quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Queridos amigos do Blog

biblioteca-ola


Com a chegada das festas de final de ano, resolvemos nos dar um recesso de 2 semanas devido as exigências desses dias.
Desejamos a todos que visitaram, comentaram e acompanharam a nossa jornada literária em 2010 um natal cheio de brilho e alegria, como só a magia do dia 25 pode dar. E que 2011 seja um ano de grandes romances, com muitas aventuras, cujo suspense seja apenas para dar um sabor especial ao final feliz e que o terror, ah, que o terror não saia das páginas dos mestres, e que tenhamos mais paz para ler e escrever em qualquer lugar.
Em 2011 estaremos de volta, entre clássicos e novidades, estilos variados, sem discriminação de nacionalidade, dando os nossos pitacos pessoais, afinal, nesse espaço gostamos de elogiar tudo o que amamos e reclamar de tudo o que aturamos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pantaleón e as Visitadoras

As contínuas reclamações sobre o comportamento dos soltados peruanos alocados nas fronteiras com a Amazônia, como atentado violento ao pudor em qualquer local (ex. igrejas) e estupro, fizeram o alto comando buscarem uma solução que atenuasse esses “pequenos contratempos”: a criação de um serviço de visitadoras.

Para controlar essas mulheres e dar ordem ao novo serviço, foi chamado o capitão Pantaleón Pantoja, um homem casado, fiel, livre de vícios, seguidor de regras e dedicado de corpo e alma para o exército.

Mas a transferência de Pantoja e sua família para Iquitos é cheia de surpresas, começando pelo fato que ele deve esconder que é um militar – visto a delicadeza e a não aceitação da sua missão pelo comandante da região – e as mentiras que precisa administrar nas conversas com a esposa e com a mãe.

Em paralelo a criação e expansão do serviço de visitadoras está o surgimento de uma nova seita chamada “Irmãos da Arca”, cujas ações polêmicas e extremistas começam com a crucificação de insetos e pequenos animais.

Utilizando diálogos em paralelo, cuja atenção é requerida ao leitor para que não se confunda quem está conversando com quem, Mario Vargas Llosa diverte com suas ironias ao utilizar a estrutura rígida do exército para descrever situações surreais.

Riso garantido com os ofícios e os cálculos estatísticos de Pantoja sobre o tempo e a quantidade de atendimento a soldados que cada visitadora pode realizar, assim como as reclamações de quem não é contemplado pelo serviço.

Leitura mais do que recomendada para quem gosta de unir uma boa história com risadas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Revolução dos Bichos


Sim, achei que a história fosse pura e simplesmente uma revolução do mundo animal. Uma forma de satisfazer o imaginário daqueles que, assim como eu, pensam que não seria nada mal ver os animais darem o troco e colocarem a opressora raça humana em rédeas curtas.  O que fui saber logo na orelha do livro, é que Revolução dos Bichos, de George Orwell, era muito mais do que uma história sobre animais e como eles funcionariam em comunidade caso tivessem a capacidade de se sobrepor aos homens em termos de civilidade. É, em primeiro lugar, uma ferrenha crítica à tirania política protagonizada na Guerra Fria. Uma forma de questionar o comunismo stalinista com humor satírico e de maneira muito desconfortável para os soviéticos.

O enredo é basicamente este: Os bichos da Granja do Solar se rebelam contra a exploração humana e decidem tomar posse da fazenda. Em pouco tempo, os porcos tomam a liderança do grupo e passam a ter atitudes muito semelhantes à dos humanos que repudiavam. Mostrando todas as faces do poder, os porcos passam a defender seus interesses com assassinatos, distorções da realidade e slogans que visam manter o controle – como o que diz “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”,ou o audacioso “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”.

Na edição de 2007 da Companhia das Letras, a fábula se encerra na página 112, mas segue até a página 147 com o posfácio de Christopher Hitchens e apêndices com os prefácios da edição inglesa de 1945 e ucraniana de 1947.É possível apreciar a obra sem conhecer os fatos históricos que a originaram, mas seria desperdício intelectual ignorar os textos que a seguem. Através desta leitura, é possível mergulhar nas intenções do autor e em suas lutas. Apreciar os detalhes narrados por ele sobre a realidade de sua época, especialmente o que diz respeito à sua obra e a liberdade de imprensa.
   
Pela ousadia, humor e habilidade narrativa do autor, é um livro obrigatório para quem gosta de literatura. E, certamente, é uma porta de entrada para aqueles que querem saber mais sobre os acontecimentos histórico-culturais envolvidos diretamente com a obra. 

domingo, 28 de novembro de 2010

Dançando no Ar

Em 22 de junho de 1692, na Aldeia de Salem, três mulheres com o nome de Ar, Terra e fogo decidem que é hora de se esconder da inquisição e fazem surgir a ilha das “Três Irmãs”.

Pulando para 2003, Helen Remington escolhe a ilha das Três Irmãs para se esconder do marido psicopata, recomeçando sua vida com o nome de Nell Channing.

Como todos os livros de Nora Roberts é possível se deparar com o casal que será feliz para sempre, dramas domésticos e amizades. Mas apesar de parecer lugar comum, “Dançando no Ar” faz o leitor devorar o livro.

Os elementos da magia, como a evocação das herdeiras das bruxas, tornam a leitura deliciosamente agradável, e mesmo sabendo o final, é impossível não torcer pelos personagens e na busca de Nell em encontrar sua coragem e quebrar uma antiga maldição.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Espiões




“Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer”. É com esta frase que Luís Fernando Veríssimo começa Espiões, lançado em 2009 pelo selo Alfaguara da Editora Objetiva. A irreverência, característica forte do autor, já pode ser vista logo na capa: um espião muito mal disfarçado atrás de um poste. Traduz, com efeito, a história de espionagem parodiada e que ao mesmo tempo mostra  a imagem de um espião real, que vive fora dos filmes e dentro de uma história tragicômica no interior do Rio Grande do Sul.

Tudo começa quando o personagem principal, funcionário de uma pequena editora de Porto Alegre, passa a receber os originais de uma misteriosa mulher chamada Ariadne. Como ela promete o suicídio após o término do relato de suas peripécias com o amante, ele sente que deve ajudá-la e ruma à cidadezinha de Frondosa. Completamente envolvido com a mulher que não conhece, o personagem passa a ser o aguardado herói. Em suas peripécias, conta com o auxílio de figuras como o colega de serviço Dubin e o professor Fortuna - que nem sequer é professor.

Muito focado na narrativa, Veríssimo se confunde com o personagem sem nome. Impossível não pensar no autor quando nos deparamos com as falas cômicas e irônicas de nosso espião. Característico do autor- cronista, o livro é de escrita direta e simples, mas nem por isso menos envolvente, e genial. É sempre revelador ler sobre as peripécias saídas da cabeça de um escritor que sabe reunir, como ninguém, humor e inteligência.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Linha D’Água – Entre Estaleiros e Homens do Mar

Comprei este livro sem pretensão nenhuma, ele estava ali em oferta, olhamos um para o outro e em poucas horas ele estava na pilha dos “para ler”. Quando chegou a vez de Linha D’Água, pensei que havia outros títulos aos quais gostaria de ler primeiro, mas devido a minha mania de ler na ordem de compra, abri a capa e comecei.

O que encontrei foi uma história de paixão pelo mar, pelos veleiros, pela aventura, pelos amigos e pela família. Amyr Klink é um homem que luta pelas suas paixões. E o livro é isso, a narração de uma parte da sua história: simples, clara, direta e emocionante.

Narrado em primeira pessoa, ele nos conta, como se estivesse sentado no sofá da sala toda a concepção do veleiro Paratii 2. E isso inclui idéias, busca por material, brigas, equipe, viagens para outros países, aventuras com outros veleiros, além de alguns puxões de orelha na política brasileira.

Como bônus, fotos de Paraty (cidade), do veleiro Paratii2, dos lugares pelos quais ele e sua tripulação passaram, além os desenhos que tornaram um sonho realidade.

No final, chamado de lado B, temos o texto de Marina Bandeira Klink, que expõe toda a sua preocupação, apoio e memórias de uma esposa cujo marido passa mais longe do que perto. O que poderia ser uma narrativa triste ou ciumenta é o relato de um casamento de companheirismo, onde um está ao lado do outro, independente da distância que os separam.

Uma leitura que serve tanto para diversão quanto para reflexão sobre se lutamos pelo que realmente sonhamos.

domingo, 7 de novembro de 2010

No Caminho de Swann

“E dizer que desperdicei anos da minha vida, que desejei morrer, que vivi o meu maior amor, por uma mulher que não me agradava, que não fazia o meu tipo!”.

A frase de Swann, pra mim, traduz os sentimentos e sensações que tive durante a leitura, que basicamente se dividiu entre tédio e encanto. Um retrato da ansiedade e obsessão humana: “No Caminho de Swann” os personagens parecem viver este ciclo permanentemente, seja através do homem cujo nome é evocado logo no título, seja pelo narrador, um menino-homem-velho, que mistura os seus pequenos dramas as histórias que conta.

Primeiro livro de uma série de sete, este é considerado o mais biográfico de Marcel Proust, onde locais, lembranças e a sua própria saúde frágil na infância são citados pelo narrador, um menino que necessita de cuidados e passa suas férias em uma aldeia, onde dilemas como um beijo maternal de boa-noite e uma menina o agitam mais do que o normal.

Dividido em três partes, a história trás diferentes personalidades, onde diferentes tipos de moral, fidelidade e amizade são descritos por figuras ora refinadas, ora misteriosas, ora escandalosas. Como não poderia deixar de ser, envolvidas pelo amor (seja materno, carnal ou platônico) e naturalmente, pelo preconceito.

Um retrato peculiar da sociedade burguesa, onde mesmo a diferença de tempo nos permite observar algumas origens do comportamento atual da humanidade e até mesmo analisar nossas opiniões frente aos comportamentos representados.

domingo, 31 de outubro de 2010

Eu sei que vou te amar

Baseado no filme de mesmo nome, Arnaldo Jabor informa logo no início que texto é uma síntese das famosas DR’s (Discutir a Relação).

O leitor irá encontrar um momento na vida de dois personagens. Não existe mais ninguém em cena. É possível ver as palavras que trocam e os seus pensamentos, mas não é possível vislumbrar o que realmente aconteceu ao casal, apenas que eles se separaram, guardam mágoas e uma obsessão um pelo outro.

Se em alguns momentos o homem parece um calhorda, em outro ela parece perdida, e num terceiro momento pode-se achar que ambos são loucos.

A história é fácil e rápida de se ler, com algumas ironias em relação ao Brasil, essa DR chega a ser divertida (não tendo a chatice da convencional), mas “Eu sei que vou te amar” é apenas um dia, onde não se sabe o amanhã.

domingo, 24 de outubro de 2010

Fadas no Divã

Apesar do subtítulo “Psicanálise nas Histórias Infantis”, o livro dos autores Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso pode ser degustado por profissionais de todas as áreas.

Como não tenho habilitação na área de psicanálise, me atrevo comentar como sendo uma leitora voraz, iniciada no mundo das letras por alguns dos seres mágicos citados.

Dividido em duas partes: histórias clássicas e histórias contemporâneas, “Fadas no Divã” me trouxe de bônus uma correnteza de lembranças, reflexões e observações.

Nas histórias clássicas é possível conhecer a versão estendida de famosos contos de fadas (que foram “censurados” antes de virarem histórias infantis) e outras histórias igualmente interessantes, mas não conhecidas (pelo menos por mim).

Confesso que algumas observações me geraram uma certa contrariedade, pois me parecem suposições do que cada coisa pode simbolizar. Mas talvez nem os autores originais tenham pensado nisso, pois nas versões estendidas, verifica-se que temas como sexo, violência e vingança não são escondidos.

Já nas histórias contemporâneas as observações me pareceram mais palpáveis, pois refletem muito do comportamento da nossa sociedade atual.

Uma das análises que atraíram a minha atenção foi do Eeyore, o burrinho roxo e meu personagem favorito da turma do ursinho Pooh. Eeyore é definido como melancólico, alguém que tem um eterno desencontro entre suas necessidades.

Nesta segunda parte também encontramos a turma da Mônica, Harry Potter e os encantadores Mafalda, Calvin e Harold, estes últimos sendo descritos como adultos-crianças.

Para finalizar, uma história criada pela família Corso sobre Vampi, o vampiro vegetariano, onde Mário Corso revela que a história foi criada sem nenhuma intenção (o que me fez recordar a minha opinião um tanto crítica sobre a análise de contos antigos), mas que depois eles descobriram muitas coisas pessoais, entre elas, seus conflitos.

Eu poderia escrever horas sobre “Fadas no Divã”, mas apenas lendo para saber que reações e descobertas cada leitor irá ter. Pois mais do que uma psicanálise das histórias infantis, o livro é como um olho externo analisando o ser humano.

domingo, 17 de outubro de 2010

O Caso Morel

Ao chamar o ex-policial, e agora escritor, Vilela, para que ele leia o livro que iniciou após sua prisão, o artista Paul Morel leva o leitor para diversos submundos.

Se em um momento acompanhamos a vida sexual um tanto apimentada de Morel, por outro nos deparamos com as diferentes pessoas com quem conviveu, onde partes da sua infância se misturam a eventos de um passado recente.

Quando Vilela se interessa pela mulher assassinada, razão da prisão do artista, o livro passa a ter um novo narrador, e o leitor pode entrar na mente da vítima.

No intervalo dessas duas narrativas está a vida do próprio Vilela, que começa a se ver como um espelho de Morel conforme vai se identificando com o homem descrito nas páginas recebidas.

Instigante, “O Caso Morel”, de Rubem Fonseca, não perde o pique com as trocas de narrativa e atiça a curiosidade do leitor, ao mesmo tempo em que provoca uma análise dos comportamentos apresentados.

Relações extremas, liberdade, pais e filhos, “O Caso Morel” proporciona uma visão direta e seca que lhe valeu a censura do regime militar em 1973. Características que o tornam muito atual, com a diferença de que se antes os comportamentos descritos eram sinônimos de escândalos, hoje são banalizados nas revistas de fofocas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Ousadia de Verão

Em meio ao nevoeiro, dois barcos se encontram e uma grande explosão ocorre. Oito pessoas morrem e apenas três sobrevivem. Uma se cala, os outros dois buscam um significado para terem escapado da morte.

De forma simples e comovente, tendo a pitada de um pequeno mistério, “Ousadia de Verão” lembra ao leitor que basta estar vivo para correr atrás do que se realmente quer.

Com uma narrativa fácil e rápida, Barbara Delinsky consegue mostrar a relação de uma mulher com ela mesma, no caso de Julia, alguém que sempre se doou aos outros e precisa administrar o sentimento de culpa ao se colocar em primeiro lugar.

Da mesma forma a autora lida com delicadeza ao mostrar em Noah o desejo de ter um maior contato com o filho e superar sentimentos esquecidos.

Uma história com cheiro de mar, sorrisos e lágrimas para ser degustada sem restrições.

domingo, 3 de outubro de 2010

Trópico de Câncer

Uma dica logo de inicio: não leia este livro em locais onde desconhecidos podem dar uma espiadinha e acompanhar a leitura com você. Utilizando um vocabulário chulo para descrever uma parte de sua vida em Paris, Henry Miller mistura sexo, bebidas e filosofia.

A total falta de respeito pela figura feminina é gritante em suas histórias, assim como o desleixo e a total falta de pudor.

Entre as suas desventuras é possível conhecer o lado menos charmoso de Paris, o que importa é ter um lugar para encostar a cabeça e dormir,e claro, encher a barriga.

Mas por mais nojo ou desprezo que eu tenha sentido pelo autor em alguns momentos durante a leitura, "Trópico de Câncer" não deixa de te prender. Algumas de suas reflexões te fazem viajar e até entender a sua mente ansiosa, o que não significa em concordar com todas as suas atitudes.

domingo, 26 de setembro de 2010

Entrega Especial

Da primeira a última página, a história de Jack e Amanda me transportaram para as novelas de Manoel Carlos.

A descrição de Jack me remeteu a imagem de José Mayer (o coroa enxuto que pega todas) e Amanda , como boa Helena, que passa por diversas situações (e conflitos familiares) até ter o seu final feliz.

Tirando as comparações, “Entrega Especial” parece o resumo de uma história maior, devido à superficialidade com que é apresentada.

Danielle Steel não me permitiu ter intimidade ou simpatia por seus personagens: criaturas ricas, egoístas e frias que vivem como se estivessem dentro de uma revista.

domingo, 19 de setembro de 2010

O Velho e o Mar

Um homem, o mar e o mais belo peixe visto que arrasta o pequeno barco por vários dias, aguardando que um deles se canse.

Na jornada de ida e volta existe a dor física representada pelas mãos, a dor mental por ter que suportar a fadiga e a dor psicológica no meio de tantos “se’s”.

Santiago é um velho pescador que se sente abandonado pela sorte, mas não pela força de viver. Durante os dias em que é levado mar adentro pelo maior peixe que já viu, inevitavelmente ele começa a querer coisas ou pensar no que deveria ter feito, seguido da constatação de que agora nada pode fazer além de lutar com os obstáculos que surgem.

Uma batalha interna enfrentada por todos é o tema que torna “O Velho e o Mar”, romance de Ernest Hemingway, um livro gostoso de ler e que nos faz refletir página por página sobre nossas ações e até a nossa coragem.

domingo, 12 de setembro de 2010

O Legado da Perda

Com passagens divididas entre Índia e Estados Unidos, o “Legado da Perda” faz o leitor acompanhar a vida de um juiz aposentado, sua neta órfã, o cozinheiro e o filho do cozinheiro.

Com um título que deixa bem claro ao leitor o que irá encontrar, Kiran Desai mostra as reações humanas perante fatos que desmoralizam os personagens.

A saudade de quem está distante (mesmo quando não tem intimidade), a dificuldade de se relacionar com outras pessoas (com a transferência do afeto para a figura de um cachorro), a desilusão do primeiro amor e as diferenças sociais.

Somado ao cenário está uma revolta indo-nepalesa para quebrar o sossego dos moradores que acolheram as margens do Himalaia, quebrando a familiaridade do local.

“O Legado da Perda” tem uma narrativa leve, que descreve os locais fazendo com que o leitor se sinta dividindo com os personagens os cheiros e o espaço físico. Mesmo assim, a leitura não me prendeu. Confesso não sentir nenhuma ansiedade em retornar a leitura após fecha-lo. Apesar de bem escrito e de ter uma temática interessante, a história de Patel e Sai não me cativou.

Não tenho uma razão objetiva para afirmar isso, talvez esteja cansada de ler tantas perdas nos jornais. Por isso recomendo a leitura, que pode se tornar apaixonante para alguém.

domingo, 5 de setembro de 2010

A Consciência de Zeno

No princípio achei Zeno Cosini um personagem simpático e divertido, com um forte elo de ligação com a família, mais precisamente, com sua esposa.

Em um segundo momento o vi como um homem perdido, preso as amarras de seu pai, sem controle do seu próprio destino por não saber tomar as próprias decisões.

Ali pelo meio da leitura fiquei com raiva desse homem fraco e hipocondríaco, cujo comportamento sem noção não o impediam de trair a esposa.

Mas no final compreendi que ele era apenas um retrato fiel das pessoas que encontramos na rua ou olhamos no espelho.

A briga com o psicanalista nada mais é do que um desabafo pelas perdas e a celebração das vitórias. Onde mentiras e verdades se misturam, e nem todos os desejos se tornam realidade.

Para os que quiserem se aventurar na irônica narrativa de Ítalo Svevo, sugiro um pouco mais de atenção no final do livro. O dia 24 de março de 1916 nos trás reflexões que podem mexer com os nossos pensamentos após o término da leitura.

domingo, 29 de agosto de 2010

A Criança Roubada

O pequeno Henry Day não imaginava que ao se esconder na floresta seria dominado por hobgoblins e substituído por um changeling.

Enquanto o verdadeiro Henry se torna um hobgoblin chamado Aniday, o changeling tenta se adaptar a vida do menino e administrar os obstáculos de ser humano.

Primeiro romance do americano Keith Donohue, “A Criança Roubada” entrelaça duas narrativas, onde a busca pelo autoconhecimento faz com que os caminhos da vítima e o seu usurpador se cruzem diversas vezes.

Denominado fábula, “A Criança Roubada” nos leva a reavaliar o relacionamento pais-filhos, o amadurecimento e a busca pessoal. Sem lição de moral, o livro tem uma forma emocional que nos torna incapazes de julgar qualquer um dos Henry’s.

Somado a isso estão a escrita clara e as referências literárias e musicais, que tornam sua leitura simplesmente deliciosa.

Em suma, “A Criança Roubada” é um conto de fadas moderno recomendado para todos os jovens e, principalmente, para os adultos.

sábado, 24 de julho de 2010

Cem Anos de Solidão

Atenção. O leitor que se aventurar nas páginas de Cem Anos de Solidão, romance do colombiano Gabriel García Marques, irá precisar de muita atenção.

O motivo se deve ao fato dos Buendía adorarem os nomes Aureliano e José Arcadio, com isso, pipocam vários deles ao longo das páginas, circulando dentro e fora de Macondo. Ao longo da narrativa, nos deparamos com várias gerações dessa família, e por consequência irá se encontrar de tudo: inocência, supertição, ambição, guerra, amor, ódio, paixão, inveja, traição e, naturalmente, solidão.

Cem Anos de Solidão é uma história maluca e engraçada, mas que nada tem de superficial, conseguindo mostrar nas gerações de Aurelianos e Josés Arcadios as diversas faces do ser humano e da sociedade que o cerca, assim como os seus anseios e suas desilusões.

Livro para ser degustado com paciência e uma mente livre de interrupções, para se evitar de confundir o personagem citado no momento, e somente assim poder andar pelas ruas de Macondo como um legítimo estrangeiro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A Saga Crepúsculo




A princípio a proposta soa como um blá, blá, blá juvenil: humana se apaixona por vampiro; e o fanatismo do “Fenômeno Twilight” pode parecer um convite a remar contra a maré, porém, depois de se render a curiosidade de conhecer este mundo onde vampiros não possuem presas e não morrem a luz do sol (eles apenas brilham), é impossível não assumir o gosto pela série.

Os livros são quatro: Crepúsculo (Twilight), Lua Nova (New Moon), Eclipse (Eclipse) e Amanhecer (Breaking Dawn). Renderam até o momento três filmes e com isso muito dinheiro com merchandising, um sucesso arrebatador para seus lindos atores e muita crítica por conta de pessoas que não entendem as verdadeiras motivações das produções que é a de dar vida a aclamada história e não de ser uma superprodução.

Com uma narrativa agradável, a autora Stephenie Meyer faz o leitor se prender a saga desde o início de Crepúsculo.  A carga de amor puro e celibatário, batalha de vampiros e lobisomens que fogem de tudo já falado a respeito, e algumas passagens que oscilam entre manjadas e de narrativa confusa, tornam os livros uma volta à adolescência. Já que é esta a fase onde fantasia e amor se fundem e surgem as confusões e dúvidas tais como as vividas pela protagonista Bella Swan, seu amor, o vampiro Edward e o amigo/affair, o lobo Jacob Black.  Por tudo isto, a história escrita por Meyer acabou sendo sucesso não apenas entre as adolescentes, mas também entre suas mães.
 
A história tem início quando Bella decide dar mais privacidade a mãe e seu novo namorado e troca a ensolarada Phoenix pela chuvosa Forks, Washington. Morando com o pai Charlie, o chefe da polícia local, e freqüentando uma nova escola, ela esbarra com o estranho e reservado Edward Cullen e seus irmãos. A partir daí, espere muitas risadas, lágrimas e expectativas; algumas delas frustradas, como em Amanhecer, onde o leitor mais exigente pode se chatear com muitas resoluções óbvias na história, mas não deixará de desejar o final proposto pela autora (reforçando o envolvimento com a idéia de uma saga voltada ao amor e aos valores que cercam a temática). O livro que é bem maior que os outros três, será dividido em dois filmes nas telas.

Ler sobre amor e vampiros que brilham no sol pode não ser o tema favorito dos homens, mas vale para eles também, se não para conhecer estes fantásticos e diferentes vampiros de um fenômeno que veio para ficar, ao menos para se deixar contagiar por passagens que muito tem a ver com nossos relacionamentos no dia a dia tanto no que se refere ao amor, quanto às amizades e relações familiares. E enganam-se aqueles que acham que a castidade do velho Edward é antiquada. O que é alheio as nossas banalizadas relações, pode ser exatamente uma das razões do sucesso desta história.

sábado, 26 de junho de 2010

O Grande Gatsby

Quando Nick se muda para o leste, tem como vista uma enorme mansão, conhecida por suas festas com vários convidados e penetras. O misterioso dono, Gatsby, é o legítimo conhecido desconhecido por todos.

O livro de F. Scott Fitzgerald é leve e intenso. Na contra-capa, compara-se a história de Jay Gatsby a uma tragédia grega, mas eu discordo. Nick, Gatsby e Daisy são apenas um retrato de uma sociedade que impera até hoje. Superficialidade, dinheiro, poder e máscaras. Estavam nos anos de 1920 e estão em 2010.


O Grande Gatsby é uma história de amor, decepção e a busca de um sonho. É amizade, fidelidade e solidão. E acima de tudo, uma narrativa agradável em qualquer momento do dia.

domingo, 13 de junho de 2010

Resistência

Logo após o término da guerra, Agnes Humbert publicou o seu diário relatando acontecimentos do período de 7 de junho de 1940 a janeiro de 1946. Participante do grupo que escrevia, imprimia e divulgava o jornal Résistance, a autora nos mostra mais uma face da segunda guerra mundial.

Resistência inicia na invasão da bela Paris, passando pelas mudanças no cotidiano, o extermínio de livros, a criação de grupos que passaram a protestar através de jornais ilegais até chegar aos interrogatórios, torturas, fuzilamentos e trabalhos forçados. Mas ao contrário do que se possa imaginar, o livro não é trágico. Sua autora, com inteligência e ironia, consegue narrar os fatos daquela época de forma direta, às vezes debochada, mas sem nunca carregar no sentimentalismo.

Por isso é possível sentir a dor de cada perda, a angústia da saudade e a raiva por tamanha maldade, ao mesmo tempo em que se pode admirar Agnes Humbert por ter enfrentado aquele período de olhos bem abertos e cheios de expectativas.
Outro diferencial do livro é o fato de contar a história de uma não judia, mas de uma prisioneira de guerra que passa por humilhações, assim como suas companheiras de diversas nacionalidades. Seu enfoque em um mundo feminino é quase um tributo ao chamado sexo frágil, que em situações extremas mostra a sua força, sua inteligência e sua capacidade de superação. Tornando Resistência mais do que uma história autobiográfica, mas algo para guardarmos em nossas mentes e corações.


sábado, 29 de maio de 2010

Uma Breve História do Mundo

O título do livro já deixa claro ao leitor o que o professor Geoffrey Blainey pretende com ele: um resumo dos principais fatos da humanidade (desde o início dos tempos), temperado com algumas curiosidades.

Tendo um enfoque maior em acontecimento nos Estados Unidos e Europa, a leitura vale a pena por alguns pequenos detalhes, algumas ironias da vida que farão o leitor rir e crer que o ser humano é incoerente.

O leitor mão deve desanimar se o assunto não for aprofundado, afinal, está lendo Uma Breve História do Mundo, mas deve servir para instigar a novas pesquisas no Google ou leitura de outros livros sobre o assunto.


Mas apesar da escrita ser fácil e pontual, comparando com 1808 (já comentado nesse blog), a leitura de Uma Breve História do Mundo pode se tornar monótona e cansativa. Como se faltasse um toque de leveza para se repassar anos tão pesados.

domingo, 9 de maio de 2010

O Nome da Rosa

Tempos atrás, eu havia tentado ler este livro e não havia passado das páginas iniciais. Acabei abandonando a leitura e rotulando o livro de chato.

Resolvi reiniciar a leitura, já tendo esquecido o filme, e foi com uma enorme satisfação que Adso me encantou e alimentou a minha curiosidade.

O Guilherme da minha imaginação não tem nada de Sean Connery, embora também possua a presença forte e o charme do ator. Mas como o seu pupilo, o leitor pode notar todos os seus aspectos admiráveis e os seus defeitos.

Sem enrolar mais, vou para a história, que faz o leitor voltar ao ano de 1327 e entre um assassinato e outro, irá acompanhar pelo diálogo dos personagens os conflitos que havia entre a igreja católica e os franciscanos (onde a questão riqueza x pobreza me fez lembrar de algumas igrejas visitadas em minhas viagens).

O local dos crimes, uma abadia com uma grande biblioteca, levanta questões como o conhecimento (algo que, se formos sinceros, até hoje é uma fonte inesgotável de segredos) e o riso (sim, a divina arte de rir do outro e de si mesmo).

Para a ficção de estréia de Umberto Eco não existe um resumo adequado, a única coisa que posso dizer aos amantes da literatura, principalmente os fãs de história e de suspense, é que O Nome da Rosa é um livro obrigatório em suas vidas e um provável candidato para a sua lista de favoritos.

domingo, 25 de abril de 2010

História do Cerco de Lisboa

Perdoem-me os leitores que gostaram desse livro, mas foi com um imenso alívio que finalizei a leitura na página 319.

Foram três meses de sofrimento em uma história que parecia nunca deslanchar. Existe uma história de amor, um olhar irônico sobre o próprio país e uma filosofia sobre as palavras “sim” e “não”.

Só que nada disso livrou o livro de ser muito chato. Depois de me apaixonar por “Ensaio sobre a cegueira” (já comentado nesse blog em março de 2009), a História do Cerco de Lisboa me fez ter vontade de fugir de José Saramago.

Como disse no início, me perdoem os que gostaram, mas espero não ter que reler a história do revisor Raimundo Silva e da editora Sara nunca mais, pois a tortura será bem maior do que a do protagonista esperando ser descoberto.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

23 de abril - Dia Mundial do Livro

Imagem: http://tertuliabibliofila.blogspot.com


Um idoso prestes a se aposentar ou um rapaz moderno que viverá tranquilo junto à criançada?
Cedo para responder a esta questão. Enquanto isso, comemoramos hoje, dia 23 de abril, uma das poucas fontes de imortalidade conhecidas. Com direito a Dia Mundial, o livro desperta alegrias, tristeza, paixões, repúdio e ódio.

E para comemorar o seu dia, o Literatura Amores e Horrores se utiliza de uma frase de Miguel Cervantes, homenageando assim a todos que se envolvem nesse universo único "Aquele que lê muito e anda muito, vê muito e sabe muito".



domingo, 18 de abril de 2010

O Clube do Filme

Ao abrir o livro, o leitor irá se deparar com uma lista fantástica de filmes, como “O Exorcista”, “Uma linda Mulher”, “O Poderoso Chefão II” e “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”.

Através desses e outros filmes, David Gilmour consegue estabelecer uma relação com o seu filho, ao qual liberou de ir na escola sob a condição de assistir três filmes semanalmente e não utilizar drogas. Após cada filme, os dois discutiam sobre o que foi assistido. Gilmour comentava algumas curiosidades, e com isso abriu mais o diálogo entre pai e filho, tornando-os mais próximos nesse período.

Na opinião dessa humilde leitora, o livro trata da imaturidade do pai e da falta de limites do filho. Confesso que a história não me cativou, talvez por ter uma expectativa maior sobre o que seria abordado em relação aos filmes ou por já estar habituada a ver jovens fazerem o que bem entendem da vida e seus pais não tomarem nenhuma atitude sobre isso.

domingo, 11 de abril de 2010

1808

Para quem quer conhecer mais da história do Brasil, relembrar alguns fatos ou simplesmente gosta do assunto, o livro de Laurentino Gomes narra de forma clara, fácil e às vezes, divertida, sua pesquisa sobre a fuga da família real portuguesa e as transformações sofridas no Brasil com a sua chegada.

1808 não trás grandes novidades (talvez uma explicação sobre a origem), mas estão lá a política corrupta, a compra de títulos e o famoso jeitinho brasileiro. Focado em João VI, o rei é exibido como uma figura simpática, além de feio, medroso e indeciso. Mas o fato de ter burlado Napoleão (apesar de deixar várias riquezas em Portugal) dão um certo mérito ao homem que, sem querer, começou a mudar a cara da colônia e dar ares de país a nossa pátria.

Na orelha do livro é dito que o propósito do livro é resgatar e contar de forma acessível a história da corte portuguesa e tentar devolver aos seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam. O que, na minha humilde opinião, foi alcançado. Desconheço o conteúdo das aulas de História nos dias atuais, mas pra mim, foi como ampliar aquele conhecimento mínimo, dando cara e personalidade a cada um dos envolvidos no período em que tivemos um rei entre nós, além de descobrir curiosidades da época.
Por isso considero 1808 um livro completo, pois da mesma forma que ele é gostoso de ler, nos trás conhecimento, e assim, repensar sobre atitudes que o país repete a muitos anos e a população não se esforça para mudar.


domingo, 28 de março de 2010

Comer, Rezar, Amar

Simplesmente adorei esse livro. Como diz Elle Macpherson na contra capa do livro “Toda mulher deve lê-lo”.

Após enfrentar situações que a levaram ao limite, Elizabeth Gilbert (que se torna Liz para os leitores), embarca em uma jornada de auto-conhecimento na Itália, Índia e Indonésia.

Cada lugar lhe trará lembranças, sentimentos e ações que lhe incomodaram no passado e agora a deprimem. Mas ao encontrar pessoas diferentes e se deparar com outras culturas, Liz aprende e amadurece.

Não é difícil para uma mulher se identificar em algum momento com o que está sendo descrito no livro. Assim como não é impossível gostar mais de uma jornada do que de outra.

Mas existe espaço para os homens também...Comer, rezar, amar dá uma grande pista da complexidade da mente feminina. Que nada mais é do que uma alma faminta por encontrar a si mesma.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Maravilha no mundo de Alice

 








Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho

"Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare". – Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas.


Não existe como visitar o mundo de Alice e não sentir fascínio por ele. Sua fantasia remete aos sonhos, uma volta à infância e a todos os pensamentos fantásticos que nela estão presentes. A maravilhosa experiência da menina Alice foi escrita por Charles Lutwidge Dodson, conhecido por Lewis Carroll. A história foi escrita e dada de presente em 1864 para a menina que serviu de inspiração a ela, Alice Linddell, então com 11 anos de idade. Logo a história foi publicada e a partir daí virou passagem literária e cinematográfica obrigatória para crianças e adultos.
Em 1951 a Disney lançou a animação "Alice no País das Maravilhas" e agora, pela excentricidade de Tim Burton, surge a versão cinematográfica de mesmo nome. Nesse hiato de tempo, dentre os vários livros traduzidos e publicados em todo o mundo, estão as edições da L&PM Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho, traduzidas respectivamente por Rosaura Eichenberg e Willian Lagos. Na primeira história, Alice adormece e mergulha na toca do Coelho Branco. De lá, parte para as mais inusitadas situações e conhece loucos personagens. A característica desconexa, típica dos sonhos, é muito marcante e faz o leitor viajar por um mundo muito rico, com poções que fazem aumentar e diminuir de tamanho, chás que não acabam nunca, um jogo de Croqué com uma rainha e seus súditos, todos, cartas de baralho. Sempre junto à visão da tagarela Alice, menina inteligente e teimosa que nos leva a conhecer o Chapeleiro Maluco, o Gato de Cheshire, a Lebre de Março, dentre outras magníficas criaturas.
Em Alice no País do Espelho, após a menina atravessar o espelho de sua casa, se vê participando de uma partida de xadrez. O mundo em que ela se encontra é como um tabuleiro gigante e cada personagem representa uma peça do jogo, incluindo a própria Alice. Personagens como os irmãos Tweedledum e Tweedledee, Humpty Dumpty e a Rainha Branca, interagem com Alice que se vê muito confusa, mas não menos fascinada que o leitor diante de tanta poesia e jogos de palavras. E por falar em palavras, o livro é excelente atrativo da língua por todas as referências que faz a ela: "Quando eu utilizo uma palavra - disse Humpty Dumpty, em um tom de grande sarcasmo -, ela significa exatamente o que quero que signifique, nem mais, nem menos."
Perto das crianças pelo seu mundo mágico e próxima dos adultos pela riqueza que permeia a obra, Alice sempre será um importante elemento universal. Nenhuma outra personagem infantil lida como ela com a realidade fantástica e isso se percebe por suas falas espontâneas e cativantes e por sua relação com as experiências únicas que a cercam. Certamente, Carroll soube contar sua história como ninguém e merece ser lido.

domingo, 14 de março de 2010

Memórias de Minhas Putas Tristes

Um homem de 90 anos se apaixona por uma menina de 14 anos que foi chamada a prostituição para atender a um desejo de aniversário dele: deitar com uma virgem.

O que tinha tudo para ser nojento e asqueroso, torna-se delicado, sensível, irônico (e por quê não) filosófico nesse pequeno (possui apenas 127 páginas) romance de Gabriel García Marques.

A história, gostosa e rápida de ler, nada mais é que o balanço da vida de um homem, que dormiu com muitas mulheres, e no momento que se preparava para encontrar a morte, se apaixona por uma ninfeta, cuja felicidade encontra-se em olha-la dormindo e a infelicidade em um ciúme doentio por alguém mais a toca-la.

E a partir daí, é difícil não se encantar por esse velho jornalista que está mais para um anti-herói do que mocinho de fotonovela.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Eu vivi por um sonho

Foi lendo O mundo de Sofia (livro já comentado nesse blog) que me deparei pela primeira vê com o nome de Olympe De Gouges, a autora da declaração dos direitos da mulher e da cidadã. Meses mais tarde, encontrei Eu vivi por um sonho, livro que narrava os últimos dias dessa francesa e a curiosidade foi imediata.

Maria Rosa Cutrufelli utiliza diversas narradoras (de idades, profissões, status social diferentes) para contar a história de uma mulher que ousou escrever o que pensava no governo de Robespierre e teve como destino à guilhotina.

Só que mais do que a história de De Gouges, o livro narra com força e sensibilidade a eterna luta das mulheres para terem o seu lugar no mundo. Enfrentando a raiva dos homens, a inveja e ignorância das próprias mulheres, De Gouges dá uma bofetada em suas leitoras ao dizer que nunca alcançaremos a igualdade enquanto não aplaudirmos a nós mesmas.

Eu vivi por um sonho é um livro apaixonante, histórico, onde o uso de adjetivos não deve ser poupado. Leitura obrigatória para o público feminino, além da chance de pensarmos se honramos mulheres como Olympe nos dias de hoje.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Memórias de Adriano


Sinopse: Já velho, o imperador Adriano escreve uma longa carta ao jovem Marco Aurélio, na qual recorda sob uma aura de melancolia e profunda perturbação os fatos de sua própria vida pública e privada, questionando-se sobre seu sentido e destino. Dono do mundo, mas consciente da transitoriedade das coisas humanas, Adriano pergunta a si mesmo quais as condições do ser - tão trágico, por não poder evitar a morte e a ruína, quanto extraordinário e proeminente o acaso quis que fosse. Também a paixão e o amor, que ao menos uma vez haviam iluminado sua existência graças ao encontro com o jovem grego Antínoo, transformam-se logo em luto devido ao silencioso suicídio do amado. E a Adriano não resta senão continuar vivendo para cumprir seu altíssimo dever, contemplando com angústia o "rosto disforme" das coisas.

Com o avançar da idade o imperador Adriano decide escrever suas memórias ao jovem Marco Aurélio em uma carta que se divide em seis partes. 

O que inicia com a descrição de uma consulta médica e os exames desagradáveis que se seguiram, logo ganham a companhia de histórias familiares, sua escalada até se tornar imperador, as grandes lutas por território, nomeações de pessoas para ficarem ao seu lado, as grandes paixões e naturalmente as perdas que o imperador viveu.

O olho clínico não via em mim senão um amontoado de humores, tristes amálgama de linfa e sangue;

O destinatário não é uma escolha aleatória, pois ele não irá receber apenas uma carta, todas essas memórias são de certa forma um treinamento teórico para Marco Aurélio, que seria nomeado seu filho, para herdar o seu imperio.

Memórias de Adriano é uma ficção biográfica que mistura fatos históricos, filosofia e amor à arte, publicado em 1951, essa releitura se tornou uma das obras-primas da literatura francesa contemporânea.

Era o homem da tribo, a encarnação de um mundo sagrado e quase terrível, de que encontrei, por vezes, vestígios junto aos necromantes etruscos.

Marguerite Yourcenar, que no período da publicação utilizou o pseudônimo de Marguerite Crayencour, escreve em seu romance os anseios, opiniões e divagações de um homem poderoso, mas já velho, que se prepara para a morte e, após iniciar a procura por um herdeiro, encontra em um jovem, a quem conhece desde menino, um de seus sucessores. 

Por ser uma carta, a narrativa ocorre toda em primeira pessoa, o que torna os momentos humanos de Adriano mais próximos do leitor, como o seu choro por perder uma paixão que só se torna inesquecível porque o rapaz procurou a morte, tornando um relacionamento fadado à acabar em eterno. 

Meu primeiro consulado foi ainda um ano de campanha, uma luta secreta, mas contínua, em favor da paz.

Entre as passagens que trazem a realidade mais forte na sua mistura com a ficção estão os desafios nas obras construídas em Jerusalém e os conflitos (tão antigos) que afetam a região. 

De bônus, a autora conta os eventos e notas que resultaram no livro, assim como a bibliografia utilizada, sendo um complemento para quem deseja se aprofundar na leitura.

Se nada disse ainda sobre beleza tão definitiva, não se deve ver nessa omissão a espécie de reticência do homem irremediavelmente conquistado.

Um livro que pode agradar principalmente os fãs de clássicos e fatos históricos, e podendo fascinar os que ainda não se preocupam com a passagem dos anos, suas limitações e muito menos a morte.

Memórias de Adriano
Memoires d'Hadrien
Marguerite Yourcenar
Tradução: Martha Calderaro
RBS Publicações
1951 - 286 páginas

sábado, 30 de janeiro de 2010

A Distância entre Nós



Sinopse:Bombaim, Índia. Duas mulheres. Duas vidas. Dois destinos que poderiam ser um só. Sera e Bhima estão indiscutivelmente ligadas, seja pelo silêncio ou pela cumplicidade. Mas ao mesmo tempo estão distantes, separadas por uma fronteira intransponível. Como se o fio que as une não fosse forte o suficiente para aguentar uma descarga elétrica, força que parece definir a sorte e a tragédia da patroa e da empregada. Duas vidas marcadas pela decepção, enganadas pela traição, sujeitas a uma sociedade cruel cuja voz berra e marca a fogo a existência dessas mulheres. A distância entre nós é um romance avassalador, envolvente, intenso. Você não conseguirá parar de lê-lo, e não será o mesmo quando alcançar a última página.


Bhima mora em um barraco situado  em uma das favelas de Bombaim. Analfabeta, se vira trabalhando a mais de vinte anos na casa de Sera, uma viúva de classe média alta que vive em função da filha grávida e do seu genro.

A esperança de Bhima é sua neta Maya, que com a ajuda de Sera, está na universidade, o que pode possibilitar as duas uma vida melhor, só que uma gravidez inesperada joga todos os sonhos na lama e uma sequencia de erros e tentativas de reação aos acontecimentos acabam virando espadas sobre a cabeça desta mulher sofrida.

Ela se consolaria e depois se odiaria pela fraqueza daquele pensamento, por ter baixado tanto os seus padrões que a ausência de violência física houvesse se tornado a definição de um bom casamento.

Já Sera tem estudo, cultura e acesso amplo ao conhecimento, mas isso não a impede de casar com o homem errado nem livra-la de preconceitos, mesmo após compartilhar diferentes experiências com Bhima, o que gerou questionamentos de sua filha durante a adolescência sobre não permitirem que ela usasse coisas simples como os seus copos ou sentasse na mesa mesa.

Lembro que encontrei este livro justamente quando uma onda indiana se tornava moda no Brasil por causa de uma novela das 21hs chamada Caminho das Índias, e sua capa e sinopse logo me chamaram a atenção.

Nunca nos casamos apenas com uma pessoa. Casamos sempre com a família toda.

E achei interessante que apesar de toda cultura diferente, como algumas situações enfrentadas pelas mulheres são universais. A dor de estar longe de um filho, o machismo, a atribuição da culpa a vítima. Além é claro das diferenças sociais e de quanto os danos e dores são minimizados quando quem os sofre é o lado mais fraco da história.

Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a escrita da autora Thrity Umrigar é sensível e direta. Tendo como testemunha o mar de Bombaim, ela nos conta uma história carregada de tristeza, sofrimento e resignação, de uma forma que nos comove ou nos deixa louco de raiva.

Ela mesma tinha virado uma máquina, que só existia para trabalhar e ganhar o seu salário; precisava apenas de água e comida para manter suas peças lubrificadas e funcionando.

E sim, durante a leitura me vi compartilhando o misto de sentimentos que Bhima e Maya sentem ao enfrentar os seus medos, assim como virava as páginas com um fio de esperança de que elas poderiam ter um amanhã melhor.

Um livro para quem gosta de conhecer outras culturas, para não repetir preconceitos sociais, para refletir e se emocionar, enfim, para quem gosta de ler.

A distância entre nós
The space between us
Thrity Umrigar
Tradução: Paulo Andrade Lemos
Editora Nova Fronteira
2005 - 331 páginas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Crime e Castigo




Terminei finalmente de ler Crime e Castigo de Dostoiévski. Depois de várias pausas, retomei e, com algum esforço, consegui acabar. Não é digamos uma leitura de férias, pois o livro é denso ao extremo, cansativo, cheio de detalhes. 

Conta a história de um rapaz que comete um duplo assassinato - ele mata uma velha agiota para roubar seus bens e acaba matando também a irmã que aparece no local - e depois vive um drama psicológico devido ao sentimento de culpa e arrependimento. Tanto que não consegue usufruir do que rouba e acaba enterrando sob uma pedra em algum lugar em via pública. 

O mérito da obra, na minha opinião, está justamente nos fluxos de consciência dos personagens, seus medos, desejos e apreensões. O leitor vive intensamente o drama e a loucura do assassino e o peso de seu ato e acaba até torcendo por ele, por verificar que, no fundo, não é má pessoa, é um doente que cometeu um erro fatal.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A Hora da Estrela



Sinopse: Pouco antes de morrer, em 1977,  Clarice Lispector decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade. O resultado desse salto na extroversão é A hora da estrela, o livro mais surpreendente que escreveu. Se desde Perto do coração selvagem, seu romance de estreia, Clarice estava de corpo inteiro, todo o tempo, no centro de seus relatos, agora a cena é ocupada por personagens que em nada se parece com ela.


Logo de início o leitor é recebido por uma reflexão sobre escrever, pensar e existir do escritor Rodrigo S.M., que logo passa a compartilhar a história que lhe persegue, e tem como personagem principal a nordestina Macabéa

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.

Uma mulher que o acusa e o sufoca, ao qual sua única chance de defesa é escrever a sua história, e para isso ele precisa se entregar de forma total, sendo desleixado com roupas e higiene, substituindo o sono profundo por rápidos cochilos.

Macabéa vive na pobreza, tanto de espírito quanto de amor. Quando a tia que lhe cria morre, por motivo desconhecido, a moça resolve se mudar para o Rio de Janeiro. 

Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma.

No pequeno quarto alugado ela cria a sua própria rotina, seja trabalhando como datilógrafa, ouvindo a Rádio Relógio ou namorando um metalúrgico também nordestino. Até sentir a dor da traição.

Até uma cartomante, após listar as novas desgraças que irão lhe abater, lhe dá uma boa nova: que a partir do momento que ela colocar os pés para fora da casa da adivinha, tudo em sua vida irá mudar, permitindo que ela finalmente se sinta outra pessoa, o que faz nascer uma esperança até então adormecida.

Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo.

Essa mistura de eventos que o narrador imagina para essa mulher sem atrativo nenhum, ao qual complementa com suas opiniões e próprias experiências, que compõe o livro “A hora da estrela”. 

O impacto da narrativa de Clarice Lispector irá depender (e muito) do grau de envolvimento do leitor. Pois a sua simplicidade não trás nenhuma surpresa. Ou o leitor se envolve com a personagem que muitas vezes domina o autor, ou a deixará em branco. 

Pensar era tão difícil, ela não sabia de que jeito se pensava.

Um livro curto e de leitura rápida, “A hora da estrela” reflete o nosso cotidiano de dúvidas e escolhas, além da mesma busca por um final, que não se sabe se feliz ou não.

Para os fãs de Caio Fernando Abreu fica a penúltima frase “Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos”.

A Hora da Estrela
Clarice Lispector
Editora Rocco
1977 - 87 páginas