quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Querido Edward



Sinopse: Numa manhã de verão, Edward Adler, seus pais e o irmão mais velho embarcam em um voo de Nova York a Los Angeles, junto com outros 183 passageiros. Entre eles há um prodígio de Wall Street, um veterano ferido voltando do Afeganistão e uma mulher de espírito livre fugindo de um marido controlador. Algumas horas depois, no entanto, essas histórias são interrompidas bruscamente pela queda do avião. Todas, menos uma: Edward foi o único que sobreviveu.

O livro de agosto/20 da TAG Inéditos - sim, eu fiz mais uma assinatura de livros, culpa da pandemia - é o sensível Querido Edward, da escritora americana Ann Napolitano, sendo este o seu primeiro livro publicado no Brasil. E o mimo foi uma máscara para proteger os leitores da COVID-19 e um caderninho de anotações.

Resolveríamos tanta coisa se simplesmente ficássemos mais de mãos dadas.

Dividido em três partes, o livro possui duas narrativas em paralelo. Nos capítulos identificados por um horário o leitor irá passar por todos os procedimentos, desde o raio x no aeroporto de Newark até a queda do voo 2977 no estado do Colorado, acompanhando passageiros e tripulações em um voo até então igual a todos os outros.

Nestas horas temos Eddie, um menino de doze anos que possui uma doçura e tem uma grande admiração pelo irmão Jordan de quinze anos. Sua família é estruturada, e existe um cuidado entre eles, que vai da educação feita em casa pelo pai ao respeito que eles possuem um pelos outros. Fica claro o quanto eles se amam, o quanto os pais fortalecem o espírito dos filhos e as primeiras mudanças que os adolescentes estão passando.

Talvez porque ele tenha sido o último a ver vivas as pessoas que eles perderam.

Além da família Adler, histórias paralelas são pinceladas, há os que avaliam ações passadas, os que acham que tem todo o tempo do mundo, os que ainda não se descobriram, os que viveram muitas vidas, os que querem simplesmente ser felizes. Com alguns se cria uma empatia imediata, existem aqueles que te provocam uma tristeza a mais por terem um momento feliz interrompido.

Nos capítulos identificados por data, encontramos inicialmente no hospital um menino quebrado tanto fisicamente quanto na alma. Em plena transição de criança para adolescente, ele perde todas as suas referências, abandona o apelido e passa a utilizar o Edward. Uma redoma de proteção é construída a sua volta, mas se ninguém o diz, ele não percebe, ausente em seus silêncios. 

Para ela o passado é igual ao presente, tão precioso e próximo.

O leitor acompanha todo o luto do menino, que começa em junho de 2013, até ele aprender a administrar toda a sua tristeza e começar a sua reconstrução. E aqui entra o componente extra na história e razão do título: as cartas que os familiares dos mortos para o único sobrevivente da tragédia. Encontradas por acaso, elas são carregadas de histórias, saudades e algumas de desejos um tanto absurdos.

Com a guarda do sobrinho, os tios se veem administrando o medo da depressão que abate o menino, enquanto administram os próprios problemas, e no caso da tia Lacey a perda da própria irmã. Lacey vivia os seus próprios conflitos até Edward e as caixas da família caírem de paraquedas em sua casa. E apesar de não ser um personagem muito explorado, observa-se nos detalhes a forma como ela busca força de curar a própria dor através das roupas da irmã.

Você tem que voltar a fazer as coisas que qualquer pessoa normal faz.

Outra personagem muito interessante é Shay, a menina criada somente pela mãe que vira o apoio de Edward, cuja participação ativa na vida do guri o ajuda pouco a pouco conviver com os que lhe cercam e lhe dá um parâmetro de realidade.

Narrado em terceira pessoa, a escrita de Ann Napolitano é muito fluída, nos colocando ao lado de cada personagem e, muitas vezes, provocando uma espécie de reflexão sobre como aproveitamos o nosso limitado tempo. Afinal, estamos falando de um livro sobre perdas.

O momento final, fugaz, quando o avião ainda era um avião, e os passageiros ainda estavam vivos.

A história é triste, a ponto que me peguei pensando se o mimo não deveria ser uma caixa de lenço, mas não é piegas, nem uma novela mexicana, pelo contrário, há uma dose certa de humanidade, como que nos lembrando que independente de nossos erros e acertos, somos todos mortais.

Confesso que fiquei feliz em ler em um período de isolamento social, e não ter levando o livro para ler em um avião (o que poderia acontecer, já que eu não leio nada sobre o livro antes de finalizar a leitura), já que em terra firme ele já dá um grande nervoso.

Gostei, me emocionei e indico. E não se afaste dele pela pouca idade do personagem principal, pois não há nada de infantil na história, pelo contrário, estamos lendo sobre superação, perda, morte, vida e saudade. Uma espécie de sacudida que nos diz carpe diem.

Querido Edward
Dear Edward
Ann Napolitano
Tradução: Lígia Azevedo
TAG Inéditos - Paralela
2020 - 302 páginas

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