sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mais um ano se foi...



E vem aí um ano novinho para darmos continuidade a tudo aquilo que nos faz bem.

Ria,
chore,
seja sincero consigo mesmo,
ame aquele alguém especial,
dê atenção aos amigos...
E leia! Leia muito!!!

Um ótimo Natal e um Ano Novo próspero para todos os literamados leitores!





terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aurora Boreal



A aurora boreal se contorce e gira como um dragão no céu noturno. Estrelas e planetas são obrigados a dar passagem a ela, esse grande milagre de luz trêmula, enquanto percorre tranquilamente seu caminho pela abóbada celeste.”

Na igreja de cristal, situada na gelada Kiruna, uma pequena cidade da Suécia, Viktor, o homem que morreu e voltou, e agora falava em nome de Deus, é mutilado em seu próprio território e tem o seu corpo encontrado pela irmã Sanna, uma mulher bonita e encantadora, mãe de duas meninas, que sob pressão se fecha em um mundo próprio.

Em Estocolmo, Rebecka esconde as lembranças do passado, e vive uma vida solitária, dedicando tudo a sua carreira como advogada tributária. Mas a morte de Viktor lhe puxa de volta para as origens.

Durante sete dias Rebecka irá reviver lembranças e perdas, ao mesmo tempo em que irá se deparar com fraudes que enriqueceram os pastores da Igreja da fonte de Toda a Nossa Força e mistérios que fazem com que todos os envolvidos diretamente com o morto fiquem calados. Entre um bilhete de ameaça e pontos que não formam a imagem da resposta, ela encontra nos policiais Anna-Maria e Sven-Erik o apoio necessário para desvendar o segredo encoberto pela morte de Viktor.

Rápido, cativante, Asa Larsson prende o leitor com o seu Aurora Boreal, deixando na última página um gosto de quero mais. Rebecka, sua personagem principal, cativa sem ter o perfil clássico de heroína, e conforme as páginas vão avançando, dúvidas e certezas se misturam na cabeça do leitor.

Uma curiosidade, assim como Stieg Larsson, a autora nomeia um dos seus personagens com o seu sobrenome.

Aurora Boreal
Asa Larsson
Tradução Francisco José M. Couto e Éric R. R. Heneault
Editora Planeta
2010
302 páginas

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Desfiladeiro do Medo



Na contracapa, Tarantino desfia uma série de adjetivos para o autor Clive Barker, que neste livro descreve através da propriedade chamada Coldheart Canyon toda a relação dos astros de Hollywood com a fama, com os fãs, com seus empresários, com os diretores dos estúdios e com eles mesmos.

Em um primeiro momento conhecemos Katya Lupi e seu empresário Zeffer, que para agradar a estrela, pelo qual é apaixonado, compra uma série de ladrilhos misteriosos na Romênia, que formam um conjunto de pinturas chamado de a caçada, e a transfere para uma sala especial na mansão da famosa atriz do cinema mudo.

Avançando no tempo, o leitor irá conhecer Todd Pickett, um homem bonito, que causa suspiro em muitas fãs e vê o tempo (e atores mais jovens) como o seu maior inimigo. Ao realizar uma cirurgia plástica que lhe causa mais danos do que benefícios, acaba por se esconder em uma antiga mansão e conhecendo a própria Katya, dona do local, que apesar de centenária permanece jovem, os espíritos que a cercam e a terra do demônio. Na companhia de sua anfitriã, verá antigos astros realizarem orgia e as estranhas criaturas por eles geradas.

A heroína da história é a fã obcecada Tammy, uma mulher infeliz com o casamento e com o próprio corpo, que se ocupa em acompanhar a carreira de Todd, e sai em busca do ator quando este desaparece. Ao mostrar sua coragem e bondade, acaba conquistando amigos improváveis.

O livro possui 700 páginas e poderia ter mantido o título original, Coldheart Canyon, assim como poderia ser reduzido pela metade, tamanho o besteirol escrito. Misturando espíritos, demônios e sexo, tendo muito mais foco para o sexo, o livro não assusta, nem causa arrepios, mesmo nos poucos assassinatos narrados. Muitas vezes fiquei pensando se o escritor havia sido esnobado por muitos astros, ou se é complexo de inferioridade, ou se a escrita é ruim mesmo.

Perdoem-me os que gostaram do livro, mas o achei superficial, bobo e longo demais para o fraco conteúdo apresentado.

O Desfiladeiro do Medo (Coldheart canyon)
Bertrand Brasil
2002
Tradução Ruy Jungmann
700 páginas

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Feliz Ano Novo




Meu primeiro contato com Rubem Fonseca se deu através do conto “O Cobrador”. Admirável, diferente de todos os contos que tinha lido até então. Uma nova forma de sentir medo. Um medo social. Mas foi com o conto Feliz Ano Novo que me vi rendida aos escritos do autor. O conto me marcou tanto, a ponto de ser a primeira coisa que me passou pela cabeça após o trauma de estar em uma casa invadida por assaltantes. Sempre que me lembro do conto, lembro deste episódio e vice versa.

Na semana passada o livro Feliz Ano Novo passou pelas minhas mãos na biblioteca em que trabalho. Não passou impune. Devorei cada conto me sentindo meio carioca, muito brasileira. São 15 contos que nos levam até a vida de pessoas que não tem nada ou quase nada a perder. Pobreza, falta de perspectiva, discriminação, abandono... Tudo retratado às vezes com humor, às vezes como simples e dura realidade.

Meus destaques (se não for muita ousadia), ficam com o humor de Corações Solitários, - do repórter que inventa as cartas a serem respondidas em um jornal feminino em que todos os funcionários são homens -, para Passeio Noturno I e II, - onde o bom marido desconta as amarguras em crimes singulares -, e para Intestino Grosso, - em que somos agraciados com a entrevista concedida por um autor tão louco quanto verdadeiro: “Já foi dito que o que importa não é a realidade, é a verdade, e a verdade é aquilo em que se acredita”.

FONSECA, Rubem. Feliz ano novo. 2. ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 1989. 174 p.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Quase Memória




Eu não devia dar tanta e tamanha importância a esse embrulho. Devia abri-lo e – pronto, era um mistério a menos, se é que é mistério mesmo. Assim como há dores-de-corno retroativas, há indecisões antigas que envergonham. Afinal, o embrulho está aqui, posso dispor dele, abri-lo, joga-lo fora, rasga-lo, ou nada fazer com ele, mantendo-o em sua condição de embrulho, e sua espécie de mistério”.

Quando o autor, Carlos Heitor Cony, recebeu do porteiro do hotel onde almoçava um embrulho com o seu nome, ao olha-lo reconheceu imediatamente a assinatura do remetente seu próprio pai. Uma identificação simplista se não fosse o fato dele ter falecido dez anos antes.

Sem conseguir se concentrar em outra coisa, Cony acaba se isolando em seu escritório com o embrulho e passa a dividir com o leitor sua avalanche de memórias, onde biografia e ficção se misturam ao recriar a história do jornalista Ernesto Cony Filho e por consequência a sua própria.

Entre jacarés e balões, viagens para lugares distantes ou que ficam só na imaginação, pequenos e grandes gestos arrancam sorrisos e lágrimas de quem se entrega a essa história encantadora.

A única advertência é que Cony pai e Cony filho podem provocar lembranças de quem teve um pai herói e uma dorzinha de inveja em quem teve esse posto vazio.

Quase Memórias
Carlos Heitor Cony
1995
223 páginas

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Pousada do Fim do Rio



Não sei por que achei que a história tratava-se de um romance. Então foi com surpresa que me deparei com Olivia, uma menina de quatro anos, que ao entrar na sala de sua casa se depara com a mãe assassinada e o pai com uma tesoura ensanguentada nas mãos.

Para agravar o caso, os pais de Olivia não eram um casal comum de pessoas desconhecidas e sim dois atores famosos de Hollywood, o que gerou uma redoma de vidro sob a menina após o brutal acontecimento.

Passados vinte anos, fama, drogas, inveja e paixão voltam a se misturar quebrando a barreira de proteção da agora mulher Olivia e trazendo a tona antigos medos quando o escritor Noah Brady, filho do policial que atendeu a ocorrência, é chamado pelo pai de Olivia para escrever a sua história as vésperas de sair da prisão. A justificativa: está com uma doença terminal e quer dar a sua versão dos fatos.

Nora Roberts e o seu A Pousada do Fim do Rio (Editora Bertrand Brasil, 532 páginas) me conquistaram logo no início, onde por mais certo e óbvio que as coisas pareçam, um ponto de interrogação é aberto. Seus personagens são envolvidos a cada novo passo junto com o leitor. O monstro que aterroriza Olivia nos sonhos volta a ser real, e o frio na barriga pode ser dividido entre todos.

Só me senti decepcionada com o final, pois todo o cuidado que se teve com todos os detalhes e personagens durante a história se tornam inexistente em um desfecho rápido demais para quem já se sente habitante da pousada.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ingrid está nua



Lançado em setembro de 2010, o livro Não Há Silêncio Que Não Termine é um tijolo com 553 páginas onde a ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, relata as agruras pelas quais passou ao longo dos seis anos em que esteve nas mãos das famigeradas FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Costumo dizer que um livro é bom quando, nos intervalos da leitura, você se pega pensando nos personagens e nos seus dramas, como se fossem pessoas próximas a você. E não há como não fazer isso com o livro de Ingrid, mesmo sabendo-se de antemão que o desfecho foi feliz - se é que se pode dizer isso de alguém que carregará para o resto da vida os traumas do sequestro - com sua libertação.

Ingrid Betancourt descreve os intermináveis dias de cativeiro dando ênfase aos sentimentos. A política fica subentendida mas não ocupa lugar de destaque em sua narrativa.

As nuances psicológicas dos envolvidos na história, sequestrados e algozes, descritas por uma mulher inteligente e acima de tudo sensível - porém ultrajada e humilhada - são, a meu ver, o ponto alto do livro.

Fatos como a hora do banho, a divisão da parca ração, os intermináveis deslocamentos pela mata e, principalmente, as várias tentativas de fuga - que levavam a excruciantes castigos - são narrados de forma simples e direta. É aí que Ingrid se desnuda diante do leitor, mostrando do que é capaz um ser humano exposto a situações-limite.

Não Há Silêncio Que Não Termine é um daqueles livros que se devora, torcendo pela "mocinha".


Não Há Silêncio Que Não Termine
BETANCOURT, Ingrid
Tradução: Antonio Carlos Viana, Dorothée de Bruchard, José Rubens Siqueira e Rosa Freire D'Aguiar
Companhia das Letras - 2010
553 páginas

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A arte da guerra




Diz que temos a hora certa para cada livro. Acho que não estou na minha hora para ler “A arte da guerra”. Talvez nunca esteja. Explico: A obra inteligente e atual, apesar de ter sido escrito por Sun Tzu em IV a.C., é pura e exaustivamente sobre estratégias de guerra. E tenho uma dificuldade muito grande em ler sobre a arte de algo que incita a violência.

Claro, a obra pode ser lida como forma de aprendizado as situações da vida no geral, e está aí um de seus encantos. Das páginas que li (sim, não li a obra toda), grifei passagens que me fizeram pensar: “Sobressai-se em resolver as dificuldades quem as resolve antes que apareçam.” (p.36*). “No comando do exército há sete males cruciais: (...) III- Misturar regras próprias à ordem civil e a ordem militar. (p.41).” É impossível não associar estas passagens a vida cotidiana. 

Os capítulos discorrem em títulos como estes: “Da arte de vencer sem desembainhar a espada”, “Do confronto direto e indireto”, “Da arte das mudanças”, “Da arte de semear a discórdia”. Achou interessante? Digo que é certamente. Da inteligência da estratégia a pouca sutileza dos conselhos, tudo é encantador. Mas ainda assim, é cansativo ler sobre estratégias e muito revoltante prender a atenção em algo tão belicoso. 

Aguardo meu momento. Meu tempo para, talvez, poder enriquecer minhas próprias brigas ficcionais, dar um terreno crível para meus contos. 


TZU, Sun. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2002. 152 p. (Coleção L&PM Pocket).




terça-feira, 30 de agosto de 2011

Canibais



Conforme o próprio David Coimbra explica, Canibais é baseado em uma série de crimes que ocorreram entre 1863 e 1864 na Rua do Arvoredo, na cidade de Porto Alegre. O caso do linguiceiro, como ficou conhecido, transformou os habitantes da capital em canibais.

Na ficção, Catarina Palse, uma bela loira, seduzia os homens que caminhavam à noite pela Rua do Arvoredo. Como uma boa isca, dava-lhe momentos de prazer e os entregava a José Ramos, marido da dama e conhecido açougueiro. Com frieza, ele utilizava o seu conhecimento em cortes de carne para transformar os amantes da esposa no recheio de suas famosas linguiças, saboreadas por diversas pessoas da capital gaúcha. Tudo começa a mudar quando Walter, o sapateiro alemão, se apaixona por Catarina, e se depara com uma realidade assustadora.

Em uma narrativa rápida, envolvente e maliciosa, o livro “Canibais – Paixão e Morte na Rua do Arvoredo” (L&PM, 231 páginas) tem um estilo facilmente reconhecido pelos fãs das crônicas escritas por esse jornalista do jornal Zero Hora. Numa mistura de ficção e pesquisa histórica, é impossível não se arrepiar com os acontecimentos narrados ou sentir o estômago embrulhar ao olhar o alimento citado após a leitura de algumas páginas.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Antes de Nascer o Mundo





Antes de nascer o mundo é um livro sobre um início e um fim. O fim de Silvestre Vitalício, um marido que na busca de adormecer as tristes lembranças pela morte da amada, se isola em uma terra de ninguém com os filhos, o criado e uma jumenta. E o início da vida de Mwanito, o pequeno filho de Silvestre e narrador da história, que se descobre gente em meio à homens, sem conhecer outra vida que não a que lhe foi apresentada em Jesusalém - a terra batizada pelo pai e que seria, ao seu entendimento, o único lugar do mundo que restara.

De forma poética, o autor nos transporta para uma história sobre a vida do menino Mwanito, do irmão Ntunzi, do pai Silvestre Vitalício, do militar e criado Zacaria Kalash, da jumenta Jezibela, única presença feminina entre eles, e do tio Aproximado, o cunhado de Silvestre que apesar de não viver no sítio, tem importância vital na narrativa. É ele que, ironicamente, aproxima a família das peripécias que mudará suas vidas, e leva a realidade ao mundo imaginário em que são reféns. É através de Aproximado, também, que somos apresentados a Marta e Noci, duas personagens ligadas pela perda do mesmo homem.

Mia Couto é um dos maiores autores africanos em língua portuguesa. Sensível como só um poeta pode ser, transborda sentimento e conduz de forma maestral a história. Aborda assuntos pontuais e atuais como o modo que apresenta o negro, em especial as mulheres, com trejeitos bonitos e desejáveis, além da forma como retrata a natureza e a igualdade entre humanos e animais. Enlaça à narrativa, também, um pouco da história pós guerra que afetou a zona rural de Moçambique. Ora mesclando narrativas de dois personagens (Mwanito e Marta), fica evidente sua capacidade de ser cativante e expressivo usando vozes tão opostas. Consegue transbordar sentimentos, impressões, causar reflexões. Prende o leitor em cada página, principalmente por ser uma narrativa extremamente visual, que transporta o leitor como que para dentro de um filme.

Poesia, imagem e a reflexão sobre a solidão. A receita certa de um bom livro. E para aguçar a vontade de ler, cumpre o papel a frase de Mwanito: “A primeira vez que vi uma mulher tinha 11 anos e me surpreendi subitamente tão desarmado que desabei em lágrimas.”


*COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 280 p.; 21 cm.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Pérola


Kino é um simples pescador casado com Juana. Ambos tem um menino, Coyotito. Numa manhã que ainda era noite, viu seu filho ser picado por um escorpião. Em cortejo, foram atrás de um médico, mas esse se negou atender o indiozinho, pois o pai não tinha dinheiro. Para salvar o filho, ele vai atrás de boas pérolas e acaba encontrando a mais perfeita delas.

Mas a descoberta se alastra pela vila, e toda a espécie de sentimentos ruins afloram. Para o índio de vida simples, sonhos inimagináveis podem se tornar reais, e numa briga onde ingenuidade e esperteza se encaram, a primeira perde muito mais.

A Pérola de John Steinbeck é uma fábula onde a lição de moral esta lá no final, aguardando o leitor, mas isso não diminui o romance de forma alguma. Para mim, ele tem gosto de primeiro semestre da faculdade, do fim da adolescência e do recente caso de um ganhador da mega sena em uma cidade do interior gaúcho.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Viagem ao centro da Terra





Teria sido a proximidade de sua casa ao porto durante a infância que fez o francês Julio Verne ser um notável escritor de histórias de viagem? Sendo ou não, o escritor, falecido em 1905, aos 77 anos, soma uma vasta obra e é considerado um dos escritores mais traduzidos de todo o mundo. Suas histórias foram adaptadas em quase 100 filmes e várias séries para tv. Também pudera, sua obra cita tecnologias que nem existiam em sua época, além de mostrar claramente a dedicação e capacidade de aliar, em sua escrita, dom literário e  pesquisa.

Em Viagem ao Centro da Terra, o autor nos leva da Alemanha às entranhas do globo na companhia do professor Lidenbrock, seu sobrinho Axel e do dedicado guia Hans. Depois de descobrir sobre a suposta viagem do cientista Arne Saknussenm ao centro do planeta, o geólogo/mineralogista/cientista/professor Otto Lidenbrock, decide ele mesmo constatar a veracidade das informações. Axel, nosso narrador, acaba embarcando, a contragosto, nesta fantástica e instigante aventura.

São dias de uma viagem que faz o leitor se prender a cada linha, manter-se angustiado com os companheiros que passam por situações muitas vezes beirando a morte e, claro, permitindo-se ponderar as ideias de Julio Verne sobre o centro da Terra. Assuntos sobre as camadas da Terra, períodos arqueológicos e fenômenos físicos fazem o leitor se perder em termos científico, mas ao mesmo tempo se interessar pela nossa história geológica.

Com personagens ricos em humanidade e determinação, é impossível não apreciar esta aventura. Entra, certamente, no hall de livros que devem e precisam ser lidos. Viajar, nem que seja na ficção ao centro da Terra que conhecemos, sempre será uma experiência interessante. 


* VERNE, Julio. Viagem ao centro da terra. Tradução de Renata Cordeiro. Porto Alegre: L&pm, 2002. 270 p.; 17cm. (Coleção L&PM Pocket).

domingo, 24 de julho de 2011

Como Água para Chocolate



Tita é a filha mais nova e já nasceu com uma missão: cuidar de sua mãe para o resto de sua vida. Para fazer isso, ela não poderá casar ou ter os seus próprios filhos. O que pode ser uma explicação para ela chorar desde o útero materno. Mas na flor da idade, a menina que cresceu no meio dos temperos, conhece Pedro, e uma paixão mais forte que a razão os faz tomar decisões que irão mudar os seus caminhos e de todos os que estão a sua volta.

Laura Esquivel utiliza uma parente distante de Tita, mais especificamente a sua sobrinha neta, para narrar essa linda história de amor, em que os fatos são divididos por meses e receitas. De forma natural e gostosa, Como Água para Chocolate (Livraria Martins, 205 páginas) é cheio de fatos inusitados, que farão o leitor sorrir e chorar, principalmente com Tita, que nos comove ao lutar contra antigas tradições e transfere todos os seus sentimentos para as refeições que prepara, influenciando no comportamento daqueles que saboreiam os seus pratos.

O livro virou filme, e este conseguiu manter a elegância e beleza narrativa. Ambos merecem ser degustados, e para os que gostam de cozinhar, irão encontrar no livro várias receitas para testar.

Como Água para Chocolate é um dos meus livros favoritos, então eu mais do que recomendo entrar neste mundo cheio de histórias, tradições, cheiros e paixões.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cartas a um jovem poeta





Em Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke fala com o âmago do leitor. Um livro especial e importante a todos os novos (e já experientes) escritores. Trata dos assuntos referentes aos ânimos da escrita. O que te leva a querer escrever?

Muitos são os que querem se dizer escritores mas que não possuem coragem para expor seus textos ou, até, para se determinarem a aprender efetivamente o que é preciso para se tornar um bom escritor. Seria ótimo se existisse quem desse conselhos, ensinasse o que lhe foi aprendido pela experiência. É esta a proposta do livro.

Em 1929, três anos após a morte de Rilke, Franz Xaver Kappus publica as correspondências trocadas por ambos. São dez cartas ao todo. Nelas, Rilke fascina ao fazer a intersecção entre a escrita e todos os campos que envolvem a vida. Já que para falar do ofício, circula em torno de assuntos como religião, sexo, amor, solidão. Ofertam-nos uma leitura às vezes cansativa e triste, mas nunca menos interessante. Faz o leitor mergulhar mesmo que não queira nas motivações mais íntimas do outro que lhe fala.

Uma leitura obrigatória, sem dúvida, a todos que queiram escrever e àqueles que queiram se fazer pensar sobre a vida de forma maestral e poética pelas palavras de Rilke.



*RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Tradução de Pedro Sussekind. Porto Alegre: LP&M, 2007, 96 p.; 18 cm. (Coleção LP&M Pocket Plus).

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Diário da Queda

No aniversário de treze anos o menino João, um bolsista não judeu de uma escola israelita, é derrubado no chão por seus colegas.

Um avô não conhecido, sobrevivente de Auschwitz, deixa um caderno cheio de verbetes, sem detalhar sua história, sendo um contraponto a outro familiar que publicou um livro sobre o holocausto.

Tentando ser compreensivo com as atitudes do filho, está um pai que desde cedo luta para manter tudo em ordem e acaba recorrendo a escrita para relembrar as próprias memórias.

No centro disso tudo está o narrador, um garoto fraco, um homem imaturo, que fala em culpa e perdão, busca se libertar das próprias raízes, mas parece estar sempre fugindo de si mesmo.

O autor Michel Laud conta a sua história em Diário da Queda (Companhia das Letras, 151 páginas) através de notas narradas em primeira pessoa. Muitas vezes fazendo o leitor acreditar que o texto é autobiográfico (apesar do aviso de que os personagens e situações são reais apenas na ficção).

Seu personagem sem nome não desperta no leitor sentimentos e pena ou raiva, apesar de alguma das suas ações, mas esse distanciamento também não é absoluto, já que o virar de páginas é o seu crescimento.

Tendo como locais a cidade de Porto Alegre e o litoral gaúcho, Diário da Queda é um livro sobre diferença de gerações, posições sociais, cultura e memória. Ao mesmo tempo em que é a igualdade do avô/pai/filho, das perdas e aventuras da adolescência.

domingo, 3 de julho de 2011

O Vinhedo



Poucos meses após a morte do marido, Natalie Seebring anuncia o casamento com o primeiro amor de sua vida, deixando os filhos revoltados e a forçando administrar a saída de vários funcionários.

Olívia é uma mãe solteira que busca uma escola para a filha disléxica ao mesmo tempo em que lida com o sentimento de ser rejeitada pela mãe. A oportunidade de ser assistente de Natalie no vinhedo Asquonset lhe parece uma maneira de dar um novo rumo em sua vida.

Tendo como base essas duas figuras femininas, outros personagens irão interagir com os seus problemas, mágoas, traumas e amadurecimento.

“O Vinhedo” (Editora Bertrand, 433 páginas) de Barbara Delinski me deixou sem uma opinião definida. Ao mesmo tempo em que a história de Natalie e Carl é realmente linda, deixando um desejo de que os detalhes fossem mais aprofundados, a de Olívia e Simon me pareceu um tanto superficial.

Numa tentativa de espelhar na assistente as emoções sentidas por Natalie há setenta anos atrás, faltou no segundo relacionamento toda a inocência e companheirismo natural que marcam o primeiro.

Talvez seja uma ousadia da minha parte, mas acredito que se a história fosse centrada em Natalie, uma mulher forte, de decisões firmes, mas humana, o livro poderia ter entrado para a minha lista de inesquecíveis.

Mesmo assim, “O Vinhedo” não deixa de ser uma leitura gostosa, além de ter alguns pontos interessantes sobre o papel da mulher. Pois mais do que histórias de amor, ele é a narrativa de uma mulher que quebrou paradigmas escondidas pela sombra do marido.

domingo, 26 de junho de 2011

A Caixa-Preta

Após 7 anos, Alex recebe uma carta de sua ex-esposa Ilana, onde entre detalhes de sua rotina, acusações e fragmentos de lembranças passadas, ela lhe comunica que o filho Boaz não está bem. A primeira reação do ex-marido é responder lhe enviando dinheiro e solicitando paz, mas isso é apenas o início de uma intensa troca de cartas e telegramas entre Alex, Ilana, Michael (atual marido de Ilana), Boaz (filho de Ilana e talvez Alex), Manfred (advogado) e Rahel (irmã de Ilana), além de outras pequenas participações.

O surpreendente neste romance de Amós Oz (Companhia das Letras, 267 páginas) é a forma como ele cria a identidade de cada personagem através do que eles escrevem. As características não são repassadas por um narrador, mas pelos fatos, ironias e tristezas que eles acabam trocando ao longo do tempo. Permitindo ao leitor conhece-los por eles mesmos.

E como em uma caixa-preta, a cada nova correspondência enviada, surge detalhes e complementos que fazem entender, ou pelo menos compreender, o comportamento dos personagens.

Para mim, o livro foi uma grata surpresa, pois além da história envolvente, as diferentes vozes narrando, ele trás um panorama de Israel na metade do século XX, permitindo ter uma pincelada das discussões sociais, religiosas e políticas.

Leitura obrigatória para todos os que gostam de uma história bem contada.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Jovem Törless



Tão logo se abre o livro, o leitor se depara com uma citação de Maurice Maeterlinck “Tão logo expressamos uma coisa com palavras, e estranhamente ela como que se desmoraliza”.

A história começa com Törless e seus colegas circulando pela cidade antes de irem para um famoso internato, é nesse passeio que Basini, um personagem chave, é citado pela primeira vez.

No decorrer dos fatos é possível viver a confusão de Törless no que se refere a sua personalidade e sexualidade, e o fazem filosofar sobre matemática e religião.

Mexendo com Törless e fazendo com que este viva os desejos que tanto se envergonha, esta Basini, um rapaz franzino de poucos recursos financeiros que sofre, nas mãos de outros dois jovens, Reiting e Beineberg, que usam o colega para realizar rituais sádicos e testar suas teorias.

Neste pequeno mundo burguês, onde poder, dinheiro e sexo são moedas fortes, as figuras são raras, sendo que em um determinado momento é á própria versão adulta de Törless que surge ao leitor.

Recordando que Robert Musil publicou este livro em 1906 e ele é autobiográfico, observa-se que os mais castos nos dias de hoje ainda podem se apavorar com as cenas de violência e homossexualismo escondidos em um tradicional colégio.

“O Jovem Törless” é mais uma prova que livros são atemporais, e que problemas e situações tão discutidas hoje já estavam presentes no início do século passado.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Como se moesse Ferro



Ganhador do Prêmio Açorianos de Literatura em 2000, “Como se moesse ferro” (WS Editor, 125 páginas) reúne contos do escritor gaúcho Altair Martins.

O primeiro conto, que dá o título ao livro conta à história de Ferraz, uma mistura de trabalho, amor e ciúme que envolvem a rotina desse ferreiro.

Em “Chefe de Família” temos um final de sexta-feira e o desempregado João Aberlado está bêbado, o que torna tudo propício a um grande erro.

“Advertência” aperta o coração e provoca agonia. Frases como “engole a saliva com gosto de pilha”, “o vestido branco que sonhou, igual ao da Barbie”, “Ninguém lhe dá satisfação, ninguém lhe respeita” vão tirando os pés do leitor do chão.

Em vários contos, logo após o título há uma frase de autores como Saramago, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade que preparam o leitor para alguma história do cotidiano cujo final é semelhante há uma bofetada.

O livro é um convite a embarcar neste trem de histórias, que embora separadas, estão costuradas sob o olhar na alma humana em diversas situações nem um pouco estranha para os que se aventuram a viajar por suas páginas.

domingo, 5 de junho de 2011

Atlantis

Jack Howard é um arqueólogo marinho que durante um mergulho em busca de um naufrágio do tempo de Homero se depara com a chave para a localização da cidade perdida de Atlântida. Só que a descoberta que deveria ser motivo de comemoração vira um jogo de vida ou morte ao despertar interesses de terceiros.

Para complementar a ficção o autor David Gibbins disponibiliza no final de Atlantis (Planeta, 438 páginas) uma nota para esclarecer o que é plausível e um glossário com siglas e termos do cenário arqueológico.

Inicialmente eu achei a história fantástica, mas em determinado momento da leitura ela parece ter uma quebra, caindo em clichês e tornando a sua finalização um alívio. Na contracapa são feitas inúmeras referências a Dan Brown, mas o excesso de herói estereotipado de Jack Howard tornou uma idéia muito boa em apenas mais uma aventura.

domingo, 29 de maio de 2011

Contos Fantásticos no Labirinto de Borges



Bráulio Tavares reuniu 18 contos ao qual denominou de “contos borgianos”, por serem contos que influenciaram ou que se relacionaram de alguma forma com a obra de Jorge Luís Borges. Antes de cada conto há uma introdução, comentando sobre cada um dos autores, permitindo conhecer um pouco mais sobre eles.

Entre os meus contos favoritos estão “A Livraria” de Nelson Bond, onde Marston, após empacar na escrita de um livro, sai para dar uma volta e acaba se deparando com uma livraria cheia e títulos desconhecidos, alguns de autores que ele admira.

Há também “Um Artista da Fome” de Frans Kafka sobre um homem cuja arte no circo é ficar em jejum e aos poucos vê o público perder o interesse pela sua apresentação, além disso, há suas insatisfações diárias, que o levarão a reflexões ao longo do conto.

Entre os mais viajantes, mas nem por isso desinteressante, está “a Terceira Expedição” de Ray Bradbury sobre uma viagem a marte, onde na chegada os astronautas pensam ter retornado a Terra ou realizado uma viagem no tempo.

Além disso há contos de Leon Bloy, Marcel Schwob, H.G.Wells, Nathaniel Hawthorne, Ambrose Bierce entre outros. Entre sustos, reflexões e suspense, “Contos Fantásticos no Labirinto de Borges” (Casa da Palavra, 285 páginas) é a garantia de uma ótima leitura e deve ser consumido sem moderação.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Em Busca de Abrigo



Em época de casamento real, o Prólogo coloca o leitor em contato com Joy no dia da coroação da rainha Elizabeth II. Junto com vários ingleses que moravam em Hong Kong, ela conhece Edward, e após poucos encontros, ele a pede em casamento.

A história pula para o ano de 1997, Kate acredita estar apaixonada por Justin, mas antes precisa se separar do namorado atual. Para isso, ela resolve enviar a única filha, a adolescente Sabine, para a casa dos avós na Irlanda.

E é a estada de Sabine junto a Joy e Edward que irá levar o leitor para conhecer a história de três gerações das mulheres Ballantyne. Segredos de família, paixões, ilegitimidade, mágoas e sentimentos são expostos de forma delicada no livro “Em Busca de Abrigo” (Bertrand Brasil, 434 páginas), onde a autora Jojo Moyes consegue diferenciar bem as personalidades de Joy, Kate e Sabine, assim como sutilmente demonstrar suas semelhanças.

Os personagens secundários, como a Senhora H e Annie, completam esse universo que parece cheirar a cavalo e saudade.

Essa foi a impressão mais forte pra mim, a vida de todos os personagens está presa a fatos passados, e somente encontros e arrumações de antigas fotos poderão colocar o pingo nos i’s para que todos possam seguir em frente.

Vida e morte estão presentes, assim como mentiras e verdades. Um livro que pode encantar ou entediar o leitor, dependendo do nível de sensibilidade do mesmo.

Eu, particularmente, me encantei com a história de Joy, me irritei com a insolência de Sabine e senti pena da perdida Kate. Mas ao fechar a última página, senti falta de todas elas.

domingo, 15 de maio de 2011

A Besta Humana

Na primeira página somos apresentados a Rouband, um homem aparentemente feliz com sua jovem esposa Severina. Mas uma negativa trás um antigo segredo a tona, este revelado pela mulher após uma longa e violenta surra.

Cego de ciúmes, ele obriga a mulher a ajuda-lo no assassinato do homem que abusou de Severina. Esta morte torna o casal próximo de Tiago Lantier, um homem que luta contra o desejo de assassinar as mulheres, formando um estranho triângulo amoroso.

Tendo como fundo as ferrovias francesas, “A Besta Humana” de Émile Zola explora o lado selvagem da humanidade, onde ciúmes, inveja, ambição, manipulação, mentira, sexo e vícios despertam a violência escondida em cada um.

Quando nem o amor apaga essa chama, fidelidade e moral são subjugadas, e isso torna a história de Zola assustadora, grotesca e inacreditavelmente real.

E como bônus, a imagem final é quase uma pintura, que faz o leitor segurar a respiração, obrigando-o após fechar o livro, verificar como anda a sua besta anterior.

domingo, 1 de maio de 2011

Não Conte a Ninguém

Logo no início, Harlan Coben pega o leitor pelo emocional ao colocar o seu personagem principal, Dr. David Beck, para relatar seus últimos momentos com a esposa, antes de a mesma ser seqüestrada e morta.

Voltando ao presente, o personagem recebe um e-mail que quebra a sua apatia, cuja frase final dá título ao livro “Não conte a ninguém” (Sextante, 250 páginas).

Neste momento começa a correria e o rosário de mistérios, onde o autor mescla formas narrativas, usando a primeira para o personagem principal e a terceira para os demais.

Com citações ao caso de O.J. Simpson e ao serial killer Jeffrey Dahmer, fica claro desde o início quem são os inimigos de Beck, mas mocinhos inocentes creio haver poucos.

Por envolver corrupção, mentiras, segredo, tráfico de drogas e uma grande história de amor, achei o desfecho muito rápido. Embora os segredos sejam revelados ao longo da história, conforme Beck vai concluindo que sua esposa está viva, senti uma leve insatisfação no final da leitura.

Mas no geral “Não conte a ninguém” é uma história envolvente, contemporânea onde os clichês não atrapalham. Ótima para leitores (como eu) que gostam de fazer suposições e conferindo se estão certos ou não no decorrer das páginas.

domingo, 24 de abril de 2011

Sargento Getúlio

O romance de João Ubaldo Ribeiro concentra toda a narrativa na mente e voz do personagem Getúlio Santos Bezerra, um sargento que recebe a missão de capturar em Paulo Afonso um prisioneiro político e leva-lo até Aracaju.

Quando terceiros informam que a missão foi abortada e o homem deve ser solto, Getúlio não aceita e resolve levar o prisioneiro até o seu chefe de qualquer jeito, sem se importar com o preço.

Entre momentos de megalomania, referências a Lampião, críticas políticas, o livro leva o leitor a rir da forma pitoresca do personagem falar. Assim como suas contradições, pois se em um momento ele quer ter vários filhos machos, em outro condena os moradores da beira do rio por não pararem de ter filhos. Entre degolas e motivos pelo qual ele poderia ser deputado, acompanha-se a sua teimosia suicida e a presença de outros personagens.

A maior dificuldade encontrada por mim foi me adaptar a linguagem usada pelo autor, que é totalmente nordestina. A demora na ambientação quase me fez desistir da leitura, e confesso que só o fato do livro não ser longo, e a minha teimosia as vezes se assemelhar ao do personagem, me impediram de fechar o livro.

Mesmo assim, eu o indico. Pois ele é recomendadíssimo para quem deseja conhecer mais a cultura popular brasileira Para quem gosta de cinema, também é possível procurar sua adaptação para as telas, onde o ator Lima Duarte faz o papel de Getúlio.

domingo, 17 de abril de 2011

A Menina que Não Sabia Ler

Dias antes de iniciar a leitura, me deparei com uma resenha não muito positiva sobre A Menina que Não Sabia Ler (Leya, 282 páginas), mas isso não mudou a posição do livro na minha pilha e em dois dias eu li toda a história.

No primeiro dia me diverti com a narrativa de Florence, que junto com o irmão Giles, vive em uma antiga casa na Nova Inglaterra afastada de todos, convivendo com criados, é sustentada por um tio que nunca vê, mas a proíbe de aprender a ler.

Como filha única, em um primeiro momento me identifiquei com a imaginação da personagem, onde apenas um universo paralelo afasta a tristeza da solidão e torna o dia recheado de aventuras. Mas conforme a história vai fluindo, o fantástico e o real se misturam, a graça vai embora e o leitor já não sabe o que é loucura ou o que é pura maldade.

É impossível fechar o livro de John Harding de forma passiva, pois aos fãs de uma boa ficção e literatura fantástica, A Menina que Não Sabia Ler pode provocar calafrios, acelerações cardíacas até mesmo estado de choque. Exageros à parte, Florence não deixa ninguém indiferente, e as citações constantes a grandes autores só colaboram para criar uma expectativa ainda maior quanto ao final da história. Posso apostar, que assim como eu, Poe ia se impressionar com a história.

domingo, 10 de abril de 2011

O Fio da Navalha

Essa foi uma das resenhas mais difíceis de começar, pois durante os trinta dias que passei lendo este livro, me senti vivendo junto dos personagens. O próprio autor é um personagem nesta história, narrando e interagindo, pois conforme ele indica no primeiro capítulo, este romance é baseado em fatos reais.

“O Fio da Navalha” conta a história de Larry Darnell, que figura como personagem central, mas graças a ele conhecemos Elliot, Isabel, Gray, Suzanne e Sophie. Citando fatos como a primeira guerra e a grande crise financeira de 1929, o livro narra as escolhas e os objetivos de cada pessoa, onde sentimentos como amor, inveja e tristeza movimentam caminhos.

Larry se diferencia por sair ao mundo em busca de respostas a perguntas que ele mesmo desconhece. Sua calma e bondade o tornam livre do preconceito e da hipocrisia, o personagem oposto a Larry é a sua ex-noiva Isabel, que o trocou por buscar segurança financeira e não poupa o seu charme e veneno de menina egoísta para ter suas vontades atendidas.

O fantástico em Larry é a sua busca por conhecimento, seu sorriso maroto ao ouvir declarações de quem considera o dinheiro muito importante e não compreende o pouco caso deste homem para algo tão vital na sociedade.

Mas ao contrário do que se possa imaginar, “O Fio da Navalha” não é um livro moralista, longe disso, W. Somerset Maugham apenas narra fatos e escolhas, e as consequências que isso trouxe para a vida de cada um. Por isso não há, como avisa o autor, um final feliz. E concordo com ele, pois ao narrar vidas, ele segue o fluxo natural do dia-a-dia, onde a felicidade está nas pequenas coisas e em nossas decisões, e não em algum final hipotético.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Símbolo Perdido

O último romance de Dan Brown lembra em muitos momentos um outro romance do autor: “O código da Vinci” só que com a CIA e os maçons no enfoque. Mas essa mistura de religião, ciência, poder, mistério, história e, obviamente, símbolos, ao contrário do que se possa imaginar, desafia todos os tipos de leitores.


Quando o professor Robert Langdon atende ao pedido de um amigo para realizar uma palestra no capitólio dos Estados Unidos não imagina ser mais um peão no tabuleiro do estranho Mal’akh, um homem capaz de tudo para obter o poder absoluto.


Entre problemas familiares, experiências científicas, assassinatos e encontro com a morte, Langdon irá percorrer diferentes locais de Washington e viver em dúvida constante sobre quem é ou não confiável.


Para quem gosta de uma leitura rápida, cheia de suspense, O Símbolo Perdido é recomendado. Aos fãs de história e pontos mais polêmicos, a história é mais do que indicada. E ainda os curiosos por assuntos envolvendo Deus, leitura mais do que obrigatória.


Mesmo sendo um livro de grande vendagem, sendo usado o termo best-seller como pejorativo por alguns, O Símbolo Perdido, como as demais histórias de Dan Brown, possuem a vantagem de despertar o olhar para coisas conhecidas e que até o momento passavam despercebidas por muitos. A pesquisa realizada para decorrer sobre ciência, símbolos e sociedade é notável, e caso alguém alegue que nem tudo é real, não se pode tirar o mérito que elas servem de combustível para mentes curiosas.


Conhecimento, o grande poder buscado nesta história e janela para quem coloca os preconceitos de lado e encara qualquer parada.

domingo, 27 de março de 2011

O Vendedor de Armas

Infelizmente o Dr. House não é exibido na minha TV (desconheço se algum canal aberto passe o seriado), por isso, confesso, comprei o livro por estar em promoção e não pelo personagem do ator/escritor Hugh Laurie.

Primeiro livro do autor, O Vendedor de Armas (Editora Planeta, 287 páginas), é narrado em primeira pessoa. Dividido em duas partes, na primeira o leitor é surpreendido junto com Thomas Lang em uma trama de espionagem, corrupção e manipulação. Na segunda parte é o próprio Thomas que irá surpreender.

Cheio de ironias e referências televisivas, O vendedor de armas trata da forma inescrupulosa de se fazer marketing de artigos de guerra. Quando Thomas resolve se apaixonar pela bela Sarah, vira uma marionete nas mãos da CIA. O erro dos americanos é tratar esse ex-militar como um idiota só por ser britânico.

O ritmo de filme e a mistura de emoções, características e situações, tornam o livro rápido e saboroso de ser lido. O humor negro para tratar da falta ética e honestidade é um tempero a mais, mostrando que na literatura os ingleses podem ter muito ritmo.

A influência da TV é bastante forte, pois não é difícil para o leitor transportar a história para a película. Mas isso não quer dizer que o livro seja superficial, muito pelo contrário, é uma história envolvente, que cativa da primeira à última página, permitindo imaginar se o herói terá uma série.

Enquanto Thomas não é pago para realizar nenhum serviço ou coagido a missões malucas, fica o convite para conhecer sua vida atribulada, o seu amigo Solomon e as belas mulheres que cruzam o seu caminho.

domingo, 13 de março de 2011

Laços de Fogo

Primeiro volume da Triologia da Fraternidade, Nora roberts apresenta os conflitos familiares na visão de uma jovem artista.

Maggie Concannon transforma vidros em esculturas, quando começa a vender suas primeiras peças, perde o pai, grande incentivador e sonhador. Antes de sua morte, ele a faz prometer que irá cuidar de sua irmã caçula e de sua mãe, por quem Maggie possui um grande desafeto. O sucesso de suas esculturas irá abrir as portas da fortuna e trarão a tona algumas verdades familiares.

Naruralmente existe o romance, item obrigatório dos livros de Nora Roberts, mas o interessante nesta história é ver a mágoa e o relacionamento entre mães e filha, laços que tradicionalmente são fraternos e cheios de amor. Por isso é possível disser que a personagem de Maggie coloca forma ao desprezo em relacionamentos onde o filho não é desejado e muito menos amado.

Em uma trama de diálogos diretos, algumas vezes amargos, o fogo encontra-se apenas no temperamento e na arte de Maggie. Mas... como esse é o primeiro livro de uma triologia, é necessário ler os demais para saber que forma a barreira familiar irá tomar.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Budapeste



Primeira impressão: estonteante.

Budapeste, de Chico Buarque, lançado em 2003, é um livro que parece um delírio, uma tontura. Você entra nele achando que José Costa é um narrador-personagem que está contando sua aventura (ou desventura) como ghost-writer, e você sai ao final da leitura sem nem mesmo saber quem é autor, quem é narrador, quem é personagem. Além do conteúdo da obra, a própria concepção gráfica aponta para isso: na capa, está o título, Budapeste, com a inscrição do nome de seu autor, Chico Buarque. Na contracapa, as palavras estão em espelho e lê-se o título, como se fosse húngaro, "Budapest", mas o nome do autor é outro, José Costa, que é o protagonista do livro.

Você não entendeu nada? Pois é, é essa sensação que o livro dá. Você lê e fica ressabiado, achando tudo meio confuso e fascinante.

Tentando ser mais clara: bem, Budapeste narra a história de um ghost-writer chamado José Costa, que é casado com uma telejornalista com quem mantém uma relação estranha, ou distante. Ele, por um imprevisto, acaba chegando a Budapeste, onde conhece Kriska que se torna sua professora de húngaro e com quem ele acaba tendo um envolvimento. A questão é que a história desse personagem confunde-se com a história dos próprios livros que ele escreve, o que parece um jogo de espelhos - uma história refletindo e sendo refletida na outra. Ao final da leitura, você chega um tanto perturbado e confuso, uma vertigem, como bem caracterizou na orelha do livro o escritor Luís Fernando Veríssimo. A obra também foi elogiada por Saramago, o que, por si só, já é muito.

Segunda impressão: questionável.

Depois que eu li o livro, depois que aquela tontura passou, comecei a pensar mais detidamente em algumas questões. A da verossimilhança, por exemplo. Esse é um princípio básico para qualquer obra literária. E, ao analisar o livro em questão, fiquei me perguntando se seria mesmo verossímil que um ghost-writer pudesse ter tanto dinheiro de forma a bancar estadia de um mês em Budapeste, sem se preocupar com compromissos profissionais e com dinheiro sobrando para pagar suas despesas (incluindo aí o pagamento de sua professora de húngaro). Mas tá, demos um desconto, combinemos que isso fosse possível. Agora, quando de seu retorno ao Brasil, José Costa passa mais de cem dias num hotel, sem pagar um centavo pelas diárias, comendo e bebendo o que sobra das refeições deixadas pelos outros hóspedes nos corredores. E a administração do hotel apenas liga para ele e lhe manda um aviso por escrito! Isso me parece pouco verossímil, mesmo para o contexto do livro. Há outros detalhes sobre os quais eu poderia comentar aqui, mas fica esse desafio para quem se aventurar a ler a obra.

Em suma, embora eu questione alguns pontos, o livro em si é muito bom. Numa escala entre amores e horrores, eu diria que é uma obra que vale a pena ser lida. Isso sendo bem precisa, claro.

quinta-feira, 3 de março de 2011

A Estrada




Num mundo pós-apocalíptico, pai e filho caminham em direção ao Sul - mesmo não sabendo o que irão encontrar por lá. Por segurança, carregam um revólver e empurram um carrinho de supermercado com condimentos. 

Durante o percurso eles fazem breves paradas e sempre acabam achando roupas e comida, que acabam estocando no carrinho. Na maior parte do tempo estão tensos pois além deles, existem pessoas que viraram carnívoros por causa das circunstâncias. A preocupação é permanente, principalmente do pai. 

No lugar da floresta há cinzas, fuligem por toda a parte e, claro, centenas de cadáveres.

Durante a viagem, eles questionam quase tudo, principalmente a questão da sobrevivência. A história é emocionante.

Esta narrativa longa foi escrita pelo premiado autor Cormac McCarthy. A obra de ficção em questão prende o leitor do início ao fim, pois além da história ser interessante, ela possui frases curtas, o que dá movimento ao texto. Seja companheiro deles e participe desta jornada.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Ilha sob o mar

(Isabel Allende)

Para quem estuda literatura e, principalmente, prepara-se para ensiná-la, há uma pergunta inquietante com a qual sempre nos deparamos: para que mesmo serve a literatura?

Há várias possibilidades de resposta, que passam pela fruição estética, pela definição de arte, cultura, pedagogia, enfim, uma gama de possibilidades. Mas, sendo este um blog destinado a apreciar de forma crítica a leitura de obras, talvez não pareça o lugar mais perfeitamente adequado para se fazer essa discussão, pois os autores deste mural virtual estão para lá de convencidos acerca da importância da literatura.

Entretanto, insisto, aqui está o ponto chave da questão: quem me deu a resposta que eu procurava foi um livro da Isabel Allende, chamado “A Ilha sob o mar”. Nessa obra, a autora narra a história... Não, não. Narrar não seria a palavra correta. Isabel Allende conseguiu, magistralmente, levar-me pela mão a um país distante, chamado Saint-Domingue, e fazer-me viver a realidade de um lugar em que, numa época também distante, a luta racial foi sangrenta. A autora fez com que eu me comovesse e “co-movesse” (no sentido de me mover junto) àquela personagem chamada Zarité, que teve de entregar um de seus filhos, que foi submetida às vontades sexuais de seu patrão, que viveu movimentos revolucionários, que fugiu, que teve coragem, que se apaixonou. Com as palavras de Allende, Zarité não foi para mim apenas um dado estatístico ou uma informação histórica a respeito da escravidão. Ela foi uma mulher como eu, que sofreu tanto quanto eu poderia ter sofrido, que esteve em lugares onde eu poderia ter estado. Ela teve vida, ao longo daquelas quatrocentas e tantas páginas.

Aí reside, exatamente, a resposta para minha pergunta. A literatura fez-me conhecer de maneira profunda uma realidade que, embora seja ficcional, não existia para mim até então. Os livros de História já haviam me ensinado o que foi a escravidão, e o quanto ela foi horrível. Mas com a literatura, eu pude reviver essa realidade, fazer parte dela, e não apenas conhecê-la de forma superficial. E viver outros mundos aos quais não pertencemos, seja por motivos espaciais ou temporais, disso só a literatura é capaz.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

As coisas que a vida esqueceu de me ensinar

Com frases do tipo “A atitude mais eficaz que podemos ter é a de esperar o momento certo de agir”, “Precisamos tomar muito cuidado com a semente que plantamos no decorrer de nossas vidas” e “Pior do que perder é deixar de ganhar” me fizeram ao finalizar a leitura retornar a página de dados do livro para verificar se o tipo não era auto-ajuda, mas ele realmente é categorizado como romance.

Dividido em dez partes, Thiago Mendes narra a história de Dináh, que no seu vigésimo sétimo aniversário conhece um rapaz, após o encontro ela inicia uma busca aos sinais do universo, ao mesmo tempo em que pensa no seu retorno a cidade de origem e relê cartas trocadas com um rapaz que conheceu na sua festa de quinze anos.

Conforme a personagem busca por seus sinais, ela vai tendo conversas com pessoas envolvidas com dança, teatro e literatura, onde o tema Deus é recorrente. Em alguns momentos a forma como os diálogos são encaixados lembram as situações comuns que geram as explicações no livro “O Mundo De Sofia”, só que sem a riqueza filosófica deste último, visto que a busca de Dináh é muito mais por um amor do que por conhecimento.

Além disso, existe um misterioso “f” que aparece após algumas frases, mas que não é a inicial de nenhum personagem, onde só encontrei no nome da editora: R & F. Esse acabou sendo o grande suspense não respondido pra mim, sobre quem é f.

Não sei se li este livro numa fase insensível, ou a sequência de leituras anteriores afetou a minha percepção sobre a história, mas a verdade é que achei a mesma imatura e chata. Um mini livro de auto-ajuda que mistura assuntos conhecidos com a busca pelo príncipe encantado.

Existem algumas cenas interessantes, como quando a personagem se banha nua em praça pública durante a noite, assistida apenas pela lua. Mas isso não é suficiente para a releitura para mim. A idéia em si de As coisas que a vida esqueceu de me ensinar, comprovada pelo final dado, poderiam ser surpreender o leitor, se a forma narrada fosse outra.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Contos de Fantasmas


Daniel Defoe nasceu em Londres em 1660 e até a data de sua morte, em 1731, escreveu muitas publicações. Dentre as mais famosas estão As aventuras de Robinson Crusoé, Venturas e desventuras da famosa Moll Flandres e o jornal The Review, onde publicou as histórias compiladas depois em Contos de Fantasmas (li a edição da L&PM, 2009). Curiosamente, as histórias partiram de relatos e entrevistas. Saber disto faz diferença quando se lê contos como A aparição da senhora Veal, O eclesiástico e o testamento perdido ou qualquer das outras cinco histórias que compõe a primeira parte do livro. Todas cheias de mistérios e aparições de espíritos, narradas de forma quase jornalística, com descrição minuciosa dos fatos e com detalhes da conduta das fontes, que serve para enfatizar a veracidade dos relatos. 

Além destes, mais cinco contos sob o título de Fantasmas falsos e aventuras divertidas, se encarregam de fazer o balanço entre o que não se consegue justificar e o que se sabe ter sido uma armação. Narram de forma dinâmica e divertida, histórias envolvendo falsas aparições. O que não falta é gente impressionada e temente ao diabo. Dentre estes, destaca-se o último conto: O adivinho na feira de Bristol, que conta a história de um charlatão que amedronta um rapaz para que este se convença de que deve se casar com a mocinha que engravidou.

Sozinho, apenas com a luz de uma pequena luminária e a mercê dos estalos de madeira comuns na madrugada, Contos de Fantasmas assusta. Para os impressionados, uma leitura rica em detalhes e muito condizente com as narrativas que se escuta sobre assombrações. Para os descrentes, uma excelente forma de analisar o comportamento humano frente ao desconhecido, especialmente nos contos falsos, onde vemos pessoas se deixarem enganar vítimas do medo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Senhor das Moscas

Durante uma das guerras mundiais, um avião cheio de meninos, nas mais diversas faixas etárias, cai em uma ilha, deixando-os sem nenhuma supervisão adulta, onde a liderança é definida graças a uma concha.

Logo no primeiro capítulo é possível diferenciar as personalidades dos líderes, assim como preconceito e deboche com aqueles que são diferentes, seja por serem muito jovens, seja por serem gordos.

Mesmo assim, inicialmente, existe uma união, onde a ordem ocorre através do som de uma concha, só que conforme o tempo passa, ego e ambições se ampliam, assim como a maldade que busca suas vítimas para sentenças eternas.

De forma simples e direta, Willian Golding mostra em “O Senhor das Moscas” a natureza selvagem da personalidade humana ainda na chamada idade da inocência. Assustador e envolvente, o livro capta a nossa percepção e provoca por não haver como impor limites.

Os personagens de Golding despertam diferentes sentimentos no leitor no decorrer da narrativa. Um dos exemplos é um menino chamado de Porquinho, que passa de coitado para manipulador até ser vítima do seu maior algoz.

Ao fechar o livro, me lembrei de um texto lido há um tempo, afirmando que a personalidade é formada até os três anos. Ao ler sobre meninos arrumados que se transformam em monstros que caçam sem piedade suas vítimas (estes ainda sonhando com a civilização e desejando a ordem de antes), concordei com a contra-capa sobre o romance “O Senhor das Moscas” ser uma mistura de análise da psicologia infanto-juvenil com os fundamentos da análise e do poder. Eu também ousaria dizer que é uma análise da falta de limites, no que uma pessoa pode se transformar quando nada nem ninguém indicam onde termina os seus direitos e começam os seus deveres.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Os homens que não amavam as mulheres

O primeiro livro da trilogia Millennium aprisiona o leitor em suas páginas, fazendo com que as suas emoções, expectativas e surpresas agucem ainda mais a sua curiosidade.

Misturando corrupção (política e jornalística), sexo, violência contra a mulher e o tratamento do estado para com as pessoas consideradas doentes mentais, o que já tinha tudo para ser um best-seller ganha de bônus uma ótima escrita usada por Stieg Larsson para contar sua história.

Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander são os personagens bases, o primeiro é um jornalista encurralado após ser sentenciado por difamar, na revista ao qual é sócio, um importante financista. Salander é uma jovem controlada pelo estado por ser considerada incapaz de controlar a própria vida, trabalhando numa empresa de investigação, ela é contratada por Henrik Vanger para investigar o jornalista Mikael.

Enquanto Mikael vê sua vida mudar para atender um pedido de Vanger e iniciar uma nova investigação para descobrir quem matou sua sobrinha desaparecida, Lisbeth provoca calafrios no leitor ao ver o tipo de tutor que passa a controlar as finanças da personagem.

Ao mesmo tempo, fica a expectativa de quando e como duas criaturas tão diferentes irão se cruzar. Naturalmente o destino denominado Larsson irá reuni-los e a visão de mundo desses dois nunca mais será a mesma.

Vale observar uma pequena brincadeira feita pelo autor durante a história, deixando sua marca, e o comportamento vaidoso de Lisbeth, ao qual todas leitoras irão entender.

Os homens que não amavam as mulheres é mais do que recomendado, com um enredo que justifica os milhares de exemplares vendidos.

Para quem não leu e ainda está pensando, sugiro uma análise das consequências em se perder uma história surpreendente.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Anjos e Demônios



Robert Langdon, o professor de simbologia de Harvard que decifrou o Código Da Vince, vive sua primeira aventura um ano antes, em Anjos e Demônios (Dan Brown, 2004, Sextante Editora, 464 p.). A trama começa com o roubo de uma tecnologia, a antimatéria, e a morte de um importante cientista de um dos maiores centros de pesquisa científica do mundo, o CERN. Ele é encontrado sem vida e marcado a fogo com um misterioso símbolo que se podia ler corretamente mesmo de cabeça para baixo. O ambigrama passa a ser a única pista que pode levar ao assassino. E isto precisa ser feito rápido, antes que se acabe a bateria que mantém a antimatéria estável, o que provocaria uma explosão sem precedentes. O símbolo leva Langdon até o Vaticano na véspera do conclave que escolherá o novo papa.

Acompanhado da filha do cientista assassinado e responsável pela tecnologia da antimatéria, Vittoria Vetra, o simbologista acaba por ter de desvendar o Caminho da Iluminação. Um antigo caminho que levava até o esconderijo da fraternidade dos Illuminati, um grupo de pessoas que há cerca de 400 anos, defendia a ciência e, em uma época que tudo era explicado pela religião, desejava a destruição da Igreja Católica. Ao longo deste trajeto eles precisam tentar salvar os Preferiti - os quatro Cardeais favoritos a sucessão do Papa.

Assim como em suas outras obras, Dan Brown consegue prender o leitor do início ao fim com uma narrativa cheia de conspirações, informações sobre religião, ciência e história da arte. E apesar de confundir o leitor quanto ao que é verdade e o que é ficção, ele sabe do que está falando. Ao menos ao citar as obras de arte que aparecem aos montes e nunca de forma monótona. Brown estudou História da Arte na Universidade de Sevilha, Espanha. Quanto a famosa briga entre ciência e religião, ele leva para a obra a antimatéria como forma de questionar a existência de um Deus. Para quem não lembra, os experimentos com a antimatéria existem de verdade e tentam recriar, através da colisão de partículas subatômicas a origem do universo (o Big-Bang). Curiosamente, o CERN conseguiu, em novembro passado, capturar pela primeira vez a antimatéria, mesmo que por menos de um segundo. 

Com personagens marcantes e argumentos de sobra sobre religião e ciência, o autor cria uma imparcialidade de opinião que se reflete muito bem no protagonista da narrativa, já que Langdon, apesar de cético, se interessa muito pelos mistérios da religião. Para criar os opostos, Dan Brown deu vida ao camerlengo Ventresca e ao cientista Kohler. Cada um apresenta razões para se crer em algo. Deus ou a ciência? Ou, quem sabe, os dois juntos.

Para quem viu o filme, o livro em muito se difere e não apenas em espaço para desenrolar a narrativa, já que o filme precisa ser mais sucinto. No filme, personagens deixam de existir ou possuem outros nomes. Tudo, claro, mantendo a essência da narrativa e, por vezes, transformando-a em algo mais perto da realidade. Apesar de a história do livro ser muito verossímil, algumas coisas seriam desacreditadas nas telas do cinema. Como certo salto de helicóptero. Leia o livro, veja o filme. Depois, diga se é verdade a afirmativa: embora sendo artes completamente diferentes, o livro te leva a questionamentos, sorrisos e expectativas que nenhum filme (mesmo com o Tom Hanks) pode superar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Angústia

Luís da Silva se divide entre escrever artigos encomendados e o de servidor burocrático. Suas atividades tediosas, somado ao local pobre em que vive, pouco a pouco vão mexendo com a sua mente e com a de quem acompanha a sua rotina.

O estopim para sua obsessão, que leva a alucinações e uma síndrome do pânico até chegar a loucura total, ocorre no momento em que a sua vizinha, com quem pretendia se casar, o troca por um homem cuja qualidade das roupas e as atitudes refinadas revelam uma situação financeira melhor que a sua.

A crítica ao governo e as situações vividas pela sociedade estão constantemente presentes na narrativa que conta, em um texto corrido e sem capítulos, o dia-a-dia do personagem principal.

Coincidentemente, Graciliano Ramos, autor da obra, foi preso no mesmo ano de publicação de Angústia (1936), sob acusação de subversão comunista pelo governo de Getúlio Vargas.

A forma direta, os assuntos atuais, ainda palpitam na obra, levando ao leitor a cada página compartilhar com o personagem um aperto no peito e ao fechar o livro sentir-se angustiado com o desfecho de Luís da Silva.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Esplendor Secreto

Para poder se livrar do ex-marido e salvar o único filho doente, Arden aceita ser barriga de aluguel em troca de 50 mil dólares. Após a morte do filho, ela resolve ir atrás do que nunca viu apenas para conhece-lo e acaba se envolvendo com o pai do menino, um famoso tenista, agora decadente, que tenta se recuperar da morte da esposa e do alcoolismo.

Da série “tragédia pouca é bobagem”, a personagem conta tantas mentiras que me foi impossível não achar que o par perfeito para ela era justamente o ex-marido, que no romance faz o papel de vilão.

Com poucos personagens e uma história centrada nas mentiras e sentimentos de culpa da personagem (difíceis de comover um leitor mais cético), Esplendor Secreto de Sandra Brown não me cativou.

Somado a isso, há o descuido da editora responsável pela publicação do livro no Brasil, pois durante a leitura é possível encontrar diversos erros de linguagem, não sei se por problema de tradução ou de revisão.

Mas para quem gosta de ler cenas de sexo, o romance é mais do que indicado, pois está recheado delas com vários níveis de detalhes, sendo erótico sem ser vulgar.

Leitura relax, sem maiores pretensões, podendo servir para apimentar um pouco mais os quentes dias de verão que temos nesta época.