quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Se adaptar


Sinopse: “UM DIA, NUMA FAMÍLIA, NASCEU UM MENINO INADAPTADO”. Assim começa a história do menino de olhos negros que flutuam para o nada, eternamente deitado, e dos seus três irmãos. Em meio à natureza poderosa das montanhas, são as pedras do muro da velha casa da família que testemunham suas trajetórias. O amor absoluto e protetor do mais velho, a rebeldia que a do meio assume para rejeitar a dor, a chegada do mais novo que cresce à sombra das memórias. Um livro magnífico e luminoso, sobre o laço infinito entre irmãos e a inesgotável capacidade humana de se adaptar.

No mês de maio/2025 recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação da editora Ana Lima Cecílio, que foi o livro Se adaptar da escritora francesa Clara Dupont-Monod. O mimo foi uma obra inédita produzida em família de Rafael Coutinho e Laerte.

No sul da França, em uma região que a natureza e as montanhas se fazem presente, uma família tem sua vida totalmente alterada após o nascimento do terceiro filho.

Um dia, numa família, nasceu um menino inadaptado. Ainda que de uma crueldade degradante, é esse termo que dá a real dimensão de um corpo mole, de um olhar móvel e vazio.


O menino que nasce com uma condição não nomeada que o impede de se movimentar e interagir com o humano, gerando sentimentos diversos em seus pais e seus dois irmãos.

E é sobre esta necessidade de se adaptar a quem nasceu inadaptado que irá gerar relações complexas e diferentes do irmão mais velho e da irmã do meio.

Há milhares de anos, temos sido as testemunhas. As crianças são sempre as esquecidas das histórias.


Tudo em meio em uma narrativa sensível, que ao mesmo tempo que nos coloca no lugar do outro, nos enche de perguntas.


A escrita de Clara Dupont-Monod

A escritora e jornalista francesa Clara Dupont-Monod é conhecida por suas críticas literárias e a escrita sensível de seus livros, que tiveram como resultado duas premiações, inclusive o Prix Femina em 2021 por Se adaptar.

Em Se adaptar ela coloca as pedras para contarem a história do menino inadaptado e seus irmãos. Dividido em três partes, o foco está totalmente nos irmãos, sendo necessário estar atento aos detalhes para perceber o impacto sofrido também pelos pais.

Muito lhe disseram que o tempo cura. Na verdade, ele o mede durante essas noites, e o tempo não cura nada, muito pelo contrário.


As mudanças naturais no local onde a família são outro ponto de atenção, servindo tanto como um anúncio do que está por vir como uma metáfora de todas as transformações que ocorrem com os personagens que começam crianças e chegam à idade adulta na narrativa.

A escrita é ao mesmo tempo delicada, poética e real. Existe uma humanidade latente em cada um dos seus personagens, provocando o leitor sobre de que forma ele se adaptaria se vivesse situação semelhante.


O que eu achei de Se adaptar

Ao contrário do que é dito, não me pareceu que eram as pedras que estavam contando a história. Só me lembrava que eram elas quando as mesmas eram nominalmente citadas. Como se faltasse algo para gerar essa conexão, dando a impressão de ser uma narrativa simples em terceira pessoa.

No geral achei a narrativa uma mistura de tristeza, resiliência e revolta com todo o peso físico, financeiro e emocional de criar uma criança que não irá interagir com o mundo conforme o esperado.

Os primeiros enfrentavam, o segundo foi se fundindo. Para ela, não sobrava nada, nenhuma energia para sustentá-la.


O resultado de tudo isso é silêncio, solidão, negação e como diz o título, adaptação. Motivo pelo qual apesar do livro ser curto, aos poucos ele foi me gerando um cansaço, principalmente quando cheguei na última parte.

Cansaço semelhante ao encontrado muitas vezes nesta visão do que se passa dentro de uma família que tem as ilusões quebradas por algo que torna o seu filho inadaptado para a vida em sociedade.

Um senso de dever as guia. Elas vão estar sempre ali, vigias na noite escura, vão se virar para não sentir nem frio nem medo.


E são os filhos que acabam representando as diferentes reações. Começando pelo irmão mais velho que abdica de tudo para dar suporte e sente a dor de forma mais latente a ponto de se fechar para o mundo. E os pais simplesmente parecem não ter tempo de ver isso.

A irmã do meio é quem se envergonha e acaba por se revoltar por não ter mais a mesma rotina de antes. Mas seus atos já conseguem atrair mais os olhares tão ocupados com as dificuldades do dia-a-dia.

Sentia que não devia ser esse o seu papel, mas sentia também que o destino gosta de bagunçar os papéis e que era preciso se adaptar.


E por fim, tem o irmão que nasce depois e por influência da própria imaginação acaba indo parar a sombra do menino inadaptado. O que me gerou mais dúvidas e curiosidade do motivo pelos pais permitirem ou não perceberem isso. Para logo em seguida me lembrar que quando se trata de seres humanos quem está de fora enxerga melhor do que quem está dentro.

No geral é um livro que mexeu com a minha empatia ao mesmo tempo que gerava questionamentos e reflexões. Motivo pelo qual deixo a dica de leitura aqui. 


Se adaptar
S'adapter
Clara Dupont-Monod
Tradução: Diego Grando
TAG - Dublinense
2025 - 160 páginas
Publicado pela primeira vez em 2021


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