sexta-feira, 31 de outubro de 2025

O desabamento


Sinopse: Fruto do primeiro casamento de sua mãe, o irmão de Louis é o mais velho dos cinco filhos. Logo nas primeiras linhas deste romance, que é considerado um dos mais sombrios do autor, o narrador afirma não ter sentido nada ao saber da morte do irmão. “Aprender a conhecer meu irmão era aprender a odiá-lo”, diz, a determinada altura. É tomando essa distância ― física e afetiva ― que o narrador esmiúça a existência de seu irmão, entrevistando pessoas próximas de seu convívio, como uma professora e algumas ex-companheiras, e relembrando momentos decisivos da relação fraternal. Para reconstruir esse personagem, o narrador se vale das ciências sociais, da literatura, da psicologia e da memória, resultando em um romance único e inesquecível, de força e sensibilidade inigualáveis.

No mês de Julho/2025 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação da própria TAG, que estava de aniversário: o livro do escritor francês Édouard Louis chamado O desabamento. O mimo foi um livro extra de poesias do chileno Pablo Neruda.

O romance de auto ficção O desabamento tem o próprio autor Édouard Louis como narrador da morte precoce do seu irmão mais velhos aos 38 anos, causada pelo seu alcoolismo, vícios e o conjunto de violência e fugas acumuladas em seu curto período de vida.

Não senti nada quando soube que meu irmão tinha morrido; nem tristeza, nem desespero, nem alegria, nem prazer.


Ao tentar reconstruir a história de vida do irmão, o autor precisa lidar com os seus próprios fragmentos de memória que o farão retornar a infância e adolescência em uma vila operária no norte da França, em um ambiente que combina pobreza e violência familiar e social.

Outro recurso utilizado é através de depoimentos e conversas com mulheres próximas do irmão, que entram como um fator a mais para analisar não só o que levou o seu irmão mais velho para um caminho de autodestruição, como das suas próprias feridas nesta relação que combina amor e desprezo.


A escrita de Édouard Louis

Considerado uma das vozes mais importantes da literatura europeia contemporânea, o escritor e sociólogo francês Édouard Louis ficou conhecido por usar a sua história familiar para escrever romances de auto ficção.

Em seus romances temas como classe social, homofobia, pobreza, violência, busca por ascensão social e naturalmente, laços familiares são componentes frequentes em suas narrativas.

Ele disse que ia aprender uma nova profissão, com técnicas muito especificas, um saber que não é qualquer um que aprende, mas que ele, ele aprenderia.


O desabamento lançado recentemente faz parte de uma sequência de livros iniciados pelo seu primeiro romance "O Fim de Eddy", que conta a sua história, passando por narrativas que abordam também a figura da sua mãe e do seu pai.

Por ser auto ficção, a narrativa utilizada em O desabamento é em primeira pessoa, os capítulos são curtos e alguns questionamentos internos aparecem com frequência em alguns capítulos, lembrando um fluxo de consciência.

Meu irmão morreu. Eu resolvia essa frase na cabeça.


Também é utilizado a ênfase em determinadas frases, que além de serem a única informação, podem se repetir por mais de uma página, como uma forma de compartilhar o que martela na cabeça do escritor também na do leitor.


O que eu achei de O desabamento

Não são raras as vezes que junto com a morte são enterradas (ou queimadas) todas as dores e mágoas que a pessoa provocou em vida. 

Só que existem exceções, e em O desabamento o autor, na minha opinião, parece revisitar estas memórias para de certa forma entender a dor que permaneceu, apesar do irmão não poder mais feri-lo.

Aprender a conhecer meu irmão era aprender a odiá-lo: uma noite, nossos corpos se aproximaram por circunstâncias alheias á nossa vontade, e então entendi quem ele era, e o odiei.


E ao se recordar das mágoas, inevitavelmente também vem as boas lembranças, tornando tudo ainda mais confuso para quem não apenas busca o ombro dos amigos para saber se está correto, como divide toda essa carga psicológica nas páginas de um livro, dividindo com quem se deparar com ela.

No geral, eu achei a leitura boa, não havia lido nada do Édouard Louis antes, e em alguns momentos me solidarizei com a sua dor, pois outra coisa que desaparece com os mortos pelos quais os nossos sentimentos são controversos, são as respostas do por que não ser aceito? por que ser alvo de determinadas agressões? Entre tantos outros porquês que talvez só irão desaparecer com o tempo.

Será que escrevo porque essa dor faria com que eu me sentisse normal, um irmão como todos os outros irmãos, que chora a morte do outro?


Não achei ótimo pelo fato de em alguns momentos acha-lo repetitivo, o que também é natural, pois ao colocar todo o foco no que já foi, a mente tende a andar em círculos, o que é facilmente identificado no decorrer das páginas.

Por outro lado, esta repetição me fez pensar se existe culpa por não conseguir se livrar de toda a dor provocada. De não ser como muitas pessoas e só divulgar o que houve de bom, santificando quem muitas vezes nos infernizou. Tornando o livro também um desabafo de quem ficou e não sabe mais o que fazer com a carga emocional nuca resolvida.

Às vezes tenho a impressão de que a história do meu irmão é a história de uma Ferida lançada no mundo e sempre reaberta.


Já me disseram que o livro se torna ainda mais claro se for lido o primeiro romance do autor, O Fim de Eddy. E confesso que isso me despertou a curiosidade, para ver se terei os mesmos sentimentos em relação ao Desabamento, ou se o meu entendimento se ampliaria.

Ficando a dica para quem gosta de auto ficção, narrativas que envolvem conflitos familiares, ou que procura um livro rápido para ler.


O desabamento
L'effondrement
Édouard Louis
Tradução: Marília Scalzo
TAG - Todavia
2025 - 165 páginas
Publicado originalmente em, 2024

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