Sinopse: Espanha, final dos anos 80. Um convite para lecionar em uma cidade no interior dos Estados Unidos muda para sempre a vida de um jovem aspirante a escritor. Lá, ele conhece Rodney Falk, homem cínico, culto e marcado por um terrível segredo de guerra. A partir desse encontro, os personagens - tão complexos e humanos - desenvolverão uma relação tumultuosa que culminará em um enfrentamento trágico da realidade e os seus demônios.
A TAG Curadoria iniciou o ano de 2018 com a indicação do escritor brasileiro João Anzanello Carrascoza, que me apresentou o escritor espanhol Javier Cercas e um dos livros que entrou para a minha lista de favoritos: A Velocidade da Luz.
Um aspirante a escritor na cidade de Barcelona recebe o convite para dar aulas em Urbana, uma pequena cidade nos Estados Unidos. Neste ambiente tão diferente ele conhece Rodney Falk, um professor um tanto misterioso que vive a parte dos demais docentes. E essa amizade irá marca-lo em definitivo ao ter em suas mãos as cartas que o seu amigo enviava ao pai durante o tempo que serviu ao exercito na guerra do Vietnã.
Hoje eu levo uma vida falsa, uma vida apócrifa, e clandestina, e invisível, porém mais verdadeira que uma vida de verdade.
O livro de Javier Cercas possui três bases para capturar o leitor: a própria literatura, a psicologia humana e uma guerra. Os três possuem munições suficientes para uma discussão conforme o olhar do seu leitor, já que o livro em si não possui lado, não faz julgamento, apenas conta sobre duas vidas e seus traumas em uma mistura de ficção e realidade.
Curiosamente o livro também possui três cidades de referência: Girona, Urbana e Barcelona, esta última com mais um autor espanhol utilizando de seu lado sombrio para intensificar os sentimentos contraditórios de seu personagem.
...quem sempre sabe aonde vai nunca chega a lugar nenhum, e que a gente só sabe o que quer dizer quando isso já foi dito.
A guerra do Vietnã tem como personagem Rodney, um jovem culto e inteligente que se obriga a ir para uma guerra que não acredita apenas para não decepcionar o seu pai, um veterano da segunda guerra mundial que tem muito orgulho de ter ajudado a salvar o mundo. O homem que retorna é muito diferente, entre as perdas estão o da sua essência, fazendo com que Rodney se construa e descontrua conforme as situações enfrentadas.
Em um dos seus sumiços, o narrador sai em sua busca e acaba recebendo as cartas. Conforme o horror vai acontecendo, uma mudança no conteúdo é evidente, da inocência perdida após a morte do irmão, muitas dúvidas irão surgir na cabeça do narrador, que leva o leitor junto na busca por respostas. E sim, a história de Rodney daria um livro próprio, mas ela é a inspiração do nosso narrador, que precisa dividir o que acontece com ele conforme a ideia da história é construída.
É possível que logo tenha entendido que ninguém volta do Vietnã; que, para quem esteve lá, o regresso é impossível.
O psicológico permite o contraponto entre os dois personagens principais da história: se Rodney possui cultura e luta com os seus monstros internos, o narrador é superficial. Não é difícil desgostar de quem conta a história, seu egoísmo e deslumbramento podem fazer o leitor esnobar os seus sentimentos de culpa conforme os ciclos se repetem. Ele é humano? Sim. O livro escrito pelo narrador parece uma forma de expurgar a culpa? Talvez. Conseguimos ver os dois como espelhos, como muitas vezes o narrador tenta nos induzir? Irá depender de quem está lendo.
...a melhor maneira de contar uma história é não conta-la.
E a literatura? Ah, ela está nas várias referências bibliográficas como Hemingway e Mercè Rodoreda, nos conselhos de Rodney para que um escritor não sucumba ao sucesso, ao gosto de ter seus livros vendidos, a dificuldade de contar uma história quando você começa a fazer parte dela. Ela é o próprio livro quando você não sabe se o narrador é realmente fictício ou autobiográfico, quando ele fica anos escrevendo suas histórias acreditando que aquilo é uma forma de vida, quando a escrita faz a vontade dos olhos se abrirem voltar.
E para quem é assinante da TAG, o posfácio de João Anzanello Carrascoza pode mexer ainda mais com a cabeça do leitor e os seus pontos de interrogações.
...agora era eu o homem mais sozinho do mundo, um animal perdido no meio de uma manda de animais de outra espécie...
Por esta história multifacetada, de escrita fácil e leitura rápida, mas de pensamentos longos e muitas teorias, que eu me encantei pela Velocidade da Luz e por Javier Cercas. Um livro para quem deseja escrever, para quem deseja uma boa história, para quem gosta de uma mistura de fracasso, sucesso e culpa.
A Velocidade da Luz
La Velocidad de la luz
Javier Cercas
Tradução Sérgio Molina
TAG – Biblioteca Azul
2001 – 268 páginas
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