domingo, 25 de janeiro de 2015

A Menina Sem Palavras Histórias de Mia Couto


Ao ler a introdução do livro, achei que este livro de contos se destinava ao público infantil. Grande engano. Embora tenha sido escrito em diferentes fases do autor Mia Couto, ele vai numa mistura de sentimentos, ações e momentos que fazem o leitor viajar pelas páginas de forma rápida e curiosa.

O primeiro conto inicia lúdico, onde o triângulo do pequeno pastor Azarias, os bois e bombas escondidas, são o pano de fundo para um tio egoísta e explorador. A segunda histórica começa com a história de uma mulher corcunda contata por um menino, que ao tentar imaginar o passado da pobre acaba se deparando com o inimaginável.

A menina sem palavras possui a delicadeza citada na introdução, algo que leva o leitor mar adentro, podendo deixa-lo mudo também. Em contrapartida O Apocalipse Privado do Tio Geguê me fez pensar em uma versão africana da música Faroeste Caboclo da Legião Urbana.

Mas se teve um que me deixou agoniada foi O Embondeiro Que Sonhava Pássaros, só de relembra-lo para escrever a resenha me deu um calafrio, um conto sobre o preconceito e ações impensadas, onde o radicalismo de uma opinião pode cobrar um preço alto demais.

Para aliviar a minha tristeza no conto anterior, veio As Baleias de Quissico, ao qual ouso resumir como a história de um sonhador. E a lúdica O Não Desaparecimento de Maria Sombrinha nos deixa sem ação em relação à família pobre e sua filha que regride.

A menina, as aves e o sangue podem causar estranhamento e talvez diversos entendimentos sobre a menina cujo coração para de bater. Em compensação A Filha da Solidão insere um pouco de risada em relação ao casal de portugueses e sua superprotegida Meninita.

O simbolismo encontra o seu representante mais forte no conto O Coração do Menino e o Menino do Coração, onde o amor pode ser transmitido por cartas e surpreender os mais descrentes.

Triste é o destino imposto pelo pai de Filomeninha em A Menina de Futuro Torcido. O desejo de que os filhos tornem os pais milionários sem avaliar o bem de quem só deveria se esperar a felicidade pode ser chocante ou esclarecedor. Para aliviar a vida do leitor, voltamos à comédia com Sapatos de Tacão Alto e a paixão de um menino por uma mulher misteriosa.

Respeito, Vida e Morte estão em Nas Águas do Tempo e o Rio das Quatro Luzes, através dos ensinamentos dos avós aos seus netos. Já a ironia está em O Nome Gordo de Isidorangela, a moça que ninguém tirava para dançar.

O ciúme familiar está em O Adiado Avô, onde Zedmundo se nega a conhecer o próprio neto e a festejar com os demais familiares. E tudo é finalizado por Inundação, uma história bonita que fecha este livro de contos com certa melancolia.

Segundo livro que leio do escritor Mia Couto, que me fez ficar ainda mais encantada por ele. Sua narrativa clara nos puxa pela mão, nos deixando muito próximos aos seus personagens. Fica a dica para quem procurava uma leitura para as férias de verão.

A menina sem palavras
Histórias de Mia Couto
Mia Couto
Companhia das Letras
2013 – 155 páginas

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A Fúria dos Reis – As Crônicas de Gelo e Fogo


Confesso que o primeiro livro da Guerra dos Tronos não me cativou totalmente, mas algo me fez partir para o segundo volume e eu viciei. Se o primeiro foi pura introdução, agora estamos em plena ação. Magia, espadas, estratégias, fugas, vida e morte se misturam, tornando a leitura das 624 páginas algo prazeroso e com gosto de quero mais.

Narrado por diferentes personagens, a expectativa no segundo volume era de qual (ou quais) iria morrer. E não houve decepção neste quesito. E talvez seja esse um dos trunfos da Guerra dos Tronos. Não são os mocinhos e bandidos os personagens principais, e sim a própria história.

Em A Fúria dos Reis o leitor pode acompanhar o destino dos filhos caçulas de Ned Stark. Enquanto Arya circula sem paradeiro, Sansa sobrevive no castelo e os menores Brandon e Rickon vivem situações não imaginadas para as suas idades. Embora existam capítulos narrados por Catelyn (a mãe), ela e Robb não possuem uma presença tão marcante. Aliás, sua narrativa está mais ligada aos irmãos Renly e Stannis do que aos seus próprios filhos.

A magia é representada pela mãe dos dragões Daenerys e por Stannis Baratheon. A não queimada segue guiando o seu povo com o objetivo de se recuperar o reino dos seus antepassados. Já o irmão mais velho do falecido Rei Robert não poupa esforços e sua união com a sacerdotisa Melisandre pode tornar a disputa bastante desleal.

Joffrey é o retrato da imaturidade de qualquer jovem, mas somado a uma crueldade que nem sua mãe, Cersei, consegue controlar. Em um período em que muitos desejam a coroa, os que estão próximos ao trono de ferro não encontram segurança.

Tyrion Lannister segue sendo um personagem surpreendente, sua inteligência e ironia conquistam e provocam uma torcida pela sua não morte (visto que o autor George R.R. Martin não poupa ninguém).

Fora da guerra e no meio do frio está o filho bastardo de Ned Stark: Jon Snow. Enquanto os demais brigam por um trono, ele e os outros membros da Patrulha da Noite saem em busca de uma ameaça que não irá distinguir lados.

A Fúria dos Reis incendeia os que já haviam virados fãs e captura os céticos. Todos lutam pelo poder, seja de amar, viver ou destruir. Em um mundo fictício encontramos o espelho do nosso mundo atual. A eterna guerra política. Religiosidade. A única opinião válida é a própria.

O inverno está chegando... e eu já estou ansiosa pelo terceiro volume.

A Guerra dos Tronos – A Fúria dos Reis – As Crônicas de Gelo e Foco – Livro Dois
A Clash of Kings
George R.R. Martin
Tradução Jorge Candeias
Editora Leya
2011 – 653 páginas