quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A outra volta do parafuso



Sinopse: A outra volta do parafuso conta a história da jovem filha de um pároco que, iniciando-se na carreira de professora, aceita mudar-se para a propriedade de Bly, em Essex, arredores de Londres. Seu patrão é tio e tutor de duas crianças, Flora e Miles, cujos pais morreram na Índia, e deseja que a narradora (que não é nomeada) seja a governanta da casa de Bly. Ao chegar a Essex, a jovem logo percebe que duas aparições, atribuídas a antigos criados já mortos, assombram a casa. O triunfo íntimo da protagonista, mais que desvendar o mistério de Bly, consiste em vencer o silêncio imposto pela diferença de condição social entre ela e seus pequenos alunos.

No mês de Outubro/2023 eu recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria a indicação do tradutor Caetano W. Galindo, que também fez a Apresentação do livro ao qual é realmente fã: A outra volta do parafuso do escritor americano Henry James. O mimo foi do tipo que eu adoro: uma coletânea de Contos de horror da América Latina.

Em uma véspera de Natal um grupo resolve trocar histórias ao redor da lareira. Quando Douglas resolve dizer que na noite seguinte iria compartilhar a história real escrita por uma governanta já falecida, uma mulher mais velha do que ele ao qual o encantou com sua presença e sua história.

Imagino que eu estivesse esperando, ou temendo, algo tão sombrio que o que me recebia era uma boa surpresa.


Uma moça de vinte anos cujo nome não é revelado, é contratada como governanta por um tutor, que deseja terceirizar a criação de seu casal de sobrinhos pequenos. A menina vivia em uma casa de campo na cidade de Bly, próxima a Londres - e o menino se dividia entre a escola e o lugar onde a irmã vivia.

E é para esta casa de campo que a nova governanta vai e se encanta com as crianças quase da mesma fora que se encantou com o tio. Mas a revelação da acontecimentos anteriores fazem com que ela passe a enxergar figuras misteriosas e se sentir dividida entre proteger os irmãos e achar que as crianças estão envolvidas com o mistério que os cerca.


A escrita de Henry James

O escritor norte-americano Henry James coloca o leitor dentro da mente da jovem governanta de Bly em uma narrativa em primeira pessoa. Mas já na introdução do que será contado se cria um clima de suspense, cuja manipulação psicológica irá aumentar no decorrer da leitura.

Pois a história que já gerou uma série de adaptações como Os inocentes, Os outros e a mais recente A maldição da mansão Bly, realmente mexe com a imaginação do leitor, já que a ambiguidade da narrativa abre um leque de possibilidades que podem ser interpretadas conforme as crenças de quem mergulha em suas páginas.

Se tinha me encarado de maneira tão ousada, era por sua indiscrição. A parte boa, ao fim e ao cabo, era que certamente não o veríamos mais.


O que torna A outra volta do parafuso ainda mais genial, levando em conta que a história é relativamente curta, mas com um nível de tensão e reflexão suficientes para várias discussões, que vão do abandono infantil, passando por repressão sexual, reação ao isolamento, fofocas no ambiente de trabalho, diferenças sociais, e claro, será fantasma ou será loucura?


O que eu achei de A outra volta do parafuso

Ambíguo. Já faz um tempo que eu finalizei a leitura e ainda não tenho uma certeza absoluta sobre o que realmente ocorreu no livro. Naturalmente formulei as minhas próprias teorias, mas definitivamente A outra volta do parafuso não te permite ter certezas sobre os acontecimentos.

Quando a jovem é enviada para o local isolado, em um primeiro momento ela projeta a perfeição nas crianças, a ponto de não investigar a recente expulsão do menino da escola. Logo ela cria laços com outra funcionária do local, a sra. Grose, mas como leitora, não sabia o que ela realmente dizia, concordava ou muito menos pensava.

Era uma pergunta bastante direta, mas nossas conversas não eram levianas, e a luz cinza da alvorada forçando a nossa separação conseguiu-me uma resposta.


Conforme ela enxerga os dois ex-funcionários do local, que estão mortos, surgem dúvidas de como ela sabe as características dos dois? A sra. Grose realmente confirma as descrições? Ou seriam características genéricas da época? Ficando a pergunta: estamos realmente nos deparando com fantasmas?

Mas a forma como a narrativa foi construída não me deu medo. Não achei que os momentos das aparições causassem tensão, até pela forma forte e corajosa da governanta encarar as aparições. O verdadeiro charme e suspense da leitura está nos pontos de interrogação que se espalham ao longo da trama. Não é por acaso que já foram gerados diversos filmes inspirados no livro em que cada um deu a sua própria versão.

Era o silêncio mortal de nosso longo olhar em tamanha proximidade que dava àquele horror, imenso como era, sua única nota sobrenatural.


Particularmente no que se refere a terror, o texto introdutório promete mais do que entrega. Por que o livro está mais para um suspense psicológico, onde o estilo da narrativa não permite ao leitor ter a visão dos demais personagens, enquanto a narradora tenta se vender como confiável o tempo inteiro. E o leitor fica sem saber se deve acreditar ou não. E assim temos um novo ponto de interrogação: são fantasmas ou a personagem está enlouquecendo neste lugar isolado?

Um livro para quem não deseja respostas, mas sim perguntas. Para quem não se irrita em não receber tudo pronto e gosta de criar as próprias teorias. Um livro, como disse o curador, para reler e identificar mais detalhes, para ver se as próprias conclusões se mantêm ou se alteram no decorrer do tempo.


A outra volta do parafuso
The turn of the screw
Henry James
Tradução Lígia Azevedo
TAG Experiências Literárias
2023 - 157 páginas
Publicado originalmente em 1898


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Disque T para titias



Sinopse: Um assassinato (acidental). Um casamento com dois mil convidados. Três gerações de uma família sino-indonésia nos Estados Unidos. E as tias mais intrometidas do mundo prontas para salvar o dia.

A mãe de Meddelin Chan deseja que a filha arrume um namorado, sem saber que a moça não esqueceu o grande amor que havia conhecido na universidade, e nunca apresentado para a família. 

Para resolver a questão, ela se cadastra em um aplicativo de encontros e se passando pela filha, marca um encontro as cegas. Mas a confusão com o idioma inglês faz com que as conversas não sejam nada inocentes. Quando a verdadeira Meddy é convencida a conhecer o pretendente, é assediada, e na tentativa de se defender, um acidente automotivo ocorre.

Mas a maldição não apenas as encontrou, como sofreu uma mutação. Em vez de matar os homens da família, fez com que eles as abandonassem, o que é muito pior.


Mas ao invés de chamar a polícia ou levar o cara para um hospital, ela liga para a mãe, que por consequência chama as suas tias. E assim as cinco que possuem a tarefa de organizar um grande casamento em um resort no dia seguinte, ganham a tarefa extra de se livrar de um corpo.

Mas ao chegar no local do casamento, ela se depara com o seu grande amor e um grupo de padrinhos e madrinhas um tanto agitados, tornando o seu dia longe de fácil.

Há barulho em todo canto, uma cacofonia de mandarim e cantonês.


Com isso uma sequência de cenas que vão do romântico, passando pelo total absurdo com pitadas engraçadinhas recheiam as páginas em um livro leve e de fácil leitura.


A escrita de Jesse Q. Sutanto

A escritora indonésia Jesse Q. Sutanto já informa nas páginas iniciais que o livro é uma carta de amor para a família dela, e conta brevemente a história de imigração que iniciou com os seus avós saindo da China e foi o princípio de uma confusão de idiomas de uma família trilíngue, representada pela personagem principal, sua mãe e suas tias no decorrer da história. 

Utilizando a narrativa em primeira pessoa, a autora nos coloca no olhar da personagem principal Maddelin Chain, ou simplesmente Meddy. Dividido em três partes, na primeira parte há um vai e vem entre passado e presente, até se estabelecer somente no tempo presente nos demais.

Ele abre aquele sorriso, aquele que quase faz seus olhos se fecharem. Aquele que me dá vontade de vomitar.


Usando de base um fato absurdo, Jesse Q. Sutanto compartilha através da sua história os laços familiares, sentimento de culpa que influenciavam nas decisões da personagem, o tratamento dado aos imigrantes, as diferenças culturais dando com pessoas externas ou dentro de casa, entre outros assuntos abordados.

E na sequência que mistura cenas que ficam entre o sem noção e absurdo com toque cômico, tornando o livro leve e fácil de percorrer suas páginas.


O que eu achei de Disque T para titias

Disque T para titias é uma comédia romântica com uma base inusitada, sendo que a parte do romance fica com a personagem principal Meddy reencontrando o seu ex-namorado e a comédia por conta da mãe e das tias. Do uso dos emojis as situações mais sem noção, existem momentos que é quase impossível não rir.

No geral achei um livro leve e despretensioso. Tem um momento de reflexão como quando aborda o preconceito por imigrantes (vocês são todos iguais), até chegar nos dilemas de quem deseja buscar a própria independência e ao mesmo tempo vive sob as asas da proteção familiar. Pois as vezes é mais fácil seguir ordens, mesmo tendo que conviver com a necessidade de aprovação constante. 

Minha mente está entrando em curto-circuito, tentando pensar em uma solução no meio dessa bagunça.


Além disso tem a utilização de estereótipos como o delegado típico de filmes americanos e o próprio noivo, ao qual o plot twist me pareceu meio estranho, mas nada tão estranho para se dizer que seria impossível de acontecer.

Mas definitivamente para mim as grandes estrelas são as mulheres da vida de Meddy, que se por um lado sentem saudades da presença próxima dos filhos, seguiram seu rumo após o divórcio e tocam seus próprios negócios com sucesso, sendo independentes financeiramente. 

Amo a minha mãe, mas também quero ter uma vida independente. Estremeço só de pensar nisso; parece muito uma traição.

Resumindo: um livro que combina com verão, férias, e para dar aquele descanso na mente entre leituras mais pesadas.


Disque T para titias
Dial A for Aunties
Jesse Q. Sutanto
Tradução: Luciana Dias e Maria Carmelita Dias
intrínseca
2022 - 347 páginas