terça-feira, 3 de janeiro de 2023

As Vitoriosas



Sinopse: O cliente de Solène, uma bem-sucedida advogada parisiense, não dera indício algum de que, ao ouvir sua sentença, atentaria contra a própria vida. Ela tampouco poderia imaginar que testemunhar a cena causaria o colapso de algo dentro de si. Paralisada, Solène sabe que a base que mantinha sua vida de pé ruiu. O médico atesta burnout e recomenda: “trabalho voluntário”. Mas, ao mesmo tempo que retomar a rotina confortável vivida até então não faz mais sentido, ela não tem ideia de como criar para si uma nova realidade. Quando um anúncio inusitado no jornal a leva até o abrigo conhecido como Palais de La Femme, Solène encontra um grupo diversificado de mulheres, vindas de universos muito distantes do seu, e, aos poucos, começa a redescobrir um senso de propósito ao dedicar algumas horas semanais à função de escriba: no saguão do Palais, coloca-se à disposição das residentes para redigir cartas. Ela perceberá, no entanto, que, tanto quanto a de escrita, sua habilidade de escuta será crucial ali.

Recebi em Julho/2022 pelo hoje já inexistente clube intrínsecos o livro As Vitoriosas da escritora francesa Laetitia Colombani. Os mimos foram um passaporte para anotar leituras e uma bonita placa com o desenho do Palais de La Femme, local central na trama.

Solène é uma parisiense solteira, sem filhos, bem sucedida como advogada. Ao sair da última audiência, não favorável ao seu cliente, ela se prepara para conversar com o mesmo para tranquiliza-lo. Mas não houve tempo, e ao ver ele suspenso no vazio, ela mesmo entra em colapso e acorda em um quarto de paredes brancas.

Em todos os cantos, as mulheres lutam para ter a identidade reconhecida. Exigem seu direito de existir.


Diagnosticada com burnout, a mulher que era totalmente focada na carreira se vê sem chão. A sugestão é que ela realize um trabalho voluntário para afastar os olhos de si e ser útil para alguém ou alguma coisa. E é assim que ela acaba respondendo um anúncio para escriba no Palais de La Femme, um dos maiores abrigos para mulheres da Europa, onde vai descobrir a vida de das suas moradoras e retornar o olhar para si.

E assim, em paralelo retornamos a Paris de 1925 e conhecemos Blanche Peyron, a idealizadora na transformação de um hotel para homens solteiros em um abrigo para as mulheres em situação de rua na Europa. Importante integrante do Exército da Salvação, acompanhamos a vida desta mulher incrível que colocava os outros seres humanos como foco principal de sua vida.

Está em pane, como um carro sem gasolina parado na calçada. Em pane, aos quarenta anos.

 

A escrita de Laetitia Colombani

Utilizando a narrativa em terceira pessoa tanto no tempo presente quanto no passado, a autora Laetitia Colombani mistura ficção e realidade em uma história curta com uma escrita fluída e impactante.

Através da personagem de ficção Solène a escritora aborda temas atuais que pressionam as profissionais todos os dias, ao mesmo tempo que nos relatas histórias que são vividas todos os dias por mulheres no mundo inteiro, sejam elas sem teto, refugiadas ou fugitivas da violência doméstica.

É preciso se afastar de si, se voltar para os outros, encontrar um motivo para acordar de manhã. Ser útil para alguma coisa ou alguém.


Fazendo um link das proibições dos séculos passados, como o simples ato de andar de bicicleta - que só foi permitido as mulheres no século XIX - ter uma conta bancária e fazer um empréstimo, ou algo tão banal nos dias de hoje como usar uma calça. E naturalmente a violência, que segue deixando marcas no decorrer dos séculos em suas diferentes formas em mulheres de todas as nacionalidades.

Outro ponto que achei muito interessante na forma abordada pela escritora foi a relação e reação entre voluntários e os que estão recebendo suas ações. É preciso entender que nem sempre palavras de agradecimento serão proferidas, mas que o coração deve ser aquecido pela ação em si, e pelos laços que aos poucos cada uma delas vão construindo.

Uma profissão séria. Ninguém liga se ela não faz você feliz.


O que eu achei de As Vitoriosas

Eu gostei muito de As Vitoriosas, logo de início eu já desconfiei que Blanche fosse real, confirmação que eu tive ao ler a revista que acompanhou o livro e estava bem completa. E foi um livro que a história me envolveu de tal forma que rapidamente eu estava chegando a última página com inúmeras reflexões me acompanhando.

Como do óbvio viver um dia de cada vez, passando pelo fato de que muitas pessoas acabam seguindo carreiras por razões financeiras ou pelos pais terem mandado e não conseguirem ser felizes nela, e assim abrirem as portas para o burnout e a depressão.

A constatação da pesquisa é alarmante: as mulheres são as principais vítimas da pobreza e as principais beneficiárias dos serviços de assistência social.


Também gostei da forma como ela aborda de maneira bem crítica como as mulheres são as mais afetadas pelas diversidades econômicas. Sejam por ganhar menos, pelo número de mães solo que acabam dependendo de abrigos e bancos de alimento, por serem as mais afetadas quando regimes ditatoriais são implantados. E de como são invisíveis perante a sociedade, por mais expostas que estejam.

O que leva a questão de que deveríamos nos dedicar com afinco no que realmente acreditamos, em nos perguntar o que fazemos para melhorar o mundo que vivemos além de reclamar nas redes sociais e não ceder em nada, nem abrir os olhos para o que está ali, a poucos metros de você.

Uma escolha necessária, indispensável e insana. A escolha que vai assombrá-la por toda a eternidade.


Pois o livro As Vitoriosas consegue despertar um desejo de fazer mais pelos outros e também por si mesmo, o que talvez seja a melhor combinação para melhorar tudo ao nosso redor. Razão que por si só já vale a leitura.


As Vitoriosas
Les victorieuses
Laetitia Colombani
Tradução: Carolina Selvatici
intrínseca
2019 - 199 páginas

Esta resenha não é patrocinada, a assinatura do clube citado - que foi encerrado em setembro - era pago integralmente pela autora. 

7 comentários:

  1. É um livro bastante real, há uma mistura de fatos reais, muitas mulheres vivem diferentes histórias de dores, sentimentos, é uma história muito emocionante, e muito bem escrita pela escritora.

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  2. Bem interessante. Só de ler a sinopse eu já senti o cheirinho de "exemplo de vida", aqueles livros que te fazem, mesmo que sem querer, melhorar como pessoa.

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  3. Oi
    Eu adorei a sugestão de leitura é bem interessante :) e gostei do fato de misturar ficção e realidade

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  4. Bom além de boa leitura, traz reflexão, legal trazer a resenha
    Abraços,
    Alécia, do Blog ArroJada Mix

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  5. Oie, tudo bem? Ah, eu gostei muito da proposta desse livro. Uma pena o Intrínsecos ter acabado, a editora sempre traz livros e histórias incríveis. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Que bacana, já fiquei curiosa para ler!

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  7. Olá, tudo bem?

    Não conhecia o livro, mas já gostei bastante de todo enredo que você apresentou, principalmente porque parece abordar temas bem necessários. Me deixou bem interessada!

    Beijos!

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