terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O Mapa de Sal e Estrelas

 


Sinopse: Em meio a protestos, conflitos e bombardeios causados pela guerra civil de 2011 na Síria, a jovem Nur é forçada a deixar o país em busca de segurança. Quase um milênio passado, Rawiya, aprendiz de cartografia, traça a mesma rota numa saga épica em terras desconhecidas. As duas jornadas de amadurecimento se intercalam, ao passo que as protagonistas, embora separadas por séculos de história, representam a realidade de tantos refugiados do Oriente Médio e norte da África.

Para encerrar o ano, a TAG Inéditos entregou aos seus associados no mês de dezembro o livro O Mapa de Sal & Estrelas do escritor nova-iorquino de origem síria Zeyn Joukhadar. O mimo foi o livro Mistérios Perdidos de Sir Arthur Conan Doyle. A edição está muito bonita, o cuidado nos detalhes está desde a capa até o texto que indica uma nova parte.

Nur tem doze anos, nasceu em New York e lá vivia com seus pais e suas duas irmãs mais velhas. Mas com a morte de seu Baba, cujo corpo foi enterrado na ilha de Manhattan, sua mãe decidiu retornar para sua terra natal, a Síria, ficando próxima de Abud Said, tio das meninas e um homem que era muito próximo do seu marido.


Em qual língua você me contou que tudo o que amamos era um sonho?


Com essa série de mudanças em sua vida, uma das maneiras da menina lidar com o luto pela perda do pai é recontar a história de Rawiya, uma jovem menina que viveu em meio a pobreza em uma aldeia da Síria e escolhe se disfarça de menino em busca de riquezas para melhorar a vida de sua mãe viúva.

Mas a família agora composta só de mulheres não tem tempo de reconstruir a sua vida, as explosões da guerra civil se aproximam pouco a pouco, até terem a casa caindo literalmente sobre suas cabeças. Os ferimentos atingem seus corpos, sua alma e suas finanças, dando início a uma corrida pela sobrevivência.


Acho que é como brincar de girar: às vezes você preferiria estar em qualquer outro nível mágico que não o seu.


A partir deste momento, a vida de Nur e de Rawiya se entrelaçam, pois elas percorrem o mesmo caminho, uma fugindo dos horrores de uma guerra e a outra em uma perigosa expedição para montar o mais completo dos mapas.

Zeyn Joukhadar utiliza-se de personagens reais como o cartógrafo Al-Idrisi e o Rei Roger para dar um toque de realismo em meio ao fantástico na história de Rawiya, que muitas vezes me fizeram lembrar de mil e uma noites. Já para a personagem Nur, que tem sinestesia e associa tudo a cores, a narrativa em primeira pessoa tem um toque de poesia, como se nos dissesse nas cenas pesadas que é difícil, mas não o fim de tudo.


Me pergunto se todos os rapazes adolescentes são bravos daquele jeito, se sabem que a raiva é uma coisa perigosa e imprevisível.


É também através de Nur que vivenciamos as diferentes diversidades dos que fogem da guerra, ser refugiado é ficar sem base nenhuma de uma hora para outra, sem casa, as vezes sem família, ou sem um pedaço do corpo. Mas a linguagem suave não torna a leitura dolorosa, já que mesmo em meio a dor há esperança, e assim assistimos a menina também se fantasiar de menino para escapar de violência sexual, ao mesmo tempo que temos curiosidade com a chegada de cada novo personalidade e o coração apertado a cada partida.

A forma como as histórias são entrelaçadas também alimentam a vontade em seguir a leitura, temos o antes e depois de cada local, o que me permitiu criar uma visão daquelas terras hora tão desertas, hora com tanta vida.


Elas nascem com uma ferida e sabem desde o começo que, se não encontrarem a história que pertence a elas, essa ferida nunca vai sarar.


O mapa de sal e estrelas é o primeiro livro de Zeyn Joukhadar, e ganhou o prêmio do Middle East Book Award de 2018 – ano de sua publicação no exterior, além de ser indicado ao Pushcart e Best of the Net. Indicando uma ótima estreia no mercado editorial.

Quem se aventurar a ler, irá encontrar um livro de cores, cheiros, laços familiares, lágrimas, sorrisos e mulheres guerreiras. Sim, aqui são as mulheres o centro das páginas, elas são guerreiras, corajosas e estrategistas, e acima de tudo sobreviventes e muito humanas.


O mapa de sal e estrelas
The map of salt and stars
Zeyn Joukhadar
Tradução: Carol Chiovatto
TAG - Dublinense
2018 - 366 páginas

Ficou interessado em assinar a TAG? Indique o meu código de amigo ANDJ8CMF e ganhe 30% de desconto na primeira caixinha.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Um estudo em vermelho



Sinopse: Na obra de estreia do renomado escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle, um homem é encontrado morto em Londres. Apesar das manchas de sangue, o corpo não apresenta ferimentos, apenas uma clara expressão de pavor no rosto. Intrigada diante do enigma, a polícia recorre ao auxílio do excêntrico e inteligente Sherlock Holmes, que emprega suas técnicas de dedução pouco ortodoxas para desvendar o mistério. Narrado pelo dr. Watson, Um estudo em vermelho marca o primeiro caso e aparição de Sherlock Holmes, um dos detetives mais populares e clássicos da literatura.

Logo de início o dr. Watson nos conta resumidamente sua vida após obter o título de Doutor em Medicina até a sua chegada em Londres. A necessidade de economizar em uma cidade tão cara o leva a conhecer Sherlock Holmes, que trabalha no laboratório químico de um hospital, para ver se ambos poderiam dividir um apartamento.

Os seus estudos são muito irregulares e excêntricos, mas ele acumulou uma quantidade de conhecimentos incomuns que espantaria seus professores."

E assim Watson descobre que o seu novo amigo auxilia detetives particulares e a própria Scotland Yard na resolução de casos difíceis, utilizando-se de um método de observação próprio. E o primeiro que ele participa é de um misterioso assassinato de um homem em uma casa vazia, onde a polícia londrina não identifica nenhuma pista.

A história é dividida em duas partes, na primeira temos a introdução dos dois personagens principais, o caso e a resolução do mesmo, com a explicação das pistas por Sherlock Holmes. Já na segunda parte, que foi a minha favorita, está a motivação do crime, detalhando o que gerou o ocorrido.

Antes de me julgar, entretanto, que se lembre de como a minha vida não tinha objetivos e do pouco que havia para prender minha atenção.

Eu conhecia o personagem Sherlock Holmes apenas por filmes e, naturalmente, por ser referência de livros de mistérios. Mas nunca havia lido nada do escritor Arthur Conan Doyle, e confesso que gostei bastante do seu estilo.

Na história ele mescla primeira e terceira pessoa em um único narrador, que é o dr. Watson, o que deixa bem marcado quando ele está vivendo a situação e quando ele está contando algo de terceiros que tomou conhecimento. Também fica claro em algumas passagens que a narração não se encontra no presente, mas sim lembranças de fatos que ocorreram e foram registrados em uma espécie de diário.

Se lhe pedissem que provasse que dois mais dois são quatro, você teria talvez alguma dificuldade, apesar de não ter dúvidas a respeito do fato.

Achei a leitura muito fácil, embora ele não permita o leitor ter os seus próprios suspeitos, dependendo inteiramente da genialidade e atenção de Sherlock Holmes, a história prende a atenção e naturalmente deixou aberto para que mais aventuras viessem. O que me deixou empolgada para ler um outro livro do autor que recebi agora no mês de dezembro.


Um estudo em vermelho
A study in scarlet
Sir Arthur Conan Doyle
Tradução: Rosaura Eichenberg
TAG - L&PM Pocket
1887 - 192 páginas

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Nascido do Crime



Sinopse: A história impressionante, inspiradora e divertida da infância e juventude de um dos maiores comediantes da atualidade, ambientada durante os anos finais do apartheid e os dias tumultuosos de liberdade que se seguiram. Como as peças de um quebra-cabeça, as histórias de vida de Trevor Noah formam o retrato de um mundo em desordem, onde os atos mais banais eram considerados crime se você não tivesse a cor certa.

Conforme a Lei da Moralidade de 1927, na África do Sul era proibido a junção carnal ilícita entre europeus e nativos. Trevor Noah é resultado do crime cometido por Patricia Noah, que é negra, juntamente com o suíço/alemão Robert, que é branco. Ambos pais do menino em pleno regime de apartheid.

Em uma escrita fluída, o comediante, apresentador, ator e sim, escritor, conta a história da sua infância, ao mesmo tempo que explica a divisão racial, as diferentes tribos e como isso enfraquece um povo. Além disso aborda de forma direta as relações do dia-a-dia, a forma como foi criado e até as diferenças de surra entre as que ele levava e a de seus primos.


Basta segregar as pessoas em grupos e fazê-las se odiar para tornar possível o controle de todos.


Dividido em três partes, logo de início somos apresentados a devoção cristã da sua mãe, que durante boa parte da sua infância o fez passar o domingo inteiro dentro de igrejas, mais precisamente três, uma com perfil racial misto, outra de brancos e uma de negros. A África do Sul, assim como o Brasil, adotou, de livre e obrigada vontade, a religião de seus colonizadores. 

A seguir vamos descobrir sobre o seu nascimento, o que permaneceu a cultura original mesmo após a colonização - como o fato dos negros sul-africanos associarem gato a bruxaria, a forma de distribuição dos grupos pela tonalidade de cor onde chineses são considerados negros e japoneses brancos, e como ele transitava enquanto tentava descobrir com quais grupos mais se identificava. Além do fato de que em casa não podia brincar na rua, para que o governo não descobrisse que era resultado de um crime e assim o separasse de sua mãe.


O apartheid era um Estado policial, um sistema de vigilância e de leis criadas para manter a população negra sob total controle.


Na adolescência Trevor nos apresenta a área pobre da África do Sul, dos bailes a pirataria, a corrupção, o fracasso dos primeiros amores e a prisão. A diferença de ensino conforme a classe, e o fato de sua mãe investir em sua educação. Também aborda a violência doméstica, o descaso da polícia quando o marido bate na esposa, o sentimento de para onde ir quando o machismo impede um homem de aceitar o filho da própria mulher. Motivo que levaram a sua mãe a ensina-lo sobre ser homem e ser mulher.


Ser um homem não depende do que você tem, mas de quem você é. Para ser um homem, a sua mulher não precisa ser inferior a você.


Durante a leitura muitas vezes me senti sentada em algum lugar ouvindo as suas histórias, que em alguns momentos se assemelham a contos, já que possuem início, meio e fim, embora elas se alimentem com nomes e situações com ligações tanto em fatos passados quanto nos futuros que ainda vamos ler. A narrativa cria uma grande proximidade com Trevor e as pessoas as suas voltas, o que faz com que se compartilhe impressões e questionamentos no decorrer das páginas.


Adotamos a religião de nossos colonizadores, mas a maioria também se agarrava aos costumes ancestrais, só para garantir.


Não foram raras as vezes que eu gargalhei, que me choquei, ou simplesmente li mais um capítulo para saber as consequências de determinado ato. Ao mesmo tempo que acelerar a leitura era reduzir o tempo junto a história.

Sim, Trevor foi um menino bastante espoleta, e um adolescente que se virou em diferentes situações, e isso torna ainda mais grandioso o fato dele deixar tanta pobreza para trás, o que muito também vem da força de caráter de sua mãe, ao qual o livro é dedicado e por quem aprendi a ter um grande carinho, a ponto de ficar curiosa de como ela está.


Muitos homens crescem sem a presença do pai e passam a vida com a falsa impressão de quem é o pai deles e de como um pai deve ser.


Um livro que mistura história pessoal e de um país, que fala de racismo, laços familiares e oportunidades. Com uma escrita que te permite aprender, se divertir e se emocionar. Um livro para ler, curtir e depois recomendar.


Nascido do Crime
Histórias da minha infância na África do Sul
Born a Crime
Trevor Noah
Tradução: Fernanda de Castro Daniel
TAG - Verus Editora
2016 - 334 páginas

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O Jardim de Bronze

 


Sinopse: Dizem que a vida de um homem pode mudar em um único segundo. É exatamente isso o que acontece com o arquiteto Fabián Danubio quando Moira, sua filha de quatro anos, desaparece sem deixar vestígios. A partir disso, inicia-se um pesadelo que atormenta o protagonista por anos. O choque e a esperança iniciais são, aos poucos, substituídos pelo silêncio e pela impotência à medida que o tempo passa e a menina não é encontrada. Ainda assim, em uma Buenos Aires nostálgicas e tomada por policiais corruptos, o desespero se torna o combustível que mantém Fabián vivo. Ele conta com a ajuda de um excêntrico e talentoso detetive particular, que está disposto a desvendar os mistérios e segredos por trás do desaparecimento de Moira.

Como comentei no post do livro da Curadoria, Novembro foi o mês da literatura latino-americana para os associados da TAG. No caso da TAG Inéditos, o livro enviado foi o thriller que inspirou a série de mesmo nome na HBO: O Jardim de Bronze do escritor argentino Gustavo Malajovich. Os mimos também foram uma revista passatempo literária e adesivo.

A história tem início em 1987, quando Ivan nos conta que teve que matar o próprio pai. Ele divaga sobre o seu dia, nos fala o nome de algumas pessoas e pensa para onde o homem foi após morrer. Logo após há um salto no tempo e o leitor é levado para 1999, quando somos apresentados para Fabián, Lila e Moira.


Mais adiante, Fabián ia se lembrar muitas vezes dessa situação, pensando em todos os sinais que não conseguiu ver.


Logo de início é possível perceber que a relação de Fabián e Lila está se equilibrando em uma linha muito fina após sete anos de convivência. Ele um arquiteto, ela depressiva dentro de casa. Entre cobranças diretas e cruéis, as vezes sussurradas e outras levadas a violência física, a pequena Moira de quatro anos é o que parece manter as ligações desta família.

Mas um dia a menina some junto com a babá, uma imigrante peruana que a trata com carinho, e toda a rotina se quebra na vida do casal. O retorno da polícia é nulo, e quanto mais o tempo passa, menos esperança de encontrar a menina com vida. Questionamentos são feitos a família, e no vazio das respostas só resta o desespero.

Tudo passa a mudar para Fabián e para o leitor quando Doberti, um detetive particular, oferece os seus serviços. A forma de pagamento é a recompensa oferecida pelo governo para quem fornecer pistas das duas desaparecidas. E é esse personagem carismático que trará a ação em meio ao marasmo.


E ali Lila recuava em seu posicionamento de forma notável, e dizia que se sentia sem forças, mas que não queria se separar, porque para Moira seria terrível, et cetera, et cetera.


Malajovich mescla a narrativa em terceira pessoa com a primeira pessoa, utilizando neste caso um diário, para ir colocando o leitor dentro do seu mundo, que é dividido em cinco partes, cada um com seu próprio título e período de tempo. Mesclando assim a história de vida de Fabián com cenas de ação em um grande quebra-cabeça que tem como pano de fundo a bela cidade de Buenos Aires.

Aliás, o escritor explora muito bem a cidade, nos dando a sensação de estar caminhando pelas suas ruas, observando os seus prédios, andando em seus museus ou simplesmente sentado em seus parques, tornando Buenos Aires parte essencial da história.


Em dois canais a cabo, viu o anúncio de busca de Moira, mas até os noticiários já quase não falavam mais do assunto.


Somado a isso está a burocracia policial, que parece correr atrás do próprio rabo, a visão que os personagens possuem dos imigrantes, e um machismo latente dos principais personagens masculinos da história. Aliás, as mulheres na história são apenas coadjuvantes, não sabemos em momento algum o que Lila pensa ou sente, podendo deduzir apenas pelos seus atos.

Tentando expressar a minha opinião sem entregar o enredo, confesso que achei a história um pouco arrastada, embora entenda isso como um recurso para fazer o leitor sentir como o tempo estava passando para Fabián quando não havia nenhuma nova pista a seguir. 


Você já sabe que um detetive neste país não tem nada de heroico nem de romântico.


Logo no início da leitura fui tomada de uma agonia, me imaginando na mesma situação do casal, o que torna inimaginável o desespero. Ao passar das páginas fui criando e confirmando teorias, já que as pistas estão distribuídas ao longo da história, mas isso não impediu de eu ser realmente surpreendida no final.

Para quem curte histórias de suspense e policial, o livro realmente possuí todos os requisitos para atender este perfil de público. Eu particularmente gostei, não digo que amei, mas com certeza ativou o meu lado investigativo durante toda a leitura.


O Jardim de Bronze
El jardín de bronce
Gustavo Malajovich
Tradução: Aline Canejo
TAG - Globo Livros
2012 - 445 páginas

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O dia em que a poesia derrotou um ditador



Sinopse: Durante uma aula de filosofia em Santiago, Nico presencia seu professor ser levado pela polícia. Prisões eram frequentes no Chile de 1988. No mesmo ano, Pinochet, cedendo a pressões da comunidade internacional, anuncia um plebiscito pelo qual a população decidirá se ele continuará no governo. Adrián Bettini, um renomado publicitário, envolve-se na campanha de oposição e vê a chance de transformar a história de seu país. Com sua prosa delicada, Antonio Skármeta tece uma narrativa impactante sobre como a alegria conseguiu devolver as cores a um país silenciado.

No mês de novembro/20 a TAG Curadoria fez uma homenagem a literatura da América Latina. Tendo como curador o gaúcho, que é escritor e professor em uma das oficinas literárias que revelou vários escritores brasileiros, Luiz Antonio de Assis Brasil. Os brindes foram uma revista de passatempo literária e adesivos.

Sem dúvida meus colegas achavam que eu era um covarde e que, por puro instinto, deveria ter reagido e defendido meu velho.

A história começa na aula de filosofia, quando Nico assiste o professor Santos ser preso. Algo muito comum na rotina diária dos chilenos, não fosse um detalhe: além de professor, Santos é pai de Nico. O jovem de dezessete anos é a visão adolescente dos fatos, entre o ambiente de escola, relações amorosas, o sentimento de mortalidade e a dúvida entre obedecer às instruções do pai para se proteger ou de dar voz nos momentos em que a realidade o perturba.

A visão adulta vem do pai da namorada de Nico, Adrián Bettini é um talentoso publicitário que com o regime ditatorial não consegue mais trabalhar em sua área. Ele é surpreendido pela intimação do ministro do Interior para ir até a sede do governo do general Pinochet. Primeiro ele fica em dúvida se deve ir ou fugir, mas o encontro acaba se revelando um convite.

O senhor pode criticar nosso governo como quiser, mas não pode negar que temos uma equipe brilhante de profissionais.

Pinochet resolveu fazer um plebiscito, com a permissão de opositores nas mesas de votação e observadores internacionais, garantindo assim a lisura de todo o processo. Os eleitores devem fazer apenas uma escolha: Sim para que Pinochet permaneça na presidência ou não para que ele se afaste e eleições presidenciais sejam realizadas. E para isso, tanto o governo quanto a oposição poderão fazer propaganda na televisão.

Adrián, que é contrário ao sistema, rejeita o cargo de divulgador do governo, mas não fica de fora do processo, quando é convidado pela oposição para realizar a sua propaganda. Logo isso se mostra um grande desafio, como ganhar o voto dos chilenos em quinze minutos? Como demonstrar que a união de todos os opositores são o sinal de que algo melhor é possível?

Se forem os policiais, ou estão vindo me buscar ou querem revistara escrivaninha do papai.

Antonio Skármeta reconta com leveza um episódio real da história chilena, sobre como unir pessoas que já se acostumaram em viver em meio a opressão com aqueles que ainda possuem esperança de resgatar a dignidade para todos os cidadãos. Entre cenas cômicas e choques de realidade, o livro nos apresenta a tensão de viver sob o julgamento do governo, e mostra como um estado sem direito para os seus indivíduos pode ser cinza, mas não desencantado ao ver as cores do arco-íris.

Em uma narrativa curta, de fácil leitura, talvez o leitor mais exigente irá sentir a voz de uma mulher, ou quem sabe de alguém que vivia incauto a tudo e de uma hora para outra precisa escolher entre mudar ou continuar o caminho de sua nação. O fato é que o livro consegue, em seu formato simples, ser divertido e reflexivo.

Santiago pesa no pescoço das pessoas, e todos andam depressa e com a cabeça baixa.

Eu particularmente gostei da história, existe uma intensidade sem tensão, uma tristeza que promete um final feliz, ao mesmo tempo que nos leva a ter um outro olhar sobre os acontecimentos chilenos, suas manifestações, até nos levar aos dias atuais, relembrando aos mais velhos e revelando aos mais novos um pouco mais do passado da América Latina.

Para quem curte ler o livro e assistir ao filme, existe uma versão, com algumas diferenças, chamada NO de 2012, com o ator Gael García Bernal.


O dia em que a poesia derrotou um ditador
Los días del arco-íris
Antonio Skármeta
Tradução: Luís Carlos Cabral
TAG - Editora Record
2011 - 223