domingo, 13 de dezembro de 2009

Uma Vida Inventada


Sinopse: É inútil tentar separar realidade e fantasia em Uma vida inventada. Em seu segundo livro, Maitê Proença mistura literatura e vida, verdade e imaginação, brincando com o leitor de esconder e revelar. Mais importante do que a realidade é o jogo narrativo em que ela nos envolve. "Eu mesma, no íntimo, sou bastante comum", revela a autora para, logo em seguida, nos arrebatar com histórias incríveis, valendo-se de uma linguagem extremamente pessoal, às vezes lírica, às vezes dramática. Com muito sendo de humor e ironia, ela desfia casos surpreendentes, entremeados com a história de uma menina que quis desbravar o mundo e, descobrindo-o, descobriu a si mesma. 


Com duas histórias ocorrendo em paralelo, confirmamos o que é descrito na orelha inicial do livro, é difícil saber o que é ficção e o que é autobiográfico no livro escrito por Maitê Proença. 

Uma menina vive entre um pai em fúria que lhe conta sobre uma separação e uma mãe tranquila e alegre que afirma a filha que só havia concordando em considerar tal possibilidade para acalmar o marido.

E assim procurava encontrar o caminho para os porões ocultos onde agora vivia seu pai, e, quem sabe, trazê-lo de volta para um momento já transcorrido, em que tudo seria possível... se aquilo fosse possível.

Mas a própria mãe acaba buscando abraços mais gentis, o que gera revolta em seu irmão e deixa a mente da menina confusa, que vive envergonhada de si e da figura materna que a guiava.

Quando entramos nas memórias da autora, ela inicia nos contando sobre o seu tumulto interno, suas primeiras vezes, suas relações afetivas. Do temperamento da família que não consegue medir consequências, até a sorte que tem de não ter sido consumida pelas drogas que usou.

Esta noite num perrengue de casal fiz o de sempre, o de ontem, de há dez anos, vinte: comparei um amor com outro para desmerecer esse que amo agora.

E o que se segue não tem pudores, e a forma como ela conecta os seus próprios traumas, como de uma gravidez ao dezesseis anos que foi seguida de um aborto, assim como o fato da mãe ter sido vítima de feminicídio, fez com que me sentisse em uma sala ouvindo suas histórias mais íntimas, como um encontro entre amigas, onde dividimos o que está na nossa alma e assim aliviamos nossas mágoas, para em seguida relembrar nossas alegrias.

Se em um momento o narrador em terceira pessoa irá contar a história de uma menina que tem a vida totalmente alterada pelo fato do pai ter assassinado sua mãe, do outro, em primeira pessoa, a autora conta sobre diversas passagens de sua vida sem meias palavras, citando a filha, familiares, amigos, amantes e aventuras. 

Minha mãe foi uma mulher extraordinária. Era alegre, vibrante, gostava de brincar, dançar, falar, e era muitíssimo inteligente.

Em comum temos a figura de mulheres, reais e imaginárias, seus dilemas, problemas, personalidades, características e saudades. Maitê, como a menina, perdeu a sua, e a descreve a com um misto de carinho e saudade.


Se o início é traumático, onde amor e ódio, vida e morte são separados por uma linha tênue, no decorrer das páginas será possível identificar também alegria, ironia, maturidade e loucura, nos lembrando que nos dois mundos, o real e o da imaginação, há equilíbrio. 

Não existe sentimento mais forte que uma imensa paixão. A gente sofre, cega, emburrece, se adoenta e sara. E depois, como se nada houvera, se apaixona de novo.

O que nos leva a crer que se entregar a tudo o que a vida oferece não significa acabar com as dúvidas, afinal, os questionamentos são combustíveis para seguirmos os dias. Nem que a beleza e a fama são garantias de um felizes para sempre. 

Nesse momento, percebe-se que verdades e mentiras se misturam, podendo-se acreditar que tudo o que está descrito em ambas as narrativas aconteceu, como imaginar que tudo não passa de um “Se” com “S” em maiúsculo mesmo.

A mãe observou a filha minuciosamente, como jamais havia feito, e comoveu-se ao perceber que havia muito dela mesma naquela criança. 

Ao mesmo tempo é possível perceber que entramos em um universo totalmente feminino, onde é impossível não se identificar com uma ou mais situações, assim como os sentimentos ali descrito, tornando essa conversa ainda mais íntima, compartilhando risadas e apoio. 

Uma única coisa é certa, Maitê, nós leitores e suas personagens parecem estar sempre na mesma busca diária: o dia em que nos encontraremos. 

Uma vida inventada - Memórias trocadas e outras histórias
Maitê Proença
Editora Agir
2008 - 214

11 comentários:

  1. Ótima resenha!! E me fez pensar na minha busca... por mim mesma e por livros que façam a diferença! ;)

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  2. Maitê Proença é uma grande atriz brasileira, eu não sabia que ela escrevia, ela faz uma mistura de verdade e imaginação mesmo, achei o livro bastante interessante pra ler, bjs.

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  3. Legal esse mergulho no universo feminino, achei excelente a resenha do livro...
    Gostei, muito legal,
    Um abraço, Alécia do Blog Arrojada Mix
    Blog ArroJada Mix

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  4. Eu adorei a sua resenha! Essa eu nao conhecia, fiquei curiosa para ler

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  5. Olá Querida, Tudo bem?
    Amei a Resenha, parabéns:)
    Estou muito curiosa pra ler:)
    Obrigada
    Bjs Karina

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  6. Oi, tudo bem? Nossa, que incrível não sabia que a atriz era também escritora. Sempre admirei os trabalhos dela, uma das novelas que mais gostei foi Felicidade ao lado de Tony Ramos. Essa questão de não saber separar o que é real do imaginário me fez lembrar um trecho de A mulher na janela. As vezes acreditamos tanto em algo que isso passa a ser nossa realidade. Concorda? Um abraço, Érika =^.^=

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  7. Oi
    Que legal 👏 eu adorei a sugestão, não conhecia o trabalho de autora da Maitê Proença

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  8. Que bacana esse livro, ansiosa para ler!

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  9. Gente, ouvi muita gente falar desse livro da Maitê, apesar de achar que o livro parece meio confuso, to doida para ler...

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  10. Olá, tudo bem? Fiquei mega curiosa com a obra e a dualidade de gênero que ela pode trazer. Gosto bastante dessa força feminina dentro da história, sendo algo que me atrai. Dica mais que anotada!
    Beijos

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  11. A Maitê de fato é uma mulher forte,tansgressora,de ideiais nobres.O livro pelo parecer mexe com a sensibilidade do leitor e nos remete a um mundo genuíno,cheios de incertezas,distante e próximo do que vivemos atualmente.O enredo é cativantes,cheio de verdades.Fiquei muito interessada em ler.

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