domingo, 27 de dezembro de 2009

Nosso homem em Havana


Sinopse: Certamente o mais bem-sucedido "passatempo" ou "diversão" de Graham Greene, este cômico jogo de espionagem na Cuba pré-Fidel Castro apresenta um insignificante vendedor de aspiradores que se transforma num agente do M16 - ou "nosso homem em Havana. Contudo, as mentiras que Greene forja nos relatos do seu personagem começam a se tornar reais nesta sátira publicada em 1958. Embora tenha uma profunda e melancólica tragédia oculta no seu passado, a história permanece deliciosamente absurda, fruto dos melhores esforços do escritor. E é em parte uma reminiscência do clássico O Agente Secreto, de Joseph Conrad, no qual um anarquista travestido de comerciante recebe pagamento como espião por nada fazer (dinheiro que lhe permite manter a companhia de uma bela mulher).

Jim Wormold é um inglês que mora a muitos anos na capital cubana, da relação ficou a guarda da sua filha Millie, uma adolescente que estuda em uma escola no convento americano, possui gostos caros e é o que preenche o vazio dos seus pais.

Não obstante, um estranho poderia ter a impressão de que se extinguiria primeiro, pois as sombras lá estavam - sombras de angústia que estão além do alcance de um tranquilizante.

Um dia, em sua vazia loja de aspiradores, recebe a visita do engraçado agente do M16 Hawthorne, que vê nele características para se tornar o espião que eles precisam. Em um primeiro momento Wormold não quer considerar a proposta, mas seu amigo alemão de mais de 15 anos, Hasselbacher, lhe dá a ideia de forjar relatórios e assim ficar com o dinheiro.

Pensando em resolver os seus problemas financeiros e atender aos desejos da adorada filha, ele resolve adotar a ideia e assim entra em um universo paralelo, inventando diversos agentes, utilizando-se de nomes de pessoas reais aos quais não mantém nenhum contato, e utiliza os desenhos das peças dos aspiradores que vende para criar plantas de fábrica.

Se ao menos tivéssemos nascido palhaços, nada de mau poderia acontecer-nos, salvo algumas contusões e manchas de alvaiade.

Nas primeiras semanas Wormold se sente feliz em sua aventura, pois tem o sentimento de estar fazendo algo interessante sem se preocupar com dinheiro. Tudo muda quando um de seus falsos agentes é assassinado e sua própria vida passa a correr risco. 

Mas ao mesmo tempo que corre contra o tempo para que não tenha mais nenhuma vítima, Wormold experimenta após muitos anos a paixão por uma mulher. Mudando de vez a sua pacata vida de vendedor de aspiradores.

Pela primeira vez, ocorreu-lhe que aos olhos deles - fossem eles lá quem fossem - ele havia recebido dinheiro sem que houvesse dado nada em troca.

Misturando comédia, espionagem, conflitos políticos e análise psicológica, Graham Greene consegue em Nosso homem em Havana divertir e interessar o leitor da primeira a última página. Narrado em terceira pessoa e dividido em cinco partes, a escrita do autor é muito fluída, instigando o leitor a virar mais uma página para descobrir como o personagem irá se desenrolar de toda essa confusão.

Nosso Homem em Havana
Our man in Havana
Graham Greene
Tradução: Brenno Silveira
RBS Publicações
1958 - 286 páginas

domingo, 20 de dezembro de 2009

Manhattan – Louca e Desvairada


Sinopse Jogos de Espelhos: A grande chance na carreira de Ariel Kirkwood aparece quando o escritor Booth DeWitt a escolhe para interpretar o papel de Elizabeth Hunter, a cruel ex-esposa dele. E Ariel queria mais do que ser atriz principal de um filme autobiográfico de Booth. Mas será que conseguiria convencê-lo de que ela era uma mulher real?

Ariel é uma atriz em ascensão, há cinco anos ela interpreta a mesma personagem de uma popular novela diurna. Aos 25 anos de idade, é uma jovem mulher otimista e de bem com a vida, que acredita no melhor das pessoas.

Mas isso não quer dizer que ela não tenha problemas, afinal, estamos falando de um romance de Nora Roberts. 

Alguma atriz algum dia é ela mesma?

De início Ariel nunca foi apaixonada por ninguém, ela ainda espera encontrar alguém que lhe faça os joelhos tremerem. o que ela encontra no diretor Booth De Witt, um diretor de cinema que busca a atriz perfeita para fazer o papel de sua ex-esposa. 

A escolha do tema foi a terapia de Booth, ao transferir toda a sua raiva para as palavras, ele desiste de jogar tudo na gaveta e se expor em nome do que considera a sua melhor obra. E ao ver Ariel representar tão perfeitamente a causadora de toda a dor, será atingindo por sentimentos conflitantes.

Bastava-lhe ver seu sorriso, ouvir sua risada, ouvi-la falar sobre algo que não necessariamente fizesse sentido.

Em paralelo ao novo relacionamento ela tem o desafio de enfrentar os avós maternos de seu sobrinho, ao qual deseja adotar por acreditar que ele não é feliz. 

Sinopse Um Herói em Nova York: A especialidade de Mitch Dempsey era criar super-heróis, não exatamente ser um deles. Mas havia algo na tímida Hester Wallace e em Radley, seu filho de nove anos, que despertava em Mitch o desejo de protegê-los, honrá-los e amá-los para sempre.

Hester e Radley acabaram de se mudar, o garoto, fã de quadrinhos, se prepara para ser a novidade no bairro e na escola entre os mais jovens. O menino não gosta que a mãe se sinta infeliz pelo seu pai ter ido embora.

Hester vive as aflições de uma mãe em criar um filho, com o adicional de não ter com quem dividir as suas preocupações e decisões.

Ele não precisava mesmo de um pai, porque tinha ela.

Enquanto isso o seu vizinho Mitch Dempsey precisa de ideias para suas novas histórias, é quanto o erro do entregador de pizza lhe dá a oportunidade de conhecer de perto a sua vizinha. Se Hester é toda fechada neste primeiro encontro, enquanto Radley vai a felicidade pura ao conhecer o criador de seu personagem em quadrinhos favorito.

O encanto do menino Radley pelo homem bonito e criativo, somado ao fato do garoto sonhar em ter um pai de verdade - pois pais de verdade não vão embora como o seu pai biológico -, tornam a segunda história particularmente interessante, pois o que poderia ser um dramalhão mexicano é apenas um reflexo do comportamento de homens que abandonam suas famílias na vida real. 

Às vezes é melhor não cavar fundo demais quando na verdade não se quer saber.

Não há lágrimas nos olhos do menino, apenas uma saudade que faz o leitor sentir vontade de abraça-lo, enquanto relaxa e se emociona com as histórias de Nora Roberts.

As duas histórias se utilizam da narrativa em terceira pessoa e exploram o romântico, ficando centralizada no casal principal e poucos secundários. Não é um livro para filosofar, pensar ou debater, mas para relaxar e se deixar levar pelos personagens.

Afinal, uma leitura leve também é sempre bom para nos tirar do stress do dia-a-dia.

Manhattan - Louca e Desvairada
Truly, Madly, Manhattan
Nora Roberts
Tradução: Alda Porto
Harlequin Books
1985 - 444 páginas
Onde comprar: Amazon

domingo, 13 de dezembro de 2009

Uma Vida Inventada


Sinopse: É inútil tentar separar realidade e fantasia em Uma vida inventada. Em seu segundo livro, Maitê Proença mistura literatura e vida, verdade e imaginação, brincando com o leitor de esconder e revelar. Mais importante do que a realidade é o jogo narrativo em que ela nos envolve. "Eu mesma, no íntimo, sou bastante comum", revela a autora para, logo em seguida, nos arrebatar com histórias incríveis, valendo-se de uma linguagem extremamente pessoal, às vezes lírica, às vezes dramática. Com muito sendo de humor e ironia, ela desfia casos surpreendentes, entremeados com a história de uma menina que quis desbravar o mundo e, descobrindo-o, descobriu a si mesma. 


Com duas histórias ocorrendo em paralelo, confirmamos o que é descrito na orelha inicial do livro, é difícil saber o que é ficção e o que é autobiográfico no livro escrito por Maitê Proença. 

Uma menina vive entre um pai em fúria que lhe conta sobre uma separação e uma mãe tranquila e alegre que afirma a filha que só havia concordando em considerar tal possibilidade para acalmar o marido.

E assim procurava encontrar o caminho para os porões ocultos onde agora vivia seu pai, e, quem sabe, trazê-lo de volta para um momento já transcorrido, em que tudo seria possível... se aquilo fosse possível.

Mas a própria mãe acaba buscando abraços mais gentis, o que gera revolta em seu irmão e deixa a mente da menina confusa, que vive envergonhada de si e da figura materna que a guiava.

Quando entramos nas memórias da autora, ela inicia nos contando sobre o seu tumulto interno, suas primeiras vezes, suas relações afetivas. Do temperamento da família que não consegue medir consequências, até a sorte que tem de não ter sido consumida pelas drogas que usou.

Esta noite num perrengue de casal fiz o de sempre, o de ontem, de há dez anos, vinte: comparei um amor com outro para desmerecer esse que amo agora.

E o que se segue não tem pudores, e a forma como ela conecta os seus próprios traumas, como de uma gravidez ao dezesseis anos que foi seguida de um aborto, assim como o fato da mãe ter sido vítima de feminicídio, fez com que me sentisse em uma sala ouvindo suas histórias mais íntimas, como um encontro entre amigas, onde dividimos o que está na nossa alma e assim aliviamos nossas mágoas, para em seguida relembrar nossas alegrias.

Se em um momento o narrador em terceira pessoa irá contar a história de uma menina que tem a vida totalmente alterada pelo fato do pai ter assassinado sua mãe, do outro, em primeira pessoa, a autora conta sobre diversas passagens de sua vida sem meias palavras, citando a filha, familiares, amigos, amantes e aventuras. 

Minha mãe foi uma mulher extraordinária. Era alegre, vibrante, gostava de brincar, dançar, falar, e era muitíssimo inteligente.

Em comum temos a figura de mulheres, reais e imaginárias, seus dilemas, problemas, personalidades, características e saudades. Maitê, como a menina, perdeu a sua, e a descreve a com um misto de carinho e saudade.


Se o início é traumático, onde amor e ódio, vida e morte são separados por uma linha tênue, no decorrer das páginas será possível identificar também alegria, ironia, maturidade e loucura, nos lembrando que nos dois mundos, o real e o da imaginação, há equilíbrio. 

Não existe sentimento mais forte que uma imensa paixão. A gente sofre, cega, emburrece, se adoenta e sara. E depois, como se nada houvera, se apaixona de novo.

O que nos leva a crer que se entregar a tudo o que a vida oferece não significa acabar com as dúvidas, afinal, os questionamentos são combustíveis para seguirmos os dias. Nem que a beleza e a fama são garantias de um felizes para sempre. 

Nesse momento, percebe-se que verdades e mentiras se misturam, podendo-se acreditar que tudo o que está descrito em ambas as narrativas aconteceu, como imaginar que tudo não passa de um “Se” com “S” em maiúsculo mesmo.

A mãe observou a filha minuciosamente, como jamais havia feito, e comoveu-se ao perceber que havia muito dela mesma naquela criança. 

Ao mesmo tempo é possível perceber que entramos em um universo totalmente feminino, onde é impossível não se identificar com uma ou mais situações, assim como os sentimentos ali descrito, tornando essa conversa ainda mais íntima, compartilhando risadas e apoio. 

Uma única coisa é certa, Maitê, nós leitores e suas personagens parecem estar sempre na mesma busca diária: o dia em que nos encontraremos. 

Uma vida inventada - Memórias trocadas e outras histórias
Maitê Proença
Editora Agir
2008 - 214