segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A Única Mulher


Sinopse: Hedy Kiesler sempre se destacou por sua beleza. Ainda jovem, interpretou o papel principal de um filme polêmico e se casou com um magnata austríaco da indústria armamentista. Mas, longe de ser apenas um rosto bonito, a protagonista foge do marido controlador e da sua Áustria natal após entender os planos do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Refugiada em Hollywood, ela se torna uma grande estrela de cinema - ao mesmo tempo em que desenvolve uma ferramenta capaz de acabar com o conflito entre eixos e aliados.

Misturando realidade e ficção, a autora e historiadora Maria Benedict mostra aos seus leitores outras faces da famosa atriz Hollywoodiana dos anos de 1940 e 1950 chamada Hedy Lamarr. Considerada a mulher mais bonita da sua época, foi inspiração para o rosto da Branca de Neve. Mas Hedy era muito mais do que um rostinho bonito.

Nascida Hedwig Eva Maria Kiesler, era a filha única de uma família de classe alta judia na cidade de Viena, na Áustria. Após crescer com inúmeras críticas da mãe e muitos incentivos para alimentar a sua inteligência pelo pai, a jovem Hedwig acaba tendo o seu primeiro reconhecimento por um filme pelo qual ela se arrependeu de fazer. No filme Êxtase ela se torna a primeira mulher a realizar uma cena de orgasmo feminino.

Cidadãos alemães judeus não só foram vítimas de ataques violentos, como foram privados dos direitos de cidadania.

Tentando recuperar sua imagem de boa moça ela aceita o papel de Sissy, a imperatriz, no teatro e assim conquista um fã, o magnata austríaco da indústria armamentista Friedrich Mandl. Inicialmente ela não deseja aceitar a sua companhia, mas Hitler e seu desejo de unificação da Áustria com a Alemanha fazem seu pai a convencer de que não é uma boa ideia rejeitar quem pode lhe salvar em uma guerra iminente.

O ano é 1933, e o chanceler austríaco Dofffuss se tornou uma espécie de ditador em um país cercado de vizinhos governados por nazistas e fascistas. Mandl é amigo e parceiro de negócios do exército austríaco, não sendo apenas um vendedor de armas, mas também um homem envolvido com as estratégias políticas da Áustria. Motivo de aflição e aceitação de seu pai para que tal homem entre em sua casa.

Em geral gosto de escolher eu mesma, mas neste caso é aceitável.

Fritz se mostrou encantador para Hedy, parecendo respeitar não só a sua inteligência como a sua opinião. Mais do que lhe levar para um mundo cheio de luxo com pratos banhados a ouro, ele lhe mostrou ser muito diferente dos garotos com os quais ela estava acostumada a sair. O pedido de casamento não demorou, e ela encantada com aquele homem não viu isso inicialmente como um sacrifício.

Mas ela não estava preparada para o que aconteceria após o sim. No lugar de uma parceria cheia de amor, o que veio depois foi a prisão em castelos de luxo, casada com um homem dominador e ciumento, Hedy se tornou mais uma peça a ser mostrada por Fritz aos que lhe cercavam. 

Governantes e movimentos podem ascender e cair, mas o poder do dinheiro sempre prevalece.

Foi graças ao poder do marido que ela se viu frente-a-frente com figuras como Mussolini, mas foi ao ouvir o plano do ditador nazista que ela resolveu mudar o rumo de sua vida e rever sua origem judaica, algo que durante toda a sua vida não dera importância por viver em uma família não praticante. O resultado é a fuga para os Estados Unidos.

O sucesso em Hollywood veio rápido, mas o sentimento de culpa por não ter avisado seus compatriotas judeus dos riscos a consumiam, fazendo com que ela se dedicasse a formas de ajudar na guerra. Como ocorre em à Rede de Alice, sua genial invenção feita em parceria com o compositor George Antheilx não é aceita pelos militares, pelo motivo de ter sido projetado por uma mulher, mas os benefícios são usufruídos até hoje por todos nós.

Eu nunca era Hedy Kiesler, aspirante a inventora, pensadora curiosa e judia.

Narrado em primeira pessoa, o livro possui duas partes, a primeira trata da sua vida em Viena e a segunda após a sua fuga do país de origem. Existe um foco maior na primeira parte, quando a necessidade de sobrevivência a faz aceitar ser subjugada e sofrer violência doméstica. Já a segunda parte tem como foco a união de artistas europeus - não "existiam" judeus em Hollywood -, e em uma única invenção militar, não sendo citado as outras, como durante o seu relacionamento com Howard Hughes e sua sugestão para aperfeiçoar as asas de seus aviões.

Na edição da TAG Inéditos há no final uma nota da escritora Marie Benedict em que ela complementa a sua história, onde é incluído as tão erradas suposições sobre a incapacidade das mulheres, aos quais, a cada dia que passa, me fazem crer ser um dos motivos responsáveis pela Segunda Grande Guerra ter durado tantos anos. Após a nota, há uma entrevista com a autora, que também já escreveu sobre outras figuras femininas históricas e a sua forma de pesquisa.

A verdade passava de boca em boca, como se fôssemos os primeiros povos habitando a Terra, sujeitos a uma história apenas oral.

A escrita é bastante fluída, e o contexto histórico é bem explorado, embora eu tenha achado a parte de Viena em alguns momentos mais arrastados, e tenha sentido falta de explorar mais o lado inventora de Hedy com outros itens além da invenção militar, eu realmente gostei do livro que me permitiu conhecer as várias faces desta mulher incrível.

Um livro para quem adora cinema, história, lutas femininas e entender mais um pouco de política, preconceito, violência física e psicológica contra a mulher e escolhas que estão longe de serem as melhores.

A Única Mulher
The Only Woman in the Room
Marie Benedict
Tradução: Isadora Prospero
TAG Inéditos - Planeta
2019 - 317 páginas


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