quinta-feira, 1 de junho de 2023

Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente



Sinopse: Mude-se para a cidade grande. Consiga um diploma. Não se apaixone. Evite os idealistas. Aprenda com um mestre. Trabalhe para si mesmo. Esteja preparado para fazer uso da violência. Faça amizade com um burocrata. Patrocine os artistas da guerra. Faça malabarismo com as dívidas. Concentre-se no essencial. Planeje uma estratégia de fuga. Qualquer semelhança deste livro com manuais de autoajuda não é mera coincidência.

No mês de Abril/2023 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria mais uma indicação do escritor João Anzanello Carrascoza - que já havia sido o curador do ótimo A Velocidade da Luz -, que indicou um livro cuja ironia já começa no título: Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente do autor paquistanês Mohsin Hamid. O mimo foi um pacote de sal temperado da Black Flag que eu adorei, pois também curto muito cozinhar.

Em um lugar fictício, que poderia ser no Paquistão, na Índia, na África ou na América Latina, os personagens não possuem nome. É o pai, a mãe, o irmão da esposa, ou outro substantivo que substitui uma identificação formal.

Olha, um livro de autoajuda é um oximoro, a menos que você seja o autor dele.


É através do personagem principal e da nomeada menina bonita que o leitor acompanha décadas da vida dos dois. Do abandono do meio rural ainda na infância, a luta pela ascensão social durante a juventude e as oportunidades de sucesso que colocam em xeque qualquer ética na vida adulta, e uma grande história de amor que ultrapassa os anos seja próximo ou só na memória sem ser nunca esquecida ou reduzida.

Tudo acompanhado pelos conselhos com tom de autoajuda, que nada são que uma crítica a forma como ocorre o desenvolvimento em locais onde riqueza e miséria disputam espaço e recursos, onde os vencedores são conhecidos antes da queda de braço começar.


A escrita de Mohsin Hamid

Utilizando uma narrativa em segunda pessoa, o autor Mohsin Hamid transforma o leitor em seu personagem principal, usando uma linguagem que o coloca dentro da história, enquanto conta tudo o que “você” fez, viveu e viu em cada capítulo.

E é em uma zona rural você vai ver a sua avó paterna eternamente avaliando a sua mãe, assim como seus pais tendo momentos íntimos na única peça da casa. Vivenciará o êxodo rural como uma busca por uma melhor forma de se viver e encontrará na cidade o seu primeiro e grande amor, também irá ser o primeiro da sua família a conseguir ir para uma universidade e se sentira coagido por um determinado grupo. Até ter uma ideia e conseguir ir melhorando de vida nesta Ásia Emergente que nos é apresentada.

Na verdade, todos os livros, todo e qualquer livro já escrito poderia ser oferecido ao leitor como uma forma de autoajuda.


Dividido em doze capítulos cujos nomes já dão uma pista do que será abordado, o livro consegue costurar uma história de amor justamente com o crescimento das grandes cidades, onde a busca constante em fugir da miséria leva ao comodismo ou ao vale-tudo, conforme a personalidade de quem está no caminho e ao momento da vida.


O que eu achei de Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente

Como viver eternamente apaixonado pela mesma mulher na Ásia Emergente, este seria o título que eu daria, caso tivesse o poder de escolha. Pois na minha opinião este é o primeiro foco do livro: o grande amor que o personagem principal nutri pela menina bonita e ao qual é correspondido, mas vivido plenamente só em alguns momentos, entre as pausas que eles fazem na corrida por seus sonhos.

Triste? Capitalismo selvagem? Talvez sim, talvez não, mas como não dá para viver de amor, talvez esse seja o segredo de torna-lo tão forte e resistente ao tempo. Pois ao fugir da miséria, essa também não consegue corroer a relação.

Sim, a busca do amor e da riqueza têm muito em comum. Ambas têm o potencial de inspirar, motivar, entusiasmar e matar.


O segundo foco do livro é a sobrevivência em meio a pobreza. Sem usar nomes para seus personagens ou cidades, a busca constante por um crescimento financeiro poderia ser em qualquer país de terceiro mundo, incluindo o Brasil - apesar de hoje ser definido como em desenvolvimento. Pois não há uma presença forte da parte cultural ou religiosa que me tenha colocado dentro de um lugar específico.

Sobre a brincadeira com os livros de autoajuda, sou obrigada a confessar que não me ajudaram a engatar na leitura, apesar do romance não ter nem duzentas páginas. Com exceção dos capítulos iniciais e finais, ele não me conquistou. Me fazendo levar um tempo considerável para completar a leitura, já que raramente me animava a ler dois capítulos ou mais por dia.

O que vale para os livros de autoajuda vale também, inevitavelmente, para pessoas.


Isso significa que eu achei ruim? De forma alguma, achei a história de amor bonita e a forma como se tem uma visão completa da vida do personagem interessante. Mas em alguns momentos achei um pouco superficial, pois apesar do narrador falar diretamente comigo, eu não conseguia me integrar completamente na pele do personagem.

Mas no futuro penso em reler, pois muitas vezes mudamos a nossa visão com a passagem do tempo. Fora que a edição da TAG ficou belíssima, eu me apaixonei pelo kit no geral.

Muitas habilidades, como todo empreendedor de sucesso sabe, não têm como ser ensinadas na escola. Elas exigem prática. Às vezes, uma vida inteira de prática.


Ficando a dica para quem gosta de narrativas diferentes, curte um romance de formação, não resiste a histórias de amor, ou simplesmente quer ler. E se depois quiser compartilhar as suas impressões, quem sabe você tenha alguma observação que me faça mudar o olhar.


Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente
How to Get Filthy in Rising Asia
Mohsin Hamid
Tradução: Sonia Moreira
TAG - Companhia das Letras
2013 - 175 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.

Um comentário:

  1. Interessante um dos focos do livro que coloca amor e riqueza com muito em comum. Ambas com potencial de inspirar, motivar, entusiasmar e matar. Uauuuu....

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