terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Eu sou um gato



Sinpse: Os humanos têm quatro patas, mas se dão ao luxo de utilizar apenas duas. Poderiam andar mais depressa se usassem todas, mas se contentam apenas com um par, deixando as restantes estupidamente penduradas como bacalhaus postos a secar.

Publicado em forma de série em uma revista, os onze capítulos desta obra narram toda a inteligência, consciência, comportamento humano e intelectualidade do início do século XX em terras japonesas (embora sirva perfeitamente para os nossos dias atuais) na visão de um gato sem humildade nenhuma, cujo amo é definido pela sua imbecilidade.

Contam que por vezes esses humanos denominados estudantes nos agarram à força para nos comer fritos. 

Logo na nota dos editores podemos observar a primeira curiosidade do livro, o nome do autor é um pseudônimo, seu sobrenome, Soseki, em chinês significa incômodo/estorvo. O que parece descrever o seu sentimento por vários dos personagens da história, e talvez como ele mesmo se sentisse, já que a sua vida não pode ser categorizada como fácil.

Como escrevi no primeiro parágrafo, quem conta esta história de forma irônica, debochada e às vezes um tanto preguiçosa é um gato. Um gato sem nome. Um gato abandonado que ainda filhotinho achou uma casa e o seu amo. No local às vezes é pisado, às vezes vira saco de pancada, e assim ele acabou sendo apenas um bicho que por ali ficou, circulando entre as casas da vizinhança, ampliando a narrativa para além da área central.

Minha inteligência é indubitavelmente superior à dele, estou certo disso, mas não me comparo a ele quando se trata de força física e coragem.

O seu amo é o professor Kushami, casado com uma mulher sem estudos e submissa, com filhas pequenas e uma empregada. Além deles, amigos e ex-alunos frequentam a casa, onde há discussões que vão da literatura, passando por fatos históricos, até conversas simples do cotidiano. Um dos mais divertidos é Meitei, com uma mente mirabolante, suas histórias misturam realidade e fantasia de uma forma um tanto engraçada. 

Um dos eventos principais da história está na chegada da família Kaneda e um suposto interesse de Kangestu – um ex-aluno de Kushami e um doutorando que passa polindo bolas de vidro – em se casar com a filha do empresário. Como o comportamento da Sra. Kaneda não é exatamente simpático ao questionar Kushami sobre o pretendente, somado ao desprezo que o professor sente por homens de negócio como o marido da mulher em questão, logo o nariz da senhora vira o assunto principal das conversas, estas escutadas por vizinhos que levam as fofocas quentinhas aos interessados, que insultados acabam provocando situações ainda mais ridículas na história.

Em um mundo onde há humanos que se vangloriam de terem sido cobiçados por alguém que era apenas estrábico, semelhante engano não é nada de se espantar, e eu continuei a receber calmamente suas carícias. 

O livro é cheio de observações de rodapé, sejam para listar autores ou fatos históricos aos quais os pseudo-intelectuais estão discutindo. E o engraçado de tudo, é que em muitos momentos o professor Kushami me passa o sentimento de ser o alter ego de Soseki, pelas semelhanças físicas assinaladas nas mesmas notas.

E mesmo sendo uma crítica à sociedade japonesa da época, muita das frases são mais atuais do que nunca, como uma parte que me chamou especialmente a atenção e assim diz: “Só pensamos em nós mesmos, ao irmos dormir, aos nos levantarmos, em todas as ocasiões reverenciamos nosso eu. Por isso, as ações e palavras se tornaram artificiais, impacientes e asfixiantes.” . Confesso que fiquei tentando imaginar o que Soseki escreveria se estivesse vivendo os dias de hoje.

Um livro para ler com calma e como um gato se aconchegar em um lugar macio para se perder em reflexões.


Eu sou um gato
Wagahai wa neko de aru
Natsume Soseki
Tradução Jefferson José Teixeira
Estação Liberdade
1905 – 486 páginas

10 comentários:

  1. É um livro bastante interessante, e também engraçado, e também com crítica a sociedade japonesa,como você disse, amo gatos iria amar ler o livro, bjs.

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  2. Olá, Tudo bem? Não conhecia este livro mas muito interessante:) Muito Obrigada
    Bjs karina

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  3. Gostei do post! Parece ser um livro bem interessante, ainda não conhecia.

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  4. haha adorei sobre os humanos ter 4 patas, ache ótima a sinopse, deu vontade de devorar a obra :)

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  5. Essa parece ser uma leitura bastante interessante e diferente do que eu to acostumada a ler, mas ainda assim pela sua sinopse parece ser um bom livro.
    Beijão! ♥

    Relíquias da Lara

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  6. Olá?
    Amo gatos... então até procurei saber onde comprar o livro e vi que a data da primeira publicação é de 1906.
    Tenho certeza que essa é um tipo de leitura que vou amar muito

    Bjs

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  7. Muito interessante esse livro, fiquei até curiosa para ler! adrorei

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  8. Super interessante. Adorei demais a dica do livro. Vou anotar aqui para comprar este livro.

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  9. Não sou de ler muito livros sobre animais, mas me parece uma obra muito caprichada...vou indicar para minha tia que tem 3 gatinhos em casa e ama esse tipo de livro.

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    1. Olá, desconhecido.
      O livro não é sobre animais, e sim, sobre o Homem, mais precisamente a sociedade japonesa no início do século XX.

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