terça-feira, 27 de março de 2012

A Camareira

Lynn Zapatek retorna para o seu apartamento depois de um tempo internada em uma clínica. Logo consegue o emprego de camareira no hotel Éden e monta uma rotina em que cada dia tem uma atividade específica, como todas a quintas ligar para a mãe e todas as terças ficar embaixo da cama de um hóspede.

Acompanhando os sons da vida alheia, ela preenche o próprio vazio de uma vida sem sentido, pois fica nítido que a personagem não tem objetivo nenhum. O que provoca olhares atravessados de suas colegas de trabalho, já que ela não se interessa por folgas ou férias. Sua relação com a mãe é fria e superficial, se evitam, como se o peso do contato fosse impossível de carregar, talvez por, ironicamente, serem tão semelhantes.

A grande mudança ocorre justamente em uma terça, quando ela acompanha o desempenho da garota de programa Chiara. Num ato de ousadia, rouba o cartão de contato deixado para o cliente e marca um encontro. A partir dali, ela vive em um mundo de ansiedade, medo e sonhos.

Markus Orths escreve de forma direta, ágil e envolvente. Ao colocar o leitor na mente perturbada de sua personagem, este pode se sentir tão pressionado e ansioso quanto a própria. É possível sentir o cheiro da poeira, ouvir o som da tv, os sussurros e até mesmo os silêncios.

No meu caso, a leitura provocava estranhamento e pontos de interrogações. Lynn ficou me devendo algumas respostas, mas nada imperdoável, já que nós mesmos nem sempre procuramos nos lugares certos.

A Camareira - Markus Orths - Tradução Mário Luiz Frungillo - 2010 – 136 páginas - L&PM

terça-feira, 20 de março de 2012

Coisas Frágeis

Ao pensar nos nove contos de Neil Gaiman a primeira palavra que me vem à mente é: estranho. Mesmo passados alguns dias após o término da leitura, ainda não sei se gosto ou desgosto.

A escrita é rápida, algumas vezes subentendidas, outras escandalosamente diretas. Mas uma coisa é certa: não é leitura para quem gosta de histórias bonitinhas, mas também não chega a surpreender fãs de contos fantásticos em algumas de suas histórias.

Meu conto favorito foi “A Vez de Outubro”, ao relatar a decisão do filho caçula ao se sentir inferior aos seus irmãos mais velhos. O que parecia uma birra de pré-adolescente, mostra o quanto às comparações podem influenciar nos caminhos de quem não tem força para lutar contra.

A ironia, na minha opinião, ficou no conto “O Pássaro-do-Sol”, onde o desejo pelo diferente parece uma maldição que atinge gerações das mesmas famílias. Já o “Monarca do Vale” coloca ação, mitologia e uma certa lição de moral.

Categorizei como viagem total o conto “Como Conversar com Garotas em Festas”, cujo conto me vez lembrar o filme “O Ataque dos Tomates Assassinos” devido ao vazio que senti durante a leitura.

No sentido de despertar a curiosidade, ficou “O Problema de Susan”, que me vez desejar ler As Crônicas de Nárnia, já que só vi os filmes, e a indignação do autor foi tamanha que o fez escrever uma história sobre uma das personagens principais.

E um conto que eu realmente não gostei foi “Um Estudo em Esmeralda” na qual o propósito era escrever algo que misturasse Sherlock Holmes e H.P. Lovecraft, mas na minha opinião ficou parecendo uma imitação barata do estilo Holmes.

Não vou entrar em detalhes nos demais contos, pois estes resumem o meu sentimento geral de gostar e desgostar. Se alguém leu e amou, não se ofenda, pois livros são como aquele velho queijo degustado por aquela velha senhora: uma questão de gosto.

Coisas Frágeis
Neil Gaiman
Tradução: Michele Aguiar Vartuli
Editora Conrad
2010
205 Páginas

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Dia do Curinga


Quando finalizei a leitura de O Mundo de Sofia, achei o final um tanto estranho, quebrando a magia que o mundo filosófico havia criado no decorrer das páginas. E isto me fez não sentir vontade de ler outros livros do autor Jostein Gaarder.

Por ironia do destino, no mês de março de 2012, o clube de leitura que participo escolheu justamente um livro deste autor: “O Dia do Curinga”.

Hans-Thomas vive na Noruega com o seu pai, um colecionador de curingas, sua mãe saiu de casa com o pretexto de se encontrar e não retornou mais. 8 anos depois, uma revista de moda grega muda essa calma e eles vão busca-la em Atenas. A longa viagem é iniciada de carro, e entre vários caminhos, o menino acaba se deparando com um padeiro e um pão doce, que guarda um segredo dentro: um pequeno livro que só pode ser lido com o uso de uma lupa. Neste momento a viagem é dividida entre conversas com o pai e a leitura escondida da história do naufrago que encontrou a bebida púrpura e previsões para um futuro que incluía o próprio Hans.

As cartas de baralho fazem a divisão dos módulos e capítulos da história, que mistura filosofia, perdas, relações familiares e por que não alcoolismo. Essa combinação pode permitir há alguns criação de teorias, encantamento com o mundo criado na ilha e observações sobre o comportamento humano. Para outros, pode se tornar uma história chata, onde o autor parecia beber tanto quando o pai de Hans-Thomas antes de escrever cada página.

Curioso para saber em qual dos grupos estou? Pois irei deixar este ponto de interrogação. Quem ler os dois livros vai matar essa charada facilmente, ou vocês esperam soluções rápidas de quem, entre todas as cartas do baralho, se identifica mais com a figura do curinga do que qualquer outra?

O Dia do Curinga
Jostein Gaarder
Tradução: João Azenha Jr.
Companhia das Letras
2001