terça-feira, 4 de maio de 2021

O Morro dos Ventos Uivantes



Sinopse: Único romance da escritora inglesa Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes retrata uma trágica história de amor e obsessão em que os personagens principais são a obstinada e geniosa Catherine Earnshaw e seu irmão adotivo, Heathcliff. Grosseiro, humilhado e rejeitado, ele guarda apenas rancor no coração, mas tem com Catherine um relacionamento marcado por amor e, ao mesmo tempo, ódio. Essa ligação perdura mesmo com o casamento de Catherine com Edgar Linton.

Há muitos anos eu tinha curiosidade de ler O Morro dos Ventos Uivantes, primeiro por tudo o que se comenta sobre a história - sendo referência em outros livros e citado por vários leitores-, segundo por ser escrito por uma mulher nos anos de 1800 e terceiro por ser um clássico. E já adianto aqui que a história não me decepcionou.


"Wuthering" é um adjetivo local que descreve a violência atmosférica ao qual o morro fica exposto durante as tempestades e que pode ser traduzido como "ventos uivantes".


A edição escolhida para esta aventura literária foi a publicada pela DarkSide, que além de ser muito bonita, possui todo um complemento primoroso sobre a história, críticas da época e um pouco da biografia das irmãs Brontë, tornando a imersão completa. Organizada pela Marcia Heloisa, me proporcionou o mesmo sentimento de realização pós leitura, como ocorreu com o Vitorianas Macabras.

Na história de Emily Brontë, temos duas vozes em primeira pessoa narrando os fatos: o Sr. Loockwood e a Sra. Dean. Fugindo do alvoroço das cidades grandes, o Sr. Loockwood resolve alugar uma casa no interior da Inglaterra. Seu senhorio, o Sr. Heathcliff, não é exatamente uma simpatia, limitando as suas tentativas de conversa.


Tinha uma maneira própria de interpretar cada frase e, ao que parecia, cada fiel cometia uma infinidade de pecados diversos a cada deslize.


Em sua curiosidade sobre o homem, Loockwood insiste em retornar à casa de Heathcliff e fazer uma visita em um dia de péssimo tempo. Sem a possibilidade de ir embora, ele acaba dormindo no local, o que lhe permite conhecer os demais integrantes da casa, e inevitavelmente também acaba comparando o cuidado com a casa onde está hospedado, chamado de Thrushcross Grange e o péssimo estado da que mora Heathcliff, chamada Wuthering Heights.

Loockwood acaba ficando doente após retornar o mais cedo que conseguiu em plena neve para Thrushcross Grange, e assim é cuidado pela empregada do local, Sra. Dean, que ao lhe fazer companhia acaba lhe contando a história das duas famílias por trás das propriedades.


Torcia encarecidamente para que ela gostasse de uma boa intriga e esperava que pudesse me entreter ou me fazer pegar no sono com seu falatório.


A Sra. Dean cresceu junto com os filhos do Sr. Earnshaw em Wuthering Heights, pai de Hindley e Catherine. Quando eles ainda eram crianças o homem foi viajar a trabalho e ao retornar ele tem como companheiro um menino que encontrou nas ruas de Liverpool, seu nome é Heathcliff. 

Apesar da cara feia dos familiares e a nítida vontade que sua esposa tem de expulsar o menino, ele justifica não ter encontrado família ou quem poderia ter ficado com a criança. Assim, passa a tratá-lo como filho.


Nunca fiquei tão exausto na vida, mas penso que deva aceitá-lo como um presente de Deus, embora seja escuro como se viesse do diabo.


Heathcliff encontra o ódio com Hindley e o amor com Catherine, como uma dupla inseparável eles acabam crescendo juntos e tornando-se companheiros de travessuras. Mas o tempo passa, e quando a bela moça atinge a adolescência, faz amizade com os jovens da família Linton, filho dos proprietários de Thrushcross Grange, cujo olhar é de censura em relação ao comportamento e aparência de Heathcliff. 

Mesmo com todo comportamento nem sempre considerado adequado da jovem, Edgar Linton a pede em casamento, e ela surpreendentemente o aceita. O sim de Catherine faz com que as expectativas de Heathcliff se quebrem, e as consequências disso serão sentidas por todos, incluindo a nova geração.


Não cultive esta expressão de um vira-lata perverso que parece saber que os chutes que recebe são merecidos e, mesmo assim, odeia não só quem o agride como também o mundo inteiro.


Acompanhando as três gerações da família Earnshaw, não é difícil em concordar com não só os personagens, mas também o local, foram muito impactadas pelo menino trazido pela bondade, moldado pelo bullying e comandando por sentimentos que o tornam praticamente um monstro, com seus dentes afiados, sua violência e a sua frieza.

Apesar de muito se referenciar o romance de Heathcliff e Catherine, o romance de Emily Brontë não tem nada de Love story, os ventos, o ambiente escuro, dão um ar gótico que combina com a personalidade amarga e vingativa de quem determina o destino dos dois pequenos núcleos. E como bem observa a tradutora Marcia Heloisa, a escrita de Emily Brontë está muito mais para Edgar Allan Poe do que para o estilo de Jane Austen. 


Não sei definir em palavras, mas certamente você, como todo mundo, crê que existimos em alguém para além da nossa própria existência.


Com poucos personagens, e todos extremamente humanos em suas qualidades e defeitos, o leitor se depara com sonhos desfeitos, um toque de realismo fantástico, traições, egoísmo, bondade, violência e toque de loucura. Curiosamente também se depara com personagens que representam os mais diversos gêneros, condição social, crenças, moral e educação. 

Com reações pesadas, as relações descritas são sombrias. Raras são as boas intenções e muito são as perguntas de porque alguns dos personagens se mantiveram presos naquele lugar, como se Catherine Earnshaw mantivesse todos presos em seu centro gravitacional, tornando sua presença marcante até para quem não a conhece. 


O tirano explora seus escravos, mas eles não se voltam contra ele; eles descontam naqueles que são ainda mais inferiores.


A leitura também permite conhecer um pouco das relações sociais da época, a questão com a religião, e até mesmo uma grande interrogação sobre a cor da pele de Heathcliff, que várias vezes é comparado com um cigano, e não raro é usada de forma pejorativa pelos que o descrevem.

Uma leitura cativante, que acompanhada de um bom chá, praticamente me transferiram para junto da lareira ouvindo a Sra. Dean, para no final lamentar ser este o único romance de Emily Brontë. E se ainda não leu, fica a minha indicação, e prepare-se para a tensão psicológica que apenas os livros que se utilizam do terror, mesmo que com sutileza, podem proporcionar.


O Morro dos Ventos Uivantes
Emily Brontë
Tradução: Marcia Heloisa
DarkSide - Darklove Classics
1847 - 416 páginas


12 comentários:

  1. Este livro é um clássico que realmente precisa ser lido! Eu já li o Jane Eyre, da Charlotte Brontë, e preciso incluir o da Emily na minha TBR. Fiquei curiosa para conhecer essa edição da Darkside!

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  2. O amor do personagem Heathcliff pela Catherine, faz com que ele seja um homem cruel, vingador, essa história mexe com a gente, fiquei bastante curiosa pelo livro, bjs.

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  3. Eu ainda não li o livro, apesar da minha curiosidade sobre a história, então sua resenha foi bem esclarecedora.Os livros da Darksite tem um cuidado muito especial, tenho alguns.

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  4. É uma super dica de leitura , pela resenha o livro e bem desenvolvido com uma pegada que gosto.

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  5. Oi
    Eu tenho muita curiosidade de ler este livro, já li várias resenhas positivas.. A temática é bem interessante

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  6. Nunca li esse livro, mas é uma ótima dica, que capa mais linda ne?! Adorei sua resenha!!
    Beijos!! <3
    https://bel-somostaojovens.blogspot.com/

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  7. Já ouvi e li bastante sobre esse livro, a história prende atenção, mas ainda não tive oportunidade de ler o livro completo.

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  8. O livro eu não li, mas vi o filme, é bem interessante, creio que o livro tenha muito mais detalhes ...

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  9. Nunca li esse, mas só do jeito que você escreve sobre ele eu fico com vontade de ler tbm ♥

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  10. Um classico, nunca li ,mas tenho muita curiosidade

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  11. Eu adorei a sua resenha. Parece ser um livro bem intenso

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  12. normeide neto de carvalho12 de maio de 2021 às 20:58

    Li o livro O Morro dos Ventos Uivantes quando era adolescente, confesso que já não lembrava de nada, e a sua resenha me fez recordar e acima de tudo, deu vontade de ler novamente, porque certamente terei uma nova experiência de leitura.

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