domingo, 31 de dezembro de 2017

As Três Marias


Publicado originalmente em 1939, pela forma fluída e direta poderia ter sido lançado ontem. Em uma obra que mistura autobiografia e ficção, Rachel de Queiroz leva o leitor de volta a sua infância em um internado de freiras.

Entre imagens de santas tristes e romances franceses, três Marias, como as estrelas, se tornam amigas. Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são tão diferentes e tão parecidas, como sempre são as melhores amigas.

A questão familiar é forte, todas são órfãs de certa forma. Maria da Glória perdeu os pais, vive sonhando e é a mais sensível, bonita, é a que possui a história mais romantizada por não se fazer tão presente.

Maria José viu o pai abandonar a mãe por outra e deixa-las junto com os irmãos a própria sorte. Leva a religião católica a sério, é quem mais julga e se assusta, sendo o oposto da última Maria, e embora estejam sempre juntas, também não se sabe exatamente o que ocorre em seu coração.

Maria Augusta ou Guta é uma mulher moderna em uma época de guerras e sociedade mais rígida no interior. Órfã de mãe, não se sente a vontade com a madrasta e irmãos. Existe nela uma tristeza só amenizada pela ânsia de conhecer o mundo. Sim, aqui temos Raquel, a autora, colocando sua personalidade questionadora em uma menina que se torna mulher no decorrer das páginas. É nela que a história está toda centralizada.

Um livro para todas as idades, que leva o leitor a refletir sobre os próprios caminhos enquanto acompanha as três Marias traçando os seus. 

Para quem ler a edição da TAG há três adicionais: uma carta aberta de Heloisa Buarque de Hollanda e as críticas literárias de Elvia Bezerra e Mário de Andrade.

As Três Marias
Rachel de Queiroz
Edição TAG – José Olympio
1939 – 223 páginas

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

As Alegrias da Maternidade



Maternidade: Estado, qualidade de ser mãe. Laço que liga a mãe aos filhos - Fonte: Dicionário On-line (Google)

Buchi Emecheta trás através da figura de Nnu Ego todos os extremos em relação a casamento e maternidade na machista sociedade nigeriana. Em uma história que possui um toque autobiográfico e foi escrito após uma decepção com sua filha.

Nnu Ego é filha de um importante líder de aldeia e sua amante, uma mulher corajosa e impetuosa, que infelizmente não vive tempo suficiente para ensinar a própria filha.

O primeiro contato com ela será em um momento de desespero. Após a morte do seu primeiro filho ela entra em desespero e seu único desejo é encerrar tamanha tristeza. Ela é salva e o leitor passa a acompanhar sua vida desde a sua concepção até a sua morte.

Ainda muito jovem vê o seu pai escolher o seu primeiro marido. E se no início ela se sentia feliz, vê a demora em engravidar tornar o seu tormento. Uma segunda esposa surge e o seu comportamento a levará de volta para casa.

Mas é no seu segundo casamento, em uma cidade maior, longe da força familiar, que ela terá que viver entre a submissão e superação. Não, ela não é estéril. Não, o marido não é o tipo de homem que ela escolheria para casar. Não, ela não possui escolhas.

Violência doméstica, criar e sustentar sozinha os filhos, fome, doenças, uma vida de martírio. E nenhum reconhecimento. A descriminação e desunião feminina, o julgamento sem apoio, a culpa colocada na vítima.

Não há alegrias na maternidade de Nnu Ego. É uma leitura reflexiva, sobre respeito, vida em sociedade, tradições, dúvidas e situações que ainda estão em muitas casas. E talvez este seja o choque maior, ver que uma história ambientada antes de 1950 possui comportamentos tão atuais ainda em 2017.

Em paralelo está um pouco da história da Nigéria, as tradições de cada povo que a compõe, a colonização inglesa, os impactos da segunda guerra mundial, a mudança de visão em relação aos estudos dos meninos nigerianos (já que as meninas são investimentos com retorno financeiro ao se casarem).

O incrível deste livro, que apesar de muito triste, é ele possuir uma narrativa de fácil leitura. Em nenhum momento ele cansa, as páginas fluem enquanto os dias na vida da personagem e sua família voam.

Um livro sobre ser mulher, esposa e mãe. Um livro sobre não ser homem, marido e pai. Um livro sobre ser filhos. Um livro para todos aprenderem que nada é fácil. Um livro para agradecer o que há de bom e mudar o que não satisfaz, pois ao contrário de Nnu Ego, o leitor possui escolhas e sim, ainda pode mudar o seu destino.

As alegrias da maternidade
Buchi Emecheta
Tradução Heloisa Jahn
TAG - Dublinense
320 páginas - 1979

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Reino Grande do Sul


Procurando um livro para uma menina que apesar de brasileira nasceu em terras distantes, encontrei a coleção Reino Grande do Sul na Feira do Livro de Porto Alegre.

Substituindo a realeza por prendas e peões, histórias clássicas como Cinderela, A Pequena Sereia e o Gato de Botas ganharam hábitos da tradição gaúcha misturados com a base das originais. Além é claro de se passarem em cidades do sul do Brasil, como Tramandaí e na Fronteira.

O resultado é uma forma divertida de conhecer a cultura do Rio Grande do Sul, desde a sua gastronomia até a sua forma de falar, tanto que ao final do livro há um glossário explicando o significado de algumas palavras.

A coleção é composta por quinze títulos, e os livros são muito bem feitas, arte gráfica, ideia e estrutura. É muito legal mudar o sotaque de personagens clássicos como Rapunzel - ou melhor - Prenda de Tranças, pensar que o baile da Prendarella é no CTG, tornando a leitura interessante para todas as idades.

Reino Grande do Sul
Série Prendas e Peões
Edibook