quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Amor e Amizade & Outras Histórias



Sinopse: Acredita-se que amor e amizade tenha sido uma das primeiras empreitadas de Jane Austen no que viria a ser seu ofício. Criada quando a inglesa tinha catorze anos, esta novela é composta de cartas escritas por Laura, em que conta seus infortúnios amorosos do passado. Já nesta obra Austen brinca com os clichês das histórias de amor da época – como o amor á primeira vista – e dá um verniz de sarcasmo ao enredo de reviravoltas românticas, mostrando um humor que marcaria sua obra dali em diante.

Este pequeno livro composto de três histórias, todas narradas em forma de carta, estão para mim mais como contos, vieram no combo-mimo de clássicos da TAG Curadoria de julho, e foi uma agradável surpresa.

Logo de início temos um prefácio do escritor e jornalista britânico G. K. Chesterton, cujo texto começa por opiniões controvérsias das obras de Jane Austen, passando por uma análise das histórias, até o fato de ter deixado tudo, inclusive seus manuscritos, para a irmã Cassandra.

A seguir o leitor será informado um pouco mais sobre a própria escritora, que teria escrito os seus contos ainda na adolescência, mostrando que sua ironia era algo nato.

O primeiro conto é exatamente o título do livro Amor e Amizade, tudo começa com Isabel enviando uma carta para Laura, solicitando que esta detalhe para a sua filha todas as desgraças pela qual passou.

Neste momento o leitor se torna Marianne, filha de Isabel, e acompanha todas as desventuras um tanto estapafúrdias de Laura, que envolve relações familiares, casamento, interesses, encontros e desencontros.

A crítica à sociedade da época não é nada sutil, o falso moralismo nada mais é que um reflexo de inocência inexistente. Tudo gira em torno de dinheiro, o que nos faz pensar o que Marianne estava pensando em fazer.

A segunda história se chama As Três Irmãs, e é a mais engraçada do livro. Mary inicia a sua carta se dizendo a pessoa mais feliz do mundo por ter recebido uma proposta de casamento do Sr. Watts.

Não, ela não é apaixonada pelo Sr. Watts, conforme ela ele é velho (possui cerca de 32 anos), é muito feio, desagradável e ela o detesta.

Mas ele é rico, e se ela não aceitar irá fazer a proposta as suas irmãs, e se estas não aceitar as filhas de uma outra família. Por saberem que a mãe não irá permitir a negação das três filhas, as duas mais novas resolvem enganar a mais velha, para convencê-la a se casar e assim livrando elas do partido indesejado.

A troca de cartas acaba sendo um jogo de manipulação, onde o trunfo é de quem possuí mais informações para saber como atiçar o lado competitivo da outra.

Para encerrar o conto Uma Coletânea de Cartas, que como as duas primeiras é narrado em forma de missiva. Aqui não temos personagens fixas, mas cartas que são desabafos para amigas sem nomes.
É uma mãe relatando as mudanças na forma de convívio com as filhas, uma jovem frustrada pela paixão, outra jovem que se sujeita a comentários da mulher que a leva para um baile, e outras histórias que parecem narrar à rotina das jovens de uma sociedade que hoje parece muito distante de nós.

O livro é curto e de rápida leitura, uma das coisas que eu mais gostei foram das dedicatórias antes de cada história, como a que Jane Austen dedica ao seu marido: “Ao Ilmo. Edward Austen o seguinte romance inacabado é respeitosamente dedicado por sua obediente e humilde serva, a autora.”. 
Amor e Amizade & Outras Histórias

Love and friedship
Jane Austen
Tradução: Rodrigo Breunig
TAG – L&PM Pocket
124 páginas

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Sonho de uma noite de verão



Sinopse: Sob o solstício de verão, humanos, espíritos da natureza e criaturas fantásticas performam seu espetáculo. Diante de um casamento arranjado por seu pai e pelos deuses, Hérmia decide fugir à noite com o seu amado Lisandro, para a tristeza do seu prometido, Demétrio. Ele, por sua vez, é desejado pela confidente de Hérmia, Helena. Nos bosques mágicos, o quarteto se reconfigura, transformando essa trágica história de amor em uma comédia caótica.

Eu li este livro de William Shakespeare em uma versão juvenil quando estava ainda no colégio e havia me encantado com a leitura. Então foi com prazer que recebi o exemplar que foi mimo do mês de julho da TAG junto com outros dois clássicos.

O livro exige imaginação dos seus leitores, pois é uma peça descrita. Ele não possui partes, possui atos. E ele não possui capítulos, possui atos. Ele é 99% diálogo, havendo apenas exceção para as entradas e saídas de cena.

Acorde o atrevido e ágil espírito do júbilo, expulse a melancolia daqui para os funerais.

A história – ou a peça – é iniciada com uma conversa sobre as núpcias de Teseu, o duque de Atenas, e Hipólita, a rainha das amazonas. Tudo está ocorrendo bem até Egeu e sua filha Hérmia entrarem em cena.

É neste momento que inicia um dialogo onde Teseu cobra da jovem obediência ao seu pai, lhe deixando duas alternativas: ou casa-se com o escolhido Demétrio ou vira freira. Não adianta a jovem dizer que o seu amado Lisandro tem as mesmas qualidades do seu pretendente, pois lhe é exigido que ela assumisse a visão de seu pai.

Mas, então, se amantes fiéis sempre foram traídos, isso é uma lei do destino.

No desespero, ela e Lisandro decidem fugir, iniciando sua fuga por uma floresta. Helena, sua confidente, tentando ganhar o amor de Demétrio lhe conta tudo, e ambos também vão para a floresta. Aqui assistimos Helena ser destratada inúmeras vezes por Demétrio, o que pode agoniar o leitor mais sensível, já que ela permanece seguindo-o mesmo após as humilhações.

O que ninguém sabe é que Oberon e Titânia, rei e rainha das fadas e dos duendes, estão em pé de guerra em plena floresta. E Bute, um duende endiabrado que atende as ordens de Oberon irá fazer a maior confusão em uma quente noite de verão.

Não é você que, às vezes, não deixa a cerveja fermentar, e desorienta os viajantes noturnos e ri de sua desgraça?

 O ritmo de leitura de um Sonho de uma noite de verão irá depender da adaptação à linguagem, que em relação aos dias atuais parece um tanto rebuscada, como no momento em que Egeu se dirige a Teseu dizendo “Cheio de vergonha venho eu, com queixas contra minha prole, minha filha Hérmia.”.

Mas também é uma história divertida, já que Shakespeare exagera na dramaticidade de seus personagens a ponto de se tornarem cômicas, e conforme Bute vai aprontando, mais surreal se torna a noite de cada um dos envolvidos.

O que tu vires quando acordares, toma por teu verdadeiro amor.

A leitura vale a pena por ser um clássico, por ser divertido e por nos fazer exercitar a imaginação. Eu, por exemplo, me imaginei sentada em um teatro aberto, onde parte do cenário era o próprio local.

Sonho de uma noite de verão
A midsummer night’s dream
William Shakespeare 
Tradução: Beatriz Viégas-Faria
TAG - L&PM Pocket
128 páginas