verdadeiro.

Este conto é o mais político e aborda assuntos como meio-ambiente, diferenças de classes e gênero, machismo e racismo que levaram ao apocalipse social, e como ao se livrar de todos o planeta voltou a se desenvolver de forma sustentável.


Arca

A autora de Divergentes Veronica Roth nos leva em um planeta Terra em evacuação com a chegada do asteroide Finis, cuja colisão será catastrófica.

São poucos os que restam, eles são cientistas que foram escolhidos por não terem nenhuma família para catalogarem os últimos tipos de flora antes de embarcarem em uma nave.


Não seria então nosso dever desfrutar tudo que as plantas da Terra têm a nos oferecer enquanto for possível?


E é através de Samanta que acompanhamos suas lembranças do passado, as escolhas do que levar na bagagem de seus companheiros e a difícil decisão de deixar o lugar onde as pessoas que se ama estão enterradas, mostrando como nem a morte consegue cortar este vínculo.


Você chegou ao seu destino

Quem assina este conto é o mestre em língua inglesa e escritor Amor Towles que nos apresenta Sam, um homem que está indo até uma moderna empresa de inseminação contratada por ele e sua esposa.

O diferencial nesta empresa é que o casal pode escolher além das características físicas do seu bebê, também a sua personalidade , tendo uma prévia do que o futuro irá reservar para o seu filho na vida adulta.


A ciência diz que nós precisamos de apenas dois minutos para estabelecer impressões duradouras nas pessoas.


Este vislumbre faz com que o pai se depare com o próprio passado e vá parar em um lugar inusitado, onde com a ajuda do álcool os seus pensamentos vão para as mais diferentes direções.

                        

A última conversa

O autor de suspense, terror, fantasia sombria e ficção científica Paul Tremblay nos leva para a situação mais agoniante que qualquer pessoa pode passar: acordar sem saber absolutamente nada sobre o seu presente e passado.


Preto ou branco, isto ou aquilo, certo ou errado, foram os exemplos que ela deu para explicar pensamento binário.


Em um local escuro seu único contato com o mundo é uma voz de mulher que se apresenta, mas não responde a todas as suas perguntas. Um conto em que a agonia e a curiosidade estimulam a virar mais uma página.


Randomizando

O autor de Perdido em Marte Andy Weir fecha a coletânea em Las Vegas. Aqui temos uma mudança tecnológica que pode afetar os computadores utilizados pelos cassinos nos salões de Keno para a geração de números.


Computação quântica é uma coisa totalmente diferente da computação comum.


Só que ao tentarem se prevenir, o que pode acontecer é justamente o contrário, dando a chance de um novo golpe por algum gênio da matemática que renderá a perda de muito dinheiro.


O que eu achei

Gostei bastante da coletânea de Forward, além de ser fã de ficção científica, os estilos bem diferentes do conto não deixam o livro com cara de mais do mesmo, podendo ter a própria tecnologia quanto uma situação o personagem principal de tudo. Além disso as histórias vão de apocalipse a golpes, de projetos militares a clonagem, do amor a solidão.

Alguns dos contos utilizam um pouco de jargão técnico, até para dar mais realismo aos personagens, mas nada que atrapalhe a fluidez da leitura para quem não entende absolutamente nada de informática.

Embora tenha achado o último conto mais fraco em relação aos demais, isso não significa que ele seja ruim, pelo contrário, após muitas reflexões sobre a evolução tecnológica, possíveis fim de nosso planeta e relações humanas, é interessante o livro fechar com uma história leve, que puxa mais para comédia do que o drama, e é facilmente cinematográfico em nossa mente.

Com isso é claro que recomendo a leitura, principalmente para os fãs de ficção científica e os curiosos sobre o quanto a imaginação humana ainda pode influenciar na evolução da tecnologia.


Forward
Blake Crouch, N.K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay, Andy Weir
Tradução: Braulio Tavares
intrínseca
2019 - 304 páginas

Esta resenha não é patrocinada, a assinatura do clube citado é pago integralmente pela autora.