terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O dia em que a poesia derrotou um ditador



Sinopse: Durante uma aula de filosofia em Santiago, Nico presencia seu professor ser levado pela polícia. Prisões eram frequentes no Chile de 1988. No mesmo ano, Pinochet, cedendo a pressões da comunidade internacional, anuncia um plebiscito pelo qual a população decidirá se ele continuará no governo. Adrián Bettini, um renomado publicitário, envolve-se na campanha de oposição e vê a chance de transformar a história de seu país. Com sua prosa delicada, Antonio Skármeta tece uma narrativa impactante sobre como a alegria conseguiu devolver as cores a um país silenciado.

No mês de novembro/20 a TAG Curadoria fez uma homenagem a literatura da América Latina. Tendo como curador o gaúcho, que é escritor e professor em uma das oficinas literárias que revelou vários escritores brasileiros, Luiz Antonio de Assis Brasil. Os brindes foram uma revista de passatempo literária e adesivos.

Sem dúvida meus colegas achavam que eu era um covarde e que, por puro instinto, deveria ter reagido e defendido meu velho.

A história começa na aula de filosofia, quando Nico assiste o professor Santos ser preso. Algo muito comum na rotina diária dos chilenos, não fosse um detalhe: além de professor, Santos é pai de Nico. O jovem de dezessete anos é a visão adolescente dos fatos, entre o ambiente de escola, relações amorosas, o sentimento de mortalidade e a dúvida entre obedecer às instruções do pai para se proteger ou de dar voz nos momentos em que a realidade o perturba.

A visão adulta vem do pai da namorada de Nico, Adrián Bettini é um talentoso publicitário que com o regime ditatorial não consegue mais trabalhar em sua área. Ele é surpreendido pela intimação do ministro do Interior para ir até a sede do governo do general Pinochet. Primeiro ele fica em dúvida se deve ir ou fugir, mas o encontro acaba se revelando um convite.

O senhor pode criticar nosso governo como quiser, mas não pode negar que temos uma equipe brilhante de profissionais.

Pinochet resolveu fazer um plebiscito, com a permissão de opositores nas mesas de votação e observadores internacionais, garantindo assim a lisura de todo o processo. Os eleitores devem fazer apenas uma escolha: Sim para que Pinochet permaneça na presidência ou não para que ele se afaste e eleições presidenciais sejam realizadas. E para isso, tanto o governo quanto a oposição poderão fazer propaganda na televisão.

Adrián, que é contrário ao sistema, rejeita o cargo de divulgador do governo, mas não fica de fora do processo, quando é convidado pela oposição para realizar a sua propaganda. Logo isso se mostra um grande desafio, como ganhar o voto dos chilenos em quinze minutos? Como demonstrar que a união de todos os opositores são o sinal de que algo melhor é possível?

Se forem os policiais, ou estão vindo me buscar ou querem revistara escrivaninha do papai.

Antonio Skármeta reconta com leveza um episódio real da história chilena, sobre como unir pessoas que já se acostumaram em viver em meio a opressão com aqueles que ainda possuem esperança de resgatar a dignidade para todos os cidadãos. Entre cenas cômicas e choques de realidade, o livro nos apresenta a tensão de viver sob o julgamento do governo, e mostra como um estado sem direito para os seus indivíduos pode ser cinza, mas não desencantado ao ver as cores do arco-íris.

Em uma narrativa curta, de fácil leitura, talvez o leitor mais exigente irá sentir a voz de uma mulher, ou quem sabe de alguém que vivia incauto a tudo e de uma hora para outra precisa escolher entre mudar ou continuar o caminho de sua nação. O fato é que o livro consegue, em seu formato simples, ser divertido e reflexivo.

Santiago pesa no pescoço das pessoas, e todos andam depressa e com a cabeça baixa.

Eu particularmente gostei da história, existe uma intensidade sem tensão, uma tristeza que promete um final feliz, ao mesmo tempo que nos leva a ter um outro olhar sobre os acontecimentos chilenos, suas manifestações, até nos levar aos dias atuais, relembrando aos mais velhos e revelando aos mais novos um pouco mais do passado da América Latina.

Para quem curte ler o livro e assistir ao filme, existe uma versão, com algumas diferenças, chamada NO de 2012, com o ator Gael García Bernal.


O dia em que a poesia derrotou um ditador
Los días del arco-íris
Antonio Skármeta
Tradução: Luís Carlos Cabral
TAG - Editora Record
2011 - 223

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