terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Pheby



Sinopse: Pheby Delores Brown é filha de uma mulher escravizada com o dono da fazenda onde vive. A ela é prometido que, ao completar dezoito anos, poderá ir para uma escola e viver a liberdade não reservada à mãe. Mas isso não acontece: enviada para a prisão dos Lapier - também conhecida como Terra do Diabo -, Pheby se torna a companheira do homem que comanda o local, uma posição que lhe dá aparente autoridade, mas também a obriga a se relacionar com o próprio diabo - e isso implica uma série de sacrifícios para proteger a si mesma e aqueles que ela ama.

Recebi em Julho/2022 pela minha assinatura da TAG Inéditos o livro Pheby da autora norte-americana Sadeqa Johnson. O mimo oficial foi o livro Os sofrimentos do jovem Werther, mas como ele foi o mesmo para as duas linhas de assinatura, eu recebi um segundo livro extra chamado Longe das Aldeias.

O ano é 1850. Pheby tem dezesseis anos, vive na plantação dos Bell no estado da Virgínia, é filha de Ruth - escrava da plantação - com o Mestre Jacob. Apaixonada por Essex, a menina foi educada pela tia Sally, irmã de Jacob, que ensinou a menina a ler, escrever e tocar piano.

Mama acreditava que a noite de lua cheia era a noite mais fértil do mês, que tudo o que a lua tocava era um receptáculo do poder de Deus.


Com a morte de outra escrava que trabalhava na casa grande, ela é chamada para substituir o atendimento a Sra. Delphina, esposa do mestre e que está grávida. Mas ao contrário dos outros, ali ela não encontra gentileza, e recebe os primeiros tapas da mulher que guarda muita raiva da filha bastarda do marido. 

Situação que Pheby tenta relevar, pois acredita na promessa do Mestre que ao completar dezoito anos será libertada e enviada para outra cidade para estudar.

Quero ela lá em cima, no Norte, onde a liberdade dela importa alguma coisa.


Mas uma sequência de acontecimentos infelizes ocorre, e invés da liberdade, Pheby é enviada para uma prisão, onde para sobreviver precisa se sujeitar aos caprichos do seu comandante, um homem cruel, ao qual nunca se sabe como irá agir. E para isso, mais do que nunca, ela vai precisar das palavras da mãe, que lhe diziam que ela era escrava no nome, mas não na cabeça, pois não era mercadoria de ninguém.


A escrita de Sadeqa Johnson

A autora norte-americana Sadeqa Johnson utiliza a narrativa em primeira pessoa para dar voz a Pheby e assim acompanhar não só os percalços da personagem, como conhecer o funcionamento do sistema escravocrata na parte sul dos Estados Unidos, a liberdade que se encontrava na parte norte e naturalmente os acontecimentos históricos.

Um fato muito interessante do livro é que apesar de ser uma ficção, a inspiração veio de personagens reais. Ao percorrer a Trilha dos Escravos de Richmond a escritora tomou conhecimento da história da cadeia dos Lumpkin, que pertencia a Robert Lumpkin, um homem conhecido como o Mercador Maligno, que foi casado com uma ex-escrava chamada Mary.

Os brancos sempre querem que a gente se deite com eles e depois deixam os problemas pros outros resolverem.


E o prisioneiro chave desta história, ao qual eu não vou revelar o nome para não estragar a sua leitura, foi inspirado em Anthony Burns, o encarcerado mais famoso da prisão dos Lumpkin.

Ao imaginar como teria sido a vida destas pessoas em um lugar tão inóspito, surgiu Pheby, um livro que mistura a face cruel da escravidão ao mesmo tempo que nos mostra o poder dos laços humanos. E isso é o grande acerto do livro, pois sem o segundo, seria muito difícil ler o primeiro.


O que eu achei de Pheby

Eu achei a escrita de Sadeqa Johnson muito envolvente, existe uma complexidade nas personagens que a tornam muito humanas. Mesmo os piores conseguem demonstrar em determinadas circunstâncias pequenos atos de amor, o que me levava a pensar no porque haver pessoas que preferem cultivar a crueldade, de se satisfazer mais com a dor do que com um sorriso, como que negando a si mesmo a ser feliz.

A personagem principal, Pheby, é muito bem construída. A resiliência em todas as situações para proteger os filhos, principalmente o primogênito, é ao mesmo tempo impressionante e dolorida.

Que todos os teus piores medos se tornem realidade, e que todo o mal provocado pela tua alma se volte contra ti multiplicado por dez.


Pois sim, ela é uma mulher diferente por tudo que absorve não só em relação aos estudos, mas as regras de uma vida que está sempre contra ela. Uma mulher inteligente, criada por uma mulher forte, que consegue ter uma visão de tudo o que está ocorrendo para assim garantir a sua sobrevivência e também de quem ela ama. 

Também gostei muito do complemento da revista, principalmente a explicação sobre o colorismo, que me ajudou a entender a visão americana na hora de classificar as pessoas, aos quais eles consideram as origens e não só a cor da pele em si, como ocorre no Brasil. O que me fez reavaliar a visão que eu havia tido ao ler A metade perdida, pois sim, agora eu compreendi todos os questionamentos do livro, que na época não fechava pra mim.

Eu sabia que aquilo não era o fim. No máximo, parecia ser o início, e eu não sabia se deveria sentir alívio pela bondade do cavalheiro ou medo mortal do que estava prestes a me acontecer.


E assim deixo a dica de um livro forte, reflexivo, de um passado bastante recente, cuja narrativa tem como efeito colateral apertar o coração enquanto não se compreende o quanto a humanidade pode ser desumana.


Pheby
Sadeqa Johnson
Tradução Davi Boaventura
TAG - dublinense
2021 - 318 páginas

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6 comentários:

  1. Histórias que envolve escravidão algumas vezes mexe com a gente, pois há muito sofrimento, porém é um bom livro que nos deixa uma reflexão, anotado aqui a sua indicação.

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  2. Só pela sinopse da pra notar que é um livro bem forte. Sou fraca pra esse tipo de leitura, me machuca. Mas é necessário!

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  3. Oi
    Eu gostei da sugestão de livro é bem interessante ainda não conhecia o trabalho da autora

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  4. Oi, tudo bem? Ah, já estava sentindo saudade de indicações da Tag. Recebi dois livros mas ainda não iniciei a leitura. O que mais me chama atenção é o fato de serem histórias diferentes e trazerem muitas reflexões. Deve ter sido muito triste para a protagonista ter sido enganada, ainda mais estar no meio de pessoas em que não pode confiar. Um abraço, Érika =^.^=

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  5. Oi, tudo bem? Ah, já estava sentindo saudade de indicações da Tag. Recebi dois livros mas ainda não iniciei a leitura. O que mais me chama atenção é o fato de serem histórias diferentes e trazerem muitas reflexões. Deve ter sido muito triste para a protagonista ter sido enganada, ainda mais estar no meio de pessoas em que não pode confiar. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Olá, tudo bem?

    Não conhecia o livro ainda, mas por tudo que narrou, já sei que preciso conhecer para ontem, pois imagino que vá ser uma leitura bem impactante para mim. Eu sou apaixonada por obras que trazem reflexões, então esse é o primeiro ponto que me anima. Quero!

    Beijos!

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