sexta-feira, 23 de junho de 2023

Contos Folclóricos Africanos - Vol. 1



Sinopse: A África é o berço da civilização e essa seleção de contos celebra sua cultura e influência, tão ricas e diversificadas quanto o próprio continente. Na África setentrional, as histórias de sultões e seres mágicos deixam entrever a influência moura; nas verdejantes florestas do Congo, sociedades de animais cuja inteligência sobrepuja à do ser humano; nas ilhas orientais, as alegorias morais das antigas civilizações tribais. Contos folclóricos africanos reúne histórias coletadas por exploradores, governantes e missionários europeus, em sua maioria contadas diretamente pelos nativos. São narrativas transmitidas verbalmente, de geração em geração, por provavelmente centenas de anos. Os contos revelam o folclore, crenças e códigos de ética africanos. Curiosamente, essa mitologia pré-colonização encontra ecos em muitas outras ao redor do mundo.

Encontrei Contos Folclóricos Africanos entre os ebooks gratuitos, disponibilizado para o público geral, na Amazon. E como gosto de edições de bilingues para me ajudar a estudar inglês já aproveitei para baixar.

De rápida leitura, o conjunto me lembrou um pouco as 1001 noites com as próprias histórias regionais que temos no Brasil, já que as histórias misturam a cultura africana com contos fantásticos, ao trazer animais falantes ou incidentes que se repetem muitas vezes.

Não se pode confiar nos filhos de Adão. O que querem de mim?


Por derivarem da narrativa oral, demonstrando que são histórias carregadas a muitos anos, passando pelas diversas mudanças no mundo, então sim, haverá momentos de machismos e situações que nos tempos atuais são estranhas. Mas nem por isso menos importante de se conhecer, já que só aprendendo com o passado se terá um presente e um futuro melhor.

Mas chega de bla bla bla e vamos ao breve resumo dos contos.


O filho do médico e o rei das cobras 

Um rapaz órfão de pai é incentivado pela mãe a procurar uma profissão, sem conseguir se encontrar nos primeiros ofícios, ele busca saber a profissão do pai, que era médico.

Mas antes que encontre os livros para entender a atividade, é chamado pelos vizinhos para cortar lenha durante uma semana, onde ele é enganado e abandonado.

Quando estiver em sua cidade, não tome banho com muitas pessoas.


Para sobreviver acaba buscando um caminho, e é nele que encontrará o rei das cobras.


O Macaco, a cobra e o leão

Uma viúva passa dificuldades financeiras para sustentar o filho na aldeia que moram. Conforme ele cresce, opta em seguir a profissão do pai de caçador e espalhar armadilhas na floresta próxima.

Mas com o passar do tempo, o menino descobre que pegar um animal não é tão rápido e fácil assim, até prender um macaco. Mas invés de matar, ele acaba aceitando o trato de salva-lo para um dia ser salvo também.

Nunca ajude homem nenhum, pois ele se voltará contra você na primeira oportunidade.


E o mesmo ocorre com uma cobra e um leão, e todos, sem exceção, após libertos lhe recomendam nunca ajudar um homem. Até que um dia um homem fica preso a sua armadilha.


Os pretendentes da princesa gorila

O primeiro fato interessante neste conto é que ele se inspira na chegada do rum na África, aqui chamado de nova água. Ao mesmo tempo que justificaria o motivo pelo qual o bando de micos vive nas árvores e não mais no chão.

Fez uma única e vã tentativa. Foi embora com o rabo baixo, rastejando de vergonha.


Na história a linda filha do Rei Gorila chegou na idade em que deve se casar, e o rei avisa a todas as tribos e impõe uma regra: o seu futuro genro precisava beber um barril inteiro da nova água. Uma tarefa nada fácil.


Ga'so, o professor

Aqui temos um homem que ensinava as crianças a ler debaixo de uma cabaceira e morreu ao ser atingido por um fruto enquanto preparava a sua aula.

Vejam só! Não é capaz de dizer uma palavra sequer para se defender.


Quando os alunos o encontram são tomados pela tristeza e pelo desejo de encontrar o assassino, que tem como suspeitos o vento sul, uma parede de barro, um rato, entre outros que eles vão encontrando ao longo de sua investigação um tanto violenta.


Por que os bodes são animais domésticos

Outra história que aborda porque um animal mudou o seu destino original. Aqui um bode vive em uma aldeia com sua mãe quando anuncia que tem uma poção que o torna invencível.

Que vergonha um animal desse tamanho derrotar um de nossa espécie.


Logo a notícia se espalha e chegam os seus desafiantes, mas nem todos irão aceitar perder a luta com facilidade, e a floresta passa a ser extremamente insegura.


O leopardo de pele lisa

Em um reino, a filha favorita de um rei ganhou o direito de escolher o próprio marido. 

Vejam que homem lindo! Que belo rosto e que porte!


Os pretendentes precisam atender a um único pré-requisito: não ter nenhuma mancha na pele. E assim ela auditava cada um que a pedisse em casamento, dispensando ao encontrar qualquer pinta mínima ou cicatriz.

O desafio chegou até o mundo animal, onde poções o ajudavam a se transformar na forma humana. Mas a escolha da difícil princesa foi sábia?


O tambor mágico

Outro conto que explica a mudança de localização dos animais, neste caso os cágados que vivem somente na água.

Em mundo que humanos e animais viviam em harmonia, cágados e leopardos ocupam uma mesma rua.

Usavam-no de maneira tão excessiva que o instrumento se aborreceu e, exaurido, não produzia mais nenhuma comida.


Mas a região sofre com a escassez de comida, fazendo com que seus habitantes começassem a morrer de fome.

Na busca por alimento, o Cágado irá se aventurar por outros lugares, mas o que ele irá encontrar mudara a vida da sua espécie para sempre.


Por que o sol e a lua vivem no céu

Neste conto o sol e a lua eram casados e viviam na Terra. O sol era um grande amigo da água e sempre a visitava, mas a água nunca retribuía as suas visitas, alegando que a sua casa era pequena para todo o seu povo.

Se você quer que eu o visite, construa uma grande aldeia. Terá que ser realmente imensa. Meu povo é numeroso e ocupamos muito espaço.

E assim o sol começou a construir uma aldeia realmente grande para receber a sua amiga  e toda a sua família, que ao término da obra, aceitou o seu convite.

O que o casal não imaginava era que a amiga era demasiada espaçosa.


O que eu achei de Contos Folclóricos Africanos

A leitura rápida em estilo de fábula serve tanto para conhecer histórias de outras culturas, ao mesmo tempo que foi possível observar como brasileira os contos do nosso país que revelam semelhanças com as trazidas pelos navios.

Também é interessante como as histórias possuem pontos em comum, como iniciarem com uma viúva e um bebê, onde a mulher precisa criar sozinha o filho e o menino ao crescer resolver seguir a profissão do pai para tirá-los da pobreza.

Outro ponto que me chamou a atenção é que ao mesmo tempo que temos muitas vezes famílias e tribos representadas por animais, é possível ver que nada mais são do que alegorias das famílias e sociedade humana, tornando tudo muito interessante.

Como eu gosto de contos, achei muito bacana tanto para relaxar quando para estudar. Ficando a dica, já que a sua distribuição é gratuita.


Contos Folclóricos Africanos - Vol. 1
Elphinstone Dayrell, George Bateman, Robert Hamill Nassau
Tradução: Gabriel Naldi
SESC - mojo ong


sexta-feira, 9 de junho de 2023

Veríssimas



Sinopse: O publicitário e jornalista Marcelo Dunlop tinha apenas dez anos quando descobriu, lendo um texto de Luís Fernando Verissimo, que até a morte podia ser engraçada. Deslumbrado com o achado e às gargalhadas, o menino recortou a crônica do jornal e passou a fazer o mesmo com várias outras. Duas décadas depois, eis aqui o resultado da empreitada: uma seleção de pérolas garimpadas em toda a obra do escritor. Salpicada de cartuns raros recolhidos no baú do autor, esta coletânea traz cerca de oitocentos verbetes – ou Veríssimas - em ordem alfabética. Conduzido e instigado por esse alfabeto particular, o leitor seguirá se divertindo de A a Z com as comparações, máximas, mínimas e metáforas do mestre do humor sintético.

Em minha saga para me adaptar a leituras no Kindle - por favor, não me julguem, ainda possuo um apego enorme ao que me permite folhar as páginas com os dedos - eis aqui a minha segunda resenha de um livro lido pelo simpático aparelho.

Como a sinopse já indica, Veríssimas é uma coletânea em um formato que lembra um dicionário, organizada pelo jornalista Marcelo Dunlop e cujas as ilustrações foram selecionadas pela Fernanda Veríssimo e pelo Fraga.

Abismo: Se o mundo está correndo para o abismo, chegue para o lado e deixe ele passar.


Logo de início temos uma espécie de resumo feito pelo Antônio Prata sobre o próprio Luís Fernando Veríssimo, lembrando-nos de sua paternidade em relação ao Analista de Bagé, sua torcida por um dos times gaúchos de futebol e claro aos livros que são referência nesta coletânea de frases, reflexões e sacadas sobre o cotidiano do passado e presente, com um toque de futuro.

Seguindo de um texto do próprio Marcelo Dunlop que se diz um dos dezessete leitores deste autor gaúcho, conta realizada pelo próprio escritor que parece ter um desvio de erro um pouco acima da margem. Da primeira tirinha lida em uma revista até a ideia de um livro que reunisse um pouco de tudo, como forma de homenagear o octogésimo aniversário do autor. 

Amanhã: Temos que confiar no amanhã. A não ser que descubram alguma coisa contra ele durante a noite.


Tornando Veríssimas além de uma homenagem, uma ótima justificativa para quem não gosta de colocar nada fora, já que Dunlop utilizou os recortes e livros que ele guardava para reler depois - e assim efetivamente fez a segunda leitura - além das que entraram de bônus após pesquisas em jornais, revistas e na própria Biblioteca Nacional.

E assim entramos no universo de Luís Fernando Veríssimo e de suas opiniões que vão de frutas, passando por atividades de lazer, Adão e Eva, sexo, geografia, história, amor... tudo com uma fina ironia que me arrancaram de pequenos sorrisos a gargalhadas.

Brasil: No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.


Algumas definições seguem atualizadíssimas, como para Amigos, onde ele afirma que opiniões podem custar amizades, um retrato fiel do que viraram alguns grupos de amigos e familiares não só no Brasil nos últimos anos.

Ou sobre a corrupção no Brasil, cujas contas não fecham desde o tempo de Cabral começou a negociar com os índios.

Burrice: Deus nos livre da burrice alheia, que a nossa é pitoresca.


Há frases sobre a vida, como o fazer aniversário, arrependimentos e aposentadoria, onde este seria último seria um vagabundo sem culpa e com uma renda insuficiente.

Não posso deixar de citar o esporte mais popular em terras brasileiras, o Futebol aparece através da rivalidade com o país vizinho, posições no campo entre outros.


O que eu achei de Veríssimas


Eu gosto muito da escrita do Luís Fernando Veríssimo, era uma leitora frequente de suas crônicas no jornal e de seus livros, e gostei muito da coletânea feita, que me ajudaram a matar saudades do autor.

Pois ao mesmo tempo que ela nos conta um pouco da nossa história, ela nos diverte em uma leitura leve, que combina com aquele dia que você quer relaxar, ou para aliviar depois de uma ressaca literária.

Carpe Diem: Viva todos os dias como se fosse o seu último. Um dia você acerta.


Não é um livro que precise ser lido de cabo a rabo correndo, sendo muito fácil combina-lo com outras leituras. Eu gostava de ler de manhã, quando estavam todos dormindo e tinha preguiça de acender a luz. O que não deixa de ser uma forma de começar o dia com bom humor, embora algumas das palavras e frases que as acompanham me fizeram refletir como não temos evoluído em diversas questões.

Ficando assim a dica para quem curte comédia, livros leves e claro, o próprio Veríssimo.


Ver!ssimas
Luís Fernando Veríssimo
Editora Objetiva
2016 - 224 páginas


quinta-feira, 1 de junho de 2023

Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente



Sinopse: Mude-se para a cidade grande. Consiga um diploma. Não se apaixone. Evite os idealistas. Aprenda com um mestre. Trabalhe para si mesmo. Esteja preparado para fazer uso da violência. Faça amizade com um burocrata. Patrocine os artistas da guerra. Faça malabarismo com as dívidas. Concentre-se no essencial. Planeje uma estratégia de fuga. Qualquer semelhança deste livro com manuais de autoajuda não é mera coincidência.

No mês de Abril/2023 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria mais uma indicação do escritor João Anzanello Carrascoza - que já havia sido o curador do ótimo A Velocidade da Luz -, que indicou um livro cuja ironia já começa no título: Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente do autor paquistanês Mohsin Hamid. O mimo foi um pacote de sal temperado da Black Flag que eu adorei, pois também curto muito cozinhar.

Em um lugar fictício, que poderia ser no Paquistão, na Índia, na África ou na América Latina, os personagens não possuem nome. É o pai, a mãe, o irmão da esposa, ou outro substantivo que substitui uma identificação formal.

Olha, um livro de autoajuda é um oximoro, a menos que você seja o autor dele.


É através do personagem principal e da nomeada menina bonita que o leitor acompanha décadas da vida dos dois. Do abandono do meio rural ainda na infância, a luta pela ascensão social durante a juventude e as oportunidades de sucesso que colocam em xeque qualquer ética na vida adulta, e uma grande história de amor que ultrapassa os anos seja próximo ou só na memória sem ser nunca esquecida ou reduzida.

Tudo acompanhado pelos conselhos com tom de autoajuda, que nada são que uma crítica a forma como ocorre o desenvolvimento em locais onde riqueza e miséria disputam espaço e recursos, onde os vencedores são conhecidos antes da queda de braço começar.


A escrita de Mohsin Hamid

Utilizando uma narrativa em segunda pessoa, o autor Mohsin Hamid transforma o leitor em seu personagem principal, usando uma linguagem que o coloca dentro da história, enquanto conta tudo o que “você” fez, viveu e viu em cada capítulo.

E é em uma zona rural você vai ver a sua avó paterna eternamente avaliando a sua mãe, assim como seus pais tendo momentos íntimos na única peça da casa. Vivenciará o êxodo rural como uma busca por uma melhor forma de se viver e encontrará na cidade o seu primeiro e grande amor, também irá ser o primeiro da sua família a conseguir ir para uma universidade e se sentira coagido por um determinado grupo. Até ter uma ideia e conseguir ir melhorando de vida nesta Ásia Emergente que nos é apresentada.

Na verdade, todos os livros, todo e qualquer livro já escrito poderia ser oferecido ao leitor como uma forma de autoajuda.


Dividido em doze capítulos cujos nomes já dão uma pista do que será abordado, o livro consegue costurar uma história de amor justamente com o crescimento das grandes cidades, onde a busca constante em fugir da miséria leva ao comodismo ou ao vale-tudo, conforme a personalidade de quem está no caminho e ao momento da vida.


O que eu achei de Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente

Como viver eternamente apaixonado pela mesma mulher na Ásia Emergente, este seria o título que eu daria, caso tivesse o poder de escolha. Pois na minha opinião este é o primeiro foco do livro: o grande amor que o personagem principal nutri pela menina bonita e ao qual é correspondido, mas vivido plenamente só em alguns momentos, entre as pausas que eles fazem na corrida por seus sonhos.

Triste? Capitalismo selvagem? Talvez sim, talvez não, mas como não dá para viver de amor, talvez esse seja o segredo de torna-lo tão forte e resistente ao tempo. Pois ao fugir da miséria, essa também não consegue corroer a relação.

Sim, a busca do amor e da riqueza têm muito em comum. Ambas têm o potencial de inspirar, motivar, entusiasmar e matar.


O segundo foco do livro é a sobrevivência em meio a pobreza. Sem usar nomes para seus personagens ou cidades, a busca constante por um crescimento financeiro poderia ser em qualquer país de terceiro mundo, incluindo o Brasil - apesar de hoje ser definido como em desenvolvimento. Pois não há uma presença forte da parte cultural ou religiosa que me tenha colocado dentro de um lugar específico.

Sobre a brincadeira com os livros de autoajuda, sou obrigada a confessar que não me ajudaram a engatar na leitura, apesar do romance não ter nem duzentas páginas. Com exceção dos capítulos iniciais e finais, ele não me conquistou. Me fazendo levar um tempo considerável para completar a leitura, já que raramente me animava a ler dois capítulos ou mais por dia.

O que vale para os livros de autoajuda vale também, inevitavelmente, para pessoas.


Isso significa que eu achei ruim? De forma alguma, achei a história de amor bonita e a forma como se tem uma visão completa da vida do personagem interessante. Mas em alguns momentos achei um pouco superficial, pois apesar do narrador falar diretamente comigo, eu não conseguia me integrar completamente na pele do personagem.

Mas no futuro penso em reler, pois muitas vezes mudamos a nossa visão com a passagem do tempo. Fora que a edição da TAG ficou belíssima, eu me apaixonei pelo kit no geral.

Muitas habilidades, como todo empreendedor de sucesso sabe, não têm como ser ensinadas na escola. Elas exigem prática. Às vezes, uma vida inteira de prática.


Ficando a dica para quem gosta de narrativas diferentes, curte um romance de formação, não resiste a histórias de amor, ou simplesmente quer ler. E se depois quiser compartilhar as suas impressões, quem sabe você tenha alguma observação que me faça mudar o olhar.


Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente
How to Get Filthy in Rising Asia
Mohsin Hamid
Tradução: Sonia Moreira
TAG - Companhia das Letras
2013 - 175 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.