Sinopse: A história impressionante, inspiradora e divertida da infância e juventude de um dos maiores comediantes da atualidade, ambientada durante os anos finais do apartheid e os dias tumultuosos de liberdade que se seguiram. Como as peças de um quebra-cabeça, as histórias de vida de Trevor Noah formam o retrato de um mundo em desordem, onde os atos mais banais eram considerados crime se você não tivesse a cor certa.
Conforme a Lei da Moralidade de 1927, na África do Sul era proibido a junção carnal ilícita entre europeus e nativos. Trevor Noah é resultado do crime cometido por Patricia Noah, que é negra, juntamente com o suíço/alemão Robert, que é branco. Ambos pais do menino em pleno regime de apartheid.
Em uma escrita fluída, o comediante, apresentador, ator e sim, escritor, conta a história da sua infância, ao mesmo tempo que explica a divisão racial, as diferentes tribos e como isso enfraquece um povo. Além disso aborda de forma direta as relações do dia-a-dia, a forma como foi criado e até as diferenças de surra entre as que ele levava e a de seus primos.
Basta segregar as pessoas em grupos e fazê-las se odiar para tornar possível o controle de todos.
Dividido em três partes, logo de início somos apresentados a devoção cristã da sua mãe, que durante boa parte da sua infância o fez passar o domingo inteiro dentro de igrejas, mais precisamente três, uma com perfil racial misto, outra de brancos e uma de negros. A África do Sul, assim como o Brasil, adotou, de livre e obrigada vontade, a religião de seus colonizadores.
A seguir vamos descobrir sobre o seu nascimento, o que permaneceu a cultura original mesmo após a colonização - como o fato dos negros sul-africanos associarem gato a bruxaria, a forma de distribuição dos grupos pela tonalidade de cor onde chineses são considerados negros e japoneses brancos, e como ele transitava enquanto tentava descobrir com quais grupos mais se identificava. Além do fato de que em casa não podia brincar na rua, para que o governo não descobrisse que era resultado de um crime e assim o separasse de sua mãe.
O apartheid era um Estado policial, um sistema de vigilância e de leis criadas para manter a população negra sob total controle.
Na adolescência Trevor nos apresenta a área pobre da África do Sul, dos bailes a pirataria, a corrupção, o fracasso dos primeiros amores e a prisão. A diferença de ensino conforme a classe, e o fato de sua mãe investir em sua educação. Também aborda a violência doméstica, o descaso da polícia quando o marido bate na esposa, o sentimento de para onde ir quando o machismo impede um homem de aceitar o filho da própria mulher. Motivo que levaram a sua mãe a ensina-lo sobre ser homem e ser mulher.
Ser um homem não depende do que você tem, mas de quem você é. Para ser um homem, a sua mulher não precisa ser inferior a você.
Durante a leitura muitas vezes me senti sentada em algum lugar ouvindo as suas histórias, que em alguns momentos se assemelham a contos, já que possuem início, meio e fim, embora elas se alimentem com nomes e situações com ligações tanto em fatos passados quanto nos futuros que ainda vamos ler. A narrativa cria uma grande proximidade com Trevor e as pessoas as suas voltas, o que faz com que se compartilhe impressões e questionamentos no decorrer das páginas.
Adotamos a religião de nossos colonizadores, mas a maioria também se agarrava aos costumes ancestrais, só para garantir.
Não foram raras as vezes que eu gargalhei, que me choquei, ou simplesmente li mais um capítulo para saber as consequências de determinado ato. Ao mesmo tempo que acelerar a leitura era reduzir o tempo junto a história.
Sim, Trevor foi um menino bastante espoleta, e um adolescente que se virou em diferentes situações, e isso torna ainda mais grandioso o fato dele deixar tanta pobreza para trás, o que muito também vem da força de caráter de sua mãe, ao qual o livro é dedicado e por quem aprendi a ter um grande carinho, a ponto de ficar curiosa de como ela está.
Muitos homens crescem sem a presença do pai e passam a vida com a falsa impressão de quem é o pai deles e de como um pai deve ser.
Um livro que mistura história pessoal e de um país, que fala de racismo, laços familiares e oportunidades. Com uma escrita que te permite aprender, se divertir e se emocionar. Um livro para ler, curtir e depois recomendar.
Nascido do Crime
Histórias da minha infância na África do Sul
Born a Crime
Trevor Noah
Tradução: Fernanda de Castro Daniel
TAG - Verus Editora
2016 - 334 páginas
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