segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Quase Memória




Eu não devia dar tanta e tamanha importância a esse embrulho. Devia abri-lo e – pronto, era um mistério a menos, se é que é mistério mesmo. Assim como há dores-de-corno retroativas, há indecisões antigas que envergonham. Afinal, o embrulho está aqui, posso dispor dele, abri-lo, joga-lo fora, rasga-lo, ou nada fazer com ele, mantendo-o em sua condição de embrulho, e sua espécie de mistério”.

Quando o autor, Carlos Heitor Cony, recebeu do porteiro do hotel onde almoçava um embrulho com o seu nome, ao olha-lo reconheceu imediatamente a assinatura do remetente seu próprio pai. Uma identificação simplista se não fosse o fato dele ter falecido dez anos antes.

Sem conseguir se concentrar em outra coisa, Cony acaba se isolando em seu escritório com o embrulho e passa a dividir com o leitor sua avalanche de memórias, onde biografia e ficção se misturam ao recriar a história do jornalista Ernesto Cony Filho e por consequência a sua própria.

Entre jacarés e balões, viagens para lugares distantes ou que ficam só na imaginação, pequenos e grandes gestos arrancam sorrisos e lágrimas de quem se entrega a essa história encantadora.

A única advertência é que Cony pai e Cony filho podem provocar lembranças de quem teve um pai herói e uma dorzinha de inveja em quem teve esse posto vazio.

Quase Memórias
Carlos Heitor Cony
1995
223 páginas