domingo, 29 de março de 2009

O Ladrão de Arte


Sinopse: Roma na pequena igreja barroca de Santa Giuliana, uma magnífica pintura de Caravaggio desaparece sem deixar pistas. Paris na câmara de segurança do porão da Sociedade Malevitch, a curadora Geneviève Delacloche é surpreendida com o desaparecimento do maior tesouro da instituição: Branco sobre Branco, a famosa obra do russo Kasimir Malevitch. Londres roubada a mais recente aquisição da National Gallery of Modern Art.

Adquiri O ladrão de arte por acaso, peguei na prateleira, li o seu resumo e achei interessante, já que o livro se tratava do roubo de artes escrito por um estudioso da área. 

Muitos anos antes havia lido “Se houver amanhã” de Sidney Sheldon, que possuía uma temática parecida, cuja heroína era uma ladra, tornando impossível não me questionar: como seria essa história nas mãos de um profissional, como Noah Charney? Mas o livro de estreia de Charney é superficial. 

Era quase como se ela estivesse esperando, ali parada, naquela escuridão artificial.

O autor apresenta diversos personagens conforme os roubos vão acontecendo, sem entrar em maiores detalhes. Algumas vezes, eles parecem estar dando aula sobre a história da arte (parte mais interessante na minha humilde opinião) e os porquês da indiferença das pessoas ao ser noticiado o roubo de um quadro ou escultura. 

O preço de venda nada tem a ver com o fato de a obra de arte ser boa ou não. Tem a ver com quanto as pessoas dispõem a pagar por aquilo em determinado momento.

Existe a tentativa de envolver o leitor em uma teia em que roubos tão diferentes parecem estar relacionados, mas em alguns capítulos O ladrão de artes chega ser chato, e mesmo sendo um livro investigativo, não me instigou a virar as páginas furiosamente para saciar qualquer curiosidade. 

Até onde sei, é uma obra anônima, pintada lá por 1920, na Rússia, no estilo suprematista.

Nem me fez ficar pensando na história, após ter finalizado a leitura e ido dormir. A soma de tudo faz o grande final passar desapercebido, pois em nenhum momento se criou intimidade suficiente com a história para separar os que investigam e os suspeitos. É um exemplo de livro policial em que a ideia é muito boa, mas que falta algo para torna-lo mais profundo e instigante.

Isso significa que o quadro pode não ter sido roubado por encomenda, e isso torna meu trabalho bem mais difícil.

Mas para quem curte arte ou viajar por diferentes cidades através da leitura, a história pode despertar o interesse por outro viés, podendo fazer valer a leitura. 

O Ladrão de Arte
The Art Thief
Noah Charney
Tradução: Cláudio Figueiredo
intrínseca
2007 - 314 páginas

sexta-feira, 6 de março de 2009

Alienante Alienista

Não há quem tenha passado pelo ensino médio ou pré-vestibular sem ao menos ouvir falar da obra O Alienista. Publicada em 1882, conta a história do homem que encerra em um hospício boa parte da população de uma cidade. Seu autor, Machado de Assis, além de ser um dos mais importantes nomes da literatura brasileira, foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, romancista, contista, poeta, dramaturgo, cronista e crítico literário. Dentre suas obras mais famosas estão os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba.

Considerada uma novela por alguns e um conto mais longo por outros – possui quase 50 páginas – , O Alienista, cujo personagem justifica seus excessos como um bem para o futuro da ciência, seria uma crítica ao cientificismo do século XIX. Os treze capítulos abordam um a um as peripécias do Dr. Simão Bacamarte ao classificar os habitantes de Itaguaí em sãos e loucos. No decorrer da história, muda consistentemente de critérios para avaliar a condição mental das pessoas, chegando a internar até mesmo sua esposa no hospício conhecido como Casa Verde.

Situações inusitadas surgem para mostrar características psicológicas de personagens condizentes com a realidade de qualquer leitor. A mulher que presta atenção na forma de se vestir das amigas, o senhor que gosta de se expo à janela de sua mansão, os vereadores que decretam que nem um deles poderá ser internado na Casa Verde e até mesmo o estranho personagem do Dr. Bacamarte que mesmo fazendo coisas absurdas e causando uma revolução, ainda tem a estima do povo.

Com um texto envolvente e um tanto cômico, Machado de Assis leva os leitores ao encontro de um estilo culto e acessível. Com esta história tão curiosa e narrada de forma rápida e ao mesmo tempo bem detalhada, não é difícil perceber porque o meio acadêmico dá tanto valor a esta obra.


domingo, 1 de março de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira


Sinopse: Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma "Treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.

Decidi ler Ensaio após assistir sua versão para o cinema. O filme de Fernando Meirelles me fez sair da sala impactada, mas por mais que ele tente ser fiel, não consegue transmitir a confusão de sentimentos que José Saramago me fez sentir meses depois a cada virada de página. 

Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite

Narrado em terceira pessoa, os personagens não possuem nome, são identificados por sua profissão ou alguma característica. Em meio a cegueira que se alastra, há uma exceção, a mulher do médico segue enxergando, mas mente sobre isso para acompanhar o marido. E ela verá todos os horrores desencadeados pela situação única, assim como a divisão entre opressores e oprimidos.

Eu poderia dar diversas interpretações, dizendo que o livro é uma provocação sobre o que o homem pode fazer em situações de caos, ou simplesmente, por saber que ninguém está olhando. Afirmar que é um livro crítico ao governo, que se livra dos indesejados em qualquer lugar, sem perceber que o mesmo mal irá lhe afligir cedo ou tarde. Ou que trata sobre a covardia humana, onde a maioria se encolhe ao que fala mais alto. 

A mãe não vinha com ele, não tivera a astúcia da mulher do médico, declarar que estava cegar sem o estar, é uma criatura simples, incapaz de mentir,  mesmo para seu bem. 

Talvez acreditar que se trate do machismo (que exige o sacrifício feminino) e do orgulho que esse possui (onde a mulher do outro pode ir, mas a minha não). Ou resumir em uma loucura total, onde o caos e situações bizarras se misturam. 

Mas não. Ensaio não possui definição e nem um resumo apropriado, pois ele depende inteiramente da visão (ou falta) do leitor. É ele quem precisa mergulhar nessa história fantástica e identificar o que lhe atrai, tirando assim a venda sobre os próprios olhos. 

Passada uma semana, os cegos malvados mandaram recado de que queriam mulheres. 

Pois ao terminar a leitura, essa foi a minha conclusão: Ensaio sobre a cegueira trata unicamente da alma do ser humano, que apesar de enxergar o sinal de trânsito todo dia, permanece tateando na vida, o que me faz definir tudo em uma única frase: Cegos somos, e cegos continuaremos.

E para quem gostar da leitura, fica uma dica preciosa, existe uma continuação, chamada Ensaio sobre a Lucidez, que você simplesmente não pode deixar de ler.

Ensaio sobre a cegueira
José Saramago
Companhia das Letras
1995 - 310 páginas