Sinopse: O último romance de Philip Roth tem como ponto central um surto de poliomielite no verão de 1944 e seu efeito em uma comunidade de Nova Jersey unida por fortes vínculos culturais e valores familiares. Bucky Cantor, o protagonista, é um jovem atleta que dá aulas de educação física em uma escola judaica e nutre profunda devoção por seus alunos, mas convive com a decepção de não poder lutar na guerra devido a sua forte miopia. À medida que a poliomielite atinge as crianças sob sua tutela, ele terá que lidar com a realidade de sofrimento e pânico que o cerca. Movendo-se entre as ruas escaldantes da cidade de Newark e uma colônia de férias para crianças nas montanhas Pocono, Nêmesis retrata um homem que se vê envolvido em uma guerra particular contra perdas devastadoras. Roth registra com precisão os estados emocionais e cada passo de Cantor em sua tragédia pessoal.
Como é informado na sinopse, a TAG Curadoria do mês de abril/21 enviou aos seus associados o último romance do premiado escritor Philip Roth, indicação da historiadora, professora, entre outras coisas, Lilia Schwarcz. O mimo foi um copo americano, o meu foi o da Raquel de Queiroz e o seu O Gole de Ouro, uma referência ao livro O Galo de Ouro da escritora.
No verão escaldante de 1944 em Newark, uma cidade do estado de Nova Jersey, as crianças filhas de famílias que não tinham condições de irem para lugares mais frescos, passavam suas férias em um pátio de escola, sob a supervisão de Bucky Cantor, um professor admirado por todos, que assume a tarefa com a sua característica seriedade.
A preocupação com as graves consequências de contrair uma forma séria da doença era ainda maior por não existir nenhuma droga capaz de combatê-la e nenhuma vacina que criasse imunidade contra ela.
Mas após o feriado que marca o início da estação, ocorre o primeiro caso de poliomielite. A primeira orientação é não se dobrar ao medo e permitir que as crianças sigam a sua vida normal, brincando e interagindo normalmente. Mas logo a cidade se vê enfrentando um surto da doença, atingindo inclusive as crianças do pátio que aos poucos começam a ser hospitalizadas, seguida de casos de morte e paralisia.
Cantor logo se sente pressionado entre proteger os meninos que o seguem e o próprio pânico de ser infectado, embora por ser adulto o risco seja menor. Somado a isso está a namorada, que em sua preocupação arranja uma oferta de emprego para o rapaz longe do foco do surto, um convite tentador para as frescas montanhas Pocono.
Mas, enquanto eles se recuperam no hospital, temos que continuar a viver nossas vidas.
Em paralelo a toda esta situação ele lida com o sentimento de fracasso de não ter acompanhado seus dois melhores amigos e lutar junto a eles na Segunda Guerra Mundial, já que sua estrutura saudável não foi suficiente para que o exército ignorasse a sua agressiva miopia e o aceitassem. Tornando a decisão da sua troca de ares quase como uma deserção.
A soma de tudo acaba explodindo na cabeça deste jovem homem, que convive com a perda desde o nascimento, quando sua mãe morre no parto, levando a questionamentos de fé, além de um julgamento rigoroso de si. Onde ele e Deus se alternam no papel de responsáveis em uma situação sem controle.
Nunca mais vimos nosso filho vivo. Morreu sozinho. Nem uma chance de dizer adeus.
Sentimentos como culpa e fracasso logo dominam os seus pensamentos, e na busca de um vilão pela tragédia que acomete as crianças que lhe são próximas, logo vem os questionamentos sobre Deus e sua real bondade, até chegar no ponto de atribuir a responsabilidade a Ele de tudo de ruim que acontece ao seu redor.
Nêmesis é dividido em três partes, sendo duas centradas nos acontecimentos do passado e a última transportando o leitor para o presente, e assim apresentando o próprio narrador da história.
Todos conheciam muito bem um ou outro dos que haviam sido atingidos pela doença na véspera e, se antes lhes escapava a plena compreensão da natureza da ameaça, agora entendiam que havia uma chance real de pegarem a doença.
Em um livro curto, de escrita fluída, Philip Roth coloca o leitor em uma comunidade judaica, em um mundo em polvorosa, a poliomielite acaba somando-se a preocupação de seus habitantes, despertando as mais diferentes reações, que vão da tristeza extrema a busca por um responsável pelo cenário trágico.
Mas ao contrário do que se possa imaginar, o foco não é o surto de poliomielite em si, mas como Cantor reage a tudo o que lhe aconteceu na vida, assim como a busca constante e fracassada da possível imagem que o avô, já falecido, teria esperado dele.
Precisava que toda a família dela lhe dissesse como viver como um adulto de uma forma que ninguém, inclusive seu avô, o fizera até então.
Por isso me arrisco dizer que aqui estamos lidando com uma visão de um homem em relação as suas opiniões, crenças, dúvidas, sonhos, perdas, orgulho, honra, autoestima ao se ver em uma situação limite para ele, já que cada pessoa reage de uma maneira diferente dentro da própria história.
No geral é um livro bom, não é uma história fantástica, mas está longe de ser ruim. Possibilita algumas reflexões, não sendo difícil transpor algumas das situações para o nosso momento atual. Sendo um livro muito mais sobre consequências do que causas.
Não fosse por Deus, não fosse pela natureza de Deus, elas certamente seriam diferentes.
A título de curiosidade, já que na história a forma de contaminação da poliomielite é desconhecida, conforme o site da Fiocruz a transmissão pode ocorrer através da boca, com material contaminado com fezes (contato fecal-oral), pode ser disseminado por contaminação da água e de alimentos por fezes e através de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Graças a vacinação, a doença encontra-se erradicada no Brasil, tendo ocorrido o último caso em 1989.
Nêmesis
Nemesis
Philip Roth
Tradução: Jorio Dauster
TAG Curadoria - Companhia das Letras
2010 - 199 páginas
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