segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Adultos


Sinopse: Jenny não é amada, não tem emprego e não tem filtros emocionais. Seus poucos amigos parecem cansados dela enquanto suas redes sociais retratam sua vida como um mar de rosas. Adultos é o que você quer que seja. Uma desventura da maturidade, uma sátira à nossa era de autopromoção, um olhar terno sobre a impossibilidade da feminilidade, uma história de amor, um motim. 

O livro de agosto, número 023 da intrínsecos, é Adultos da escritora Emma Jane Unsworth, um romance que ocorre nos dias atuais e narra a relação extrema com as redes sociais. Entre momentos engraçados e tediosos, está o fato de que neste caso a semelhança não é mera coincidência para muitas pessoas.

Jenny está em um café, observa atentamente os croissants, ela precisa que ele seja perfeito, pois irá fazer um post sobre ele no Instagram, e isso irá lhe definir como ser humano. Ela precisa da frase perfeita, da hashtag perfeita. Depois da foto postada, o alimento vai para o lixo e começa a ansiedade pelas curtidas.

Talvez terapia não seja apenas um stand-up ruim que a gente não tem coragem para apresentar.

Logo ela vai conferir o perfil da sua influencer preferida, que nos últimos tempos a tem seguido de volta, motivo pelo qual ela fica nas nuvens, curtindo e comentando todas as fotos de forma que acompanha-la é quase uma obsessão.

Na vida real sua melhor amiga está de saco cheio de Jenny pedir para ela avaliar as suas frases. O namorado está cansado de competir com o celular. E a relação com a mãe é recheada de mágoas desde a infância, o pai é desconhecido.

Minha mãe estava aliviada. Ela não tinha que se preocupar com a possibilidade de eu ficar desamparada.

O recomeço de Jenny vem com uma série de rompimentos e a mãe se mudando para sua casa. Entre bebedeiras, brigas e fotos para o Instagram, vamos entendendo o que levou a jornalista a preferir o mundo virtual em relação ao real.

Quando iniciei a leitura de Adultos, achei o livro chato. Fiquei pensando onde está a parte engraçada de uma doida  que não larga o celular nem para transar. Os rascunhos de e-mail e as conversas de WhatsApp não melhoravam o clima.

Relacionamentos não devem ser julgados pela longevidade, mas pela qualidade.

Foi quando a minha ficha começou a cair. 

Conforme as páginas lidas foram se acumulando, foi impossível não reconhecer pessoas do dia-a-dia e até a si mesmo nos conflitos reais e virtuais de Jenny. Como uma cebola, a cada camada que se retira, descobrimos o porquê dessa mulher de trinta e cinco anos de gênio forte e rápidas respostas na verdade esconder muitas fragilidades.

Na verdade, eu não tinha amigos.

Na coluna que escreve, os comentários negativos, mesmo que minoria, são os que ficam martelando em sua mente, mesmo havendo vários elogios. O sentimento de ser um fracasso, uma fraude, a acompanham, e o número baixo de curtidas em suas fotos é uma prova disso para ela.

Em um mundo fútil, de aparências, o virtual passa a influenciar no real. Segredos são descobertos, comportamentos são revistos, e mesmo tardiamente parece que finalmente a maturidade começa a chegar para Jenny.

Meses depois, no hospital, as enfermeiras me fizeram duvidar de mim mesma de novo.

Narrado em primeira pessoa, tendo a visão da personagem principal, a história mistura extremos tecnológicos com dramas muito conhecidos pelo universo feminino. Aqui estamos lidando com menstruação, maternidade, solidão, carreira e um misto de sentimentos que vão de culpa, inferioridade a necessidade de competição e observações ácidas, mas também por laços que podem se tornar mais fortes depois de anos. 

E ao final eu estava me divertindo e me solidarizando com as figuras femininas de Adultos. E neste universo tão peculiar me vi rindo, pensando nas questões, não indo com a cara de Art e com vontade de dar um abraço em Jenny nas duas vezes que ela ficou indevidamente sozinha.

Não é culpa sua, mas é o que você foi criado para ser.

O resultado de tudo é que no final eu adorei o livro, achei louco, absurdo, verdadeiro e surpreendente. Um retrato de uma geração que nasceu no analógico e tenta criar uma nova vida no virtual. De bônus ainda uma Londres intensa, com os seus pubs e parques, já que Jenny está sempre circulando.

A propósito, a cena do Prólogo só ganha um significado quando terminamos o livro, a ponto que eu retornei e pensei: Parabéns, Jenny.

Adultos
Adults
Emma Jane Unsworth
Tradução: Ana Rodrigues
2020 - 398 páginas

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