domingo, 29 de novembro de 2009

Dublinenses


Sinopse: Em Dublinenses, James Joyce nos permite observar por um tempo determinado, sem que sejamos vistos, diferentes pessoas em situações da vida cotidiana. A única coisa que todas elas têm em comum é o fato de viverem em Dublin. Quanto ao restante, cada caso é diferente dos demais, embora não possamos deixar de reconhecer traços de caráter comuns a muito dos personagens, como, por exemplo, a inclinação para a bebida.

Transformando os leitores em voyers, o escritor James Joyce nos leva para a sua terra natal, onde em quinze contos nos dá um gostinho de uma típica rotina na vida dos irlandeses.

Religião, sexo, inveja e nostalgia se misturam, assim como as idades diversas. Tudo isso sem surpresas e muito menos lições de moral, apenas circunstâncias normais, onde os valores e costumes da região irão encaminhar os personagens em histórias que não possuem realmente um final, já que fica claro que muita coisa ainda deve vir. 

Se estivesse morto, pensava, eu veria o reflexo das velas nas cortinas escuras, pois sabia que duas velas devem ser deslocadas à cabeceira de um defunto.

O conto que abre a história é As irmãs começa com um diálogo, onde o narrador é informado que o padre Flynn, está morto e em sequencia descobrimos um pouco mais sobre o falecido. 

Em Um encontro, meninos descobrem em uma pequena biblioteca o Oeste Selvagem e isso serve de combustível para as suas aventuras até o encontro com um velho senhor.

Afirmou que meu amigo era um menino muito rude e perguntou-me se ele era açoitado na escola muitas vezes.

Uma rua tranquila dá as boas-vindas em Arábia, onde um menino tem a curiosidade despertada entre os os pertences de um inquilino falecido e o encontro com o seu primeiro amor.

O quarto conto tem nome de mulher e uma personagem principal: Eveline. Nas memórias de infância os que já se foram e os que haviam crescido, e uma decisão, é hora de ir embora.

Falavam alto e alegremente e suas capas flutuavam sobre os ombros. O povo abria-lhes caminho.

São os carros que recebem o leitor em Após a corrida, onde muitos se aglomeram para vê-los passar no topo de uma colina. Em cada um, pilotos de diferentes nacionalidades e características, assim como o grupo que acompanhava tudo de uma carroceria.

É o crepúsculo de um domingo de verão que nos trás Dois galantes, dois jovens que descem uma ladeira lado a lado em uma conversa sobre relacionamento com o sexo oposto, em comentários machistas que podem ferir os mais sensíveis.

Sentia agudamente o contraste entre suas vidas, que lhe parecia injusto.

Uma mulher forte, que conseguiu dispensar o marido bêbado e inútil em um país extremamente católico, nos é apresentada em A pensão, junto com os seus hóspedes e seus filhos.

O reencontro de dois amigos após oito anos de separação é a base para Uma pequena nuvem, onde mais do que o tempo, mas as escolhas de cada um os tornaram muito diferentes, causando sentimentos conflituosos no que permaneceu na cidade de origem.

As frases surradas, as falsas demonstrações de pesar, as palavras do repórter subornado para ocultar os detalhes de uma morte vulgar, revolviam-lhe o estômago.

Um homem cuja atenção é chamada com frequência no trabalho é o fio condutor de Contrapartida, um personagem que me deixou particularmente muito incomodada.

A expectativa de Maria por uma noite de folga é o início de Argila, uma mulher calma e trabalhadeira que ainda tem muito carinho por uma família que a empregou.

Estava silencioso por dois motivos. Primeiro, razão já suficiente, por não ter nada a dizer. Segundo, por considerar inferiores os seus companheiros.

Já em Um caso doloroso temos um senhor que quer distância da sua cidade de origem e sozinho mora em uma casa velha, mobiliada por ele, e mantida sempre organizada, até que um dia é surpreendido por uma mulher.

O nome do conto Dia de hera na lapela já possui por si só uma história, já que é relacionado ao aniversário de morte do líder do partido irlandês Charles Steward Parnell.  Na história de James Joyce os personagens estão envolvidos com as eleições municipais.

O chapéu rolara alguns metros e suas roupas estavam sujas da imundície que escoava no lugar em que havia caído de rosto no chão.

Organizar uma série de concertos, esta é a tarefa de Holohan em Mãe, mas quem realmente toma as rédeas é a senhora Kearney, uma mulher que por praticidade casou com um homem mais velho, mas que nunca abandonou os sonhos antigos.

Em Graça temos um homem caído no chã de um lavatório, que reconhecido por um jovem da Polícia Real é levado para casa, onde a esposa lamenta o seu estado.

Será que apesar de todo seu proselitismo ela teria uma verdadeira vida interior?

O livro é encerrado com o conto mais longo entre os 15. Os mortos tem como personagem de ligação Gabriel Conroy cuja chegada em um baile anual nos apresenta diferentes personagens, enquanto segredos acabam sendo revelados.

Mesmo sendo histórias comuns, a forma da narrativa envolve o leitor, podendo fazer com que este recorde de fatos lidos ou até vividos. Pois, independente da época ou lugar, todos vivem momentos em que precisam tomar uma decisão ou são simplesmente levados por aquilo que chamamos de destino.

Quando alcançou a idade de casar, foi enviada a muitas casas, onde seu talento e suas brilhantes maneiras eram muito admiradas.

E embora tenha um toque de fatalidade, onde a tensão e a reflexão sobre o que é lido estão interligados, a escrita de James Joyce me capturou, me transportando para as ruas de uma Dublin mais antiga, ao mesmo tempo que despertou o desejo de conhecer a sua versão atual com os meus próprios olhos.

Um livro para quem gosta de contos, para quem gosta de ler sobre o cotidiano ou simplesmente para quem gosta de boas histórias.

Dublinenses
Dubliners
James Joyce
Tradução: Hamilton Trevisan
RBS Publicações
1913 - 222 páginas

domingo, 22 de novembro de 2009

As Cidades Invisíveis


Sinopse: Neste fabuloso trabalho, a narração fica por conta do famoso viajante veneziano Marco Polo, e o ouvinte é Kublai Khan, o velho e imperador dos tártaros. À medida que Marco Polo começa a descrever as cidades que supostamente visitou - com nomes de mulheres sedutoras, Diomira, Isidora, Dorotéia, Zaíra e tantas outras -, elas parecem joias, tais como manuscritos medievais. Gradativamente, as histórias circundam elementos do mundo moderno, e suas imagens começam a ganhar cor, conforme os olhos do viajante se movem no tempo e no espaço. No fim, o imperador é levado a acreditar em cidades que ainda não existem, mas que existirão no futuro.

Passado, presente (e talvez futuro) se misturam nas descrições de diversas cidades que o viajante veneziano , Marco Polo, faz em detalhes para o imperador dos tártaros Kublai Khan. ele os descobre, invade e investiga através de um homem, que passa um longo tempo fora e depois retorna, cheio de histórias. 

O homem que cavalga longamente por terrenos selváticos sente o desejo de uma cidade.

Cada cidade encontra-se em uma categoria, pode ser memória, desejo, símbolo, delgada, troca, olhos, nome, mortos, céu, oculta ou contínua. E desta forma, o livro é dividido, mostrando em cada parte suas semelhanças e diferenças. 

Aquela manhã em Dorotéia senti que não havia bem que não pudesse esperar da vida.

Embora a sensação de dejavu venha entre cidades de categorias diferentes. O que parece descrições de ruas, acaba virando as diversas facetas do ser humano, deixando o leitor sem saber se as cidades são os espelhos de sua população ou se a população é um reflexo dos caminhos, muros e divisas de onde moram. Levando a crer que, no final das contas, as cidades nada mais são do que críticas as pessoas que estão por perto ou a própria humanidade.

Retornou de países igualmente distantes e tudo o que tem a dizer são os pensamentos que ocorrem a quem toma a brisa noturna na porta de casa.

Utilizando-se de pessoas reais para escrever a sua ficção, em capítulos curtos, quando utiliza a narrativa em primeira pessoa, é como se estivéssemos junto com o imperador tártaro escutando as histórias e viajando junto com Marco Polo em suas descrições.

Deste modo a cidade repete uma vida idêntica deslocando-se para cima e para baixo em seu tabuleiro vazio.

Quando muda para terceira pessoa, acompanhamos os diálogos entre os dois, onde em um primeiro momento Kublai Khan questiona a falta de dados de valor, como minas e preços vantajosos, enquanto Marco Polo segue firme em sua argumentação movida a sentimentos.

Você, que explora em profundidade e é capaz de interpretar os símbolos, saberia me dizer em que direção a qual desses futuros nos levam os ventos propícios?

O grande feito do escritor Ítalo Calvino nesse livro é permitir que o leitor tire a sua própria conclusão. É possível criar teorias, ou apenas relacionar as cidades descritas com aquelas que vemos no cotidiano. Sendo-se livre para ver, refletir ou desacreditar nesta mistura de fantástico e indefinível.

As Cidades Invisíveis
Le città invisibili
Italo Calvino
Tradução: Diogo Mainardi
RBS Publicações
1972 - 158 páginas

sábado, 14 de novembro de 2009

A Linha de Sombra


Sinopse: Última obra-prima escrita por Joseph Conrad, A Linha de Sombra marca o limite - tão indefinível e incompreensível, quanto inquietante e doloroso - que num determinado momento da vida configura, de modo irrevogável, o fim da juventude. Para o protagonista deste romance intenso, a ultrapassagem dessa fronteira coincide com uma experiência excepcional e dramática: oficial da marinha mercante, em seu primeiro comando se defronta com uma interminável calmaria no clima insalubre dos mares do Sudoeste Asiático, enquanto vê sua tripulação ser dizimada por uma violenta epidemia de febre.

Narrado em primeira pessoa por um protagonista sem nome, acompanhamos um episódio de sua juventude, quando ele descarta subitamente o seu posto em um navio a vapor em um porto oriental, mesmo se considerando feliz na embarcação e com os companheiros de bordo, para retornar para casa.

É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções.

Sem passagem de retorno comprada ou algo lhe esperando, surge uma oferta inesperada de comandar o navio Melita, em direção a Bancoc. Encargo que ele aceita e se prepara para partir no mesmo dia, enquanto se acostuma a ser chamado de capitão.

Dos primeiros sentimentos de conhecer a sua tripulação e sentar em uma cadeira já habitada por muitos outros homens, começam as novidades em relação ao navio, como uma certa tensão, ou o fato da embarcação nunca ter tido a sua capacidade aproveitada ao máximo, e claro, os seus mistérios.

Eu não conseguia ver nem ouvir mais ninguém, mas quando falei abertamente, murmúrios tristes de resposta encheram o tombadilho, e sias sombras pareciam se mover aqui e ali.

Logo ele se vê cheio de complicações a serem resolvidas, sendo a maior delas o tempo ao ter vários homens doentes, não era mais questão de dinheiro, mas também de vidas, enquanto tenta levar o navio para o mar e assim retornar para o porto de origem.

Mas o navio avança lentamente, consumindo recursos físicos e psicológicos de seus tripulantes, onde as teorias para um tempo parado que faz a embarcação se arrastar, pareça muito mais do que o acaso.

A barreira de pavorosa imobilidade que nos encerrara por tantos dias, como se estivéssemos sob uma maldição, estava rompida.

Em A Linha de Sombra o escritor Joseph Conrad utiliza-se da lentidão da embarcação para narrar as etapas e dificuldades do amadurecimento pessoal e profissional do rapaz. Ao fazer o protagonista lidar com uma soma de dificuldades para quem lidera uma equipe pela primeira vez, com o agravamento de não ter nenhum preparo para a função. 

Qualidades naturais, dor, culpa, se misturam, fazendo surgir cicatrizes invisíveis. Um livro curto, mas bastante envolvente, indicado principalmente para os que possuem ambição em serem líderes, pois a tripulação adoecida é muito parecida com algumas das equipes de trabalhos da atualidade.

A Linha de Sombra
The Shadow-line
Joseph Conrad
Tradução: maria Antonia Van Acker
RBS Publicações
1916 - 159 páginas